Jessé Souza, professor doutor em ciência política na UFF, doutor em sociologia pela Universidade de Heidelberg, formado em Direito pela Universidade de Brasília, pós-doutorado em sociologia em New York, foi entrevistado no programa Jogo do Poder Paraná (CNT) no dia 24.08.2014, pelo advogado Luiz Carlos da Rocha.
No seu livro “A ralé brasileira: quem é e como vive” (2009), Jessé diz que entre 1930 e 1980 o Brasil foi um dos países que mais cresceu mas ao mesmo tempo produziu uma das maiores massas de excluídos da face da terra, e que o maior problema do Brasil não é a corrupção, mas sim o capitalismo brasileiro que produz excluídos.
O autor critica Sérgio Buarque de Hollanda, Roberto da Matta, Raymundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso, chamando-os de culturalistas conservadores, porque analisam a sociedade brasileira do século XIX como uma sociedade pré-moderna como Portugal, mas na verdade já era moderna, com influências de burgueses europeus. Para os autores o patrimonialismo, a corrupção, estaria somento no Estado, e não em toda a sociedade. Que a corrupção seria apenas do Estado e o mercado seria virtuoso, e hoje em dia todos os brasileiros acreditam nisso, nessa “lorota” quando na verdade a corrupção no Estado é um dado endêmico de todos os capitalismos do mundo. A quem interessa que o Estado seja questionado, como ineficinte, principalmente em educação, saúde e previdência, seria apenas para os banqueiros e donos de grandes complexos industriais, que têm o intuito de transformar tudo e mercadoria e ter mais lucro.
Quando a social democracia fixou que aposentadoria, educação e saúde é para todos, para os filhos de ricos e pobres, foi uma das grandes conquistas sociais nos últimos 200 anos, pelo Estado. Quando se diz que apenas o mercado é virtuoso e o Estado é ineficiente, está se querendo dizer que esse campo pode ser mercantilizado e transformado em apropriação privada, para poucos.
Souza diz que o capitalismo brasileiro foi feito para uma meia dúzia, e a classe média faz a cabeça das pessoas e é uma tropa de choque dessa meia dúzia que têm a riqueza nas mãos. A classe média vai às ruas contra espantalhos e não percebe a situação de desigualdade. A classe C rearruma o jogo político. A classe média se acha a campeã da moralidade, é feita de tola pelos endinheirados e vê o Estado como o mal, enquanto essa mesma classe média explora a ralé, que paga baixos salários para essa ralé. A classe média rouba o tempo dos excluídos, que são quase escravos, e se faz uma dramatização sobre a corrupção, o que empobrece o debate público, sendo que há coisas mais importantes para discutir.
A classe média ainda forma a opinião pública mas ela não decide mais as eleições no país. Os excluídos não estão mais ao lado dos partidos conservadores, em decorrência da pequena ajuda que o Estado dá à massa, que dinamiza o mercado. Enquanto isso a classe média tem ódio dos excluídos.
O autor ainda escreveu “Os batalhadores brasileiros: Nova classe média ou nova classe trabalhadora?” (2010), entre outras obras.
Veja o vídeo com a entrevista:
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