O Fórum da Cultura Digital Brasileira é um espaço público e aberto voltado para a formulação e a construção democrática de uma política pública de cultura digital, integrando cidadãos e insituições governamentais, estatais, da sociedade civil e do mercado.
Gov 2.0: o governo como plataforma
21 de Junho de 2010, 0:00 - sem comentários aindaPublicado por josemurilo em: http://www.culturadigital.br/josemurilo/2010/06/20/gov-2-0-o-governo-como-plataforma/
Tim O’Reilly é uma cara esperto. Considera-se empresário do ramo de ‘transferência de conhecimento’, mas é de fato um grande publisher de tecnologia, que também produz conferências técnicas de nível internacional. É atribuída a ele a origem do meme ‘Web 2.0, que ele costuma traduzir como o cenário da ‘internet como plataforma’.
Recentemente O’Reilly lançou um livro chamado ‘Government as a Platform‘ [Governo como Plataforma], o qual está publicado na rede como texto em constante evolução – no caso, o ‘livro como plataforma’ de colaboração.
O conceito de ‘governo como plataforma’ deriva das muitas lições aprendidas com o sucesso das plataformas digitais e especialmente da internet, e reafirma a importância dos padrões e protocolos abertos para potencializar a inovação e o crescimento distribuídos. A estratégia é focar no design da participação buscando soluções simples, mínimas, que possam evoluir com a colaboração direta dos interessados.
O fato é que há tempos ouvimos falar na sociedade da informação, mas parece que somente agora começamos a vivenciar concretamente suas possibilidades mais transformadoras.
Recentemente me peguei enviando convites do FourSquare – a rede social móvel baseada em geo-localização – a amigos mais chegados. Creio que não fazia isto deste o tempo do lançamento do Orkut no Brasil.
Com um aplicativo desses no smartphone é possível acessar (e fornecer) dicas sobre restaurantes, atrações locais, enfim, se informar em tempo real sobre o lugar onde você se encontra. Tudo isso com base na informação do dispositivo GPS.
O’Reilly recentemente em uma de suas palestras brincou dizendo que Ronald Reagan poderia ser o CEO do FourSquare. Isto porque foi ele quem, em 1983, se tornou o principal responsável pela liberação do uso civil do sistema de satélites GPS, que então constituíam propriedade privada da força aérea norte-americana.
Em nosso caso atual, não é a força aérea que provê os dados de qual é o bom restaurante, ou a cerveja mais gelada da redondeza. É o FourSquare, iniciativa que ilustra o cenário de oportunidades para o setor privado desenvolver inovações sofisticadas sobre infraestrutura pública, criando novos serviços sobre recursos já desenvolvidos pelo governo. Este é o conceito do ‘governo como plataforma’.
Temos exemplos de plataformas geradas pelo setor privado, com diferentes modelos de funcionamento. A Apple construiu o iPhone, que é também uma plataforma, e hoje existem mais de 50 mil aplicativos desenvolvidos, dos quais a empresa fez apenas 20. O Google, por seu lado, vem consistentemente demonstrando o mundo de possibilidades do processamento de grande volume de dados de usuários. O’Reilly fala de um modelo de participação implícita.
“Nós temos todos os dados que precisamos, gerado por exemplo pelas interações dos cidadãos com o sistema de saúde, que pode nos ajudar a compreender a melhor forma de alinhar custos e resultados. Para potencializar plenamente esse modelo é preciso ir além da transparência e, como o Google fez com o AdWords, começar a implementar ‘feedback data-driven loops‘ [ciclos contínuos de apuração guiados por dados] diretamente no sistema. Existem ferramentas do Google para estimar a eficácia da publicidade de cada palavra-chave disponíveis para os anunciantes, mas isto não é o mais importante. A verdadeira magia é que o Google usa todo o seu conhecimento sobre os dados para beneficiar diretamente os usuários fornecendo melhores resultados de pesquisa e anúncios mais relevantes.”
Lição 5: ‘Data Mining’ permite que você aproveite da participação Implícita
No evento que realizamos no mês passado, o ‘Simpósio Internacional de Políticas Públicas para Acervos Digitais‘, um dos mais acalorados foi o debate sobre o ‘Acordo Google Books‘. Sobre o tema vale conferir as posições do Prof. José de Oliveira Ascensão, de Jean Claude-Guédon, e de Alexandre Pesserl, registradas por ocasião do evento.
Eu já havia postado sobre o Acordo Google Books anteriormente, sublinhando a importância da reavaliação em nossa lei de direito autoral. Hoje temos a satisfação de participar do esforço em conceber e implementar a plataforma colaborativa que gerencia o processo aberto de consulta pública sobre a proposta de reforma da lei.
Observando de perto a evolução do ecossistema da rede global, e refletindo sobre as limitações que os modelos do século 20 apresentam para o enfrentamento dos desafios da sociedade da informação, não é tão difícil formular cenários onde o governo pode atuar como plataforma. Aqui no CulturaDigital.BR temos chamado estas implementações de ‘plataformas que realizam políticas’. Faz sentido?
Publicado por José Murilo em: http://www.culturadigital.br/josemurilo/2010/06/20/gov-2-0-o-governo-como-plataforma/
Transparência pública e ‘hackeamento’ de dados II
18 de Junho de 2010, 0:00 - sem comentários aindaO usuário Elimar – Caranguejo puxou o texto do jornalista Breno de Castro Alves publicado no site da ONG Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e reproduziu a matéria sobre “civic hacking” em seu blog Cabuléticos. O post explica de forma didática os conceitos envolvidos no processo de hackeamento de dados públicos por parte da sociedade civil, enumerando diversas iniciativas brasileiras como o Twitter PROJdeLei, que divulga todo novo cadastramento de Projeto de Lei no site da Câmara dos Deuptados pela rede de microblogging.
Post publicado em: http://www.culturadigital.br/elimarcaranguejo/2010/06/17/sobre-cidadaos-hackers-e-governos-transparentes/
Sobre cidadãos hackers e governos transparentes
Originalmente em: http://culturadigital.org.br/site/blog/2010/06/16/sobre-cidadaos-hackers-e-governos-transparentes/
The Open Mind Principle
Bruno Barreto tem vinte anos, é programador e cidadão ativo. Diz ele: “estava procurando um tema para fazer uma aplicação de transparência e acabei descobrindo o serviço de SAC da prefeitura de São Paulo. Lá só é possível reclamar, não tem nem como acompanhar o que está sendo feito, então na prática é inútil para o cidadão”.
Respondendo à ineficiência administrativa identificada, Bruno criou o SACSP, projeto que colheu dezenas de milhares de reclamações públicas no site oficial e agora as disponibiliza agrupada por tipo, região ou dia da semana. O resultado é um mapeamento objetivo das demandas municipais que, encontrando padrões de ocorrência, permite até mesmo antecipar problemas.
brunoafbarreto: imagina se todo cidadão tivesse plena ciência dos problemas da sua região e de tudo que a prefeitura está fazendo para consertá-los, as pessoas reagiriam muito melhor ao governo. Todo mundo sabe que a cidade tem milhões de problemas, é preciso abrir quais são eles e o que está sendo feito pra resolver, ou as pessoas só vão reclamar mais e mais.
brenocastroalves: mas a administração não vai estar se expondo?
brunoafbarreto: vai, e os gestores sabem disso. Essa é a sacada.
Dados governamentais abertos é a disponibilização de informações governamentais em formato aberto e acessível, que podem ser reutilizadas e misturadas com informações de outras fontes para gerar novos significados. Não adianta disponibilizar de qualquer jeito, os dados precisam obedecer as leis básicas que permitirão sua reapropriação.
Desde seu surgimento a web instiga novas formas de contato e diálogo entre governo e cidadão, dando fruto a propostas como governo eletrônico e portais municipais. Porém, o ritmo com que o poder público se apropria da revolução tecnológica não acompanha o desenvolvimento digital da sociedade civil.
Iniciativas como o SACSP pipocam pelo país, cidadãos interessados dando um jeito de burlar a estrutura administrativa para se apropriar e conferir novo valor a dados, que, por direito, são seus. Eis o hacker cidadão: indivíduo disposto a investir tempo pessoal subvertendo algum sistema oficial com objetivo de “libertar” e reorganizar dados governamentais públicos.
“Essa discussão começou a pegar força em 2007, nos EUA e na Europa”, informa a pesquisadora Daniela Silva, que estuda as relações possíveis entre transparência pública e novas tecnologias. “Temos uma questão cultural muito grande para resolver, que é a revisão do papel do poder público no contexto que as tecnologias da informação permitem. Queremos que gestores e administrações parem de se entender como fornecedores de informação processada e passem a se enxergar como fornecedores de informação estruturada, primária, que pode ser revista de acordo com as necessidades da sociedade civil”, avalia.
Daniela é uma das fundadoras da Esfera, empresa que quer ver acontecer, na política, a mesma revolução de práticas, valores e princípios que as novas tecnologias trouxeram para a comunicação. Uma de suas bandeiras é a campanha pelos dados abertos, demandando o direito de aplicar múltiplos olhares sobre um fenômeno, revelando valores que o poder público jamais iria identificar.
Afirma que não tem encontrado portas fechadas nas conversas com gestores, mas o maior obstáculo é a lentidão, associada à cultura de burocracia e à estrutura de máquina pesada: “o que acontece é que estamos falando de processo tecnicamente muito simples, que estão avançando a passos largos por todo o mundo. O Brasil definitivamente poderia estar melhor . Hoje não temos iniciativa séria nessa questão, a administração que abrir seus dados agora, de forma consistente, certamente será pioneira, provavelmente referência na área”, conclui.
Dados abertos: informações públicas disponíveis em formato aberto, preferencialmente como catálogo, seguindo formatos de software livre e que possam ser lidos por máquina. PDF é um exemplo de dado fechado, pois não pode ser manipulado.
Dados legíveis por máquina: informação em formato que pode ser interpretado eletronicamente, permitindo processamento eletrônico
Scraping ou raspagem: técnicas para colher dados que estão online mas não disponibilizados de maneira apropriada, como aqueles que podem ser visualizados e não copiados ou que não são legíveis por máquina
Mashup: fusão de um banco de dados com uma tecnologia ou de uma tecnologia com outra para criar resultados novos. SACSP é um bom exemplo de fusão entre banco de dados e ferramenta de mapa para gerar conteúdo novo.
Hack: re-configurar ou re-programar um sistema para permitir usos não disponibilizados/previstos por seu administrador ou criador
Iniciativas Nacionais
- Daniela Silva, sobre o que é hack cívico
Transparência HackDay – Movimento de pessoas interessadas em, de forma autônoma e horizontal, levantar ideias e desenvolver projetos de interesse público, baseados em informações públicas ou de governo, gerando transparência e participação política na rede.
Xerifes do DF – Hacking de informações do site do TSE. Permite saber, numa visualização de mapa, qual candidato foi mais votado numa determinada seção eleitoral
Rede Voto Consciente – Comunidade de prática que estimula o acompanhamento das ações de legisladores no Brasil, bem como se suas ações estão coerentes com suas promessas de campanha.
Legisdados – Hack do site da Câmara dos Deputados, permite uma manipulação simples dos Atos Normativos tramitados no Parlamento Brasileiro
Vote na Web – Permite coletar e compilar opiniões da sociedade sobre as Leis aprovadas no Congresso Nacional. O portal proporciona um comparativo entre o posicionamento popular sobre cada PL e o posicionamento dos legisladores. Permite ainda acompanhamento completo do perfil do legislador e de sua atividade parlamentar.
Yahoo Open Hack – Experiência que, entre outras, apresentou técnicas de extração de dados de sites governamentais “na marra”, ou seja, com a criação de scripts para extração de dados brutos de arquivos complexos, como os em formato HTML
Place Hacker – Prestação de Contas da Câmara Municipal de São Paulo – Hack que proporciona visualização interativa e de simples compreensão dos dados referentes a prestação de contas dos Vereadores da cidade de São Paulo
Gas Finder – Hack que extrai dados do site da ANP sobre localização de postos de combustível, preços dos combustíveis, etc. O GasFinder pode ser instalado no celular e permite que o usuário possa localizar os postos mais próximos de onde se encontra, e demais informações referentes ao combustível comercializado no Brasil.
Twitter PROJdeLei – Conta do Twitter que divulga todo novo cadastramento de Projeto de Lei no site da Câmara dos Deuptados.
SAC SP – Hack que distribui e categoriza em formato de mapa todas as reclamações submetidas pelos munícipes para a Prefeitura de São Paulo. No site é possível visualizar quais os maiores problemas urbanos da cidade de São Paulo por área geográfica.
Um e-reader é livro ou aparelho eletrônico?
18 de Junho de 2010, 0:00 - sem comentários aindaPost publicado por Lucas Pretti em: http://culturadigital.br/simposioacervosdigitais/2010/06/17/um-e-reader-e-livro-ou-aparelho-eletronico/
Parece besteira discutir essa pergunta em tempos de hibridismo – cultural, tecnológico, de comportamento. Mas a diferença é tributária. O primeiro e-reader brasileiro, fabricado pela Mix Tecnologia no pólo de tecnologia do Recife, chegaria ao mercado final com preço menor que os atuais R$ 990 se não fosse considerado um aparelho eletrônico, e sim um livro. O diretor da Mix, Murilo Marinho, levanta essa questão no vídeo abaixo, produzido pela FLi Multimídia no Simpósio Internacional de Políticas Públicas para Acervos Digitais.
O Mix Leitor D (www.leitord.com.br), como foi batizado depois do fim do simpósio, é o primeiro produto patenteado como e-reader no Brasil, propagandeado pelos fabricantes como um leitor “adaptado à realidade nacional”. Isso significa preocupação educacional. Um software chamado Interquiz daria conta de criar interação entre o usuário e o livro digital em forma de perguntas, respostas e comentários para determinadas palavras ou assuntos. O Leitor D ainda não está no mercado, por isso não se pode avaliar o funcionamento do software. Quando estiver disponível para compra, o preço será R$ 990.
O Senado brasileiro aprovou no ano passado isenção de impostos para fabricantes de livros – e a Justiça sinalizou, numa decisão pontual em São Paulo, que o Kindle, o e-reader da Amazon, seria tributado como livro. A competitividade aumentaria, assim como baixaria o preço final dos aparelhos.
Mas como definir o caráter de um aparelho desse? E o iPad, da Apple, indefinível entre os universos de tablets e e-readers? “O Leitor D usa tinta eletrônica, tecnologia que simula papel e consome pouca bateria. É mais um Kindle do que um iPad”, afirma Murilo Marinho. Ele acredita que, sim, o fato de ser um produto nacional seria preponderante na decisão de compra do consumidor no varejo e do poder público, que poderia distribuir o aparelho em escolas. A ver.
Bibliotecários não são mais guardiões de livros
16 de Junho de 2010, 0:00 - sem comentários aindaPublicado por Lucas Pretti em: http://culturadigital.br/simposioacervosdigitais/2010/06/16/bibliotecarios-nao-sao-mais-guardioes-de-livros/
A conceito original de biblioteca (e o quanto ele não faz mais sentido hoje em dia) é a questão central para discutir acervos digitais, para o coordenador do projeto holandês Images for the Future, Paul Keller. “Não andamos mais a cavalo. Não faz sentido que tudo fiquei reunido num lugar só, no centro das cidades.” Em entrevista para a FLi Multimídia durante o Simpósio Internacional de Políticas Públicas para Acervos Digitais, que resultou no vídeo abaixo, ele defendeu a descentralização do conhecimento e a liberdade da rede.
“Antigamente, a sociedade precisava mesmo se reunir em centros, para facilitar o acesso a tudo. Agora é o contrário”, diz Keller. O acesso, hoje, é garantido exatamente pela descentralização. “Não é necessário que todas as bibliotecas da Europa tenham a obra completa de Goethe ou de Shakespeare. Essa replicação não faz mais sentido.”
Keller é um dos coordenadores do projeto Images for the Future, que pretende organizar e indexar, em sete anos (começando em 2006), toda a produção audiovisual holandesa dispersa em diversas instituições do país. O projeto será pioneiro na integração dos bancos de imagens e filmes com os da Wikimedia Commons, em licença Creative Commons. Ou seja, tudo o que for digitalizado e catalogado pelo projeto estará disponível para consulta na encilopédia online Wikipedia.
A própria Wikipedia, para Keller, é o exemplo de organização descentralizada de que o mundo precisa hoje. Sites para troca de arquivos em torrent também. “Eles têm infinitamente mais conteúdo e bancos de dados mais completos do que os arquivos nacionais porque simplesmente decidiram ignorar as restrições impostas por leis de direito autoral”, afirma. E conclui com uma nova conceituação, agora sobre o papel dos bibliotecários: “Bibliotecários não são mais guardiões de livros, mas pessoas que te ajudam a navegar pela informação”.
Videocriaturas reúnem “tecnimagens” e performances
16 de Junho de 2010, 0:00 - Um comentárioHá 30 anos, Otávio Donasci criou o que ele chamou de “videocriaturas”: seres cíbridos, ainda sem definição e em estudo, que podem ser descritos como televisores que projetam uma determinada atuação junto a performance de um ator, funcionando como complemento entre videoarte e atuação. Na tentativa de entender a ideia do artista, Thiago Carrapatoso gravou a entrevista abaixo, dividada em dois vídeos e publicada no Blog A Arte do Cibridismo. “Para mim a fronteira não é mais é parte virtual e sim o corpo: como fazer com o corpo todas as viagens que a gente começou com o virtual”, explicou Donasci.
Vídeo 1:
Vídeo 2:
Esta semana, em 17 de junho, Donasci apresentará as videocriaturas em São Paulo. Para saber mais, leia o post do Thiago em: http://culturadigital.br/artedocibridismo/2010/06/16/artedigital-br-encontro-com-otavio-donasci/