Por Georghio Tomelin, advogado em São Paulo
Estamos vivendo um crime ambiental sem precedentes em São Paulo. Desde que começou esta crise hídrica, tomamos muitas medidas de economia de água. A conta global do prédio onde moro caiu de 5 mil por mês para 1300, e agora 800 reais. Claro que o desconto concedido pela Sabesp ajudou muito na redução da despesa (e essa foi uma importante iniciativa do Governo do Estado que incentivou algumas pessoas).
Também paramos de usar as descargas dos vasos sanitários (50 litros por vez), dando prioridade para água recolhida do banho e das pias (com baldes e bacias de todos os tamanhos) para a função de descarga. Isso reduziu muito o gasto de todo o prédio. Passamos a tomar banhos rapidíssimos (ligando rapidamente a água no começo e no final) e paramos de lavar tudo o que não fosse extremamente necessário.
Enfim. Digo isso para demonstrar que o tema me preocupa. Com crianças pequenas não dá para ficar sem água. A responsabilidade é todos nós, e a falta de chuvas não tem precedentes.
Em São Paulo penso que elegemos “rapidamente” o Gov. Alckmin do PSDB para que ele pudesse começar imediatamente o rodízio de água. Somente o rodízio pode salvar a Cantareira do risco de extinção. Esses limites de volume morto (nunca utilizado antes) protegem a represa. A tal reserva é o que mantém viva a represa. Se não houver gestão séria da área, o terreno seco impede a retomada do acúmulo de água.
Aquela área da represa pode sim se transformar num deserto, e nunca mais voltar a encher. É um problema do ciclo das águas. Por esta razão está havendo tanto conflito entre o Governo do Estado (Sabesp), o Ministério Público e a Agência Nacional de Águas. O manancial precisa ser protegido e gerido de maneira responsável, o que não está sendo feito pelo Governo do Estado.
Se somos muitos em São Paulo. Se construímos demais. Se impermeabilizamos a cidade toda, temos que arcar com os ônus que criamos. No prédio onde moro, todos estamos suportando já a consequência da irresponsabilidade coletiva. Ninguém tem culpa individualmente, mas o síndico tem que se movimentar.
O mais grave nisso tudo é a postura do Síndico-Mor do Estado de SP, retratada na charge da Folha de São Paulo de 18.10.2014. O médico Alckmin está rasgando o diploma que possui (começo a duvidar que tenha mesmo se formado em medicina). A falta de planejamento da Sabesp é algo indizível, para quem administra a água da maior cidade do mundo abaixo da linha do Equador.
A Sabesp (Companhia de Água de São Paulo) não tem nenhum projeto-piloto (ainda que experimental), por exemplo, de dessalinização da água do mar. Utilizar a água do mar 20 anos atrás era caríssimo e quase impossível. Hoje é plenamente viável e já é feito com custos muito reduzidos em vários países. A Sabesp recebeu do Governador do PSDB a diretiva de NEGAR a falta d’água, para não atrapalhar o quadro eleitoral, e assim vem fazendo. Quanta irresponsabilidade!
Quem retorna para casa um pouco mais tarde a noite, vê os caminhões-pipa circulando por todas as ruas (na cidade de São Paulo há restrição de circulação durante o dia). Apesar disso, a mídia pouco fala do tema (e a charge de hoje da FSP é um verdadeiro milagre). O preço do caminhão-de-água (com 10 mil litros em média) pulou de 400 para 600, mil e 1200 reais (em algumas regiões). E a Sabesp continua negando o racionamento. E avança no volume-morto, arriscando secar o leito da represa (o que mata sua função).
Se o rodízio de água tivesse começado antes (em fevereiro, março ou mesmo julho de 2014) quando todo este quadro já era passível com previsões meteorológicas, várias pessoas mais teriam tomado consciência, e começado a poupar água. Isto porque a realidade é triste, mas as pessoas são assim: só se movem quando “a água começa a bater na bunda” (e aqui ela está faltando).
Vamos ficar parados? O risco de perder votos para o PSDB em São Paulo é maior para o Governador do que a saúde da sua população? Reaja !
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