O debate sobre Arte Digital no Fórum da Cultura Digital Brasileira, que aconteceu no dia 11 de novembro de 2009 no museu da Universidade Federal do Pará (UFPA), contou com a participação em peso de diversos produtores culturais, pesquisadores, professores, curadores, músicos, cineastas e interessados no campo das artes e suas relações com o campo do digital. Durante mais de três horas, os mais de cem participantes presentes puderam opinar, sugerir e questionar os representantes do Ministério da Cultura, Alcione Carolina e Daniel Hora e o curador de Arte Digital do Fórum da Cultura Digital Brasileira, Cicero Inacio da Silva, sobre as propostas de consolidação da arte digital no país. A organização do evento ficou a cargo do professor do departamento de Artes Visuais da UFPA, Orlando Maneschy e do curador de Arte Digital do Fórum.
Após a apresentação da experiência do Fórum da Cultura Digital Brasileira realizada por Alcione Carolina, do MinC, Daniel Hora apresentou as principais questões do PNC (Plano Nacional de Cultura) em relação ao campo da cultura digital, com ênfase na arte digital e seus desdobramentos. O curador de arte digital do Fórum apresentou resumidamente as questões que foram foco dos inúmeros debates presenciais realizados em todo o país de julho a novembro deste ano. Logo após as introduções, foram iniciadas as falas dos convidados, que puderam expor suas questões quanto à cultura e a arte digital. Os convidados Maria Christina (Associação FOTOATIVA e produtora cultural), Afonso Galindo (produtor cultural), Orlando Maneschy (Faculdade de Artes Visuais da UFPA), Erasmo Borges (Curso de Arte e Tecnologia da Imagem da UNAMA e Faculdade de Artes Visuais da UFPA), Melissa Barbery (artista), Victor de La Rocque (artista), Victor Souza Lima (cineasta), Giseli Vasconcelos (artista e ativista das redes) Jorane Castro (cineasta), Arthur Leandro (artista e professor da Faculdade de Artes Visuais da UFPA), Val Sampaio (Faculdade de Artes Visuais da UFPA) e Marisa Mocarzel (Curadora e professora do curso de Arte e Tecnologia da Imagem da UNAMA) se revezaram com o público e apontaram diversas questões que, segundo eles, são essenciais para o desenvolvimento de uma cultura artística ligada às novas tecnologias e principalmente ao digital. Quase todos concordaram com o fato de que a introdução das tecnologias digitais democratizou o acesso e a produção de vídeos, fotos e arte em diversos campos, sendo que alguns cineastas presentes, como Jorane Castro, afirmaram que as tecnologias facilitaram o acesso à produção, mas que ainda faltam espaços para a exibição dos filmes produzidos.
Veja as imagens do evento:
As demandas listadas abaixo resumem o que foi apontado pelos artistas e pesquisadores:
a) Infraestrutura: os presentes, em sua maioria, reportaram a necessidade de se melhorar a infraestrutura de conexões com o Norte do Brasil e reclamaram do custo do acesso às conexões de banda larga e mesmo de banda normal para acesso à Internet. Sugerem que o dinheiro das empresas que exploram o estado do Pará deveria auxiliar na melhoria da infraestrutura do estado.
b) Equipamentos: Val Sampaio, professora da UFPA, chamou a atenção para a falta de equipamentos para a produção de arte digital e sugeriu que fossem criados espaços com acesso a equipamentos no mesmo espírito do Fórum da Cultura Digital ponto BR, ou seja, que esses espaços não fossem nem .EDU, nem .GOV, mas .BR, abertos para as pessoas os utilizarem na construção de seus interesses próprios no campo da arte. Giseli Vasconcelos, artista e ativista das redes, foi um pouco mais abrangente e citou que muitos artistas do Sul e do Centro-oeste do Pará já produzem inúmeras formas de apropriação com as tecnologias digitais e não tem nenhum tipo de apoio, ou melhor, não necessitam, pois segundo ela, a apropriação deve se dar de forma autônoma, para que as produções tenham uma autonomia e uma relação direta com a realidade dos produtores locais, que tenham o espírito da região norte. Giseli também observou que o mundo todo está de olho na região norte, falam da amazônia e de tudo que acontece por lá, mas se observarmos atentamente quase nenhum conteúdo é gerado de lá, pelas pessoas de lá, mas sim pela mídia ou por sites e agências internacionais.
c) Fomento à experimentação artística: vários artistas e produtores sugeriram que fossem criadas alternativas de fomento à criação artística na área digital. Elinaldo Ribeiro de Azevedo, um dos presentes ao evento, afirmou ser produtor de jogos eletrônicos e fez elogios à política do MinC em fomentar os jogos. Mas salientou que deveriam ser fomentados “projetos” de jogos para capacitar seus produtores e também criar uma rede de produtores em áreas que estão fora do eixo centro-sul, pois, segundo ele, somente os jogos já produzidos é que tem espaço no edital atual dos jogos.
d) Criação de formas de capacitar (ensino) interessados na arte digital a produzir e difundir seus próprios conteúdos, em sites como Youtube, Facebook, Orkut, ou mesmo no Cultura Digital.
e) Criação de um espaço virtual para a postagem e distribuição de conteúdos artísticos produzidos nos formatos digitais (vídeos, sites, experimentações com animações etc.). Foi sugerida a criação de um “servidor de arte digital público” para que a arte digital produzida não fique somente em sites estrangeiros e para que não se percam no futuro as obras criadas pelos artistas que trabalham com esse formato de arte. Essa demanda poderá ser compartilhada com o “eixo” memória, que se preocupa com acervos e digitalização.
f) Foi sugerida a criação de uma política de conservação de acervos de arte digital, tanto para as obras analógicas que serão digitalizadas, quanto para as obras digitais criadas já nesse formato, ou seja, para as fotos digitais, para os sites e vídeos que já estão on-line ou mesmo em acervos privados de artistas.
Os presentes ao debate sugeriram inúmeras outras possibilidades para a área das artes digitais e se prontificaram a postá-las no site do Fórum para que todos possam ter acessso aos debates e conteúdos listados. Um dos desdobramentos dessa discussão é o Fórum da Cultura Digital Brasileira Amazônica, que congrega vários interessados no campo da cultura digital. Na noite do debate estava presente Jader Gama, de Santarém, que em sua fala apontou para as transformações pelas quais nossa sociedade passa e afirmou que há um ano a sua conexão à Internet era de 10Kb e hoje está na casa dos megabytes, ou seja, que para ele as mudanças foram muitas, mas que para muitos elas são imperceptíveis porque a realidade em que vivem é outra.
O debate, além de servir de catalizador para as inúmeras expressões artísticas, serviu como um agregador de pensadores, artistas e produtores em torno de um tema que vem a cada dia ganhando mais espaço e expressão nas mais variadas esferas das sociedades globais: a arte digital.
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