O Fórum da Cultura Digital Brasileira é um espaço público e aberto voltado para a formulação e a construção democrática de uma política pública de cultura digital, integrando cidadãos e insituições governamentais, estatais, da sociedade civil e do mercado.
Plataformas Colaborativas Disponíveis no CulturaDigital.BR
28 de Janeiro de 2014, 14:14 - sem comentários aindaA plataforma CulturaDigital.BR, lançada em 2009 pelo Ministério da Cultura em parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), foi a primeira plataforma de rede social aberta lançada por um governo no mundo. Em sua proposta original, lançou o slogan “Um novo jeito de fazer política pública”. Implementada com funcionalidades típicas das redes sociais, como perfil integrado de usuário, grupos e fóruns, ofereceu também aos usuários a possibilidade de criação de blogs WordPress customizáveis.
A proposta era basicamente inaugurar um novo modelo de diálogo do estado com a sociedade, explorando o uso de interfaces digitais e dos novos modos de interação em rede, os quais a população brasileira vinha experimentando intensamente desde a aparição do fenômeno ‘Orkut’. O plano de realizar este exercício de diálogo aberto em 2009, à partir de uma iniciativa pública baseada em software livre, e orientada para a construção colaborativa de políticas públicas, foi menção honrosa do prêmio ‘Ars Electronica’, o ‘Oscar da Internet’, em 2010.
Em sua história desde então, a plataforma CulturaDigital.Br foi suporte para dois memoráveis processos de consulta pública no Brasil, realizados pela primeira vez de forma aberta e participativa, e utilizando funcionalidades interativas da web 2.0: (1) O processo de construção do Marco Civil da Internet (2009-2012); e a (2) Consulta Pública da Lei de Direito Autoral (2010).
As consultas públicas no país, até aquele momento, funcionavam apenas como uma apresentação da proposta legislativa, e a participação era restrita ao envio de comentários e sugestões por emails, os quais não chegavam a ser conhecidos pelos participantes do processo. A falta de transparência resultava em desestímulo à participação, esvaziando assim o potencial deste importante canal de diálogo estado-sociedade.
Fiel a esta origem e trajetória, a plataforma CulturaDigital.BR segue inovando na disponibilização de ferramentas que exploram a conversa em rede, a construção colaborativa de consensos, e a documentação de processos participativos online. Seguimos utilizando a tecnologia WordPress, que apresenta através da customização de ‘temas’ e ‘plugins’, a possibilidade de se criar plataformas de articulação em rede com base em instalações de blogs hospedados no CulturaDigital.BR.
Veja mais: http://culturadigital.br/plataformascolaborativas/
1) Consultas Públicas
A aplicação “Consultas Públicas”, formatada como um ‘tema’ para WordPress, oferece um conjunto de ferramentas para pesssoas ou instituições interessadas em operacionalizar uma consulta pública pela internet.
Suas funcionalidades incluem um ‘tema’ completo,capaz de publicar blog configurado para realizar consultas sobre um ou mais ‘objetos’. Amplamente customizável, a aplicação é capaz de apresentar avaliações quantitativas e qualitativas da consulta em curso, com opções para o tratamento dos resultados.
2) Delibera – Democracia Online
A aplicação “Delibera”, apresentada como um ‘plugin’ (módulo) a ser adicionado a uma instalação WordPress, tem a capacidade de configurar uma plataforma virtual interativa. Facilita a construção de um conjunto de ambientes que poderão ser utilizados por gestores e servidores para proporcionar novas formas de participação a serem apropriadas pela cidadania.
A aplicação tem por objetivo promover a documentação e a contextualização de processos de debate e reflexão distribuídos em rede, facilitando o acesso do cidadão interessado às formas de incidir nas políticas públicas do governo brasileiro. As funcionalidades do Delibera abrangem uma variedade de recursos online, incluindo ferramentas de comunicação e interação, fóruns de debate, salas de bate papo, vídeos, mapas, mecanismos de consulta, dentre outros.
3) Cartografias Colaborativas
Em desenvolvimento. Saiba mais sobre ‘Cartografias Colaborativas‘.
Criativa, sustentável, participativa… e livre
27 de Janeiro de 2014, 11:54 - sem comentários aindaTexto de Felipe Fonseca
Originalmente publicado na revista “A Rede”
Economia criativa é uma das expressões quentes do momento. É uma definição que tem influência das políticas de “indústrias criativas” desenvolvidas no Reino Unido ao longo da última década e meia. Políticas que partem de uma interpretação particular sobre o que seriam as áreas “criativas”: aqueles setores da economia nos quais o conhecimento aplicado e a produção simbólica teriam um papel central – como é o caso do design, da mídia e do entretenimento, das artes e áreas similares. Afirmam ainda a centralidade da criatividade individual para geração de riqueza, por meio de mercados baseados na exploração de propriedade intelectual. É importante questionar algumas dessas premissas.
No começo da década passada, a referência das indústrias criativas foi considerada um modelo a ser replicado. Com o passar dos anos, incorporou outras referências e áreas de atuação, como turismo, gastronomia, tecnologia da informação, sustentabilidade. Governos investiram no conceito de bairros ou cidades criativas e pesquisadores como a brasileira Ana Carla Fonseca dedicaram-se a conceituar e investigar uma economia criativa que relacionasse economia, cultura e tecnologia.
Em paralelo, eventos como a convenção My Creativity (Amsterdam, 2006) criticavam a superficialidade de grande parte do discurso oficial. Apontavam a discrepância entre a visão triunfalista – que tinha na economia criativa uma utopia –, e a realidade cotidiana do precariado digital. O precariado é a força de trabalho dessas áreas, formada em grande parte por profissionais autônomos ou subcontratados, sem horário de trabalho definido, garantias trabalhistas ou órgãos de negociação coletiva. Para azedar mais o caldo, apontavam para os riscos da gentrificação, efeito colateral de projetos de regeneração urbana que expulsam populações fragilizadas dos bairros criativos.
Por causa dessa tensão entre o potencial dos setores criativos como motores de transformação social e seus efeitos reais na cidade se torna ainda mais importante articular novas estratégias. As palavras usadas para isso têm grande poder. A mudança de um discurso de indústrias criativas para um de economia criativa já é uma sinalização interessante: pode significar que se saiu de um foco exclusivo na produção e distribuição de valor comercial de cima para baixo, em favor de uma visão sistêmica, capaz de visualizar relacionamentos e fluxos de valor multidirecionais.
Mas a parte “criativa” também merece algum questionamento. Esse tipo de adjetivo costuma funcionar por oposição. Ou seja, quando falamos em uma cidade criativa, estamos recusando a cidade acomodada, conservadora, adormecida, estática. Da mesma forma, devemos buscar uma economia sustentável em oposição a uma economia que desperdiça recursos, talentos e infraestrutura. E queremos também uma sociedade participativa e solidária em lugar de uma sociedade excludente, autoritária e elitista. Por fim, buscamos uma população interconectada em lugar de uma população fragmentada, formada por guetos que não se relacionam. Podemos, sim, falar em uma economia criativa, desde que não esqueçamos que buscamos uma economia dentro de uma sociedade urbana plural; e que queremos trabalhar com uma economia criativa que também seja sustentável, participativa e conectada. Como avançar nesse sentido?
É aqui que as tecnologias de informação e comunicação adquirem um papel ainda mais central. Ao mesmo tempo em que se formava o discurso que resultou na economia criativa, o Brasil assumia relevância internacional com a adoção das tecnologias livres e abertas como instrumentos de inclusão e participação na sociedade da informação. Mais do que isso, o país foi pioneiro no desenvolvimento de políticas públicas de cultura digital, que reconheciam o fazer das novas tecnologias como essencialmente cultural. Uma estratégia de economia criativa relevante para nossos contextos particulares precisa incorporar e expandir esse legado, além de se relacionar com os campos da economia solidária e da tecnologia social que fazem a articulação entre inovação e contextos sociais diversos.
Para construir as bases de uma economia criativa, precisamos começar com o acesso às TICs, portanto. É preciso que o acesso impulsione a inovação atenta a demandas da sociedade como um todo. Incentivar a criatividade é importante não somente para a produção de mídia, design, moda e gastronomia, como também para saneamento básico, coleta de lixo, serviços de defesa civil, mobilidade urbana, saúde pública e tantas outras áreas.
Além disso, as experiências do software livre, do código aberto e do conhecimento livre, se colocadas em diálogo com a inovação cotidiana na forma das gambiarras e dos mutirões, apontam para a viabilidade e a relevância de estratégias que reconheçam o caráter coletivo e colaborativo de boa parte da inovação contemporânea. Por esses motivos, a própria ideia de empreendedorismo deve ser repensada. Não podemos nos limitar a um empreendedorismo somente focado em abrir empresas comerciais. Voltar todos os esforços da criatividade para o indivíduo, para o mercado e para a propriedade intelectual é um desperdício do talento que poderia ser aproveitado para enfrentar questões importantes da sociedade. Onde fica o empreendedorismo social, em rede?
Por essas razões que políticas públicas de inclusão digital devem explorar o potencial da economia criativa. Podem estimular o surgimento de projetos criativos articulados em telecentros, agora ressignificados como laboratórios experimentais que busquem enfrentar demandas de suas próprias comunidades com ações inovadoras (e sustentáveis, participativas, solidárias, conectadas, livres). Os instrumentos para isso já temos.