O usuário Elimar – Caranguejo puxou o texto do jornalista Breno de Castro Alves publicado no site da ONG Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e reproduziu a matéria sobre “civic hacking” em seu blog Cabuléticos. O post explica de forma didática os conceitos envolvidos no processo de hackeamento de dados públicos por parte da sociedade civil, enumerando diversas iniciativas brasileiras como o Twitter PROJdeLei, que divulga todo novo cadastramento de Projeto de Lei no site da Câmara dos Deuptados pela rede de microblogging.
Post publicado em: http://www.culturadigital.br/elimarcaranguejo/2010/06/17/sobre-cidadaos-hackers-e-governos-transparentes/
Sobre cidadãos hackers e governos transparentes
Originalmente em: http://culturadigital.org.br/site/blog/2010/06/16/sobre-cidadaos-hackers-e-governos-transparentes/
The Open Mind Principle
Bruno Barreto tem vinte anos, é programador e cidadão ativo. Diz ele: “estava procurando um tema para fazer uma aplicação de transparência e acabei descobrindo o serviço de SAC da prefeitura de São Paulo. Lá só é possível reclamar, não tem nem como acompanhar o que está sendo feito, então na prática é inútil para o cidadão”.
Respondendo à ineficiência administrativa identificada, Bruno criou o SACSP, projeto que colheu dezenas de milhares de reclamações públicas no site oficial e agora as disponibiliza agrupada por tipo, região ou dia da semana. O resultado é um mapeamento objetivo das demandas municipais que, encontrando padrões de ocorrência, permite até mesmo antecipar problemas.
brunoafbarreto: imagina se todo cidadão tivesse plena ciência dos problemas da sua região e de tudo que a prefeitura está fazendo para consertá-los, as pessoas reagiriam muito melhor ao governo. Todo mundo sabe que a cidade tem milhões de problemas, é preciso abrir quais são eles e o que está sendo feito pra resolver, ou as pessoas só vão reclamar mais e mais.
brenocastroalves: mas a administração não vai estar se expondo?
brunoafbarreto: vai, e os gestores sabem disso. Essa é a sacada.
Dados governamentais abertos é a disponibilização de informações governamentais em formato aberto e acessível, que podem ser reutilizadas e misturadas com informações de outras fontes para gerar novos significados. Não adianta disponibilizar de qualquer jeito, os dados precisam obedecer as leis básicas que permitirão sua reapropriação.
Desde seu surgimento a web instiga novas formas de contato e diálogo entre governo e cidadão, dando fruto a propostas como governo eletrônico e portais municipais. Porém, o ritmo com que o poder público se apropria da revolução tecnológica não acompanha o desenvolvimento digital da sociedade civil.
Iniciativas como o SACSP pipocam pelo país, cidadãos interessados dando um jeito de burlar a estrutura administrativa para se apropriar e conferir novo valor a dados, que, por direito, são seus. Eis o hacker cidadão: indivíduo disposto a investir tempo pessoal subvertendo algum sistema oficial com objetivo de “libertar” e reorganizar dados governamentais públicos.
“Essa discussão começou a pegar força em 2007, nos EUA e na Europa”, informa a pesquisadora Daniela Silva, que estuda as relações possíveis entre transparência pública e novas tecnologias. “Temos uma questão cultural muito grande para resolver, que é a revisão do papel do poder público no contexto que as tecnologias da informação permitem. Queremos que gestores e administrações parem de se entender como fornecedores de informação processada e passem a se enxergar como fornecedores de informação estruturada, primária, que pode ser revista de acordo com as necessidades da sociedade civil”, avalia.
Daniela é uma das fundadoras da Esfera, empresa que quer ver acontecer, na política, a mesma revolução de práticas, valores e princípios que as novas tecnologias trouxeram para a comunicação. Uma de suas bandeiras é a campanha pelos dados abertos, demandando o direito de aplicar múltiplos olhares sobre um fenômeno, revelando valores que o poder público jamais iria identificar.
Afirma que não tem encontrado portas fechadas nas conversas com gestores, mas o maior obstáculo é a lentidão, associada à cultura de burocracia e à estrutura de máquina pesada: “o que acontece é que estamos falando de processo tecnicamente muito simples, que estão avançando a passos largos por todo o mundo. O Brasil definitivamente poderia estar melhor . Hoje não temos iniciativa séria nessa questão, a administração que abrir seus dados agora, de forma consistente, certamente será pioneira, provavelmente referência na área”, conclui.
Dados abertos: informações públicas disponíveis em formato aberto, preferencialmente como catálogo, seguindo formatos de software livre e que possam ser lidos por máquina. PDF é um exemplo de dado fechado, pois não pode ser manipulado.
Dados legíveis por máquina: informação em formato que pode ser interpretado eletronicamente, permitindo processamento eletrônico
Scraping ou raspagem: técnicas para colher dados que estão online mas não disponibilizados de maneira apropriada, como aqueles que podem ser visualizados e não copiados ou que não são legíveis por máquina
Mashup: fusão de um banco de dados com uma tecnologia ou de uma tecnologia com outra para criar resultados novos. SACSP é um bom exemplo de fusão entre banco de dados e ferramenta de mapa para gerar conteúdo novo.
Hack: re-configurar ou re-programar um sistema para permitir usos não disponibilizados/previstos por seu administrador ou criador
Iniciativas Nacionais
- Daniela Silva, sobre o que é hack cívico
Transparência HackDay – Movimento de pessoas interessadas em, de forma autônoma e horizontal, levantar ideias e desenvolver projetos de interesse público, baseados em informações públicas ou de governo, gerando transparência e participação política na rede.
Xerifes do DF – Hacking de informações do site do TSE. Permite saber, numa visualização de mapa, qual candidato foi mais votado numa determinada seção eleitoral
Rede Voto Consciente – Comunidade de prática que estimula o acompanhamento das ações de legisladores no Brasil, bem como se suas ações estão coerentes com suas promessas de campanha.
Legisdados – Hack do site da Câmara dos Deputados, permite uma manipulação simples dos Atos Normativos tramitados no Parlamento Brasileiro
Vote na Web – Permite coletar e compilar opiniões da sociedade sobre as Leis aprovadas no Congresso Nacional. O portal proporciona um comparativo entre o posicionamento popular sobre cada PL e o posicionamento dos legisladores. Permite ainda acompanhamento completo do perfil do legislador e de sua atividade parlamentar.
Yahoo Open Hack – Experiência que, entre outras, apresentou técnicas de extração de dados de sites governamentais “na marra”, ou seja, com a criação de scripts para extração de dados brutos de arquivos complexos, como os em formato HTML
Place Hacker – Prestação de Contas da Câmara Municipal de São Paulo – Hack que proporciona visualização interativa e de simples compreensão dos dados referentes a prestação de contas dos Vereadores da cidade de São Paulo
Gas Finder – Hack que extrai dados do site da ANP sobre localização de postos de combustível, preços dos combustíveis, etc. O GasFinder pode ser instalado no celular e permite que o usuário possa localizar os postos mais próximos de onde se encontra, e demais informações referentes ao combustível comercializado no Brasil.
Twitter PROJdeLei – Conta do Twitter que divulga todo novo cadastramento de Projeto de Lei no site da Câmara dos Deuptados.
SAC SP – Hack que distribui e categoriza em formato de mapa todas as reclamações submetidas pelos munícipes para a Prefeitura de São Paulo. No site é possível visualizar quais os maiores problemas urbanos da cidade de São Paulo por área geográfica.
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