A Revista Espírito Livre é uma iniciativa que reune colaboradores, técnicos, profissionais liberais, entusiastas, estudantes, empresário e funcionários públicos, e tem como objetivos estreitar os laços do software livre e outras iniciativas e vertentes sócio-culturais de cunho similar para com a sociedade de um modo geral, está com um novo projeto neste ano de 2009.
A Revista Espírito Livre visa ser uma publicação em formato digital, a ser distribuída em PDF, gratuita e com foco em tecnologia, mas sempre tendo como plano de fundo o software livre. A publicação já se encontra na terceira edição. A periodicidade da Revista Espírito Livre é mensal.
Google libera Android Device Manager como aplicativo no Google Play
15 de Dezembro de 2013, 23:44 - sem comentários aindaO Google anunciou hoje a chegada do Android Device Manager como um aplicativo no Google Play.
Com esta novidade, os usuários agora podem encontrar, bloquear ou apagar dispositivos a partir de outros smartphones, sem necessidade de recorrer a um computador.
“Você já perdeu ou esqueceu onde deixou seu telefone? O Gerenciador de dispositivos Android localiza telefones e tablets perdidos e ajuda a manter a segurança do dispositivo e dos dados contidos nele”, publicou a empresa.
Com o Gerenciador de dispositivos Android, você pode:
● Localizar dispositivos Android associados a sua Conta do Google
● Redefinir o PIN da tela de bloqueio de seus dispositivos
● Limpar todos os dados do telefone
Android Device Manager está disponível sem custo para Android 2.3 ou superior.
Fonte: Google Discovery
O futuro da Internet já está traçado – ou quase
15 de Dezembro de 2013, 23:34 - sem comentários ainda“Se a Internet tropeçar, não será por
falta de tecnologia, visão ou motivação.
É porque não pudemos definir uma direção
e coletivamente marchar para o futuro.”
Bob Kahn
A Internet como a conhecemos hoje, tem sido a base de uma das revoluções tecnológicas mais surpreendentes da história. Deu-nos uma visão da humanidade sem precedentes. Isso, sendo gerida sempre de forma aberta, colaborativa e inclusiva. Um modelo que muitos têm interesse de preservar para as gerações futuras, e ao qual outros tantos gostariam de colocar um ponto final, em nome de interesses sociopolíticos e econômicos. A gestão distribuída da Internet vem sendo ameaçada por regulamentos, abstenções e exclusões.
Faz tempo que a Internet Society (ISOC), preocupada com o futuro da Internet, vem traçando cenários na tentativa de revelar cursos plausíveis para eventos que podem afetar a saúde da rede. O mais completo desse exercício, na minha opinião, foi realizado em 2009. E, em muitos aspectos, alguns dos cenários traçados já são práticas correntes no nosso presente.
O cenário que mais se aproxima da nossa realidade atual é o “Porous Garden”. O que não significa, absolutamente, que qualquer dos outros três esteja plenamente descartado. Ao contrário, ainda corremos o risco de chegar ao ano de 2020 podendo estar mais próximos de qualquer um deles, sendo o “Common Poll” o cenário ideal dos defensores da Internet cada vez mais aberta, colaborativa e inclusiva.
Será que a Internet tal como a conhecemos sobreviverá a próxima década? Até aqui, a rede tem conseguido resistir à todas as tentativas de centralização e suportar aplicações que são ordens e ordens de grandeza mais complexas que as originalmente concebidas para uso do protocolo TCP-IP.
A única certeza que temos é que as tecnologias necessárias ao perfeito funcionamento da Internet na próxima década já estão definidas, como tão bem demonstrou o presidente do NIC.br e vice-presidente da ISOC Brasil, Demi Getschko, durante o 1°. Encontro Nacional da ISOC Brasil. Algumas já vingaram, como o IPv6, criado para solucionar um grave problema contemporâneo: o esgotamento do IPv4, apesar de todos os quebra-galhos técnicos feitos para esticar a sua vida útil. A previsão é a de que, em médio ou longo prazo, o IPv6 realmente substitua o IPv4. Outras tecnologias ainda enfrentam certo ceticismo, como é o caso das Redes Definidas por Software (SDN) e do OpenFlow.
Segundo Demi, o mundo está chegando a 2,5% de tráfego IPv6 na rede, atualmente. O que ainda é muito pouco. Mas esse uso vai crescer rápido até 2020. Individualmente, o Brasil é o país que mais distribuiu blocos de IPv6 e o que gera menor tráfego.
“O importante é que todas seguem características genéticas da Internet, como o fato de ser uma rede ponto a ponto, onde duas aplicações finais conversam diretamente”, explica Demi. Essa ideia volta com o IPv6 e permitirá o vertiginoso crescimento da Internet das Coisas, que tem lá seus efeitos colaterais, especialmente com relação à privacidade, diz Demi.
Objetos com a rede embutida poderão trocar dados entre si sem que você controle, e repassar informações sobre nós a nossa revelia. No limite, como gosta de ilustrar um dos pais da Internet, Vinton Cerf, sua geladeira poderá ser capaz de avisar ao supermercado que acabou o seu estoque de cerveja, mas antes que o supermercado faça a reposição, sua balança já terá informado o seu médico que você está acima do peso e seu médico poderá determinar que o supermercado não forneça a cerveja.
Demi lembra que, no passado, todo mundo podia navegar anônimo na Internet. Todo mundo podia participar de chats, fóruns, entrar nas discussões sem que ninguém soubesse a sua real identidade. Em 2013 todo mundo sabe quem você é, o que você come, o que você veste. Então o uso da Internet já mudou e continuará mudando em relação a isso.
Usada de forma responsável, a Internet das Coisas poderá trazer benefícios sem precedentes, ganhos de eficiência, uma vida muito mais confortável e conveniente. Mas os riscos associados ao uso irresponsável são igualmente enormes, bem como o perigo de consequências não intencionais em uma época de expansão exponencial de conectividade. O que nos remete a outra questão sobre a natureza da Internet. Ela nunca foi voltada para ser uma rede de segurança. “Os roteadores jogam fora o que eles quiserem. As camadas mais altas da rede é que vão se encarregar de garantir que alguma coisa vai ser entregue de forma absolutamente fidedigna, mais ou menos, ou deixará de ser entregue porque não deu”, diz Demi. Querer introduzir isso dentro da rede é fazer outra Internet, ressalta ele.
Os recentes acontecimentos mundiais sobre espionagem cibernética deixam claro que a captura de praticamente tudo é tecnicamente possível. Portanto, a Internet das Coisas, a comunicação M2M, o Big Data, a Inteligência Artificial, nada disso poderá gerar frutos a menos que possamos forjar novos contratos sociais, uma nova ética, um novo estado de direito que nos faça sentir seguros e nos permita trabalhar, afirma o futurólogo Gerd Leonhard, para quem a conectividade será como o oxigênio, necessário para a vida (moderna). Vale assistir a última palestra dele, sobre o futuro da Internet.
Confiança e ética são fundamentais, de acordo com Gerd. Sem estabelecer um quadro de confiança, ninguém vai sobreviver os próximos cinco anos. Pós revelações sobre a espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA), as gigantes da Internet parecem ter assimilado bem essa questão, ao assinarem a carta aberta na qual defendem a “necessidade urgente de reformar as práticas de vigilância dos governos em todo mundo”. Fariam bem se começassem elas mesmo tornando públicas suas práticas de captura e uso de dados dos internautas. Transparência é a base da confiança.
Já hoje, uma boa parte da população da Internet é formada por robôs indistinguíveis de seres humanos, e grande parte deles interagem com a gente sem que saibamos. Eles são responsáveis por 61 por cento de todo o tráfego da web, segundo o último relatório da Incapsula. Em 2013, o tráfego gerado por eles cresceu 20%. A maior parte desse aumento foi gerado por algoritmos de rastreamento como web analytics ou indexação de motores de busca.
Nossas identidades sociais on-line estão nas mãos de algoritmos e bots … Sempre que usamos o Facebook, algoritmos conhecidos como EdgeRank e Graph Rank já filtraram e classificaram a informação que vemos. Sempre que usamos o Google, o onipresente algoritmo PageRank já filtrou, classificou e exibiu os resultados que o Google acha que são mais adequados, baseados em nosso comportamento anterior na Web. Quando consideramos que as redes sociais e as ferramentas de busca são as duas principais formas de interação com a Internet, é preocupante que bots e algoritmos estejam gerindo esse sombrio mundo.
Em contrapartida. o número de bots maliciosos permaneceu bastante estável, o que não quer dizer que os hackers, scrapers e cia não estejam ficando mais espertos. O relatório da Incapsula constatou que pouco mais de 30% de todo o tráfego da web vem de bots maliciosos, que podem assumir a forma de scrapers que copiam e roubam conteúdo, hackers de um site que roubam cartões de crédito ou injetam malware, spammers postando links fraudulentos ou comentários falsos, etc.
Mais rápida, mais onipresente, mais pervasiva, mais inteligente…. se as tecnologias podem garantir um futuro brilhante para a natureza da rede, o uso que faremos dela continuará trazendo grandes desafios em relação à segurança. Eu acho que é uma questão muito mais grave do que nós tendemos a pensar, porque é em nome da segurança que os regulamentos, abstenções e exclusões estão acontecendo, e não em nome da garantia de uma internet aberta, colaborativa e inclusiva.
A segurança virou desculpa para a resolução de questões econômicas muito, muito importantes relacionados à Internet, e para questão relacionadas com a neutralidade da rede, etc. Creio que essas permanecerão questões continuas, que ainda darão muita discussão nos fóruns internacionais e nacionais, entre governos, sociedade civil e agentes econômicos. O traçado desse futuro, embora já delineado, permanece incerto.
Com informações de IDGNow.
A história da pirataria
13 de Dezembro de 2013, 12:42 - sem comentários aindaJulian Assange é o fundador e editor-chefe da Wikileaks, uma organização no coração da esfera pirata. A WikiLeaks tem laços com o The Pirate Bay, o maior site de compartilhamento de arquivos do mundo; com o Parido Pirata, que tem dois representantes eleitos no Parlamento Europeu; e com membros centrais do grupo de hackers Anonymous. A WikiLeaks adquiriu tremenda influência, que está usando para angariar apoio internacional para os denunciantes Bradley Manning e Edward Snowden. Em julho de 2013, Assange anunciou a criação do Partido Wikileaks Australiano, que almeja lançar candidatos nas próximas eleições para o Senado. O movimento pirata tem sempre sido crítico às relações íntimas entre estados e grandes corporações, então, não admira que as revelações recentes sobre os programas de vigilância Prism, da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), implementados juntamente com empresas líderes de tecnologia, tenham levado os piratas, mais uma vez, a exprimir suas preocupações.
Mas, quem são os piratas e que papel desempenham no jogo capitalista? Se nós olharmos para a história do movimento pirata e suas interações com estados e corporações, temos muito a aprender sobre o funcionamento interno do capitalismo e sua dinâmica evolucionária. O que se vê é que as implicações da pirataria para a economia global, as políticas governamentais e a geopolítica, são enormes – mas até agora têm recebido pouca atenção.
O que é pirataria e quem são os piratas?
A lei Internacional não tem definição consensual de pirataria, exceto pelo caso específico da pirataria marítima – e sua definição não se tornou completamente reconhecida e compartilhada pelas nações do mundo até a Convenção da Lei do Mar da ONU em 1982. Hoje, quando ouvimos termos tais como „pirataria online’, devemos ter em mente que a pirataria não se refere a nenhuma realidade legal comumente aceita. Similarmente, durante a era de ouro da pirataria marítima, em cerca de 1700, o conceito de pirataria (marítima) era vago e maleável. Assim, como regra geral, para ser um pirata, alguém precisa ser meramente chamado de pirata por uma autoridade política reconhecida. Em outras palavras, a realidade política da pirataria é criada por meio de uma declaração performativa proferida por um governo legítimo.
Há múltiplas razões para explicar por que certos atores sociais quereriam chamar alguém de pirata. Uma é o enquadramento legal. No Império Romano, os piratas eram declarados „inimigos de toda a humanidade‟. Assim, chamar alguém de pirata posiciona aquela pessoa em uma categoria legal que potencialmente determina enormes penalidades e sanções nos tribunais. Por exemplo, quando o compartilhamento ilegal de arquivos é rotulado, na arena pública, de „pirataria‟, os juizes podem mais tranquilamente justificar sanções severas sobre quem faz (mal) uso da Internet, incluindo enormes multas combinadas com sentenças de prisão(1).
O sistema de estados nacionais conduziu a expansão do capitalismo por meio de monopólios; enquanto isso, os piratas defendiam ideais de livre mercado, para um bem maior de todos os povos, acima e além das fronteiras nacionais.
Outra razão é reduzir a concorrência. Na era moderna, os mercadores Portugueses que abriram o caminho marítimo para as Índias, reivindicavam direitos de propriedade sobre o alto mar, o que os habilitava a chamar de pirata todo mercador não-Português operando na área – inclusive os mercadores indígenas que tinham estado praticando comércio livre na região desde muito antes de os Europeus chegarem. Assim, qualquer mercador concorrente considerado pirata poderia ser removido do negócio do comércio por quaisquer meios e a coroa Portuguesa fornecia maciço apoio militar para esse fim.
Mais tarde, os Holandeses e os Ingleses tomaram dos Portugueses (e Espanhóis) o controle das redes de comércio do Sudeste da Ásia. Assim como antes deles os Portugueses e os Espanhóis, os Holandeses e Ingleses operavam companhias de monopólio chamadas companhias das Índias Ocidentais e consideravam todo estrangeiro um pirata. Interessantemente, a expansão geográfica do capitalismo Europeu, entre os séculos dezesseis e dezoito, levou o princípio de livre mercado a ser substituído por formas monopolizadas de comércio, apoiadas pelo estado. Olhando para atrás na história, devemos reconhecer que capitalismo e livre mercado nem sempre andam de mãos dadas – precisamente o ponto a que Assenge se refere no epígrafo deste artigo.
O que os piratas defendem?
Os piratas lutavam contra o princípio de um controle exclusivo e soberano sobre certos territórios, que viam como terreno comum para o benefício da sociedade em geral. E aqui temos um paradoxo cuja implicação não deveria ser subestimada: o sistema de estados nacionais conduziu a expansão do capitalismo por meio de monopólios; enquanto isso, os piratas defendiam ideais de livre mercado, para um bem maior de todos os povos, acima e além das fronteiras nacionais.
Piratas contra o capitalismo de grandes negócios
As histórias interconectadas do capitalismo e da pirataria tecem agora nova luz sobre as tensões em torno de regulação do ciberespaço, a reforma das leis de direito autoral e a patenteabilidade de sequências genéticas. Quando o estado decide ser o melhor aliado do capitalismo nos grandes negócios, os piratas se erguem para promover, algumas vezes violentamente, um modelo alternativo de capitalismo.
Lá atrás em 1602, a República Holandesa concedeu à sua Companhia das Índias Ocidentais um monopólio de 21 anos sobre o comércio com as regiões a leste do Cabo da Boa Esperança, o que levou à rápida ruína de mercadores bem-estabelecidos, alguns dos quais se voltaram para a pirataria – isto é, começaram a prática ilícita do comércio conduzido fora dos monopólios definidos pelo estado. O historiador Christopher Hill acertadamente observa que piratas marítimos modernos exterminavam mercadores que compravam privilégios de um Estado (2). De fato, aqueles piratas defendiam o direito de empreender por conta própria, seguir seus próprios padrões e se beneficiar dos lucros. Os piratas marítimos não estavam atacando navios por causa de uma nobre defesa dos mercados livres. Em vez disso, eram mercadores independentes que se rebelavam contra os monopólios bancados pelos estados europeus assumindo repentinamente o papel de „piratas‟. Subjacente às ações dos piratas, estava a crença de que o alto-mar deveria ser livre e aberto. No seu famoso tratado „Liberdade dos Mares‟, o estudioso das leis Hugo Grotius escreveu no século dezessete que as águas e a navegação deveriam ser „livres‟ porque o mar é um bem público –não pertence a ninguém – e usar o mar para navegar não impede outros de fazer o mesmo. Refutações vieram rapidamente dos soberanos Ibéricos e Britânico, que reivindicavam que as partes do oceano ligando seus territórios poderiam ser legalmente apropriadas. Mas, séculos mais tarde, foi o ponto de vista de Grotius que venceu. Grotius advogava a idéia de que „nenhuma nação‟ tem direito de se apossar do alto-mar fora de suas águas territoriais. Finalmente, a liberdade do mar-aberto – hoje em dia, mais de 50% de todas as superfícies aquáticas da Terra – foi alcançada por meio de uma série de tratados, começando com a Declaração de Paris, de 1856, que aboliu a prática do corso. Mas como coloca o historiador Pérotin-Dumon,
“para eliminar a pirataria numa escala maior, no entanto, o monopólio comercial teve de ser completamente abandonado”(3).
Em muitos aspectos, o reconhecimento internacional da liberdade dos mares em meados do século dezenove modelou o debate acalorado a respeito da liberdade nas ondas de rádio no começo do século vinte. Numa interessante repetição histórica, o governo Britânico da década de 1920, expediu uma carta real que concedia o monopólio para a BBC (British Broadcasting Corporation) – o mesmo tipo de carta que 300 anos antes tinha sido expedida para a companhia das Índias Ocidentais Britânica. Essa carta real permitia ao governo Britânico
apropriar-se do „éter‟, por onde se acreditava que as ondas de rádio viajavam e, assim, impedir as transmissões livres de rádio. Logo depois, Leonard Plugee montou a International Broadcasting Company (IBC) em baixo do nariz do governo e começou a comprar tempo de antena de estações piratas de rádio estabelecidas nas plataformas marítimas fora do alcance da influência Britânica. Plugee contestava tanto o monopólio da BBC como o princípio subjacente de que a soberania Britânica se extendia pelas ondas de rádio; por essas ações, ele foi considerado pirata.
Vencido pelo fenômeno pirata, o governo Britânico finalmente extinguiu o monopólio da BBC em 1967, liberando tanto as transmissões e as ondas de rádio como herança comum a toda a espécie humana. Afinal, os ouvintes poderiam sintonizar nos canais oficiais da BBC e ouvir o som maligno do rock‟n‟roll. Como Adrian Johns explicou:
A partir de 1967, a BBC se tornou uma entre muitas… A ironia é que ela então achou a voz crítica e cética que lhe faltava… as virtudes da BBC só vieram à luz no fim do seu monópolio (4).
Vencido pelo fenômeno pirata, o governo Britânico finalmente extinguiu o monopólio da BBC em 1967, liberando tanto as transmissões de rádio quanto as ondas de rádio como herança comum a toda a espécie humana.
À medida que as tecnologias de telecomunicações evoluíam, corporações com uma posição dominante nas transmissões de rádio, tais como a AT&T, se tornaram crescentemente interessadas em expandir seu controle para o ciberespaço, um território nascente cujo desenvolvimento começara na década de 1960. Muitos vêem na AT&T o primeiro monopólio da história do ciberespaço. Por volta de 1970, o ciberespaço era o alvo preferido dos famosos „phone freaks‟ – os primeiros piratas que se recusaram a ficar calados enquanto a AT&T modelava o seu controle centralizado e monopolista das comunicações telefônicas. Não admira que na lista dos maiores grupos piratas da América, publicada na década de 1980, pela revista de computação underground „Phrak‟, muitos tenham adotado apelidos sagazes que zombavam das corporações dominantes da indústria de computação, tais como „Força de Choque Bell‟ ou „Sindicato IBM‟.
Agora, muitos piratas se opõem deliberadamente a monopólios abusivos em todas as suas formas – desde posições dominantes em indústrias emergentes, tais como a de otimização de buscas online, ao „extremismo do direito autoral‟ das indústrias cultural e de mídia. Milhares de contas de Twitter, controladas por „hacktivistas‟ que se identificam com organizações como o Wikileaks e o Anonymous, difundem mensagens que anunciam a necessidade de „uma Internet livre a aberta‟ partindo-se da premissa de que „a informação quer ser livre‟ – declaração feita pela primeira vez em 1984, durante a primeira Conferência de Hackers. Hoje, as posições dominantes de corporações tais como Facebook, Google e Amazon levantam questões reminiscentes daquelas levantadas em torno da AT&T ou da Microsoft anos atrás.
As organizações piratas representam a vanguarda do capitalismo e prefiguram as futuras direções da economia.
Inovação orientada pela pirataria
Organizações com identidade pirata – vamos chamá-las de organizações piratas – não apenas protestam contra a ordem estabelecida, mas também introduzem novas idéias e tecnologias. Diversas inovações originalmente consideradas ilegítimas – e promovidas por organizações piratas – têm remodelado indústrias inteiras. Por exemplo, até a Napster desencadear uma revisão maciça na indústria da música, era incomum comprar música por canções. Se você, como consumidor, quisesse adquirir aquela canção que virou hit, tipicamente precisaria comprar um álbum de 12 faixas por 20 dólares e passar boa parte do tempo pulando as 11 faixas que não gosta ou não quer ouvir.E de volta à decada de 1990, distribuir software livre não era a próxima grande idéia de Bill Gates – ainda assim, sob o impulso do movimento hacker, o software livre se tornou um motor chave para o crescimento da indústria de software (por exemplo, pensemos em apps de telemóveis). E se você conhece alguém que passou algum tempo no Reino Unido antes de 1967, ele certamente se lembrará que a BBC era então a única estação de rádio autorizada pelo governo Britânico. Mas as rádios piratas terminaram com o monopólio da BBC e mudaram as regras do jogo: elas popularizaram o papel do DJ, difundiram novos gêneros musicais e ofereceram uma seleção mais ampla de programas – tudo tornado possível pelas receitas de publicidade (ao invés de subsídios governamentais). As organizações piratas também desempenharam um papel no enfraquecimento da posição dominante da Microsoft e em acabar com o confortável monopólio das majors da indústria da música. Hoje, os principais players das indústrias farmacêutica, biotecnológica e de sementes encaram como ameaça pirata os defensores da biologia sintética open source, tais como o movimento DIY Bio.
Mais genericamente, aqueles que recolhem receitas geradas por posições dominantes na indústria, tipicamente, argumentam que os piratas põem em risco o capitalismo, mas um quadro com mais nunces pode ser desenhado tomando-se uma perspectiva histórica. Quem promovia a liberdade dos mares do século dezessete, contra os monopólios estatais que reivindicavam direitos de propriedade sobre as rotas marítimas? Os piratas marítimos. Quem ajudou a se alcançar a liberdade das ondas de rádio contra o monopólio estatal da BBC no Reino Unido? As estações piratas de rádio. E o que é exatamente que querem organizações piratas como o Wikileaks e o Anonymous? Querem que o ciberespaço seja aberto, neutro, respeitador da privacidade e tratado como um bem comum da humanidade – não como um território a ser dividido e conquistado pela concorrência entre estados-nações. Em muitos aspectos, as organizações piratas representam a vanguarda do capitalismo e prefiguram as futuras direções da economia. Elas podem ser vistas como um motor chave do que Schumpeter chamou uma vez de destruição criativa.
Implicações para o futuro do capitalismo: Pirataria não é sobre lei, é sobre geopolítica
Do ponto de vista Português, os mercadores Holandeses que vinham ao Sudeste da Ásia em trono de 1600 eram considerados piratas. Mas, para os Holandeses os verdadeiros piratas eram os Portugueses, que não queriam reconhecer a propriedade Holandesa sobre certas rotas de comércio. Ao longo dos últimos meses, o governo dos EU tem repetidamente acusado o governo Chinês de ciber pirataria. Mas estes devolveram o elogio depois das revelações de Snowden a respeito do programa Prism de vigilância da NSA. Do ponto de vista de uma organização como a Wilileaks, ambos Estados Unidos e China estão errados implementando táticas de ciber-espionagem. Juntamente com membros do The Pirate Bay, do MegaUpload (agora MEGA) e do Anoymous, a Wikileaks defende o reconhecimento supranacional do ciberespaço como um bem comum, onde os princípios da neutralidade da Rede, transparência e privacidade sejam incorporados tanto pelo projeto da infraestrutura global de rede quanto dos componentes de software. O conhecido pirata e fundador do MegaUpload Kim Dotcom expressou sua opinião claramente em uma recente entrevista.
Nós queremos que qualquer coisa que seja transferida pela Internet tenha uma camada de encriptação para proteger a privacidade. É um direito humano básico. A Carta da ONU diz que todo ser humano tem direito a privacidade. E como isso está sendo respeitado pelos governos?(5)
Enquanto os governos jogarem a geopolítica do ciberespaço como se fosse um jogo de soma zero, a pirataria permanecerá, da mesma forma, uma questão incomôda para governos e corporações.
Pirataria não é sobre conteúdo livre, é sobre canais não monopolizados de distribuição
Pirataria é sobre território e assim os meios de distribuição – os modais de transporte se você preferir – importam muito mais do que o que está sendo transportado. Nesse sentido, a organização pirata é amoral, o que é precisamente o motivo pelo qual as políticas governamentais que querem censurar certos tipos de conteúdo online, como o jogo de apostas e o Satanismo, perdem completamente o foco na sua tentativa de refrear a pirataria. A falta de atenção dos formuladores de políticas para a natureza e o propósito do movimento pirata prontamente se traduz numa inabilidade política para lidar com uma série de falhas no mercado de indústrias onde as regras do jogo são ditadas por arranjos monopolistas tais como patentes e direitos autorais.
Pirataria questiona os fundamentos do sistema de estado-nação
Desde o início das fundações do sistema de estado-nação no século dezessete, seu papel estabilizador tem promovido desenvolvimento econômico fornecendo regras claras para as sociedades humanas redistribuirem e administrarem territórios. E apesar das guerras trágicas que o sistema de nação-estado ajudou a fomentar, a maior parte dos objetivos do Tratado de Westphalia de 1648 foi atingida. O princípio da soberania veio a calhar para delinear fronteiras em territórios físicos tais como a terra e a água, onde propriedades
geológicas existentes poderiam ser usadas para desenhar o mapa (por exemplo, este rio demarcaria a fronteira sudeste e aquela montanha a do norte). Mas as fronteiras relevantes do capitalismo mudaram para novos territórios – as ondas de rádio, o ciberespaço, e, logo, o espaço exterior. Esses novos territórios diferem fundamentalmente da terra porque não estão vinculados a um contorno – ou seja, não existem especificidades topológicas para justificar o desenho de uma fronteira aqui em vez de lá.
Por essa razão, parece estranho hoje construir firewalls nacionais que encerram o ciberespaço dentro dos limites de um território soberano cujas fronteiras foram determinadas séculos atrás por divisórias terrestres tais como a localização de um rio. E ainda assim muitos governos fazem justamente isso, invocando o princípio da soberania. Consideremos os filtros online postos em prática por China e Irã mas também por democracias como a Austrália e os Estados Unidos. Aqui então está a questão fundamental: O ciberespaço é uma justaposição
de intranets nacionais conectadas por cabos submarinos, ou é um território neural, aberto e global semelhante ao das „águas internacionais‟? O sistema de nação-estado precisará responder a perguntas como essa, que as organizações piratas continuam a questionar, algumas vezes agressivamente, à medida que territórios sem limites, como o ciberespaço, se tornam a vanguarda da evolução do capitalismo.
A falta de atenção dos formuladores de políticas para a natureza e o propósito do movimento pirata prontamente se traduz numa inabilidade política para lidar com uma série de falhas de mercado em indústrias onde as regras do jogo são ditadas por arranjos monopolistas tais como patentes e direitos autorais.
Olhando em frente, o próximo pomo da discórdia pode ser o surgimento da indústria da mineração no espaço. Tomemos a corporação privada Planetary Resources, que se define como „a companhia de mineração dos asteróides‟. Seu propósito é estabelecer „um novo paradigma para a descoberta e utilização de recursos que trará o sistema solar para dentro da esfera da influência humana‟ (6). Mas de acordo com qual princípio pode uma organização privada reivindicar legitimamente direitos de propriedade extraterrestre? O Tratado do Espaço Exterior da ONU de 1967 reconhece „o interesse comum de toda a humanidade‟ em questões referentes a exploração do espaço e adverte que „o espaço exterior, incluindo a lua e outros copos celestes, não está sujeito à apropriação nacional por proclamação de soberania, por meio de uso ou de ocupação, ou por quaisquer outros meios‟.
Se algumas organizações violarem as expectativas do tratado quanto à necessidade de considerar os corpos celestes „uma herança comum da humanidade‟, será que isso ocorrerá muito tempo antes de podermos testemunhar o surgimento de organizações de ativistas – literalmente, piratas do espaço – tentando mudar as regras do jogo, assim como seus predessessores fizeram antes no alto mar, nas ondas de rádio e no ciberespaço? Os piratas nos compelem a buscar respostas para duas questões: Primeiro, o princípio da soberania pode ser atualizado para se encaixar nas nossas necessidades presentes, ou precisamos de um novo princípio para pôr no lugar? Segundo, os Estados Unidos são a instituição relevante para representar os interesses supranacionais e impor o cumprimento das regras supranacionais? Claramente, graças aos descendentes do Barba Negra, há muito trabalho pela frente para políticos e também reguladores.
Tratar a pirataria como um assunto puramente legal é um engano porque pirataria é sobre a geopolítica do capitalismo, notadamente, sobre como os estados e corporações interagem à medida que a atividade econômica se expande adentro de novos territórios, onde as regras de propriedade e câmbio ainda estão por ser definidas.
O paradigma político de Esquerda/Direita está se tornando crescentemente irrelevante
Em julho de 2013, após as revelações de Snowden sobre o Prism, muitos políticos dos EU pressionaram por uma reforma da ciber política da administração dos EU. Uma emenda elaborada para impedir a NSA de coletar registros telefônicos dos cidadãos foi derrotada na Câmara dos Deputados em votação apertada – 205 a 217 (7). O verdadeiramente interessante sobre essa votação foi a composição dos dois campos, que falhava em seguir a divisão política tradicional entre Republicanos e Democratas. Aqueles a favor de restringir o poder de vigilância da NSA vinham tanto da Esquerda do Partido Democrático quanto da Direita do Partido Republicano (incluindo afiliados do Tea Party). Essa disparidade de apoio indica que a questão em jogo não era o tamanho do governo – o usual pomo da discórdia entre Direita e Esquerda – mas o alcance do princípio de soberania e sua aplicação no ciberespaço.
No mundo Ocidental, tão logo o tema da soberania é debatido, estranhos padrões de alianças políticas emergem. Em vários países Europeus, por exemplo, os socialistas de linha-dura concordaram com representantes de partidos de extrema direita sobre uma reivindicação de soberania – em particular, pressionando por uma saída da zona do Euro, como ocorreu na França ano passado quando os partidos comunista e de extrema direita expressaram preocupações similares quanto à submissão dos assuntos franceses à supervisão da União Européia.
A resposta pirata para tal confusão política tem sido a criação de partidos Piratas por todo o mundo. A ramificação sueca até mesmo elegeu representantes no Parlamento Europeu. Mas em muitos aspectos, os partidos piratas confrontam-se com as mesmas contradições internas dos partidos tradicionais. Por exemplo, sobre o tema chave da regulação estatal, eles lidam com uma enorme contradição interna. De um lado, muitos membros de Esquerda querem uma regulação estatal mais rígida, digamos, dos setores bancários e financeiro. Ainda mais no rescaldo da crise financeira. Mas por outro lado, ficam repetindo que o ciberespaço e suas
indústrias relacionadas deveriam ser livres da influência e da regulação do estado. Então… mais regulação do estado ou nenhuma regulação do estado? Por que aqui e não lá? O revival recente do movimento pirata pede um re-exame dos fundamentos do pensamento político Ocidental. Especificamente, antes de perguntarmos quanto de governo e regulação queremos, precisamos de um teoria robusta sobre o que significa soberania na perspectiva do capitalismo global do século vinte e um (8).
Repensando o capitalismo com os piratas, não contra eles
Não há solução óbvia para as questões esboçadas neste texto. A pirataria sempre foi situada no cruzamento entre política de estado e grandes negócios. A teoria econômica sozinha não dá conta de abarcar todo o escopo dos desafios postos pelo movimento pirata, que frequentemente revelam a divisão entre mercados livres e capitalismo no mundo real. Esses desafios são cruciais e as questões que os piratas perguntam são frequentemente legítimas – descartá-las como nonsense seria contraprodutivo. Tratar a pirataria como um assunto puramente legal é um engano porque pirataria é sobre a geopolítica do capitalismo, notadamente, sobre como os estados e corporações interagem à medida que a atividade econômica se expande adentro de novos territórios onde as regras de propriedade e câmbio ainda estão por ser definidas. A história prova que em múltiplas ocasiões, piratas e governos co-definiram essas regras – a esse respeito, nos conta a história da BBC. No mínimo, o movimento pirata precisa ser envolvido mais inclusivamente nas discussões sobre o futuro da regulação. Não foi isso que a União Internacional de Telecomunicações fez durante a cúpula sobre governança global da Internet de 2012, onde apenas governos e seus convidados corporativos tiveram voz e onde a sociedade civil e bilhões de usuários de Internet não tiveram nenhuma. Mas é o que fez o governo da Islândia cooperando com o Wikileaks a repensar a arquitetura das liberdades civis online.
Notas finais
1 Para um exemplo recente, ver o documentário sobre o julgamento dos fundadores do The Pirate Bay, “The Pirate Bay: Away from Keyboard”, http://youtu.be/eTOKXCEwo_8.
2 Christopher Hill, “Liberty Against the Law: Some Seventeenth- Century Controversies” (New York: Penguin Books, 1997),115.
3 Anne Pérotin-Dumon, “The Pirate and the Emperor”, em James Tracy (ed.), The Political Economy of Merchant Empires (Cambridge: Cambridge University Press, 1991), 196–227.
4 Adrian Johns, “Death of a Pirate: British Radio and the Making of the Information Age” (New York: Norton, 2011), 262.
5 Toby Manhire, “Kim Dotcom in Mega, Hollywood, the Internet and Copyright Enforcement”, vídeo.
6 Planetary Resources, website.
7 A emenda foi enquadrada da seguinte forma: “H. Amdt. 413 (Amash) to H.R. 2397: To end authority for the blanket collection of records under the Patriot Act. It would also bar the NSA and other agencies from using Sections 215 of the Patriot Act to collect records, including telephone call records”.
8 Em “The Pirate Organization: Lessons from the Fringes of Capitalism” (Boston: Harvard Business
Review Press, 2013), Rodolphe Durand e eu argumentamos que uma teoria robusta de soberania deve distinguir entre território „mapeado e „não-mapeado‟, e que a análise das forças econômicas sozinha não consegue nos fornecer linhas de ação regulatória úteis.
Tradução sem copyright de Henrique Fco Ungaretti
Fonte: Partido Pirata do Brasil
Democracia e popularização da internet
13 de Dezembro de 2013, 12:37 - sem comentários aindaA Constituição Federal Brasileira, promulgada em 1988, prevê que “todo o poder emana do povo, que o exerce através de seus representantes”. Neste e outros dispositivos sobre o assunto, verifica-se que a democracia de representação é o modelo de governo adotado pelo país, ganhando efetividade através do sufrágio universal. Ainda segundo o texto constitucional, as raras e restritas formas de participação direta do povo podem ser concretizadas, exclusivamente, por meio de plesbicito, referendo ou iniciativa popular (art. 14-CF). Impossível não perceber que, tantos são os obstáculos para o exercício de tais modalidades de participação, que hoje estes institutos tornaram-se distantes da realidade cotidiana política do país.
Pois bem, parece-nos que durante muitos anos o cidadão acostumou-se com a ideia de que o processo eleitoral era a única fase em que tinha oportunidade de se envolver com política. A responsabilidade de cada eleitor, muitas vezes, resumia-se na escolha de representante que decidiria por ele, dali para frente, todas as diretrizes a serem tomadas. Na prática, o papel da grande maioria dos brasileiros encerrava-se com a confirmação de seu voto nas urnas.
Nos últimos anos, no entanto, verifica-se que o desenvolvimento da tecnologia, expansão da inclusão digital e, destacadamente, a popularização das mídias sociais, possibilitaram que o indivíduo ampliasse a sua participação na vida política do país, retomando o poder de influência de que nunca deveria ter abdicado. Afinal, a Carta Magna garante, nos limites da lei, a liberdade de manifestação do pensamento (inciso IV, art. 5°-CF), inclusive de natureza política.
Pode-se imaginar, assim, que talvez durante muitos anos a sonolência do brasileiro para os assuntos políticos tenha se dado em razão da ausência de ferramentas – encontradas hoje, por exemplo, nas redes sociais – para dar escala às suas ideias e comoções, tornando viável o compartilhamento de informações sobre ideais políticos, entre os mais distantes pontos do extenso território nacional.
Fiscalização do poder
De fato, além dos canais para troca de informações e possibilidade de mobilizações sociais (que, aliás, surpreenderam os governantes nos recentes meses), a internet oferece instrumentos de controle e fiscalização da atuação dos três poderes que, aos poucos, são levados à consolidação do governo eletrônico, abrindo canais anteriormente não acessíveis pelo cidadão comum. Para dar efetividade ao disposto no inciso XXXIII do art. 5º da CF (direito à informação), as pressões populares culminaram na aprovação da legislação para acesso à informação pública (Lei 12.527/2011). Por meio dela, formalizou-se que o Estado deve garantir o acesso à informação com procedimentos ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão. Além disso, devem ser utilizados meios e instrumentos legítimos de que dispuserem as entidades públicas, sendo obrigatória “a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet)”.
A Lei Complementar nº 13, de 2009, por sua vez, consignou a transparência nas finanças públicas, de modo que, hoje, é possível encontrar na web dados oficiais sobre contas públicas, salários, contratações, entre outros. Ou seja, a tecnologia possibilitou o acesso facilitado a estas informações importantes, e também permitiu que o brasileiro concebesse sua opinião crítica sobre referidos dados, dividindo-a e aliando-se ideologicamente a outras pessoas interessadas no assunto.
Nesse sentido, é de se mencionar, que a própria imprensa tradicional parece ter perdido o monopólio sobre a comunicação, com a notável insurgência do jornalismo popular ou cívico, destacado principalmente nas manifestações nas ruas e com audiência massiva na rede. A abordagem desses canais não profissionais tem perfil mais combativo, mas contribui de forma diferenciada para a democracia, na medida em que traz para a internet conteúdo próximo da realidade fática, com diversificadas formas de narrativa.
Contudo, mesmo inegável a característica de ruptura das manifestações na democracia virtual, há limites – impostos pela legislação – que preveem a responsabilização (também criminal) pelos abusos. As previsões de calúnia, injúria ou difamação (arts. 138-140 do Código Penal), praticadas pela internet e sob qualquer pretexto, continuam valendo, havendo possibilidade de aumento de pena quando voltadas contra presidente, chefe de governo estrangeiro ou funcionário público, em razão de suas funções (art. 141- Código Penal).
Igualmente, a incitação à prática ou apologia ao crime (arts. 286 e 287-Código Penal), relacionados a dano, por exemplo, (agravado quando praticado contra o patrimônio público,) também são condutas inaceitáveis e penalmente puníveis da mesma forma que os tão socialmente repudiados crimes de corrupção.
Portanto, para fins de uso saudável dos canais digitais no exercício da democracia atual, os processos informativos e educacionais devem ter papel fundamental, para que o cidadão brasileiro possa exercer com plenitude seus direitos e contribuir de maneira legítima para o crescimento da nação.
Finalmente, se vale o ditado que ensina que “conhecimento é poder”, conclui-se que hoje a tecnologia tem auxiliado no processo de empoderamento e politização popular. Aos poucos, com acesso à educação e aos meios de fiscalização do poder público, o poder que “emanava do povo”, mas escorregava de suas mãos, pode ser retomado, ainda que sutilmente, de forma equilibrada e absolutamente interessante para o país.
Por Renato Opice Blum.
Com informações do Observatório da Imprensa.
Partido Pirata oficializa registro em cartório e avança em processo de fundação
13 de Dezembro de 2013, 12:34 - sem comentários aindaO Partido Pirata do Brasil (PIRATAS) está oficialmente registrado em cartório. O processo, concluído nesta terça-feira (10) representa o fim da segunda fase, necessária para a formalização do partido. Nas próximas semanas os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) de vários estados receberão os nomes dos representantes que trarão para validação as assinaturas necessárias para a oficialização do partido.
Para o registro da entidade foi necessária a apresentação de: uma cópia autenticada da Ata da reunião de fundação, uma cópia do exemplar do Diário Oficial da União com o programa e o estatuto, documentos do registro partidário publicados e da relação de todos os seus fundadores, autenticados com certidão de inteiro teor pelo cartório de Registros Públicos de Pessoas Jurídicas de Brasília, cumprindo as exigências do art. 9º da Resolução – TSE nº 23.282/10.
Com isso, o Partido Pirata passará a ser considerado uma pessoa jurídica com nome, função dos dirigentes e endereço da sede na Capital Federal oficializados.
O próximo passo será informar aos (TREs) quem serão os integrantes da Comissão Provisória, composta por representantes de cada Estado, participantes da mesma comunidade que ajudou a financiar voluntariamente as taxas necessárias para a documentação de oficialização do Partido Pirata. Esta Comissão será responsável pela apresentação das assinaturas e pela solicitação da certidão de apoiamento perante aos cartórios e, uma vez oficializada, poderá dar início a campanha de coleta das cerca de 500 mil assinaturas válidas (cerca de 0,5% dos votantes na última eleição), necessárias para autenticar o PIRATAS no sistema representativo de nosso atual regime democrático.
O Partido Pirata do Brasil, e todos os seus integrantes, veem no avanço do processo de formalização partidária a reafirmação e autenticidade dos valores compartilhados por seus membros que lutam pela cultura livre, pela proteção dos direitos humanos, pelo fortalecimento dos mecanismos de fiscalização dos dados públicos e pela abertura das instituições para a participação popular nas decisões políticas.
Com informações do Partido Pirata do Brasil.