Por Laura Loenert*
As ideias mais simples são as mais inovadoras. Sempre acreditei nisso como premissa. Qualquer coisa que necessite de muita explanação para depreender do que se trata, ou me soa “embromation” ou um certo “mais do mesmo”. E não é fácil ter ideias simples que sejam ao mesmo tempo inovadoras, já que, obviamente, nem todas as ideias simples são realmente inovadoras. Mas um pesquisador indiano, no ano de 1999, foi realizador de uma proeza capaz de surpreender até mesmo nosso digníssimo educador Paulo Freire: batizado de “Hole in the Wall”, o experimento de Sugata Mitra consistia em fixar um computador com acesso à internet em um buraco de um muro em uma favela de Nova Délhi, na Índia. Câmeras ocultas registravam a movimentação de curiosos ao redor daquela estranha engenhoca. Para a surpresa de Mitra, a curiosidade partia sobretudo das crianças que brincavam no local. Em questão de horas, elas começaram a aprender e a ensinar umas às outras como usar o computador e navegar na internet. Isso sem nunca ter visto um computador antes e muito menos entender inglês.
O processo autônomo de aprendizagem desse grupo de crianças levou o pesquisador a uma série de questionamentos intrigantes: o que as estimularia a interagir com a máquina e a se manterem atraídas pela experiência? Como se dá esse processo? Seria possível torná-lo um método de aprendizado em grupo que pudesse ser levado às regiões mais pobres do mundo? A resposta veio primeiramente acompanhada de duas palavras-chave fundamentais, no contexto daquilo que pudesse ser, a um só tempo, “relevante” e “interessante”. E que também pudesse ser convertido em grandes questões que instigassem as crianças a buscar o conhecimento como resposta.
Convidado especial da Campus Party Brasil 2012, Sugata Mitra é considerado um dos maiores estudiosos do mundo na área de tecnologia educacional. Atualmente é titular da disciplina na Newcastle University, no Reino Unido, e professor visitante do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Há mais de 5 anos ele percorre cidades no mundo todo a fim de propor um novo modelo de ensino para o século XXI, tendo a tecnologia como ferramenta. Basicamente, um computador com acesso à internet e uma webcam. E o principal, um grupo de alunos em busca de respostas para questões como “de onde vem a linguagem?” ou, o que foi proposto aos alunos em sua visita à cidade de São Paulo em fevereiro passado, “o que nós sonhamos?”
A natureza da pergunta está associada à realidade social, cultural e econômica de cada país. Tudo para fugir do velho padrão “fileiras-alunos-professor-lousa”, ou algo que impeça os estudantes de dormir em sala de aula. Afinal, hoje os tempos são – ou deveriam ser – outros.
O relato do experimento e seus resultados práticos você assiste no vídeo com a íntegra da palestra de Sugata Mitra (em inglês) durante a Campus Party Brasil 2012.
*Laura Loenert é jornalista e editora do blog Gonow Tecnologia. Sua rede social favorita é o Facebook.
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