mitoreciclagem com água
10 de Junho de 2011, 0:00 - sem comentários aindaEm meio a tantas incertezas talvez sempre exista o medo de algumas certezas. Clichê? Não sei. O que sei é que alguém que admiro e que fala ao meu coração retomou mais um elemento, mais um componente, ou talvez: O elemento, O componente, nas reconstruções contemporâneas dos existires aos quais me vinculo. Daniel Duende strikes again. Não preciso falar muito sobre isto por enquanto, o mito fala por si.
Digital em Ação
27 de Maio de 2011, 0:00 - sem comentários aindaDe início, linguagem e comunicação
Conversar numa mesma língua não quer dizer partilhar significados. Ainda muito no “senso comum”, e me sinto completamente à vontade para dizer isto aqui porque é justamente do disfarce de compreensão “científica” que quero me distanciar, entendo que como compreendemos um discurso, expressões em contextos, falas, textos, narrativas, se insere em construções teóricas de certo milhar de anos (ocidentais) de tradições de pensamento e, mais recentemente, em algo que não deve ser tão complicado achar por aí com o nome de “virada lingüística” ou algo similar. Portanto, colocar-se no direito de falar sobre linguagem / comunicação “cientificamente”, ou, melhor dizendo, de um certo lugar “acadêmico”, deveria ter implícita toda esta bagagem. Isto, ficando apenas no campo que já vi em alguns lugares ser nomeado de “filosofia da linguagem”, sem tocar na lingüística ou na psicanálise por exemplo.
Portanto cabe marcar desde o começo que aqui faço apenas registros textuais, tentativas de estabelecimentos de simbologia para conexões entre significações. O que isto quer dizer? Bem, essa significação é o mistério dos coletivos aquilo que não está na racionalidade de uma semântica ou dicionário. Estamos fazendo isto juntos, não posso falar o que é sozinho, separar minha parte, sua parte, não vale à pena. Simplesmente elimina todo e qualquer sentido desta argumentação. O fazer da racionalidade moderna tem sentido ainda? Então, ainda que nas limitações de um texto, não é essa a proposta.
O que se segue então é algo que nunca sabemos o que é. Quando precisamos fechar um registro para aparição em púbico, damos então a cara de “fechamento” que a ação requer e seguimos. Uma compreensão interminável. Seja com o termo “inclusão digital” seja com outros que queiram falar dos mesmos sentimos, percepções, realidades, práticas que observamos.
continua….
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Resgate de um rascunho metarecicleirx http://rede.metareciclagem.org/wiki/InclusaoDigitalOrlando
O que é Actor-Network Theory
21 de Dezembro de 2010, 0:00 - sem comentários ainda*Actor network theory (ANT) é uma família de abordagens para a análise social que se apoia em seis pressupostos centrais. Primeiro, trata instituições, práticas e atores como materialmente heterogêneos, compostos não só de pessoas mas também de tecnologias e outros materiais. Segundo, assume que os elementos que constroem as práticas são relacionais, alcançam sua forma e atributos somente na interação com outros elementos. Nada é intrinsecamente fixo ou tem realidade fora da trama de interações. Terceiro, assume que a rede de relações e práticas heterogêneas é um processo. Se as estruturas, instituições ou as realidades não são continuamente representadas então elas desaparecem. Quarto, assume portanto que as realidades e estruturas são incertas, em princípio, se não na prática. Quinto, isto implica que o mundo poderia ser diferente, uma sugestão que abre interessantes possibilidades políticas. E sexto, explora como ao invés de porque realidades são geradas e mantidas. Isto porque até mesmo as causas sociais mais óbvias são efeitos relacionais e, portanto, elas mesmas sujeitas a mudança.
A ANT desenvolveu-se inicialmente nos anos 1980 em Paris, com o trabalho de autores como Michel Callon, Bruno Latour (Ciência em Ação, 1987) e John Law (Organizing Modernity, 1994). Ela cresceu (e cresce) através de estudos empíricos das tecnologias, práticas das ciências, organizações, mercados, serviços de saúde, práticas espaciais e do mundo natural. De fato não é possível apreciar a ANT sem a exploração de tais estudos de caso. Filosoficamente a ANT deve muito a Michel Serres (1930-5) e é geralmente pós-estruturalista em inspiração. Partilha então com os escritos de Michel Foucault uma preocupação empírica com padrões material-semióticos de relações, embora os padrões que distingua sejam menores em escopo do que aqueles identificados por Foucault.
A abordagem é controversa. Primeiro, uma vez que é não humanista, analiticamente não privilegia nem as pessoas nem o social, o que a diferencia de muito da sociologia em língua inglesa. Segundo, uma vez que oferece relatos de como, em vez de porque instituições tomam forma, é por vezes acusada de fraqueza explicativa. Terceiro, críticos de abordagem política sugeriram que ela é insensível ao “trabalho invisível” de agentes de baixo status. Quarto, tem sido acusada em algumas de suas versões anteriores de um viés para a centralização, ordenação ou mesmo gerencialismo. E quinto, feministas têm observado que a ANT tem mostrado pouca sensibilidade para a corporificação (ver corpo). Se estas queixas são atualmente justificadas é um questão para debate. Na verdade, a ANT e provavelmente melhor vista como um jogo de ferramentas e um conjunto de sensibilidades metodológicas do que como uma única teoria. Recentemente tem havido bastante intercâmbio entre a ANT e as teorias material-semiótica feminista (Donna J. Haraway) e pós-coloniais, e há o trabalho “after-ANT” mais recente que é muito mais sensível à política de dominação, à corporificação, ao “othering”, e à possível multiplicidade e falta de coerência das relações. Uma questão fundamental permanece política. Aqueles escritores “pós-ANT”, como Annemarie Mol (The Body Multiple, 2002) e Helen Verran, argumentam que as relações são não coerentes e produzem versões sobrepostos porém diferentes da realidade, então há espaço para uma política “ôntica” ou “ontológica”sobre o que pode e deve ser tornado real. Isto significa que as realidades preferíveis e alternativas podem ser desempenhadas numa existência ou tornadas mais fortes: a realidade não é destino.
* LAW, JOHN.Actor network theory. In: TURNER, Brian S.(ed.)The Cambridge Dictionary of Sociology. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. p. 4-5. * Correções e adaptações minhas a patir da tradução do Google Translator.
A seguir o texto original. Qualquer comentário sobre adequação de termos e sentidos será muito bem vindo!!!!!!!!!!!
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Actor network theory (ANT) is a family of approaches to social analysis that rests on six core assumptions. First, it treats institutions, practices, and actors as materially heterogeneous, composed not only of people but also of technologies and other materials. Second, it assumes that the elements making up practices are relational, achieving their shape and attributes only in interaction with other elements. Nothing is intrinsically fixed or has reality outside the web of interactions. Third, it assumes that the network of heterogeneous relations and practices is a process. If structures, institutions, or realities are not continuously enacted then they disappear. Fourth, it therefore assumes that realities and structures are precarious in principle, if not in practice. Fifth, this implies that the world might be different, a suggestion that opens up interesting political possibilities. And sixth, it explores how rather than why realities are generated and maintained. This is because even the most obvious social causes are relational effects and therefore themselves subject to change.
ANT developed initially in the 1980s in Paris with the work of such authors as Michel Callon, Bruno Latour (Science in Action, 1987), and John Law (Organizing Modernity, 1994). It grew (and grows) through empirical studies of technologies, science practices, organizations, markets, health care, spatial practices, and the natural world. Indeed it is not possible to appreciate ANT without exploring such case studies. Philosophically, it owes much to Michel Serres (1930–5) and is generally poststructuralist in inspiration. It thus shares with the writing of Michel Foucault an empirical concern with material–semiotic patterns of relations, though the patterns that it discerns are smaller in scope than those identified by Foucault.
The approach is controversial. First, since it is non-humanist it analytically privileges neither people nor the social, which sets it apart from much English-language sociology. Second, since it offers accounts of how rather than why institutions take shape, it is sometimes accused of explanatory weakness. Third, political critics have suggested that it is insensitive to the “invisible work” of low-status actors. Fourth, it has been accused in some of its earlier versions of a bias towards centering, ordering, or even managerialism. And fifth, feminists have observed that it has shown little sensitivity to embodiment (see body). Whether these complaints are now justified is a matter for debate. Indeed, ANT is probably better seen as a toolkit and a set of methodological sensibilities rather than as a single theory. Recently there has been much interchange between ANT, feminist material-semiotics (Donna J. Haraway) and postcolonial theory, and there is newer “after-ANT” work that is much more sensitive to the politics of domination, to embodiment, to “othering,” and to the possible multiplicity and non-coherence of relations. A key issue remains politics. Such “after-ANT” writers as Annemarie Mol (The Body Multiple, 2002) and Helen Verran argue that relations are non-coherent and enact overlapping but different versions of reality, so there is space for “ontics,” or an “ontological politics” about what can and should be made real. This means that alternative and preferable realities might be enacted into being or made stronger: reality is not destiny.
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A Rede MetaReciclagem Como Um Ator
18 de Novembro de 2010, 0:00 - sem comentários aindaA noção inicial era de que as coisas eram feitas de uma maneira bastante espontânea, sem muito planejamento, sem muita formalidade. Mas o que teria possibilitado construir a crença nesta espontaneidade? As construções textuais em torno da metareciclagem? Ingenuidade? Desejo? Importa nomear?
Agora, à primeira vista, sem verificar os textos que de alguma forma orientaram esta visão, busco resgatar um percurso metareciclagem, de como eu cheguei no site, na lista de discussão, até participar de dois encontros presenciais ( uma semana em janeiro de 2009 na Campus Party em São Paulo e quatro dias e em setembro de 2009 no Bailux Party em Arraial da Ajuda – Bahia) com algumas pessoas que se autodenominam “metarecicleiros” e que sempre tenho vontade de grafar como “metarecicleirxs” para arriscar usar noções simbólicas da práxis. Além disso, o fato de de que o que começou como uma pesquisa para se encontrar na práxis continua, atualmente principalmente no mutgamb, me parece requerer apresentar uma auto imagem da minha participação nos processos. Questão de clareza e honestidade para comigo e com os diversos parceiros.
Comecei em 2008 uma pesquisa, até então ainda informal e bancada com recursos próprios, que tinha como objetivo compreender possibilidades de uso da Internet para o que à época foi chamado de “ação social”. Os blogs representavam para mim naquele momento a forma de interação online mais proveitosa para divulgar ideias, estabelecer contato e chegar a novos pensamentos e ações. Eu acreditava que existia um poder nas mídias sociais e neste contexto criei o “netnografando”.
O pouco que eu entendia por netnografia me parecia ser o método mais adequado para a investigação na Internet. Desde o começo o que busquei uma possibilidade de aliar o desenvolvimento de uma pesquisa de doutorado a práticas no contexto Internet e “ação social”. Depois de um tempo vi que a netnografia, na forma como eu a compreendo, é incompatível com uma investigação bacana das coisas que venho observando. Simplesmente porque “netnografia”, na linha do que Kozinets (2002; 2006) propõe, é numa versão lúdica do pensar só mais um instrumento do imaginário que produz imaginário, ou numa versão mais seca e um tanto dura um passo-a-passo de como dar conta do “conhecimento” de seu “aborígene digital” preferido. O “nome” netnografia em si não quer dizer nada. É usado para se referir a pesquisas de orientação etnográfica na Internet de um modo geral, faz menção ao step-by-step do Kozinets, mas não problematiza a própria etnografia, suas crenças e pretensões, seus mitos.Por isso se torna pretensão no mínimo ingênua ou “esperta” (no pior dos sentidos).
O mito do antropólogo que vai ao campo e constrói uma descrição cultural (MALINOWSKI, 1932) migra para o “campo Internet”, como se fosse cultura, mas se esquece pelo menos que trata-se ao mesmo tempo de um artefato cultural, como Hine (2000) efetivamente se dedica a mostrar em seu trabalho, chegando a propor inclusive a não distinção entre espaço online e offline como um dos recursos metodológicos necessários para uma investigação que leve em conta estes dois aspectos simultâneos da Internet, ou seja, cultura e artefato cultural.
Hine (2000) com sua etnografia do e no virtual (virtual ethnography) traz uma orientação que mais se aproxima do que eu vejo hoje que gostaria de alcançar, que é uma abordagem de investigação com uma proposta antropológica de campo, mas sem ilusão de que é possível transportar método de “realidade” para “realidades”. Nesse sentido os questionamentos já começam com as propostas de uma antropologia das ciências (LATOUR, 2000).
Mas, voltando para a questão do fazer metareciclagem. Lembro que foi um pouco chocante quando finalmente numa discussão sobre o site da rede, no Bailux Party , interpretei que existia ali uma alta dose de “planejamento formal”. E mesmo que as pessoas não vejam com esses meus óculos, claro, não quer dizer que isto não exista. Ainda fico me perguntando até hoje porque o choque. Será que eu vinha querendo fugir de um mundo que está aí, uma discursividade que está aí estabelecida, estabelecendo, em estabelecimento, e sendo apropriada diariamente por todos nós?
As racionalidades da gestão estão atuando no nosso dia-a-dia como agentes nas definições de todos os processos. Tudo é de alguma forma administração e administrado. E as ações trazem as cargas do que já no sentido genérico, percepção geral, foi assimilado da administração, ainda que este nome, na forma do que teoricamente costuma se definir, não esteja sendo usado ou conscientemente pensado. Mais ou menos isso.
O que vejo para a administração é que podemos trabalhar em outra sintonia. Entendendo que isto talvez seja uma impossibilidade prática para a certos setores da iniciativa privada como operam atualmente. Mas, ao mesmo tempo, isto é uma necessidade moral paras outros processos de gestão, principalmente aqueles associados às questões públicas.
A questão do público, entretanto, seguindo a orientação que estou assimilando da Actor-Network Theory – ANT, não deveria ser assumida como um macro-ator, um coletivo já estabilizado, um ser artificial no mesmo sentido que o são Estado e outras instituições ditas sociais. Por que não? Porque desconsideram-se os artificios que criam os atores sociais, as entidades estabelecidas, passa-se a buscar as ações e disputas que ocorrem para este estabelecimento. E para reforçar esta perspectiva uma outra se apresenta que me parece ainda mais coerente. Qual seja, a de que se deve ver logo as apropriações e usos dessas racionalidades tradicionais da administração em práticas que se propõem inovadoras do nosso tempo, para aí talvez ver o que sobra de inovador nestas gestões. Mas o que eu gostaria mesmo de ver ou de construir nesse processo? Linhas gerais de orientação para os que vem depois? Orientação para fazer o que?
Uma coisa que me parece importante definir de início é o que eu chamo de “a metareciclagem”. A metareciclagem para mim não é apenas uma rede auto organizada nos moldes que se auto apresenta. É rede no sentido que tem o verbo enredar, mas esse enredamento não é apenas e principalmente de pessoas, há muitos outros elementos socio-ténicos, entidades em disputa, nesse fazer constante de metareciclagem. Metareciclagem é num instante um computador que foi montado de peças que iriam para o lixo, no outro segundo é a metodologia que permite a produção deste computador, para logo em seguida ser a filosofia que orienta a reflexão sobre a produção deste computador e uma série de assuntos que gravitam ao seu redor. Ao mesmo tempo dizer isto é muito limitado, é quase a mesma coisa de querer apreender algo com uma netnografia.
Por fim, quero fechar dizendo que até o parágrafo anterior este texto era apenas um rascunho que estava aqui no wordpress esperando para ser complementado, editado e publicado. Neste momento que estou justamente reconstruindo um percurso, para tentar definir algo do que pode ser minha pesquisa (acadêmica) e como ela se relaciona com a práxis, vim buscar auxílio nos blogs. Não está fácil, tem várias coisas na cabeça ao mesmo tempo. Uma das coisas que ando pensando é que, se eu quiser tentar ver se manifestarem actantes ( noção da semiótica traduzida pela ANT) e como se produzem macro-atores, a rede metareciclagem é apenas um dos macro-atores. Mas, a questão é ver como se produzem macro-atores? Pra quê? Tenho certeza que os indícios do que quero / posso fazer de forma a manter a proposta com a qual comecei tudo isso, que é a de não fazer um trabalho apenas acadêmico, estão por aqui e ali nas coisas que tenho escritas e nas que ainda estão por escrever. Há, há, há, dá até pra rir depois dessa frase. Por isso paro por aqui e volto ao meu exercício de tradução.
Referências
CALLON, Michel.; LATOUR, Bruno. Unscrewing the Big Leviathan: How Actors Macro-structure Reality and How Sociologist Help Them to Do So. In: KNORR-CETINA, K.; CICOUREL, A. (eds.). Advances in Social Theory and Methodology. Boston: Routledge and Keagan Paul, 1981. p. 277-303.
CZARNIAWSKA, Barbara. A theory of organizing. Cheltenham, UK; Northampton, USA: Edward Elgar, 2008.
DA MATTA, Roberto. Relativizando: uma introdução à antropologia social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1981.
ESCOBAR, Arturo. Whose Knowlege, Whose Nature? Biodiversity Conservation and Social Movements Political Ecology. Journal of Political Ecology. 1999.
ESCOBAR, Arturo. Gender, place and networks: a political ecology of cyberculture. In: SCHECH, S.; HAGGIS, J. (eds.). Development: a cultural studies reader. Oxford: Blackwell, 2002.
ESCOBAR, Arturo. Welcome to Cyberia: Notes on the Anthropology of Cyberculture. Welcome to cyberia: Notes on the anthropology of cyberculture, Current Anthropology, v. 35, n. 3, p. 211-231, 1994.
HARAWAY, Donna. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX, In: SILVA, T. T. (org.). Antropologia do ciborgue. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
HINE, Christine. Virtual Ethnography. London: Sage, 2000.
KOZINETS, Robert V. The Field behind the Screen: Using Netnography for Marketing Research in Online Communities. Journal of Marketing Research, v. 39, n. 1, p. 61-72, feb. 2002.
KOZINETS, Robert V. Netnography 2.0 In: BELK, Russell W. (Ed.). Handbook of qualitative research methods in marketing. Northampton, MA: Edward Elgar, 2006.
LATOUR, Bruno.; WOOLGAR, Steve. A vida de laboratório: a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1997.
LATOUR, Bruno. A esperança de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
LATOUR, Bruno. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000.
LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. São Paulo: Ed. 34, 1994.
LATOUR, Bruno. Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network Theory. Oxford, New York: Oxford Universty Press, 2005.
LATOUR, Bruno. What’s organizing? A meditation on the bust of Emilio Bootme in praise of Jim Taylor. Palestra ministrada na Universidade de Montreal em 21 de maio de 2008. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TZkJg1HsvRs>. Acesso em: 16 jan. 2010
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonauts of the Western Pacific: an account of native enterprise and adventure in the archipelagoes of Melanesian New Guinea. 2nd impression. London: George Routledge & Sons, 1932.
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Uma reflexão com o sertão: tecnologias, água e invernos
28 de Agosto de 2010, 0:00 - sem comentários aindaAgora no finalzinho de agosto saí de Cabedelo [1] com destino a Sousa [2] para uma tarefa um tanto quanto estressante, porém extremamente necessária. Prefiro não falar sobre ela mas sim sobre o objetivo paralelo, que foi produzir este texto para o #mutsaz inverno [3].
Eu sabia que uma vez estando em Sousa, na pior das hipóteses, teria uma tarde livre para dar uma volta pela cidade, ver coisas, conversar com as pessoas e assimilar um pouco desse sertão que não conheço em nada além da literatura e de um imaginário popular. A idéia era aproveitar esse tempo para refletir um pouco sobre “local” e tecnologia. Consciente porém de que “local” é sempre construção.
Não li nada sobre Sousa antes da viagem. Sabia da existência do Vale dos Dinossauros [4], mas não era meu foco. Passei por lá rapidamente apenas para atender a um desejo do meu filho e fiquei um pouco triste com o descaso que vi. Sabia também que havia uma descoberta recente de petróleo na região, mas não tive tempo de investigar o assunto.
São sete horas de viagem de ônibus para Sousa. Levei coisas para ler e para ouvir, mas sempre acabo curtindo muito a paisagem. O dia estava da cor que eu mais gosto, cinza, nublado, bonito demais pra começar viagem rodoviária. Mas ao tentar fotografar este momento o que me veio imediatamente à cabeça foi o imenso poder daquele mar verde ao meu lado. Essencialmente cana-de-açúcar [5], até onde a vista alcança.
Muitas horas depois, já na região do Sertão, duas coisas me chamaram a atenção. Primeiro a paisagem, deslumbrante, bela, de uma beleza distinta da que estou acostumado no litoral. Fiquei imaginando como interagir com aquelas paisagens, que tipo de descobertas e aprendizados estariam por ali para com tempo, não apenas uma tarde mas alguns anos, serem vivenciados lenta e proveitosamente? A paisagem parecia me dizer: “aqui há possibilidades e aprendizados que você jamais imaginou. Conhecimentos e práticas cujos significados não lhe são minimamente apreensíveis no momento”.
Cheguei em Sousa já era noite e apenas dormi para comparecer ao meu compromisso na manhã do dia seguinte. À tarde, logo depois do almoço, comecei minha caminhada, acompanhado por um bom camarada que conheci pela manhã, o Léo. Alguns minutos à pé pelas ruas da cidade e chegamos no local que atiçou de imediato meu imaginário tecnológico, a estação ferroviária de Sousa. Pensei logo: “Será que ainda há movimento de trens por aqui? De que tipo? De onde para onde?”
Fomos recebidos na estação pelo Sr. Valdemar, que conversou bastante conosco sobre a situação atual do transporte ferroviário na região, e o Sr. Manoel Nóbrega, funcionário antigo que ainda pegou na década de 80 do século passado o terminal funcionando para o embarque e desembarque de passageiros. Coisa que não ocorre mais atualmente. Por que será que o transporte ferroviário de passageiros foi desativado na região? Fiquei muito curioso para entender os motivos que levaram a isto, mesmo antecipadamente imaginando que tudo não passa de articulação política dos interesses corporativos. Não é difícil ver o cenário. Ainda assim, nada posso afirmar. Pesquisando sobre a história e as perspectivas da ferrovia no sertão encontrei o blog Estações Ferroviárias da Paraíba [6] com muito material para começar uma investigação sobre o assunto. Fiquei só pensando em fazer a viagem, João Pessoa – Sousa, de trem. Será que há justificativa plausível para a desativação desse tipo de transporte neste caso específico? Porque a tecnologia não serve mais? Segundo o Sr. Manoel os trens de passageiros que passavam por ali eram os que faziam o percurso Fortaleza – Recife e também Mossoró / RN. O Blog Estações Ferroviárias da Paraíba apresenta mais alguns detalhes [7].
Minha reflexão tecnológica não parou na questão do transporte ferroviário. Aliás, nem começou aí. Ainda na estrada uma imagem havia me chamado a atenção. Vi pela primeira vez uma cisterna de aproveitamento de água da chuva [7]. E aí o pensamento foi a mil. Essas cisternas foram o primeiro exemplo que eu ouvi de “tecnologia social”. Rapidamente lembrei que eu já vinha pensando em me dedicar um pouco mais em vislumbrar possibilidades em torno dos WaterLabs [9]. E então essa imagem e possibilidades não me saíram mais da cabeça durante estes dias que estive em Sousa.
Falar de água no sertão pode parecer meio cliché, mas, será? Antes de dizer qualquer coisa sobre água e tecnologia preciso de algumas investigações, mas, de qualquer forma, só o vislumbrar de uma possibilidade já me anima bastante. É que nessa estória de doutorado e as conversas em rede, talvez, por questão das restrições e limitações do trabalho acadêmico, eu esteja próximo a ter que escolher algum tipo de projeto para o centro das atenções. Estabelecer um projeto para poder seguir os atores e vê-los e descrever suas manifestações. Etnografia, essencialmente com as premissas da Actor-Network Theory.
Além das ferrovias e da água outras questões tecnológicas surgiram na minha rápida interação com Sousa. Encontrei com um armazém que não é tão diferente das coisas que ainda posso encontrar na feira de Cabedelo. Mas, alguns dos itens me chamaram a atenção. As celas, os artefatos de sola, as esporas, coisas de montaria, todos ali me transportando para uma viagem no tempo. Eu não imaginava que ainda se usavam esporas atualmente. Fiquei surpreso. Tão surpreso quanto encantando com as cores e utensílios do local, uma mistura das tradições com a contemporaneidade. Reflexão tecnológica pura! Celeiro de #MetaReciclagem. Agora fico no aguardo do retorno ao sertão em alguns meses. As expectativas prometem, e o tempo parece que vai ser bem maior.
Quanto ao inverno, aqui no litoral era comum eu ver minha vó e alguns mais velhos se referindo a inverno como “período de chuvas, sem que isto tivesse qualquer relação com período que é denominado de inverno aqui no Brasil. Parece que no sertão não é diferente [10]. Foi a primeira coisa que pensei quando em Sousa me falaram que as chuvas importantes são as do final do ano e comecinho do outro, quando elas acontecem (o que não é sempre) temos uma outra paisagem, um outro sertão, por conta de um inverno em pleno verão.
[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabedelo
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Sousa_%28Para%C3%ADba%29
[3] http://mutgamb.org/mutsaz/Chamada-MutSaz-Inverno-2010
[4] http://www.valedosdinossauros.com.br/
[5] http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1482
[6] http://estacoesferroviariaspb.blogspot.com/
[7] http://estacoesferroviariaspb.blogspot.com/2009/09/estacao-de-sousa.html
[8] http://www.rts.org.br/noticias/destaque-1/cisternas-podem-ajudar-a-atingir-sete-odm
[9] http://wiki.bricolabs.net/index.php/WaterLabs
[10] http://serravermelha.blog.terra.com.br/2010/04/30/o-sertanejo-e-a-caatinga/