Conversas ao pé da mídia
Kristinn Hrafnsson, do WikiLeaks, e o pesquisador Ignácio Ramonet falam do cerco à informação livre e do “trabalho que dá” saber de fato o que acontece
Hoje na Gazeta do Povo, por Denise Paro
ºA internet é uma ferramenta a serviço da democracia? Protestos juvenis, transparência na prestação de contas públicas e descentralização de informações podem ser apenas prenúncios de inúmeras mudanças que ainda estão por vir? Eis as questões. Democracia e internet foram um dos assuntos em pauta no 1.º Encontro Mundial de Blogueiros realizado em Foz do Iguaçu na semana passada, do qual participou o editor do jornal Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, e o porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson. Abaixo o resumo das principais ideias debatidas por ambos:
HRAFNSSON – O bloqueio no WikiLeaks
Segundo Hrafnsson, o WikiLeaks suspendeu temporariamente suas operações porque é preciso focar no levantamento de fundos devido a um bloqueio econômico que ele considera ilegal e antiético, feito pelas maiores instituições financeiras do mundo. “Se nós não quebrarmos o bloqueio abrindo e recebendo doações de nossos patrocinadores ou se nós não formos bem-sucedidos em quebrar o bloqueio econômico por meios legais, em algum ponto no futuro ficaremos sem fundo e não estaremos aptos a operar. Mas não estamos lá ainda. E vamos esperar que não cheguemos a este ponto.”
Futuro do WikiLeaks
Hrafnsson diz que o WikiLeaks terá dificuldade de sobreviver se o site não obtiver fundos. “Esse é um negócio dispendioso. Mas nós estamos em uma posição bastante invejável, graças a uma organização de publicação. Contamos apenas com doações de indivíduos. Dezenas de milhares de pessoas têm feito doações na média de US$ 25. É uma quantia relativamente moderada para as pessoas e nós somos muito gratos. Se tudo isso secar, ficaremos em uma posição muito precária. Mas estamos tomando medidas para contornar a situação, de modo que não cheguemos ao ponto em que possamos deixar de existir.”
Transparência
A transparência é um dos principais objetivos do WikiLeaks, diz Hrafnsson. Para ele, a democracia sem transparência não é uma democracia real. O objetivo principal do WikiLeaks é aumentar a transparência.
RAMONET – Novas tecnologias
Para Ignácio Ramonet, as novas tecnologias permitem aos cidadãos em geral desenvolverem uma capacidade de intervenção no debate da comunicação mediante a multiplicação dos blogs, das redes de comunicação e dos sites. Cada grupo social ou de cidadãos que se organizam para vigiar a informação podem analisá-la, comentá-la, completá-la, corrigi-la.
Os meios de comunicação
Os meios de comunicação seguem sendo meios de síntese que deformam a informação para facilitá-la. O receptor devia desenvolver a informação que está nos livros. Ramonet escreveu um texto que se chama Informar-se cansa. No texto, o jornalista comenta que o cidadão não pode ter a atitude de querer se informar vendo o telediário (telejornal). “O telediário não é feito para informar, é feito para divertir. O cidadão não pode protestar dizendo que não lhe informaram bem. O telediário não vai informar bem nunca porque é uma série de pílulas muito pequenas de informação. E se o cidadão quer se informar, tem de trabalhar. Tem de ler e se documentar e isso é um grande trabalho que poucos cidadãos querem fazer.”
Culpa dos meios?
Para Ramonet, não se pode culpar apenas os meios de comunicação. “Há uma responsabilidade compartilhada. Muitas vezes dizemos que a culpa é dos meios. Os meios têm muita culpa, mas uma parte da culpa temos nós, por não querer buscar a informação.” Para ele, hoje isso é possível porque a internet permite acessar outras análises e complementar informações. Informar-se bem, segundo Ramonet, supõe muito tempo, esforço e trabalho. “E quem dispõe de muito tempo?”, diz.
Hoje, a maioria dos jovens gasta tempo em intercâmbios no Facebook, nas redes sociais, “mas não têm preocupação de informação”, salienta. “E as estatísticas mostram que nos países da Europa quem tem menos de 25 anos quase não vê televisão porque gasta tempo no computador e no telefone, não para telefonar, mas para enviar mensagens, trocar e-mails e usar o Facebook.”
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