Um texto do maior jurista do Direito Constitucional brasileiro, Dalmo de Abreu Dallari, publicado em 1986, mas mais atual do que nunca. O Professor Dalmo sempre votou no PT, Lula e Dilma.
Existe o petismo?
Uma coisa é certa: o petismo existe e o Partido dos Trabalhadores é o seu profeta. Mas a partir daí explodem muitas dúvidas, que andam nas cabeças dos próprios petistas e que se colocam com a mesma agressividade que caracteriza a militância petista. Na realidade, o próprio relacionamento entre o PT e o petismo é apaixonado e agressivo, sem que fique bem claro se foi o petismo quem criou o PT ou se o contrário é que é verdadeiro, se é possível ser petista sem estar no PT ou se alguém pode pertencer ao PT sem ser petista. E tudo o que cerca essas questões e envolve as conseqüências que podem resultar das respostas é discutido com grande carga de afetividade pelos protagonistas.
Cada um quer ser mais autenticamente petista do que o outro, todos defendem ardorosamente seus pontos de vista a respeito do significado do petismo, da natureza do PT e de seu verdadeiro papel neste momento da vida brasileira. O fato é que todos “sentem” que são petistas e querem fazer do PT o veículo de suas idéias.
Essa “convergência na divergência”, que é problema para os petistas, é problema ainda maior para os que são contra o PT. Um dado significativo é que ninguém se limita a ser contra, pois, assim conto o petismo é uma paixão, o antipetismo é igualmente apaixonado. Mas como o PT é uma presença marcante, parecendo onipresente, ao mesmo tempo que a cada passo e em cada circunstância surge com uma aparência diferente, é extremamente difícil combatê-lo. E o que se tem visto é que as acusações, denúncias, armadilhas e agressões de muitas espécies, que são utilizadas com o propósito de enfraquecê-lo, acabam tendo efeito contrário, parecendo que o petismo se fortalece quando agredido.
Dalmo Dallari
Jornal Leia, agosto de 1986
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