Já foi citado aqui o Projeto Cervo, do Ministério da Cultura, que pretende disponibilizar na rede de maneira simples e acessível as bases de dados dos acervos públicos ligados ao órgão, como o da Cinemateca, Funarte, Biblioteca Nacional. Esta semana, mais um post sobre o assunto foi publicado no blog criado para relatar o processo, explicando melhor a ideia e objetivo da ação.
Protocolo ou Platafoma?
Publicado por Daniel Prado em: http://culturadigital.br/videoblog/2010/06/29/protocolo-ou-plataforma/
Entrevista com Lincoln de Sousa e Thiago Silva (Jester), sobre a natureza do projeto, premissas, modelos de desenvolvimento e estratégias.
Integrar bases de dados de acervos digitais na tecnologia da informação pode ser comparada, em grau de importância, com a busca pela teoria definitiva na física. Por diversos momentos, desde o início da grande articulação que viria a se tornar a ação de Cultura Digital do MinC sob a coordenação de José Murilo, esse tema foi debatido, revisto e repensado. Dpádua, Jester, Metal e Marcola (equipe pioneira da ação que começou em 2002) confabulavam nessa direção, assim como outros atores em diferentes momentos e cenários.
A descrição do desafio é simples: permitir que uma pessoa consiga estar conectada a ‘todos’ os acervos do mundo. Claro que ‘todos’ significa ‘todos os que quiserem brincar de liberdade’, restando ainda bastante espaço para os proprietários que preferirem permanecer enclausurados em suas ‘exclusividades’.
Desafiar pode até ser fácil, entretanto, tornar possível não é nada simples.
Se em algum momento acreditou-se que o caminho seria a construção de uma plataforma, ao longo do tempo a ideia amadureceu e o consenso, hoje, é que o cerne da questão é mais embaixo. Sob essa ótica, percebeu-se mais viável dar atenção ao protocolo de comunicação entre as bases, para depois pensar as camadas superiores com um protocolo para metadados, ou outros protocolos, se necessário.
O fato é que qualquer plataforma de acervo digital, que queira se conectar com outras plataformas, necessita de um protocolo que permita comunicação em rede mundial. Por que não instituir um protocolo em comum para que qualquer plataforma possa se inserir de forma autônoma e livre em um sistema de comunicação e integração de dados e metadados? Isso seria a aplicação do conceito de federação.
Sistemas federados dessa forma podem oferecer sua base de dados para buscas extremamente qualificadas, permitindo que uma pessoa busque, por exemplo, por “samba” e o resultado traga vídeos do acervo da cinemateca, áudios da funarte, bibliografia da biblioteca nacional, e muito mais.
De que maneira então nossa proposta se diferencia da forma atual de busca informações na rede? Por exemplo, se eu digitar “samba” no google, vou ter vídeo de acervos de vídeo, textos de diversos locais, artigos de acervos de pesquisa, e por aí vai. A diferença está no “acesso”, na autonomia que as pessoas poderão ter em criar suas próprias experiências de busca sobre a rede federada.
Ainda assim, alguém poderia dizer “mas eu posso criar meu próprio mecanismo de buscador na web, assim como o google criou um, assim como yahoo criou… eu já tenho autonomia para fazer isso”. Hoje, quem provê um serviço de busca ou sistema de conteúdos possui autonomia para o desenvolvimento e disponibilidade desses recursos. Porém, o usuário só possui autonomia para escolher qual ferramenta usar e submetido está às limitações de sua escolha. Por exemplo, nos sistemas de busca atuais, o critério de indexação dos resultados é alheio a vontade de quem busca e restrito ao alcance limitado de cada buscador (google, bing, etc). Fatalmente (como acontece na prática), em sistemas de busca, o conteúdo que vemos é o conteúdo que os buscadores escolhem nos expor. Ou o usuário se contenta com os primeiros resultados da busca (poucos são os que acessam páginas mais longínquas de resultados de busca) ou escolhe refazer a busca com outros termos, mas ainda assim continuará refém dos critérios de indexação e cairá na ditadura dos “dez primeiros resultados”. O que estamos buscando é uma realidade em que cada um possa criar seus próprios critérios de indexação e experiências de busca de forma extremamente personalizada e ubíqua.
Na nossa proposta, o protocolo terá o código fonte liberado e poderá ser adotado e aperfeiçoado livremente por qualquer um, e a tendência é de que sejam centenas ou até mesmo milhares de acervos ao alcance de um único clique! Ou até mesmo sem clique nenhum!
Isso porque a busca não é nem deve ser a única forma de se manter informado na internet. Um protocolo unificado permite que conteúdos em diferentes redes sejam relacionados (por tags, metadados ou similaridade). Ainda, com tal integração, uma pessoa poderá programar seu sistema para ser notificado toda vez que algum acervo (qualquer um!), disponibilizar algum conteúdo desejado (de um artista ‘X’ ou de um gênero musical ‘Y’, ou ainda de uma tag qualquer, por exemplo). Isso seria a prática do conceito de notificação.
Além disso, existe uma clareza de que, para uma experiência plena de autonomia na rede, é necessário que o usuário possa transformar e reutilizar os dados encontrados. Imagine um professor preparando uma aula e encontra dois ou três trechos de vídeo, que gostaria de mostrar aos seus alunos. Atualmente, suas opções são bastantes limitadas: ele terá que baixar todos os vídeos e na hora da aula buscar os trechos desejados ao longo dos filmes. Essa solução tem, no mínimo, dois grandes inconvenientes: necessidade de realizar o download do vídeo inteiro (uma ou duas horas de duração; e o trecho escolhido com trinta segundos), e a necessidade de localizar as partes dentro dos vídeos e mostrá-los em sequência (com todos os inconvenientes de localização e o tempo necessário para trocar de filme e de trecho). Seria muito melhor que lhe fosse permitido editar os vídeos online, de forma que ele pudesse editar os trechos em um único (e pequeno) arquivo de vídeo para fazer o download apenas do arquivo remixado, ou mesmo republicá-lo sem a necessidade de fazer um download separadamente. É importante que o protocolo esteja preparado para lidar com essas possibilidades, que refletem a ideia do remix — e ele não está limitado apenas a conteúdos de vídeo. Ou seja: é necessário que o protocolo permita o re-uso de dados, disponibilizando informações acerca de licença de uso nos metadados dos arquivos publicados mas também permitindo o reenvio da informação transformada.
Grupos de Trabalho
O Ministério da Cultura, por meio de sua Coordenação de Cultura Digital, está empenhado em desenvolver essas soluções, por entender que a demanda maior por este protocolo é justamente para atender aos acervos públicos, muitos deles oriundos justamente do sistema MinC como os já citados Cinemateca, Funarte e Biblioteca Nacional. Como todo desenvolvimento aberto e livre, este é um projeto que tem início mas não tem fim e, assim como a própria internet, o desenvolvimento será potencializado pela disseminação viral que ela proporciona.
Todo o trabalho técnico seria guiado por premissas de liberdade e colaboratividade. É nossa intenção também convocar tantos quantos parceiros interessados sejam possíveis para formar grupos de trabalho para formular as bases e traçar as metas desta proposta.
Primeiro Encontro
Uma etapa importante nessa formulação foi o encontro promovido pelo MinC em parceria com a RNP, dentro do fluxo preparatório para o Simpósio Internacional de Políticas Públicas para Acervos Digitais. Este encontro ocorreu no Rio de Janeiro e contou com as sequintes participações:
* Casa de Cultura Digital
* Elo Company
* Ericsson
* Miro Community
* Open Video Alliance
* Rede Nacional de Ensino e Pesquisa – RNP
* SERPRO
* TV Cultura
* Universidade de São Paulo – USP
* Vodo
* Coordenação de Cultura Digital – SPC/MinC
Neste link tem a documentação do encontro, cujos resultados foram apresentados no seminário presencial do Simpósio.
Segundo encontro:
Após o encontro do Rio, foi detectada a necessidade de se ouvir mais produtores. Este entendimento é consequência da alta representatividade de ‘técnicos’ em comparação com ‘produtores’ no primeiro encontro.
Ainda seguindo o fluxo do Simpósio mas já depois do seminário presencial, visando atender a essas demandas um segundo encontro foi realizado em São Paulo. A documentação que está sendo gerada pode ser encontrada aqui.
Abraços,
Equipe de Cultural Digital SPC/MinC
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