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27 de Maio de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Gleisi comemora redução da pobreza no Brasil graças a Lula e Dilma

5 de Setembro de 2014, 21:09, por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda

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A candidata ao governo pela Coligação Paraná Olhando Pra Frente, Gleisi Hoffmann, comemora a redução no índice de pobreza do país. De acordo com estudo do Banco Mundial, a pobreza crônica no Brasil, que considera privações além da renda, caiu de 6,7% para 1,6% da população no período de oito anos – entre 2004 e 2012 –, segundo estudo do Banco Mundial. A queda é de 76%.

Gleisi destaca que o resultado do estado é reflexo das políticas sociais dos governos Lula e Dilma, como o Plano Brasil Sem Miséria, organizado de forma a enfrentar a pobreza em suas diferentes dimensões, garantindo renda, mas também cuidando de melhorar as oportunidades para inserção econômica dessas famílias, assim como o seu acesso a serviços.

“O processo de ascensão social dos mais pobres, iniciado com o nosso querido presidente Lula, está acelerado, fazendo do Brasil uma nação dominantemente de classe média. Nos últimos anos, os governos do PT conseguiram tirar 36 milhões de pessoas da extrema pobreza; outros 42 milhões de brasileiros ascenderam à classe média. A verdade é que nós estamos mudando a nossa realidade e as nossas políticas sociais são exemplo para todo o mundo”, comemora Gleisi.

O estudo foi apresentado por economistas do Banco Mundial e considerou pobres de renda aqueles que ganham até R$ 140 mensais. O valor é maior do que a linha de extrema pobreza brasileira, de R$ 77 mensais (equivalente a US$1,25 diário). Se a pobreza crônica considerasse apenas a população em situação de miséria, o percentual da redução seria ainda menor do que o 1,6% da população identificada pelos autores do trabalho.

O trabalho, focado na pobreza multidimensional, considerou, além da renda, sete dimensões da pobreza: se as crianças e adolescentes até 17 anos estão na escola, os anos de escolaridade dos adultos, o acesso à água potável e saneamento, eletricidade, condições de moradia e, finalmente, a bens, como telefone, fogão e geladeira.

A pobreza é considerada crônica quando são registradas privações em pelo menos quatro das sete dimensões. O estudo utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


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Quanto o paranaense já pagou para a família Richa até agosto de 2014

5 de Setembro de 2014, 20:42, por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda

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A família Richa já custou aos cofres públicos municipais, estadual e federal mais de R$ 31,5 milhões até o último mês de agosto. Dentre os quatro integrantes do clã paranaense que atualmente recebem rendimentos do erário, Arlete Richa lidera a lista de ganhos, com pensões que somam os R$ 43.101,77 mensais. Em seguida vem o filho, Beto Richa, com salário de governador de R$ 29.462,25 por mês. O irmão do governador, o secretário de Infraestrutura e Logística, Pepe Richa e a primeira-dama Fernanda Richa, recebem cada um R$ 20.623,57 por mês, com direito a 13º salário, sem contar os benefícios do cargo.

Viúva de José Richa e mãe do atual governador Beto Richa, Arlete Richa já recebeu até hoje, em valores atualizados, mais de R$ 6,2 milhões do Senado Federal e do Governo do Paraná, mesmo sem nunca ter sido senadora ou governadora de estado. Conforme o contra-cheque que pode ser acessado através do Portal da Transparência (www.portaldatransparencia.pr.gov.br), Arlete Vilela Richa recebe mensalmente os R$ 26.589,68 da aposentadoria do ex-governador José Richa. A viúva acumula o benefício desde janeiro de 2004, e já retirou dos cofres públicos R$ 3,6 milhões até agosto deste ano. Outra pensão que Arlete Richa recebe é a do Senado Federal, da época do senador José Richa. São R$ 16.512,09 por mês ou R$ 2,6 milhões acumulados de janeiro de 2004 a agosto de 2014 (considerando que até a aprovação da lei que acabou com o 14º e 15º salários dos senadores, em 2013, o benefício do Senado era pago em 15 parcelas por ano). O curioso é que Dona Arlete, mesmo vivendo uma relação estável com o segundo marido, não formalizou a união para continuar recebendo o benefício dos cofres públicos.

Um dos filhos de Beto e Fernanda Richa, Marcelo Richa, também já começou a se habituar aos rendimentos pagos pelos contribuintes. Entre 2010 e 2012, Marcelo recebeu aproximadamente R$ 230 mil como Secretário Municipal de Esporte lazer e Juventude da Prefeitura Municipal de Curitiba.

O apego da família Richa pelo Erário vem de longe. O pai de Beto Richa, José Richa, amealhou cerca de 6,2 milhões de rendimentos oriundos do Senado federal de 1978 a 2003. Do Governo do Paraná, José Richa acumulou ganhos de R$ 7,6 milhões, de 1983 até 2003, quando faleceu. Como prefeito de Londrina, de 1973 a 1977, José Richa recebeu aproximadamente R$ 728 mil e como deputado federal, de 1962 a 1970, conseguiu juntar R$ 2,7 milhões, em valores atualizados.

O filho Beto Richa seguiu os passos do pai. Além do que já recebeu como governador (R$ 1,3 milhão), Beto foi vereador de Curitiba e acumulou rendimentos de aproximadamente R$ 370 mil. Em seis anos como deputado estadual, Richa ganhou R$ 1,7 milhão e na Prefeitura de Curitiba, recebeu R$ 735 mil em quatro anos como vice-prefeito de Cássio Taniguchi, mais R$ 2,1 milhões em seis anos como prefeito da capital.

 


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Destruir cavaletes é crime e o vândalo pode ser preso em flagrante

5 de Setembro de 2014, 20:38, por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda

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Você já imaginou se os ambientalistas começassem a destruir os carros nas ruas, pois os automóveis são agentes poluentes?

Você já imaginou se os vegetarianos começassem a jogar pedras nas churrascarias?

Você já imaginou se religiosos contrários à transfusão de sangue começassem a sabotar os bancos de sangue?

Você já imaginou se os roqueiros começassem a colocar fogo nas casas de show de sertanejo universitário?

Você já imaginou se pessoas pretensamente apolíticas começassem a destruir cavaletes de políticos durante as eleições?

Pois é, isso vem ocorrendo no Brasil, e essa prática é CRIME!

A legislação eleitoral permite que campanhas coloquem cavaletes nas vias públicas entre 6h e 22h, desde que sejam móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito de pessoas e veículos. É proibida a colocação de propaganda eleitoral em árvores e jardins localizados em áreas públicas, bem como em muros, cercas e tapumes. Em bens particulares é possível a veiculação de propaganda eleitoral por meio da fixação de faixas, placas, cartazes, pinturas ou inscrições, desde que não excedam a 4m². Sobre o tema ver a Resolução 23.404/2014 do TSE.

O ato de vandalizar ou destruir propaganda eleitoral configura crime, pois de acordo com o Código Eleitoral, o ato de inutilizar, alterar ou perturbar um meio de propaganda que está dentro da lei pode levar o autor da ação à detenção de até seis meses ou o pagamento de 90 a 120 dias-multa. Impedir o exercício de propaganda também acarreta em detenção de até seis meses ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.

Havendo o flagrante, o indivíduo pode até ser preso, até por qualquer outro cidadão, segundo o art. 301 do Código de Processo Penal.

As propagandas eleitorais irregulares podem ser questionandas na Justiça Eleitoral e em alguns sites dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs).

Defendo o uso de cavaletes, principalmente para que políticos desconhecidos e que não estão no Poder possam ser conhecidos pelos eleitores. É claro que as propagandas irregulares devem ser denunciadas. Se existe abuso de poder econômico nesses cavaletes, como por exemplo dos candidatos a deputado estadual Ratinho Junior (PSC) e deputado federal Luciano Ducci (PSB) em Curitiba, isso tem que ser apurado e condenado pela Justiça Eleitoral. Nossa legislação eleitoral deve ser aerfeiçoada, com a criação do financiamento público de campanha e proibição de financiamento por parte de pessoas jurídicas e a implantação do voto em lista fechada.

Se você não gosta de política, saiba que nossos representantes, principalmente nos Parlamentos, são ruins em sua maioria pela abstenção do povo nas eleições e na política.

Ser pretensamente “apolítico” na verdade é fazer políticas para os mais fortes, para os que estão no poder, para  os políticos adstritos ao que manda o mercado financeiro. A despolitização é a política da manutenção do status quo.


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Ibope: vai ter segundo turno no Paraná, provavelmente entre Beto Richa e Requião

4 de Setembro de 2014, 22:27, por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda

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Não podemos confiar no Ibope, ainda mais aqui no Paraná!

Veja: Denúncia contra o Ibope no Paraná, que aponta Beto Richa na frente.

Esse nada confiável Ibope divulgou hoje (4) que na corrida pela cadeira de governador do Estado do Paraná Beto Richa (PSDB) teria 44% (teria subido um ponto) das intenções de voto, Roberto Requião (PMDB) subiu dois pontos e teria 28%, Gleisi Hoffmann (PT) se manteve com 14%, Ogier Buchi (PRP) 1% e os outros quatro candidatos somados Bernardo Pilotto (PSOL), Geonisio Marinho (PRTB), Rodrigo Tomazini (PSTU) e Tulio Bandeira (PTC) não chegariam a 1%, indecisos permaneceu em 7%, e branco/nulo passou de 8% para 5%.

Como a pesquisa não é confiável e como a mergem de erro é altíssima, Beto pode estar com 41%, Requião com 31%, Gleisi com 17%, Ogier 4%, Pilotto 3%, Geonisio 3%, Tomazini 3% e Tulio 3%. Com isso seria 64% contra 44%, o que garantiria um segundo turno.

No segundo turno, o nada confiável Ibope diz que Beto teria, supostamente, 51%, e Requião 35%; Richa 56% e Gleisi 28%; Requião 47% e Gleisi 31%. Sabemos que não é isso.

Pesquisa realizada entre os dias 1º a 3 de setembro com 1.008 eleitores em 58 municípios do estado, com altíssima margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos, registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) sob o número 00029/2014 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR- 00523/2014.


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Leonardo Boff, sobre Marina: “Pobres perderam uma aliada e os opulentos ganharam uma legitimadora”

4 de Setembro de 2014, 18:41, por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda

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por Conceição Lemes, no Viomundo

Leonardo Boff é um dos mais brilhantes e respeitados intelectuais do Brasil. Teólogo, escritor e professor universitário, expoente da Teologia da Libertação. Ficou conhecido pela sua história de defesa intransigente das causas sociais. Atualmente dedica-se sobretudo às questões ambientais.

Ele conhece Marina Silva, candidata do PSB à Presidência da República, desde os tempos em que ela atuava no  Acre e estava muito ligada à Teologia da Libertação. Acompanhou toda a sua trajetória.

Em 2010, chegou a sonhar com uma representante dos povos da floresta, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos indígenas, dos peões vivendo em situação análoga à escravidão,  chegar a presidente do Brasil. Hoje, não.

“Está ficando cada vez mais claro que Marina tem um projeto pessoal de ser presidente, custe o que custar”, observa Boff em entrevista exclusiva ao Viomundo.

Para Boff, Marina acolheu plenamente o receituário neoliberal. 

“Ela o diz com certo orgulho inconsciente, sem dar-se conta do que isso realmente significa: mercado livre, redução dos gastos públicos (menos médicos, menos professores, menos agentes sociais etc), flutuação do dólar e contenção da inflação com a eventual alta de juros”, alerta.  “Como consequência, arrocho salarial, desemprego, fome nas famílias pobres, mortes evitáveis. É o pior que nos poderia acontecer. Tudo isso vem sob o nome genérico de ‘austeridade fiscal’ que está afundando as economias da zona do Euro”.

Sobre a  autonomia do Banco Central prevista no programa de Marina, Boff detona:  “Acho uma falta total de brasilidade. Significa renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional. A forma como o capital se impõe é manter sob seu controle os Bancos Centrais dos países”.

Veja a íntegra da nossa entrevista. Nela, Leonardo Boff aborda o  recuo de Marina em relação à criminalização da homofobia, a sua trajetória religiosa, a influência de Silas Malafaia, Neca Setúbal (Banco Itaú), Guilherme Leal (Natura) e do economista neoliberal Eduardo Gianetti da Fonseca. Também a autonomia formal do Banco Central e o risco de ela sofrer impeachment.

Viomundo — Na última sexta-feira, Marina lançou o seu programa de governo, que previa o reconhecimento da união homoafetiva e a criminalização da homofobia. Bastou o pastor Malafaia tuitar quatro frases para ela voltar atrás. O que achou dessa postura? É cristão não criminalizar a homofobia, que frequentemente provoca assassinatos?

Leonardo Boff — Está ficando cada vez mais claro que Marina tem um projeto pessoal de ser presidente, custe o que custar. Numa ocasião, ela chegou a declarar que um dos objetivos desta eleição é tirar o PT do poder, o que faz supor mágoas não digeridas contra o PT que ajudou a fundar.

O Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus à qual Marina pertence, é o seu Papa. O Papa falou, ela, fundamentalisticamente obedece, pois vê nisso a vontade de Deus. E, aí, muda de opinião. Creio que não o faz por oportunismo político, mas por obediência à autoridade religiosa, o que acho, no regime democrático, injustificável.

Um presidente deve obediência à Constituição e ao povo que a elegeu e não a uma autoridade exterior à sociedade.

Viomundo — Qual o risco para a democracia brasileira de alguém na presidência estar submissa a visões tão retrógradas em pleno século XXI, ignorando os avanços, as modernidades?

Leonardo Boff — Um fundamentalista é um dos atores políticos menos indicado  para exercer o cargo da responsabilidade de um presidente. Este deve tomar decisões dentro dos parâmetros constitucionais, da democracia e de um estado laico e pluralista. Este tolera todas as expressões religiosas, não opta por nenhuma, embora reconheça o valor delas para a qualidade ética e espiritual da vida em sociedade.

Se um presidente obedece mais aos preceitos de sua religião do que aos da Constituição, fere a democracia e entra em conflito permanente com outros até de sua base de sustentação, pois os preceitos de uma religião particular não podem prevalecer sobre a totalidade da sociedade.

A seguir estritamente nesta linha, pode acontecer um impeachment à Marina, por inabilidade de coordenar as tensões políticas e gerenciar conflitos sempre presentes em sociedades abertas.

 Viomundo — Lá atrás Marina Silva esteve ligada à Teologia da Libertação. Atualmente, é da Assembleia de Deus. O que o senhor diria dessa trajetória religiosa? O que representa essa guinada para o conservadorismo exacerbado?

Leonardo Boff – Respeito a opção religiosa de Marina bem como de qualquer pessoa. Eu a conheço do Acre e ela participava dos cursos que meu irmão teólogo Frei Clodovis (trabalhava 6 meses na PUC do Rio e 6 meses na igreja do Acre) e eu dávamos sobre Fé e Política e sobre Teologia da Libertação.

Aqui se falava da opção pelos pobres contra a pobreza, a urgência de se pensar e criar um outro tipo de sociedade e de país, cujos principais protagonistas seriam as grandes maiorias pobres junto com seus aliados, vindos de outras classes sociais. Marina era uma liderança reconhecida e amada por toda a Igreja.

Depois, ao deixar o Acre, por razões pessoais, converteu-se à Igreja Assembleia de Deus. Esta se caracteriza por um cristianismo fundamentalista, pietista e afastado das causas da pobreza e da opressão do povo. Sua pregação é a Bíblia, preferentemente o Antigo Testamento, com uma leitura totalmente descontextualizada daquele tempo e do nosso tempo. Como fundamentalista é uma leitura literalista, no estilo dos muçulmanos.

Politicamente tem consequências graves: Marina pôs o foco no pietismo e no fundamentalismo, na vida espiritual descolada da história presente e quase não fala mais da opção pelos pobres e da libertação. Pelo menos não é este o foco de seu discurso.

A libertação para ela é espiritual, do pecado e das perversões do mundo. Com esse pensamento é fácil ser capturada pelo sistema vigente de mercado, da macroeconomia neoliberal e especulativa.

Isso é inegável, pois seus assessores são desse campo: a herdeira do Banco Itaú Maria Alice (Neca), Guilherme Leal da Natura e o economista neoliberal Eduardo Gianetti da Fonseca. Os pobres perderam uma aliada e os opulentos ganharam uma legitimadora.

E eu que em 2010 sonhava com uma representante dos povos da floresta, dos caboclos, dos ribeirinhos, dos indígenas, dos peões vivendo em situação análoga à escravidão, dos operários explorados das grandes fábricas, dos invisíveis, alguém que viria dos fundos da maior floresta úmida do mundo, a Amazônia, chegar a ser presidente de um dos maiores países do mundo, o Brasil?! Esse sonho foi uma ilusão que faz doer até os dias de hoje. Pelo menos vale como um sonho que nunca morre!

Viomundo — O programa de Marina prevê autonomia ao Banco Central. O que acha dessa medida?

Leonardo Boff — Eu me pergunto, autonomia de quem e para quem?

Acho uma falta total de brasilidade. Significa renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional. Um presidente/a é eleito para governar seu povo e um dos instrumentos principais é o controle monetário que assim lhe é subtraído. Isso é absolutamente antidemocrático e comporta submissão à tirania das finanças que são cada vez mais vorazes, pondo países inteiros à falência como é o caso da Grécia, da Espanha, da Itália, de Portugal e outros.

Viomundo — Essa medida expressa a influência de Neca Setúbal, herdeira do Itaú, no seu futuro governo?

Leonardo Boff — Quem controla a economia controla o país, ainda mais que vivemos numa sociedade de “Grande Transformação” denunciada pelo economista húngaro-americano Karl Polaniy ainda em 1944 quando, como diz, passamos de uma sociedade com mercado para uma sociedade só de mercado. Então tudo vira mercadoria, inclusive as coisas mais sagradas como água, alimentos, órgãos humanos.

A forma como o capital se impõe é manter sob seu controle os Bancos Centrais dos países. A partir desse controle, estabelecem os níveis dos juros, a meta da inflação, a flutuação do dólar e a porcentagem do superávit primário (aquela quantia tirada dos impostos e reservada para pagar os rentistas, aqueles que emprestaram dinheiro ao governo).

Os bancos jogam um papel decisivo, pois é através deles que se fazem os repasses dos empréstimos ao governo e se cobram juros pelos serviços. Quanto maior for o superávit primário a alíquota Selic mais lucram. Pode ser que a citada Neca Setúbal tenha tido influência para que a candidata Marina acreditasse neste receituário, velho, antipopular, danoso para as grandes maiorias, mas altamente benéfico para o sistema macroeconômico vigente.

Viomundo — As avaliações feitas até agora mostram que o programa econômico de Marina é o mesmo de Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência. São neoliberais. O que representaria para o Brasil o retorno a esse modelo? O senhor acha que, se eleita, o governo Marina teria conotações neoliberais?

Leonardo Boff — Marina acolheu plenamente o receituário neoliberal. Ela o diz com certo orgulho inconsciente, sem dar-se conta do que isso realmente significa: mercado livre, redução dos gastos públicos (menos médicos, menos professores, menos agentes sociais etc), flutuação do dólar e contenção da inflação com a eventual alta de juros.

Como consequência, arrocho salarial, desemprego, fome nas famílias pobres, mortes evitáveis. É o pior que nos poderia acontecer. Tudo isso vem sob o nome genérico de “austeridade fiscal” ,que está afundando as economias da zona do Euro e não deram certo em lugar nenhum do mundo, se olharmos a política econômica a partir da maioria da população. Dão certo para os ricos que ficam cada vez mas ricos, como é o caso dos EUA onde 1% da população ganha o equivalente ao que ganham 99% das pessoas. Hoje os EUA são um dos países mais desiguais do mundo.

Viomundo – Foi amplamente divulgado que Marina consulta a Bíblia antes de tomar decisões complexas. Esta visão criacionista do mundo é compatível com um mundo laico?

Leonardo Boff — O que Marina pratica é o fundamentalismo. Este é uma patologia de muitas religiões, inclusive de grupos católicos. O fundamentalismo não é uma doutrina. É uma maneira de entender a doutrina: a minha é a única verdadeira e as demais estão erradas e como tais não têm direito nenhum.

Graças a Deus que isso fica apenas no plano das ideias. Mas facilmente pode passar para o plano da prática. E, aí, se vê evangélicos fundamentalistas invadirem centros de umbanda ou do candomblé e destruírem tudo ou fazerem exorcismos e espalharem sal para todo canto. E no Oriente Médio fazem-se guerras entre fundamentalistas de tendências diferentes com grande eliminação de vidas humanas como o faz atualmente o recém-criado Estado Islâmico. Este pratica limpeza étnica e mata todo mundo de outras etnias ou crenças diferentes das dele.

Marina não chega a tanto. Mas possui essa mentalidade teologicamente errônea e maléfica. No fundo, possui um conceito fúnebre de Deus. Não é um Deus vivo que fala pela história e pelos seres humanos, mas falou outrora, no passado, deixou um livro, como se ele nos dispensasse de pensar, de buscar caminhos bons para todos.

O primeiro livro que Deus escreveu são a criação e a natureza. Elas estão cheias de lições. Criou a inteligência humana para captarmos as mensagens da natureza e inventarmos soluções para nossos problemas.

A Bíblia não é um receituário de soluções ou um feixe de verdades fixadas, mas uma fonte de inspiração para decidirmos pelos melhores caminhos. Ela não foi feita para encobrir a realidade, mas para iluminá-la. Se um fundamentalista seguisse ao pé da letra o que está escrito no livro Levítico 20,13 cometeria um crime e iria para a cadeia, pois aí se diz textualmente:  “Se um homem dormir com outro, como se fosse com mulher, ambos cometem grave perversidade e serão punidos com a morte: são réus de morte”.

Viomundo — Marina fala em governar com os melhores. É possível promover inclusão social, manter políticas que favorecem os mais pobres com uma política econômica neoliberal?

Leonardo Boff — Marina parece que não conhece a realidade social na qual há conflitos de interesses, diversidade de opções políticas e ideológicas, algumas que se opõem completamente às outras.

Lendo o programa de governo do PSB de Marina parece que fazemos um passeio ao jardim do Éden. Tudo é harmonioso, sem conflitos, tudo se ordena para o bem do povo. Se entre os melhores estiver um político, para aceitar seu convite, deverá abandonar seu partido e com isso, segundo a atual legislação, perderia o mandato.

Ela necessariamente, se quiser governar, deverá fazer alianças, pois temos um presidencialismo de coalizão. Se fizer aliança com o PMDB deverá engolir o Sarney, o Renan Calheiros e outros exorcizados por Marina. Collor tentou governar com base parlamentar exígua e sofreu um impeachment.

Viomundo — Marina é preparada para presidir um país tão complexo como o Brasil?

Leonardo Boff — Eu pessoalmente estimo sua inteireza pessoal, sua visão espiritualista (abstraindo o fundamentalismo), sua busca de ética em tudo o que faz. Estimo a pessoa,  mas questiono o ator político. Acho que não tem a inteligência política para fazer as alianças certas. O presidente deve ser uma pessoa de síntese, capaz de equilibrar os interesses e resolver conflitos para que não sejam danosos e chegar a soluções de ganha-ganha. Para isso precisa-se de habilidade, coisa que em Lula sobrava. Marina, por causa de seu fundamentalismo, não é uma pessoa de síntese,  mas antes de divisão.

Viomundo — A preservação efetiva do meio ambiente é compatível com o capitalismo selvagem dos neoliberais?

Leonardo Boff — Entre capitalismo e ecologia há uma contradição direta e fundamental. O capitalismo quer acumular o mais que pode sem qualquer consideração dos bens e serviços limitados da Terra e da exploração das pessoas. Onde ele chega, cria duas injustiças: a social, gerando muita pobreza de um lado e grande riqueza do outro; e uma injustiça ecológica ao devastar ecossistemas e inteiras florestas úmidas.

Marina fala de sustentabilidade, o que é correto. Mas deve ficar claro que a sustentabilidade só é possível a partir de outro paradigma que inclui a sustentabilidade ambiental, político-social, mental e integral (envolvendo nossa relação com as energias de todo o universo).

Portanto, estamos diante de uma nova relação para com a natureza e a Terra, onde as medidas econômicas preconizadas por Marina contradizem esta visão. Temos que produzir, sim, para atender demandas humanas, mas produzir respeitando os limites de cada ecossistema, as leis da natureza e repondo aquilo que temos demasiadamente retirado dela.

Marina quer a produção sustentável, mas mantém a dominação do ser humano sobre a natureza. Este está dentro da natureza, é parte dela e responsável por sua conservação e reprodução, seja como valor em si mesmo, seja como matriz que atende nossas necessidades e das futuras gerações.

Ocorre que atualmente o sistema está destruindo as bases físico-químicas que sustentam a vida. Por isso, ele é perigoso e pode nos levar a uma grande catástrofe. E com certeza os que mais sofrerão, serão aqueles que sempre foram mais explorados e excluídos do sistema. Esta injustiça histórica nós não podemos aceitar e repetir.


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