No último sábado, na maior manifestação de mulheres da história do Brasil [1], elas ocuparam as ruas de todo país, e em várias cidades no exterior, para protestar contra o candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, líder das pesquisas presidenciais.
Declarações misóginas, machistas, racistas e a proposta de ‘armar a população de bem’ para combater a criminalidade na linha ‘bandido bom é bandido morto’, além da defesa da volta do regime militar, estão entre as principais propostas do ex-capitão militar do exército que tem um General como candidato a vice-presidente.
O movimento #EleNão nasceu nas redes sociais da Internet, num grupo do Facebook com mais de 3 milhões de mulheres [5]. Uma semana antes das manifestações de sábado, esse grupo “Mulheres contra o Bolsonaro” foi invadido e ocupado por homens militantes da candidatura do militar, que assumiram a administração por duas vezes, sendo objeto de disputas numa verdadeira batalha de ocupação e finalmente foi retomado pela mulheres. Durante o período em que o grupo esteve nas mãos dos militante de extrema-direita, as mulheres se multiplicaram em milhares de eventos e grupos no Facebook, que de forma descentralizada, comandaram a convocatória para as manifestações de sábado, 29.
"#Elenão não é uma simples hashtag, mas um movimento extraordinário de base, capilar e microscópico, que ao mesmo tempo organiza um ato político e serve de ponto de convergência para outras movimentações de mulheres, online e face a face. Feminismo não é movimento identitário. É pauta política e luta de base, gostem ou não", escreveram Rosana Pinheiro-Machado, Joanna Burigo na semana de preparação das manifestações.
A potência das manifestações, que nasceram nas redes e transbordaram para as ruas, se confirmaram no sábado. Os inúmeros 'eventos Facebook' foram a estrutura orgânica das manifestações #EleNão e os principais responsáveis pelas mobilizações. Convocação descentralizada, ‘autocomunicação de multidões’ de mulheres, ausência de autoridades centrais e de hierarquias verticais do editor para os seguidores, as mulheres multimídia, com grande capacidade de comunicação autônoma, romperam com a lógica das estruturas de comunicação tradicional. A internet não foi apenas um 'componente' da comunicação ou o meio. A internet foi o 'corpo', a 'estrutura orgânica' do movimento.
As manifestações de sábado, envolveram as mulheres e organizações feministas e de esquerda, mas não só. As manifestações reuniram também mulheres autônomas, sem qualquer vínculo com as organizações históricas ou com prioridades no embate eleitoral, mas que se somaram na luta contra o candidato, “com uma forte presença de perfis nativos da rede ligados ao mundo pop, com pitadas do mundo geek, fans de séries, filmes e divas pop, como a Madonna. [3]
Numa eleição atípica e bipolarizada onde o líder real das pesquisas, o ex-presidente Lula, se encontra encarcerado e teve sua candidatura impugnada pela justiça eleitoral, a disputa pela liderança nesse primeiro turno está entre o Fernando Haddad, “candidato do Lula” e o Jair Bolsonaro, ex-capitão do exército.
Numa situação delicada estão as empresas das mídias de massa. As duas candidaturas que lideram na opinião pública, formam opinião e conquistam apoiador@s nas redes
da Internet e não mais na disputa dos programas eleitorais na TV. Isso prova que a relação passiva da comunicação broadcasting com o público não organiza, mesmo que possa ajudar a impulsionar uma cólera coletiva, como ocorreu em 2015. Nas redes, em comunicação horizontal, empoderando a comunicação autônoma, @s apoiador@s do movimento conectados por uma identidade coletiva comum, saem para as ruas na conquista d@s eleitor@s.
Nesse domingo próximo, dia 7, @s brasileir@s vão as urnas numa eleição que pela primeira vez, as mulheres votarão diferente dos homens. Se dependesse do voto masculino, provavelmente Bolsonaro estaria eleito. Está entre as mulheres, em especial entre as mulheres negras e pobres , a maior rejeição ao candidato fascista [4] e isso pode ser decisivo para as eleições e para o futuro do Brasil.
[1] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45700013?ocid=socialflow_facebook”
[2] Rosana Pinheiro-Machado, Joanna Burigo https://theintercept.com/2018/09/28/elenao-movimento-feminista-politico/
[3] https://www.facebook.com/marcelo.branco/posts/10217024858674557
[4] https://www.infomoney.com.br/mercados/politica/noticia/7638584/datafolha-bolsonaro-fragil-entre-mulheres-e-mais-pobres-haddad-com-rejeicao-crescente-em-sp-rj-e-mg
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