Dura discussão que acontece em todo o mundo e, no caso brasileiro, ganha novos contronos com a definição de um novo Qualis - sistema de avaliação e rankeamento das revistas cadêmicas - em implantação pelo governo, mais especificamente pela CAPES.
Destaco aqui o maravilhoso texto do professor Muricio Rocha-e-Silva, editor da revista Clinics, e que gerou uma dura e bem humorada carta ao Presidente da Caes.
Pela qualidade do texto e dos argumento, reproduzo um tico aqui em baixo...
"Professor Doutor Jorge Guimarães
DD Presidente, CAPES
São Paulo, 2 de agosto de 2009.
Meu caro Jorge
Você já viu, não é, o Novo Qualis está dando pano pra mangas! Atérendeu excelente matéria em "O Estado de São Paulo" sob o sugestivo
título Ranking coloca revistas científicas brasileiras em 'risco de
extinção'.1 Entrevistado, você disse "não concordar com algumas
mudanças como a limitação do número de revistas que podem ser
classificadas num determinado estrato." Viva! O Senhor Presidente
começou a ver o problema! Infelizmente você adotou um tom de crítica
ultraleve, para minimizar, como mero detalhe, esta que é a mais
perversa das invenções do Comitê dos Numerólogos Alienados (CNA).
Desculpe-me, mas inventei esta sigla porque siglas estão na moda e
porque me recuso a lembrar o nome oficial do Comitê. Ao decidir que
apenas 25% dos periódicos do mundo são dignos de figurar no Qualis A,
os Alienados estabeleceram, talvez sem notar, curiosa e inevitável
conseqüência matemática: o valor limite para cada área foi fixado por
numerologia, sem nenhuma relação com a realidade da respectiva
produção científica" ...
e por ai Rocha-e-Silva vai, desenrolando seus argumentos, para, finalmente, terminar com o que ele chama de, "uma norta leve".
Rocha-e-Silva:
"quem sabe, meu caro Jorge, você podia imitar o
que aconteceu no domingo, 26 de julho, em Belgrado, durante a final da
Liga Mundial de Vôlei. Quando o juiz de cadeira, um holandês
simpático, cometeu erro grotesco de arbitragem, a mesa de anotadores,
exorbitando de suas atribuições, fez algo que eu, velho fã do vôlei,
nunca tinha visto. Chamou o holandês e mui simplesmente deu-lhe a
ordem política: mude sua decisão, porque não dá para viver com esse
erro! Pois não é que funcionou: o homem voltou para a cadeira e mudou
a decisão! Por incrível, que pareça, meu companheiro Jorge, o mundo
não acabou! Zeus que mora logo ao lado, no Monte Olimpo, não lhe
atirou um de seus raios fatais; Ares não declarou guerra; talvez até
mais realisticamente, os vinte mil sérvios "prejudicados" não saltaram
da arquibancada por sobre a cerca baixa para trucidar o holandês. O
jogo acabou em paz, limpo e transparente! Agora cabe a você, meu caro,
chamar os numerólogos e ordenar-lhes que rediscutam amplamente,
conosco! E que depois consertem, porque não dá para viver com erro tão
grotesco. Faça o que é preciso, Jorge: mande o novo Qualis para Netuno
(ou para Poseidon se estiver numa veia mais helênica)! Mexer nos
critérios, Jorge, é preciso, porque mexer, assim como navegar, é
preciso!
Com toda minha admiração, amizade e cordialidade
Um grande abraço
Mauricio Rocha e Silva
Editor, Clinics"
O texto acadêmico integral está disponível no Scielo, com a seguinte referência
ROCHA-E-SILVA, Mauricio. O novo Qualis, ou a tragédia anunciada. Clinics [online]. 2009, vol.64, n.1, pp. 1-4. ISSN . doi: 10.1590/S1807-59322009000100001. [link direto]
Grato Cesar Leiro pelo envio da carta.
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