Fundador e atual diretor do Rising Voices, braço da comunidade mundial Global Voices Online, David “Oso” Sasaki é blogueiro desde 2003. Nascido em Seattle, nos EUA, ele cresceu no sul da Califórnia e atualmente se define como um “nômade digital”. “Nos últimos oito anos, passei mais tempo fora do que nos EUA. Nas três semanas passadas fiquei na Ucrânia, agora estou na Romênia, semana que vem vou para Macedônia e, na sequência, para o Brasil”, disse.
Sasaki é um dos convidados do Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira, que acontece entre 18 e 21 de novembro, na Cinemateca, em São Paulo. Por email, ele falou um pouco sobre seu trabalho e a importância de dar voz às “comunidades esquecidas”.
No que você está trabalhando no momento pelo Rising Voices?
Sasaki: Estamos encerrando um projeto com ONGs ligadas à saúde na Europa Oriental e na África Subsariana que tem por objetivo ajudá-las a utilizar novas ferramentas de mídia para permitir uma comunicação mais eficiente entre seus participantes e criar redes relacionadas às suas missões. Na Ucrânia, eu trabalhei com o Drop-In Center, uma ONG que promove a redução de danos como estratégia para diminuir a propagação do HIV/AIDS. Além disso, continuamos a promover os trabalhos dos 16 projetos ativos do Rising Voices.
E qual o maior desafio desse tipo de trabalho?
Sasaki: Para mim, muito mais difícil do que ensinar qualquer um a blogar é ensinar as outras pessoas do mundo a prestar atenção nas comunidades que historicamente são ignoradas e marginalizadas.
E como isso pode ser feito?
Sasaki: Divulgando cada vez mais. Uma forma de fazer isso é por meio cursos de alfabetização de mídia nas escolas. Ficamos muito felizes quando professores integram o nosso conteúdo em seus currículos. [A metodologia está estruturada e disponível em inglês: http://wiki.globalvoicesonline.org/article/Using_GV_as_an_educational_resource]
Até que ponto a internet democratiza o acesso à comunicação?
Sasaki: Em qualquer tipo de comunicação há emissor e receptor, publicação e consumo, fornecimento e demanda. Eu acho que a arquitetura da internet ajudou a democratizar a comunicação para quem tem acesso à publicação. No entanto, quando se trata de escutar, acho que ainda estamos muito presos no modelo tradicional de só prestar atenção a algumas personalidades e acontecimentos importantes.
É essa a base da criação do Rising Voices? Aliás, qual a diferença entre ele e o Global Voices?
Sasaki: O próximo mês de dezembro marca o 5 º aniversário da Global Voices. O projeto começou em uma pequena conferência de blogueiros de todo o mundo organizado por Rebecca MacKinnon e Ethan Zuckerman e seis meses depois criamos um site para agregar, hierarquizar e amplificar essa conversação global online. Durante os primeiros anos do projeto nos deparamos com três grandes obstáculos para uma conversa aberta e equitativa. Em primeiro lugar, a censura aplicada em alguns países estava impedindo blogueiros de expressar-se livremente, então desenvolvemos Global Voices Advocacy, para espalhar a consciência sobre a censura e os seus efeitos em todo o mundo. Em segundo lugar, percebemos que seria necessário publicar o conteúdo em outras línguas, além do inglês, se quiséssemos ser uma comunidade verdadeiramente global. Assim montamos o Lingua Project e hoje temos o conteúdo do Global Voices traduzido em mais de 15 línguas diferentes.
Finalmente, constatamos que a grande maioria dos blogueiros, video blogueiros e podcasters viviam em bairros de classe superior nas grandes metrópoles do mundo. Em outras palavras, a conversação global não era – e não é – representativa da população do mundo. E, por isso, lançamos Rising Voices, para prestar apoio aos ativistas que possuam oficinas de formação de mídia cidadã em comunidades que não estão bem representadas na rede. Já apoiamos até agora 22 projetos em mais de 20 países diferentes. Você pode acompanhar as atualizações sobre os projetos no site do Rising Voices.
Em um post no seu blog, chamado The Artisan Internet and Digital Craftsmanshi, você fala sobre o “artesanato digital”. A produção de trabalhos mais bem acabados é tendência na web?
Sasaki: Eu não tenho certeza. Aquilo foi fruto mais de esperança do que observação. Eu acho que há uma consciência crescente de que o ritmo em que os artistas digitais são “obrigados” a criar nos dias de hoje não é sustentável. Quer seja em fotografia digital, webdesign, programação ou na produção de vídeo, a maioria desses trabalhadores criativos querem diminuir o ritmo de produção e retornar a um sentimento de artesanato, em que se criam bens culturais dos quais nos orgulhamos- e que vamos continuar a se orgulhar décadas depois. Acho que estamos testemunhando também um desejo de retornar à configuração social das antigas oficinas, em que artesãos trabalhavam em espaços compartilhados fisicamente.
E como está a expectativa em relação a sua vinda ao Brasil?
Sasaki: É a terceira vez que vou ao Brasil, mas a primeira fora do Rio de Janeiro (com exceção a uma noite dormida em São Paulo). Já acompanho o culturadigital.br por RSS, graças aos tradutor do Google. Em muitas partes do mundo, o Brasil é citado como um líder na cultura digital e, por isso, estou ansioso para encontrar as pessoas que articulam o movimento por aí.
Algum outro ponto que você gostaria de abordar ou alguma coisa que quer dizer às pessoas que estão planejando ir ao seminário do Fórum?
Sasaki: Diga a elas para, por favor, me procurarem ao menos para dizer um “oi”, mesmo que não falem inglês. Graças ao fenômeno do portunhol, consigo me comunicar com brasileiros. :)
- Veja a programação do Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital Brasileira
- Navegue pelo El-Oso, o blog de David Sasaki
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