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Comunidade Partido Pirata do Brasil

23 de Julho de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
O Movimento do Partido Pirata do Brasil, surgiu graças a uma corrente teórica que se espalhou pela região do euro, uma teoria que tenta focar a sociedade para seu desenvolvimento, priorizando o Conhecimento, a Cultura e a Privacidade. Nós queremos apresentar ao povo brasileiro uma nova maneira de se fazer política, mas para isso acontecer precisamos do seu apoio. Venha junte-se a resistência!

Monólogo do Vírus

24 de Março de 2020, 17:34, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

Vim desligar a máquina para a qual você não encontrou o freio de emergência

link original em francês aqui

Calem agora, caros humanos, todas as suas ridículas convocações à guerra. Abaixem os olhares vingativos que direcionam a mim. Apaguem a auréola de terror que vocês colocaram em meu nome.

Nós, os vírus, desde as profundezas bacterianas do mundo, somos o verdadeiro continuum da vida sobre a Terra. Sem nós, vocês jamais teriam visto a luz do dia – não mais que a primeira célula.

Nós somos seus ancestrais, da mesma forma que as pedras e as algas, e bem mais que os macacos. Estamos em todos os lugares que vocês estão e nos que não estão também. Se não enxergam aquilo que não lhes é semelhante, pior para vocês! E mais: parem de dizer que eu que estou matando vocês.

Vocês não morrem por causa de minha ação sobre o seu tecido, mas pela ausência de cuidado de seus pares. Se não agissem de maneira tão voraz entre vocês – como fazem com todo o resto que vive neste planeta -, ainda haveria bastante leitos, profissionais de saúde e respiradores para sobreviver aos danos que eu causo em seus pulmões. Se não armazenassem as pessoas idosas em lugares para morrer e as saudáveis em jaulas de concreto armado, vocês não estariam assim. Se não tivessem transformado toda a extensão (até recentemente) luxuosa, caótica e infinitamente povoada do mundo – ou melhor, dos mundos – em um vasto deserto destinado à monocultura do Mesmo e do Mais, eu não poderia ter iniciado a conquista planetária de suas gargantas.

Se, ao longo do último século, vocês não tivessem se tornado, em quase sua totalidade, cópias redundantes de uma única e insustentável forma de vida, vocês não estariam prontos para morrer como moscas abandonadas na água de sua civilização adocicada. Se não tivessem tornado seu ambiente tão vazio, transparente e abstrato, podem acreditar que eu não estaria viajando na velocidade de um avião. Estou aqui para executar a pena que vocês ditaram há muito tempo contra vocês mesmos. Peço perdão, mas foram vocês – até onde sei – que inventaram o nome “Antropoceno”.

Vocês se premiaram com toda a honra do desastre; agora que tudo está feito, é tarde demais para desistir. As pessoas mais honestas dentre vocês sabem muito bem: não tenho outros cúmplices senão sua organização social, a loucura de sua “grande escala” e de sua economia, seu fanatismo em torno do sistema. Apenas os sistemas são “vulneráveis”. O resto vive e morre. Só há “vulnerabilidade” para o que visa o controle, sua própria extensão e seu aperfeiçoamento. Preste bem atenção em mim: sou apenas a outra face da Morte reinante.

Então parem de me culpar, de me acusar, de me perseguir. Saiam dessa paralisia diante de mim. Tudo isso é infantil. Eu proponho uma conversão do seu olhar: há uma inteligência imanente à vida. Não precisa haver um sujeito para haver uma memória ou uma estratégia. Não há necessidade de um soberano para que uma decisão seja tomada. Bactérias e vírus são senhores de tudo. Então, vocês podem ver mais um salvador em mim que um coveiro. Você é livre para não acreditar em mim, mas eu vim para interromper a máquina cujo freio de emergência vocês não encontraram.

Eu vim para suspender a operação que fazia vocês de reféns. Eu vim manifestar a aberração da “normalidade”. “Delegar nossa alimentação, nossa proteção e a capacidade de cuidar de nossa qualidade de vida a outros foi uma loucura”… “Não haverá limite orçamentário, pois a saúde não tem preço”. Vejam como eu dobro a língua e o espírito de seus governantes. Vejam como eu os coloco de volta em seus lugares, como os mercadores miseráveis e arrogantes que são! Vejam como, repentinamente, eles se mostram não apenas supérfluos, mas também nocivos! Para eles, vocês não são nada além de uma base de apoio para a reprodução do sistema – são ainda menos que escravos. Até mesmo o plâncton é tratado melhor que vocês.

No entanto, tomem bastante cuidado para não sobrecarregá-los com censuras, para não incriminar suas faltas. Acusá-los de negligência é atribuir mais que o que merecem. Em vez disso, perguntem a si mesmos sobre como se sentiram tão confortáveis se deixando governar. Elogiar os méritos da opção chinesa contra a opção britânica, da solução imperial-forense contra o método darwinista-liberal é não compreender nada sobre um ou outro, sobre o horror de um ou do outro.

Desde Quesnay que os “liberais” passaram a ver o império chinês como desejável – e continuam fazendo isso. São irmãos siameses. Se um lhes aprisiona pelo seu próprio bem e o outro pelo bem “da sociedade”, é porque isso equivale à destruição do único comportamento que não é niilista: cuidar de si, de quem amamos e do que amamos nas pessoas que não conhecemos. Não deixe que aqueles que lhes conduziram ao abismo finjam que estão lhes tirando dele. Eles não farão nada além de lhes preparar um inferno ainda mais aprimorado, um túmulo ainda mais profundo. No dia que for possível colocar o exército para patrulhar o Além, eles farão isso.

Em vez disso, agradeçam a mim. Sem mim, por quanto tempo mais vocês fariam parecer necessárias todas essas coisas supostamente inquestionáveis e que se encontram suspensas subitamente por decreto? A globalização, as competições, o tráfego aéreo, os limites orçamentários, as eleições, o espetáculo dos campeonatos esportivos, a Disneylândia, as academias, a maioria das lojas, a assembleia nacional, o aquartelamento escolar, as aglomerações massivas, o grosso dos empregos burocráticos, toda essa sociabilidade intoxicada que é nada além do outro lado da solidão angustiante das mônadas metropolitanas: tudo isso se mostra desnecessário quando o estado de necessidade se manifesta.

Agradeça-me por mostrar-lhes a verdade das próximas semanas: vocês finalmente poderão viver suas próprias vidas, sem as milhares de rotas de escape que sustentam o ritmo do insustentável. Sem que percebessem, vocês nunca concluíram a mudança para suas próprias existências. Estavam vivendo no meio de caixas de papelão e nem sabiam. Agora, vocês podem viver com seus entes queridos. Vocês poderão viver em suas próprias casas. Não estarão mais no caminho para a morte. Pode ser que você odeie seu marido. Pode ser que tenha vontade de abandonar suas crianças. Pode ser que queira explodir a decoração de sua vida cotidiana.

Para falar a verdade, vocês não estavam mais no mundo, mas nas metrópoles da desagregação. O mundo de vocês não era mais habitável em qualquer um de seus pontos – só se podia fugir incessantemente. A presença do hediondo era tão grande que vocês precisavam se afogar em movimentos e distrações. E o espectral reinava entre os seres. Tornou-se tudo tão eficaz que nada mais fazia sentido. Agradeçam-me por tudo isso e sejam bem-vindos à Terra.

Graças a mim, por um tempo indefinido, vocês não trabalharão mais, suas crianças não irão mais à escola e, ainda assim, nada disso será como nas férias. As férias são o espaço que deve ser ocupado a todo custo enquanto se espera o retorno do trabalho. Mas, isso que se abre diante de vocês, graças a mim, não é um espaço delimitado – é uma fenda imensa. Eu desocupei vocês. Nada garante que o não-mundo de antes retornará. Todo esse lucrativo absurdo pode ter acabado. Depois de não pagarem mais tantos aluguéis, o que poderá ser mais natural que isso? Por que aquele que já não pode mais trabalhar ainda pagaria seus boletos no banco? No fim das contas, não é suicídio viver onde você não pode sequer cultivar um jardim? Quem não tem mais dinheiro não deixará de precisar comer como antes – e quem tem o ferro, tem o pão.

Agradeçam a mim: eu lhes coloquei diante da bifurcação que estruturou tacitamente suas vidas: economia ou vida. Depende de vocês. O que está em jogo é algo histórico. Ou os governos forçam seu estado de exceção, ou vocês inventam seu próprio. Ou vocês se agarram às verdades que estão se manifestando, ou vocês apostam suas vidas. Ou vocês aproveitam o tempo que lhes dei para imaginar o mundo do amanhã a partir das lições provenientes da destruição em curso, ou isto aqui se radicalizará até o fim. O desastre termina quando termina a economia. A economia é a devastação. Isso era uma tese antes do mês passado. Agora é um fato. Não se pode mais ignorar o que haverá de polícia, vigilância, propaganda e logística do home office para suprimir esse fato.

Diante de mim, não cedam ao pânico e nem ao negacionismo. Não cedam às histerias biopolíticas. As semanas que virão serão terríveis, exaustivas e cruéis. As portas da Morte estarão abertas. Eu sou a produção mais devastadora da devastação da produção. Eu vim para tornar nulos os niilistas. Nunca mais as injustiças serão tão gritantes. É uma civilização que venho enterrar – e não vocês. Quem quiser viver terá de inventar hábitos novos e próprios. Fugir de mim será a ocasião para a reinvenção dessa nova arte das distâncias.

A arte dos cumprimentos, na qual algumas pessoas eram míopes demais para ver a própria forma da instituição, logo não obedecerá mais a qualquer etiqueta. Ela será a marca de todos os seres. Não façam isso “pelos outros”, pela “população” ou pela “sociedade” – façam isso por vocês. Cuidem de suas amizades e de seus amores. Repensem, em conjunto e de maneira soberana, uma forma justa de vida. Formem aglomerações de vida boa e as espalhem que eu não conseguirei fazer mais nada contra vocês. Esse não é um apelo ao retorno massivo da disciplina, mas da atenção. Não ao fim de toda despreocupação, mas de toda negligência. Que outra maneira eu poderia encontrar de lembrar que a salvação está em cada gesto? Que tudo está no mais ínfimo?

Eu me rendo às evidências: a humanidade se coloca apenas as questões que ela já não pode mais colocar.



Guia ilustrado de protocolos e ações contra o coronavírus

20 de Março de 2020, 12:05, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

Guia completo e ilustrado das precauções recomendadas para reduzir a possibilidade de contágio

texto por Diario do Nordeste

imagens por Konecranes Oyi

A capacidade de contágio é o principal característica da Covid-19, doença proporcionada pelo novo coronavírus. Apesar das determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de evitar aglomerações e manter o quarentena – medidas em prol do isolamento – muitos precisam sair das residências para realizar a aquisição de mantimentos básicos ou ir para um posto de saúde, caso apresentem sintomas. O risco então é de contrair a enfermidade em objetos e levá-los para casa.

Para auxiliar e combater a infecção, a Konecranes Oyj, uma empresa da Finlândia especializada em produção de guindastes e equipamentos de construção, elaborou uma cartilha com recomendações para diminuir as possibilidades do novo coronavírus adentrar ao espaço privado. Vale ressaltar que, como medida individual, todos devem continuar lavando as mãos, seja com água e sabão ou álcool em gel, além de evitar o contato físico.



A Renda Básica Universal é uma resposta acessível e viável ao coronavírus

20 de Março de 2020, 11:44, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

Um pagamento em dinheiro realizado a todos, sem restrições, pode manter trabalhadores durante a crise
por DANIEL SUSSKIND
link original do Financial Times aqui
 Esse artigo é parte de uma série do FT sobre as curas econômicas para a crise do coronavírus, na qual importantes comentaristas e formuladores de políticas dão suas opiniões sobre como aliviar uma recessão global devastadora. O autor é um colega em ciências econômicas no Balliol College, Universidade de Oxford, e o autor do livro ‘A World Without Work’ (sem tradução no Brasil).
A crise do coronavírus é um desastre para muitos trabalhadores. No Reino Unido, por exemplo, muitas vezes esquecemos que a prosperidade não está em um punhado de gigantes dos negócios bem-apessoados e grandes empresas – muitas das quais estão agora pressionando visivelmente o governo por suporte financeiro.
Também depende dos quase 5 milhões de trabalhadores autônomos e 6 milhões de pequenos empresários que vivem uma situação econômica relativamente oculta, longe dos olhos do público, e com pouca influência sobre a política. A pandemia nos fornece um lembrete dramático da contribuição desses agentes. E são eles os mais ameaçados atualmente.
Mas os nossos instrumentos políticos tradicionais não conseguem chegar até eles. Mudanças nas taxas de juros não são de nenhuma ajuda a profissionais autônomos que enfrentam perda dos rendimentos e ausência de licença médica.
Pacotes de estabilidade financeira não são garantia para o grande número de restaurantes, teatros, cafés, bares e lojas que continuarão vendo o colapso cada vez mais próximo nos dias por vir. Grandes investimentos em infraestrutura não sustentam esses pequenos negócios – 99% de todas as empresas do Reino Unido – cujos colchões não estocam dinheiro suficiente para sobreviver a quebradeira dos próximos meses.
Portanto, é hora de algo completamente diferente – uma Renda Básica Universal. Um pagamento em dinheiro feito a todos, sem restrições, pode garantir sustento a essas pessoas e suas famílias. Fornecer £1.000 por mês a todos no Reino Unido seria uma injeção direta e instantânea de alívio financeiro às milhões de pessoas incapazes de prover por suas necessidades básicas.
Eu vejo a ideia de uma RBU com certo ceticismo. Nos últimos anos, o conceito se popularizou. Muitos o viram como uma resposta necessária à ameaça da automatização (do trabalho), uma forma de sustentar trabalhadores que perderam sua posição e acabem se vendo sem um emprego, e sem renda, no futuro.
Mas na minha própria pesquisa investigando o impacto da tecnologia no mercado de trabalho, eu tendia a ver essa saída como uma resposta imperfeita a um desafio que nós ainda não estamos enfrentando. Por ora o problema não é um mundo sem empregos suficientes, e sim um mundo em que as pessoas não tem as habilidades necessárias para executar as tarefas que precisam ser feitas.
A chegada do coronavírus mudou minha atitude. Robôs talvez não tenham roubado todos os empregos, mas a pandemia está dizimando a demanda de que esses empregos dependem. Andrew Yang, o candidato a presidente americano, que construiu sua campanha sobre a promessa de uma RBU, expressou bem no Twitter: “eu deveria ter falado em uma pandemia em vez de automatização.”
A RBU poderia ser viável. Por exemplo, entregar £1.000 por mês a cada pessoa custaria ao governo por volta de £66 bilhões por mês – uma parte dos quase £500 bilhões que o Reino Unido precisou desembolsar para não afundar na crise de 2008. Seria apenas uma medida temporária.
O governo diz que o Reuno Unido terá metade dos casos de coronavírus em um período de três a quatro semanas antes e depois do pico das infecções, sendo 95% dos casos em um período de 9 a 10 semanas. Ainda podemos esperar que essa seja uma crise de curto prazo, exigindo medidas apenas temporárias, mas extraordinárias.
Seria também politicamente viável, e não apenas no Reino Unido. A RBU vem despontando como uma daquelas raras propostas políticas capazes de dobrar o espectro político, com pessoas em lados opostos concordando com veemência.
Jason Furman, presidente do Conselho de Assessoria Econômica na gestão Barack Obama, escreve: “o Congresso deveria enviar a você $1.000 – e mais $500 para cada um de seus filhos – o mais rápido possível”. E Steven Mnuchin, o secretário do Tesouro americano, está agora “analisando enviar cheques aos americanos imediatamente”.
Enquanto uma RBU como essa pode parecer um tanto simples, sua simplicidade é seu ponto forte. Não há necessidade de monitoramento ou análise de meios complexa, nem burocracias desajeitadas e administração. Na Inglaterra, todo mundo recebe £1,000 – simples assim. Dessa forma, podemos agir com rapidez; e se o pico da crise ocorrer em algumas semanas, essa é uma virtude que para não subestimar.
 
Em 1942, em meio à devastação da 2ª Guerra Mundial, William Beveridge publicou Seguridade Social e Serviços Aliados (tradução livre), transformando as vidas de pessoas comuns num momento de grande crise ao levá-los à criação do Serviço Nacional de Saúde e à expansão da Seguridade Social.
“Um momento revolucionário na história do mundo”, ele escreve nas primeiras páginas, “é um tempo para revoluções, não para remendos”.
Nossa crise é diferente. Mas como Beveridge, devemos responder a ela com imaginação e mente aberta. Torcer e esticar modelos que existem não é o bastante. Devemos ser muito mais ousados.



CONVOCAÇÃO DE REUNIÃO NACIONAL DE ASSOCIADOS E SIMPATIZANTES

13 de Março de 2020, 16:32, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

por coordenação nacional

A Estrutura Administrativa Nacional convoca reunião para próxima segunda, 16/03/2020 às 21h00 para debater coletivamente com os associados e simpatizantes do partido a seguinte pauta:

1) A interrupção do atual registro do partido no TSE (tendo em vista decisões recentes sobre outros partidos em processo de registro) e volta dos Piratas a fase de movimento;

2) Resposta ao convite da REDE Sustentabilidade para o lançamento de Candidaturas Piratas Coletivas às Câmaras Municipais em 2020

2.1) Definição do conceito de #MandatoPirata e das regras do movimento para lançamento de candidaturas

3) Migração dos associados para o novo Loomio Pirata

Local: Mumble Pirata – Informações de acesso serão postadas 1h antes da reunião



[Opinião] Cyber-monitoramento de dados de usuários da ID Estudantil

3 de Fevereiro de 2020, 21:52, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

thread por Saulo Carneiro

o texto abaixo é um versão estática da thread desenvolvida por carneirinho poc.

Como havíamos abordado em um texto anterior, o governo Bolsonaro não conseguiu ter acesso à base anterior da carteirinha estudantil, que é a principal fonte de fundos da UNE, e resolveu criar uma carteirinha estudantil digital própria. As últimas informações disponíveis apontavam que a MP que permitiu o lançamento da ID Estudantil estava quase vencendo no Congresso.

1/ O governo federal, por meio do Ministério da Educação, criou em novembro de 2019 o programa ID Estudantil. Segundo o governo, a ideia é fornecer uma carteira de estudante gratuita.

https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/11/25/id-estudantil-mec-lanca-app-da-carteirinha-digital.amp.htm

2/ Até aí, seria maravilhoso, não é mesmo?! Só que esse projeto é muito mais obscuro do que parece. O mais evidente é que ele tem como objetivo retirar a principal fonte de financiamento das organizações estudantis como @uneoficial@ubesoficial

.3/ A @slytherab explicou toda estratégia de desmonte e desmobilização nessa thread:

4/ Mas além do ataque ao movimento estudantil organizado, o projeto do ID Estudantil tem objetivos ainda + obscuros e fascistas. Primeiro de tudo, a coleta, armazenamento e compartilhamento de dados dos usuários do app. O aplicativo faz o reconhecimento durante o cadastro.

5/ Os dados de reconhecimento facial dos usuários podem ser utilizados durante manifestações contra o governo. Em Hong Kong, manifestantes derrubaram postes de reconhecimento facial para evitar prisões e perseguições.

6/ Na Bahia a tecnologia já vêm sendo utilizada pela polícia para prender foragidos da justiça.

7/ O app também solicita autorização do usuário para acessar sua localização, e nos termos de uso o governo deixa claro que pode usar e compartilhar essa informação.

8/ Todas essas informações podem ser utilizadas pelo Governo para reprimir manifestações de estudantes ou estabelecer processos de perseguição. Tudo com a permissão dos usuários e dentro da “lei”.

9/ Com o aplicativo ID Estudantil o Governo atual, além de matar dois coelhos com uma única caixa d’água, pode estar se adiantando a possíveis manifestações e revoltas. Que sempre tem como protagonistas estudantes. É preciso estar atentos aos novos mecanismos de vigilância e >>

10/ controle do atual governo. O que aparentemente parece ser um benefício para os estudantes, esconde uma tecnologia com possibilidade de alimentar a máquina de repressão do estado.

11/ O @saintspablo trouxe uma informação muito boa que deixei passar. O antigo presidente do INEP caiu por querer acessar dados sigilosos de estudantes durante o desenvolvimento desse projeto de ID Estudantil.

12/ Desde 2011 a polícia de SP tem um programa chamado “Olho de Águia” que filma manifestações e armazena em um banco de dados de dados secretos.

13/ Diversas cidades no país já estão usando o reconhecimento facial em eventos com muitas pessoas. São Paulo vai usar no carnaval:

14/ O @ocolunista fez uma matéria no ano passado sobre isso. “O estopim da saída de Vicenzi foi quando Abraham Weintraub pediu acesso a dados sigilosos de estudantes, solicitação que foi negada pelo procurador-chefe do órgão”.

15/ A @uneoficial também denunciou a tentativa de obter os dados dos estudantes no ano passado.

16/ Com a greve dos procuradores do INEP após as tentativas fracassadas de obter os dados, que são sigilosos e envolvem notas e matrículas de estudantes, parece que o governo viu no projeto da ID Estudantil a oportunidade perfeita para atacar a UNE e ter acesso a esses dados.



[Opinião] O “Mercado” é meio burro

30 de Janeiro de 2020, 22:16, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

A lealdade do “Mercado” vai continuar quando os juros pararem de cair?

por Wilson, imagem: O mágico de Oz (1939)

Velhos hábitos nunca morrem. Mesmo que a euforia demonstrada por agentes e analistas financeiros desde o começo do governo Bolsonaro tenha se traduzindo em números decepcionantes para o mercado de trabalho e o restante da economia real, a Imprensa especializada continua a cometer o mesmo erro recorrente: generalizar as opiniões de analistas financeiros como se fossem de uma mesma entidade abstrata denominada “Mercado”, repassando a ideia de que os interesses do Mercado Financeiro sejam necessariamente os mesmos do restante dos trabalhadores e da economia real.

Originalmente, menções ao “mercado” costumavam ser alusões a um espaço concreto específico das cidades ao longo da história. Nas cidades-estado gregas elas eram as Ágoras, espaços públicos onde comerciantes abriam suas tendas, depois substituídas pelas feiras romanas, que, por sua vez, deram origem aos mercados medievais. Todas elas passavam a mesma ideia de ser um local aberto, com discussões públicas e foram considerados como grandes exemplos do exercício da democracia direta.

Hoje em dia, no entanto, quando jornalistas usam o termo “Mercado” fazem referência a um conjunto de opiniões e vozes presos em um debate restrito vindas de fontes anônimas que, apesar de coletadas de maneira esparsa entre operadores do Mercado Financeiro, aparentam apresentar uma coerência interna suficiente para que sejam atribuídas ao tal “Mercado”, essa figura meio onipresente que nunca tem rosto, mas sempre tem voz.

Não é segredo pra ninguém que exista atualmente uma aliança de conveniências entre esse dito “Mercado” e o Governo Bolsonaro, ou, mais especificamente, entre “Mercado” e a dita “agenda liberal” do seu Ministro das Finanças, Paulo Guedes. Isso apesar do termo agenda liberal nunca ter sido usado como mais do que aquilo que ele sugere: um receituário geral que se mantem sempre o mesmo, independente das circunstâncias.

Apesar disso, quando consideramos o governo em seu primeiro ano, essa agenda liberal não parece contar com muitos itens. Como o próprio Paulo Guedes reconheceu em uma palestra entre conhecidos no BTG Pactual, toda a pauta econômica, defendida da mesma maneira desde a época das eleições, pode ser reduzida a três pontos:

1) Controlar a expansão dos gastos. Ex: Previdência, segurando concursos, cortando cafézinho, etc

2) Vender ativos por meio das privatizações para pagar e reduzir a dívida pública,

3) Criar algum tipo de CPMF que não é CPMF para bancar a desoneração da folha de pagamento.

Além desses pontos, temos uma série de reformas que não merecem o nome que carregam:

1) A reforma tributária que não é tributária, pois nem reduz a carga tributária, nem altera a sua composição de maneira a cobrar dos mais ricos, mas apenas simplifica a burocracia para as empresas e se propõe a taxar dividendos, como comentado pelo deputado Marcelo Ramos (PL-AM) no programa Segunda Chamada.

2) A reforma do Pacto Federativo que não reforma Pacto Federativo nenhum, nem, tampouco, cumpre o lema do “Mais Brasil e menos Brasilia” de modo descentralizar os poderes do Governo Federal para Estados e municípios, mas simplesmente se propõe a criar novos limites para os gastos do governo federal, extinguindo centenas de prefeituras, regulamentar um órgão centralizador, o Conselho Gestor Fiscal, para controlar os gastos dos três poderes, além de se propor a distribuir uma porção da cessão onerosa do pré-sal para estados e prefeituras.

Talvez esse projeto, cuja importância já destacamos anteriormente, ganhe alguma outra proporção com as colaborações e debates no Congresso, pois tudo que foi proposto até agora representam passos muito tímidos, sendo muito mais focados na questão da gestão e limitação de gastos público do que numa re-alteração dos poderes e responsabilidades das esferas federal, estadual e municipal que seria esperado em uma reformulação do Pacto Federativo.

Em um momento em que o governo não possui reservas ou espaço no orçamento para expandir seus gastos de qualquer maneira, a atual política econômica é justificada na mesma palestra pelo ministro Paulo Guedes como “seguir algo próximo do caminho correto” ao invés de “seguir com segurança e certeza o caminho errado”, em uma referência ao governo Dilma, que gerou a atual crise econômica.

Com generosas doses de boa vontade, poderíamos até concordar que o núcleo econômico do Governo é um dos poucos núcleos dotados de racionalidade no governo Bolsonaro, por se o único capaz de propor políticas factíveis em nosso contexto, mas considerando o papel de “fiador” da campanha de todo esse processo junto ao “Mercado” assumido pelo Ministro Paulo Guedes durante a eleição, será que os atrasos e regressos gerados em diversas outras áreas como Educação, Cultura e Relações Exteriores se justificam diante de uma condução da Economia que se proponha a fazer tão pouco?

E, acima de tudo, o que o governo Bolsonaro representa como um todo está fazendo na Economia, que candidatos da última eleição também não poderiam ter feito, mas sem as demais bobagens e aberrações produzidas pelos demais núcleos do governo?

 

Entendendo a geopolítica de interesses dos Faria Limers

De maneira bem resumida, para combater uma crise econômica todo Governo recorre a uma mesma arma que só carrega duas balas: a primeira envolve aumentar gastos do governo, como parte de uma medida contra-cíclica para estimular uma economia que mostra sinais de retração. Já a segunda, envolve reduzir o nível de gastos e participação do Governo para ficar conduzindo a Economia por meio de política monetária.

Isso é algo que não começou agora, mas no governo Temer, período em que começou a tradição de escolha de Ministro para a Economia com perfil mais voltado pra presidente do Banco Central, como era na época o Ministro Henrique Meireles. Desde a aprovação do Teto dos Gastos o país tem sido conduzido exclusivamente por uma política monetária tão brusca que lembra quando se usa o freio de mão do carro para dar um cavalo de pau, como mostra o gráfico com a variação dos juros que ocorreu no Brasil desde então.

O que o governo Bolsonaro tem buscado fazer desde então foi apenas aprofundar esse processo de repressão aos gastos, retomando ativos dos bancos públicos, como o BNDES, para abater a dívida de curto prazo, abrindo espaço para uma queda maior dos juros, uma vez aprovada a reforma da previdência. Por um lado, isso é uma boa notícia para controlar a explosão da dívida, por outro lado tais medidas são feitas ao custo da não implementação de políticas de demanda, que poderiam ajudar a reduzir o nível de desemprego mais rapidamente.

A pergunta que os analistas tem feito agora é “Uma vez vez que os juros caiam, eles vão continuar nesse mesmo patamar?”. Esse é o “novo normal” com câmbio mais alto e juros mais baixos, como defende Paulo Guedes? Para responder adequadamente, talvez devamos analisar menos os aspectos propriamente econômicos e mais os interesses políticos dos diversos grupos ue compõem o tal “Mercado”.

Até o momento, a estratégia de foco na redução tanto da inflação quanto da taxa de juros tem se mostrado positiva para todos os grupos financeiros de maneira unânime, o que inclui tanto os “rentistas” que compraram títulos pré com remuneração de 15% e que passam a ganhar uma margem maior contra uma inflação menor, quanto os intermediários e corretores financeiros que passam a negociar mais ações de empresas como forma de compensar pela menor remuneração dos novos títulos Bolsa de Valores que vem batendo recordes, assim como dos donos das empresas que passam a registrar um aumento do seu patrimônio com o aumento dos valores das ações de suas empresas.

Ou seja, é um momento amplamente favorável, desde que você tenha dinheiro ou atue profissionalmente na área, é claro. Algo que, aliás, também ajuda a explicar o recente fenômeno dos “Faria Limers”, que vivem seu momento auge. De certa forma, é uma situação oposta àquela de 2015, quando o baque foi sentido pela classe média logo pelo baque da variação cambial e dos diversos reajustes que ocorreram no começo do ano, mas que os trabalhadores só foram sentir o efeito no nível emprego lá pro final de ano.

Essa unanimidade entre os interesses dos diversos agentes do “Mercado”, no entanto, se encerra uma vez que a taxa de juros atinjam o seu ponto mínimo. A partir disso os investidores serão obrigados a assumir riscos na Economia Real. Com isso, ficam abertas todas as apostas, pois embora, ao menos em teoria, as condições necessárias para uma suposta retomada do crescimento, como juros baixa e taxa de câmbio alto, fiquem dadas, nada garante que é isso que irá ocorrer.

Isso porque a Economia frequentemente se orienta menos como uma planta que germina e cresce de maneira saudável se estiver em condições ideais e mais parecido com o espírito de um animal de grande porte, como um cavalo dotado de personalidade própria. E você pode até colocar um cavalo na frente de uma fonte, mas nada garante que ele irá beber daquela água.

No final claro que o “Mercado” não é uma entidade muito fiel, mas muda de opinião fácil. E todo esse processo de aparente blindagem que os agentes financeiros proporcionam hoje ao governo Bolsonaro não apenas deixarão de existir, como também níveis de cobranças por resultados na Economia serão muito maiores e mais amplos do que ocorrem hoje.

Até mesmo apoiadores que hoje se mostram incondicionais, como recentemente demonstrou ser Paulo Skaf da Fiesp, podem passar a ser vistos cobrando algum tipo de política mais focado em estimular a demanda.

 

Reformas necessárias: depósitos remunerados e fim das LFT’s

O fato dos juros atingirem seu patamar mais baixo podem parecer um avanço importante em um país que já foi denominado de “paraíso dos rentistas”, mas os juros só caíram ainda mais após a reforma da previdência porque ela acompanhou uma inflação que serve como termômetro de um paciente que foi sendo colocado cada vez mais sob uma espécie de “coma induzido”.

A principal justificativa para isso, que eram as reformas estruturais necessárias, focaram apenas na redução de custos de trabalho para os empresários, mas até o momento pouparam aquele que um dos maiores co-responsáveis pela última crise econômica, que é o nosso sistema bancário, nosso sistema de credito e, consequentemente sistema de gestão da dívida pública, que continua nas mãos dos maiores bancos do país.

Mesmo medidas importantes como a criação da modalidade “Empresa Simples de Crédito” e a limitação dos juros cobrados pelos bancos no cheque especial definido pelo Banco Central representam pouco mais do que paliativos que geram resistência em um sistema que continua sendo estruturalmente injusto, pois continuam a garantir uma remuneração excessiva aos grandes bancos como único meio de garantir estabilidade ao mercado monetário como um todo.

E esses pequenos paliativos ainda são acompanhados por projetos que querem entregar ainda mais facilidades ao nosso monopolizado sistema bancário, como o que legaliza o Banco Central a adquirir enormes quantidades de ativos como feito pelos EUA no auge da crise de 2008, quando houve a socialização pública do risco dos bancos privados.

Em outras palavras, o paciente continua em coma induzido, mas a operação de ponte de safena que seria necessária não foi realizada. Então, quando o paciente for reanimado não terá nem como reclamar quando os mesmos problemas voltarem a correr. O que não quer dizer que os juros voltarão a explodir novamente acima dos dois dígitos, algo que já foi superado, mas que podemos estar ensaiando os primeiros passos de um novo vôo de galinha e não de um crescimento econômico mais sustentado.

Os problemas que nossos sistema bancário e monetário enfrentam já são bastante conhecidos, ainda que restritos a um grupo extremamente especializado e desconhecidos do grande público. Entre eles está o atual tripé macroeconômico, que precisa ser reformulado, pois as operações compromissadas negociadas nas operações de open market do Banco Central acabam sendo muito onerosas para a gestão da dívida como um todo.

Para resolver esse assunto, é preciso retomar a discussão do projeto PL 9.248/2017, que se encontra paralisado na câmara dos deputados desde que foi recebido em dezembro de 2017. Esse projeto estabelece o sistema de depósitos remunerados entre Bancos e demais Instituições Financeiras junto ao Banco Central em um sistema semelhante ao Fed Funds que tradicionalmente opera há muitos anos nos Estados Unidos.

Isso é algo que apenas ajudaria a reduzir os custos excessivos gerados pelas operações compromissadas quanto daria um grau de autonomia para as novas Fintechs e outros bancos digitais fazerem frentes aos maiores Bancos de Varejo e auxiliando a aumentar a competição do mercado como um todo.

A percepção geral que o Governo expressou alguma vezes sobre o assunto é a de que o mercado bancário brasileiro já se encontra sob uma grande revolução digital e que já irá se modificar radicalmente nos próximo anos. Isso em parte é verdade, pois as propostas de Open Banking realmente irão alterar drasticamente a relação das pessoas por produtos financeiros que poderão ser oferecidos de maneira online por uma grande diversidade de instituições independentes, mas adotar novas tecnologias é um procedimento que o mercado financeiro sempre seguiu sem que isso implicasse em alterações estruturais, da mesma maneira que a adoção de caixas eletrônicos ou do online banking não tornaram nosso mercado bancário menos concentrado.

Esperar a revolução digital ocorrer para depois aprovar as reformas estruturas necessárias significa apenas acomodar essas novas tecnologias digitais sob um mercado bancário que já se encontra pré-sorteado.

Outro ponto importante é reduzir a quantidade de LFT’s (Letras Financeiras do Tesouro) que são emitidas pelo Banco Central no mercado financeiro. Para reduzir o debate técnico ao essencial, o grande problema das LFT’s é que elas acabam gerando uma espécie de indexação nas bases monetárias, fazendo com que os aumentos nas taxas de juros acabem sendo mais altos do que seria necessário. É isso que explica esse estranho vício na trajetória dos juros, que sobem muito rápido, mas acabam levando muito tempo para cair.

As LFT’s foram inventadas ainda na década de 80, durante a implementação do plano cruzado pela equipe do Andrea Lara Rezende como uma forma de oferecer algum tipo de mecanismo de salvaguarda ao Mercado Financeiro para que mantivesse o dinheiro no país no período de inflação explodiu.

Com o passar do tempo a inflação foi controlada, outros mecanismos de correção monetária coneguiram ser debelados, mas as LFT’s continuaram sendo aproveitadas embutidos em outros tipos de operações financeiros, como os contratos de swap cambial.

Se houvesse uma redução de LFT’s no Mercado Financeiro, fosse seja possível alongar tanto a duração quano prazo médio dos títulos públicos, que no Brasil operam tradicionalmente sempre pensando no curto prazo.

Nossos jornalistas e analistas políticos vivem reclamando que nossos políticos sempre pensam no curto prazo e com a cabeça focada na próxima eleição, mas que sentido faz essa crítica se o “Mercado” também opera pensando igualmente no curtíssimo prazo?

Bibliografia

BACHA, Edmar Lisboa; DE OLIVEIRA FILHO, Luiz Chrysostomo. Mercado de capitais e dívida pública: tributação, indexação, alongamento. ANBID, 2006.

BACHA, Edmar. A crise fiscal e monetária brasileira. Civilizaçao Brasileira, Rio de Janeiro, 2016.



Utopia é um ideal perigoso. Melhor buscar a Protopia

23 de Janeiro de 2020, 20:35, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

por Michael Shermer

pirateado da Aeon

Utopias são visões idealizadas de uma sociedade perfeita. Utopianismos são aquelas ideias colocadas em prática. É aí que o problema começa. Thomas More cunhou o neologismo Utopia para o seu trabalho de 1516, considerado como aquele que lançou o gênero literário moderno por uma boa razão. A palavra significa “nenhum lugar” porque quando humanos imperfeitos buscam a perfeição – pessoal, política, econômica e social – eles falham. Portanto, o espelho negro das utopias são distopias – experimentos sociais que falharam, regimes políticos repressivos e sistemas econômicos opressivos que resultam de sonhos utópicos postos em prática.

A crença de que humanos são capazes de atingir a perfeição levam, inevitavelmente, a erros quando ‘uma sociedade perfeita’ é desenvolvida para uma espécie imperfeita. Não há uma maneira melhor do que todas a outras para viver porque há muitas variações de como as pessoas querem viver. Portanto, não há uma sociedade que seja melhor, apenas múltiplas variações de um conjunto de temas como ditados pela nossa natureza.

Por exemplo, utopias são especialmente vulneráveis quando uma teoria social baseado na propriedade coletiva, trabalho comunal, governo autoritário e uma economia sob estrito controle colidem com nosso desejo natural por autonomia, liberdade individual e escolha. Além disso, as diferenças naturais em habilidades, interesses e preferências dentro de qualquer grupo de pessoas levam a desigualdades produtivas e condições de vida e trabalho imperfeitos que utopias comprometidas com igualdade de renda não podem tolerar. Como um dos cidadãos originais da comunidade New Harmony em Indiana, no século 19 de Robert Owen, uma vez explicou:

Nós tentamos toda forma concebível de organização e governo. Nós tínhamos um mundo em miniatura. Nós havíamos reencenado a Revolução Francesa diversas vezes com corações desesperados ao invés de cadáveres como resultado… parecia que a própria lei da diversidade inerente na natureza que havia nos conquistado… nossos interesses ‘unidos’ foram direcionados para uma guerra com as individualidades das pessoas e suas circunstâncias, assim como o instinto de auto-preservação.

A maior parte dos experimentos utópicos do século 19 foram relativamente inofensivos porque, sem um grande número de membros, eles careciam de poder político e econômico. Mas acrescente esses fatores e sonhadores utópicos podem se tornar assassinos distópicos. Pessoa agem de acordo com suas crenças e se você acreditar que a única coisa que impede você e/ou sua família, clã, tribo, raça ou religião de atingir os céus (ou de alcançar a terra no céu) são os outros ou algum outro grupo, então as ações não conhecem limites.

Do homicídio ao genocídio, o assassinato de outros em nome de alguma crença religiosa ou ideológica é responsável pelas maiores contagens de corpos na história dos conflitos, das Cruzadas, Inquisição, caça as bruxas e guerra religiosas dos séculos passados aos cultos religiosos, guerras mundiais, pilhagens e genocídios do século passado.

Nós podemos ver que o cálculo entre a lógica utópica e o agora famoso “problema do bonde” (trolley problem) no qual a maioria das pessoas afirma que estariam dispostas a matar uma pessoa para salvar cinco. Aqui está a configuração: você se encontra próximo da bifurcação de um trilho de trem com uma alavanca para desviar o vagão do bonde que está a prestes a matar cinco pessoas no caminho.

Se você puxar a alavanca, ela irá desviar o bonde para um trilho paralelo onde matará uma pessoa. Se você não fizer nada, o bonde mata cinco. O que você faria? A maior parte das pessoas dos países ocidentais esclarecidos hoje concordam que seria moralmente permissível matar uma pessoa para salvar cinco, imagine o quão fácil seria convencer pessoas vivendo em estados autocráticos com aspirações utópicas que matar 1.000 pessoas salvaria 5.000 ou exterminar 1.000.000 para que 5.000.000 talvez prosperem. O que é alguns zeros quando estamos falando sobre felicidade infinita e bençãos eternas?

A falha fatal no utopianismo utilitarista é encontrado em outro experimento mental: você é um espectador saudável passando pela sala de espera de um hospital no qual o médico do Pronto Socorro tem cinco pacientes morrendo de diferentes condições, todas as quais podem ser salvas ao sacrificar você e recolhendo seus órgãos. Alguém gostaria de viver em uma sociedade na qual eles pudessem ser aquele espectador inocente? É claro que não, que é porque qualquer médico que tentasse tal atrocidade seria julgado e condenado por assassinato.

Ainda assim, isso é precisamente o que aconteceu com os grandes experimentos do século 20 em ideologias socialistas utópicas como manifestadas a Russia Marxista/Leninista/Stalinista (1917-1989), Itália Fascista (1922-1943) e Alemanha Nazista (1933-1945), todas tentativas em larga escala de atingir perfeição política, econômica, social (até mesmo racial), resultando em dezenas de milhões de pessoas mortas por seus próprios Estados ou assassinadas em conflito com outros Estados percebidos como bloqueando a estrada para o paraíso. O teorista e revolucionário marxista Leon Trotsky expressou a visão utópica em um panfleto de 1924:

A espécie humana, o Homo Sapiens coagulado, irá uma vez mais entrar em um estado de transformação radical e, por suas próprias mãos, irá se tornar um objeto dos mais complicados métodos de seleção artificial e treinamento psico-físicos… O ser humano médio irá ascender aos limites de um Aristóteles, um Goethe ou um Marx. E sobre esse cume novos picos irão surgir

Esse objetivo irrealizável levou a bizarros experimentos como aqueles conduzidos por Ilya Ivanov, que foi designada por Stalin em 1920 em cruzar seres humanos e gorilas com o objetivo de criar ‘um novo ser humano invencível’. Quando Ivanov falhou em produzir o híbrido de homem-gorila, Stalin a havia sido presa, encarcerada e exilada para o Kazaquistão.

Já quanto a Trotsky, uma vez que ele ganhou poder como um dos sete membros fundadores do Politburo soviético, ele estabeleceu campos de concentração para aqueles que se recusaram a se unir em seu grande experimento utópico, em última instância levando ao arquipélago de gulags que matou milhões de cidadãos russos que também eram creditados como obstáculos no caminho do paraíso utópico que estava à vista. Quando sua própria teoria Trotskista opôs aquela do Stalinismo, o ditador teve Trotsky assassinado no México em 1940. Sic semper tyrannis.

Na segunda metade do século 20, o Marxismo revolucionário em Cambodia, Coreia do Norte e numerosos estados na América do Sul e África levaram a assassinatos, pogroms, genocídios, limpezas étnicas, revoluções, guerras civis e conflitos patrocinados pelo estado, todos em nome de estabelecer um céu na Terra que requeriu a eliminação de desertores recalcitrantes. Tudo somado, algo como 94 milhões de pessoas morreram nas mãos dos Marxistas revolucionários e comunistas utópicos na Russia, China, Coreia do Norte e outros estados, um número abismante quando comparado com os 28 milhões mortos pelos fascistas. Quando você precisa assassinar pessoas nas dezenas de milhões para atingir seu sonho utópico, você alcançou apenas um pesadelo distópico.

A jornada utópica por felicidade perfeita foi exposta como um objetivo falho que segue aquele feita por George Orwell em seu review de 1940 de Mein Kampf:

Hitler … percebeu a falsidade da atitude hedonística em relação a vida. Quase todo o pensamento ocidental desde a última guerra certamente todo pensamento ‘progressista’, assumiram de maneira tácita que seres humanos não desejavam nada além de facilidades, segurança e evitar a dor … [Hitler] sabe que seres humanos não apenas querem conforto, segurança, horas de trabalho curtas, higiene, controle de nascimento e, em geral, senso comum, eles também, pelo menos de maneira intermitente, querem conflito e auto-sacrifício…

Sobre o amplo apelo do Fascismo e Socialismo, Orwell acrescentou:

Enquanto Socialismo e até mesmo capitalismo de maneira mais crua, disseram para as pessoas ‘Eu lhe ofereço um bom tempo’ Hitler disse a eles ‘eu ofereço conflito, perigo e morte’ e como resultado toda a nação se acomodou aos seus pés … nós não devemos subestimar o seu apelo emocional.

O que, então, deve substituir a ideia de utopia? Uma resposta pode ser encontrada em outro neologismo – protopia – progressos incremental com passos buscando aperfeiçoamento, não a perfeição. Como o futurista Kevin Kelly descreve em sua definição:

Protopia é um estado que é melhor hoje do que era ontem, ainda que talvez apenas um pouco melhor. Protopia é muito mais difícil de visualizar. Como a protopia contem tanto novos problemas quanto novos benefícios, essa interação complexa de trabalhar é muito difícil de prever.

Em meu livro ‘The Moral Arc’ (2015 – sem versão em português), eu mostro como progresso protópico descreve melhor os monumentais sucessos morais dos séculos passados: a atenuação da guerra, a abolição da escravidão, o fim da tortura e da pena de morte, sufrágio universal, democracia liberal, direitos civis e liberdades, casamento do mesmo sexo e direitos dos animais. Esses são todos exemplos de sucessos protópicos no sentido que todos eles aconteceram um passo por vez.

Um futuro protópico não é apenas prático, ele é realizável

Michael Shermer é editor do jornal Skeptic, colunista mensal do Scientific American e associado à Universidade de Chapman na California.

Esse ensaio é baseado em Heavens on Earth: The Scientific Search for the Afterlife, Immortality, and Utopia publicado pelo autor em 2018



Utopia é um ideal perigoso. Melhor mirar pela Protopia

23 de Janeiro de 2020, 20:35, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

por Michael Shermer

pirateado da Aeon

Utopias são visões idealizadas de uma sociedade perfeita. Utopianismos são aquelas ideias colocadas em prática. É aí que o problema começa. Thomas More cunhou o neologismo Utopia para o seu trabalho de 1516, considerado como aquele que lançou o gênero literário moderno por uma boa razão. A palavra significa “nenhum lugar” porque quando humanos imperfeitos buscam a perfeição – pessoal, política, econômica e social – eles falham. Portanto, o espelho negro das utopias são distopias – experimentos sociais que falharam, regimes políticos repressivos e sistemas econômicos opressivos que resultam de sonhos utópicos postos em prática.

A crença de que humanos são capazes de atingir a perfeição levam, inevitavelmente, a erros quando ‘uma sociedade perfeita’ é desenvolvida para uma espécie imperfeita. Não há uma maneira melhor do que todas a outras para viver porque há muitas variações de como as pessoas querem viver. Portanto, não há uma sociedade que seja melhor, apenas múltiplas variações de um conjunto de temas como ditados pela nossa natureza.

Por exemplo, utopias são especialmente vulneráveis quando uma teoria social baseado na propriedade coletiva, trabalho comunal, governo autoritário e uma economia sob estrito controle colidem com nosso desejo natural por autonomia, liberdade individual e escolha. Além disso, as diferenças naturais em habilidades, interesses e preferências dentro de qualquer grupo de pessoas levam a desigualdades produtivas e condições de vida e trabalho imperfeitos que utopias comprometidas com igualdade de renda não podem tolerar. Como um dos cidadãos originais da comunidade New Harmony em Indiana, no século 19 de Robert Owen, uma vez explicou:

Nós tentamos toda forma concebível de organização e governo. Nós tínhamos um mundo em miniatura. Nós havíamos reencenado a Revolução Francesa diversas vezes com corações desesperados ao invés de cadáveres como resultado… parecia que a própria lei da diversidade inerente na natureza que havia nos conquistado… nossos interesses ‘unidos’ foram direcionados para uma guerra com as individualidades das pessoas e suas circunstâncias, assim como o instinto de auto-preservação.

A maior parte dos experimentos utópicos do século 19 foram relativamente inofensivos porque, sem um grande número de membros, eles careciam de poder político e econômico. Mas acrescente esses fatores e sonhadores utópicos podem se tornar assassinos distópicos. Pessoa agem de acordo com suas crenças e se você acreditar que a única coisa que impede você e/ou sua família, clã, tribo, raça ou religião de atingir os céus (ou de alcançar a terra no céu) são os outros ou algum outro grupo, então as ações não conhecem limites.

Do homicídio ao genocídio, o assassinato de outros em nome de alguma crença religiosa ou ideológica é responsável pelas maiores contagens de corpos na história dos conflitos, das Cruzadas, Inquisição, caça as bruxas e guerra religiosas dos séculos passados aos cultos religiosos, guerras mundiais, pilhagens e genocídios do século passado.

Nós podemos ver que o cálculo entre a lógica utópica e o agora famoso “problema do bonde” (trolley problem) no qual a maioria das pessoas afirma que estariam dispostas a matar uma pessoa para salvar cinco. Aqui está a configuração: você se encontra próximo da bifurcação de um trilho de trem com uma alavanca para desviar o vagão do bonde que está a prestes a matar cinco pessoas no caminho.

Se você puxar a alavanca, ela irá desviar o bonde para um trilho paralelo onde matará uma pessoa. Se você não fizer nada, o bonde mata cinco. O que você faria? A maior parte das pessoas dos países ocidentais esclarecidos hoje concordam que seria moralmente permissível matar uma pessoa para salvar cinco, imagine o quão fácil seria convencer pessoas vivendo em estados autocráticos com aspirações utópicas que matar 1.000 pessoas salvaria 5.000 ou exterminar 1.000.000 para que 5.000.000 talvez prosperem. O que é alguns zeros quando estamos falando sobre felicidade infinita e bençãos eternas?

A falha fatal no utopianismo utilitarista é encontrado em outro experimento mental: você é um espectador saudável passando pela sala de espera de um hospital no qual o médico do Pronto Socorro tem cinco pacientes morrendo de diferentes condições, todas as quais podem ser salvas ao sacrificar você e recolhendo seus órgãos. Alguém gostaria de viver em uma sociedade na qual eles pudessem ser aquele espectador inocente? É claro que não, que é porque qualquer médico que tentasse tal atrocidade seria julgado e condenado por assassinato.

Ainda assim, isso é precisamente o que aconteceu com os grandes experimentos do século 20 em ideologias socialistas utópicas como manifestadas a Russia Marxista/Leninista/Stalinista (1917-1989), Itália Fascista (1922-1943) e Alemanha Nazista (1933-1945), todas tentativas em larga escala de atingir perfeição política, econômica, social (até mesmo racial), resultando em dezenas de milhões de pessoas mortas por seus próprios Estados ou assassinadas em conflito com outros Estados percebidos como bloqueando a estrada para o paraíso. O teorista e revolucionário marxista Leon Trotsky expressou a visão utópica em um panfleto de 1924:

A espécie humana, o Homo Sapiens coagulado, irá uma vez mais entrar em um estado de transformação radical e, por suas próprias mãos, irá se tornar um objeto dos mais complicados métodos de seleção artificial e treinamento psico-físicos… O ser humano médio irá ascender aos limites de um Aristóteles, um Goethe ou um Marx. E sobre esse cume novos picos irão surgir

Esse objetivo irrealizável levou a bizarros experimentos como aqueles conduzidos por Ilya Ivanov, que foi designada por Stalin em 1920 em cruzar seres humanos e gorilas com o objetivo de criar ‘um novo ser humano invencível’. Quando Ivanov falhou em produzir o híbrido de homem-gorila, Stalin a havia sido presa, encarcerada e exilada para o Kazaquistão.

Já quanto a Trotsky, uma vez que ele ganhou poder como um dos sete membros fundadores do Politburo soviético, ele estabeleceu campos de concentração para aqueles que se recusaram a se unir em seu grande experimento utópico, em última instância levando ao arquipélago de gulags que matou milhões de cidadãos russos que também eram creditados como obstáculos no caminho do paraíso utópico que estava à vista. Quando sua própria teoria Trotskista opôs aquela do Stalinismo, o ditador teve Trotsky assassinado no México em 1940. Sic semper tyrannis.

Na segunda metade do século 20, o Marxismo revolucionário em Cambodia, Coreia do Norte e numerosos estados na América do Sul e África levaram a assassinatos, pogroms, genocídios, limpezas étnicas, revoluções, guerras civis e conflitos patrocinados pelo estado, todos em nome de estabelecer um céu na Terra que requeriu a eliminação de desertores recalcitrantes. Tudo somado, algo como 94 milhões de pessoas morreram nas mãos dos Marxistas revolucionários e comunistas utópicos na Russia, China, Coreia do Norte e outros estados, um número abismante quando comparado com os 28 milhões mortos pelos fascistas. Quando você precisa assassinar pessoas nas dezenas de milhões para atingir seu sonho utópico, você alcançou apenas um pesadelo distópico.

A jornada utópica por felicidade perfeita foi exposta como um objetivo falho que segue aquele feita por George Orwell em seu review de 1940 de Mein Kampf:

Hitler … percebeu a falsidade da atitude hedonística em relação a vida. Quase todo o pensamento ocidental desde a última guerra certamente todo pensamento ‘progressista’, assumiram de maneira tácita que seres humanos não desejavam nada além de facilidades, segurança e evitar a dor … [Hitler] sabe que seres humanos não apenas querem conforto, segurança, horas de trabalho curtas, higiene, controle de nascimento e, em geral, senso comum, eles também, pelo menos de maneira intermitente, querem conflito e auto-sacrifício…

Sobre o amplo apelo do Fascismo e Socialismo, Orwell acrescentou:

Enquanto Socialismo e até mesmo capitalismo de maneira mais crua, disseram para as pessoas ‘Eu lhe ofereço um bom tempo’ Hitler disse a eles ‘eu ofereço conflito, perigo e morte’ e como resultado toda a nação se acomodou aos seus pés … nós não devemos subestimar o seu apelo emocional.

O que, então, deve substituir a ideia de utopia? Uma resposta pode ser encontrada em outro neologismo – protopia – progressos incremental com passos buscando aperfeiçoamento, não a perfeição. Como o futurista Kevin Kelly descreve em sua definição:

Protopia é um estado que é melhor hoje do que era ontem, ainda que talvez apenas um pouco melhor. Protopia é muito mais difícil de visualizar. Como a protopia contem tanto novos problemas quanto novos benefícios, essa interação complexa de trabalhar é muito difícil de prever.

Em meu livro ‘The Moral Arc’ (2015 – sem versão em português), eu mostro como progresso protópico descreve melhor os monumentais sucessos morais dos séculos passados: a atenuação da guerra, a abolição da escravidão, o fim da tortura e da pena de morte, sufrágio universal, democracia liberal, direitos civis e liberdades, casamento do mesmo sexo e direitos dos animais. Esses são todos exemplos de sucessos protópicos no sentido que todos eles aconteceram um passo por vez.

Um futuro protópico não é apenas prático, ele é realizável

Michael Shermer é editor do jornal Skeptic, colunista mensal do Scientific American e associado à Universidade de Chapman na California.

Esse ensaio é baseado em Heavens on Earth: The Scientific Search for the Afterlife, Immortality, and Utopia publicado pelo autor em 2018



[Opinião] Da cruz de caravaca ao olavismo cultural

19 de Janeiro de 2020, 22:45, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

Buscando entender de onde saiu a última loucura do governo bolsonaro

por @rrobinha

Quando explodiu a polêmica envolvendo o agora ex-secretário Roberto Alvim, que parafraseou trechos e copiou estéticas do propagandista nazista Joseph Goebbels durante o anúncio do Prêmio Nacional das artes, os Piratas postaram em sua fanpage um meme com intenções cômicas comparando indiretamente a cruz com dois braços da cruz que estava em cima da mesa do ex-secretário Alvim com o símbolo do grupo liderado pelo Alto-Chanceler Adam Sutler, vilão do filme V de Vingança.

Após a explosão da polêmica, no entanto, surgiram alguns artigos interessantes na Imprensa explicando a origem da cruz e, ao que tudo indica, a cruz utilizada no filme V de Vingança é uma referência à cruz de Lorena, enquanto que a cruz pousada ao lado do ex-secretário Alvim era a cruz de Caravaca.

Seriam, portanto, duas cruzes diferentes, com origens distintas, mas que compartilham a mesma ideia de estarem associadas ao ideal das cruzadas, de uma ativa expansão da fé cristã e em especial com a figura dos templários.

As preferências de Roberto Alvim pelos ideais das cruzadas já eram claros há bastante tempo, como mostra a expressão abaixo “Deus Vult

Deus vult (“Deus o quer!” em latim) foi o grito do povo quando o papa Urbano II declarou a Primeira Cruzada no Concílio de Clermont, em 1095, quando a Igreja Ortodoxa pediu ajuda ao ocidente para interromper a expansão islâmica.

No Brasil, essa referência cruzadista vem sendo utilizada pelo movimento que se formou na Internet em volta de Bolsonaro ainda antes da eleição, copiando e emulando os mesmos memes que a direita alternativa norte-americana passou a produzir a partir do jogo Crusader Kings 2 – Holy Fury, um jogo para PC de 2012 que se passa na época das Cruzadas na Europa.

Também conhecido como alt-right, esse movimento originário da Internet apoiou ativamente a eleição de Trump. Grande parte da eleição de Bolsonaro envolveu memes de Internet que emularam técnicas utilizadas na eleição de Trump, como já notamos em artigo anterior.

Mas o que o Brasil tem a ver com as Cruzadas e os Templários?

Quando as pessoas pensam nas cruzadas em geral, elas associam o termo apenas com os eventos que ocorreram na cidade de Jerusálem, mas diversas das Ordens Militares formadas na Europa para lutar pela cidade de Jerusalém foram utilizadas para dar combate aos mouros (como eram chamados genericamente os muçulmanos na época) que controlavam territórios na própria Europa há algumas centenas de anos, especialmente na penísula Ibérica, região que engloba o atual território de Portugal e Espanha, desde pelo menos o século VI.

O próprio jogo “Cruzader Kings 2”, que originou os memes originais de Deus Vult, possui entre suas opções de jogo a campanha “Reconquista Portuguesa”, que busca emular como Portugal formou e consolidou seu território, na mesma época das cruzadas, a partir dos territórios europeus que estavam em controle dos muçulmanos desde o século VI.

A reconquista, que se iniciou junto com as cruzadas de 1095, foi concluída em 1385 em Portugal, enquanto que na Espanha foi concluída apenas com a tomada de granada dos Mouros em 1492, sendo que a cidade de Caravaca, onde surgiu a cruz Caravaca, fica na Espanha próximo de Granada e está ligada à figura de um rei mouro que se converteu ao cristianismo dvido ao surgimento milagroso dessa cruz.

Esse conflito militar entre cristãos e muçulmanos, que durou centenas de anos, se prolongaria ainda pelas décadas seguintes, mas se transferiria ao meditarrâneo e envolveria os Piratas Bérberos, ou Piratas da Barbária, que controlavam diversas cidades na costa de Madagascar, no norte da África.

Entre os conflitos náuticos mais famosos da época estão os conflitos entre os cruzados e o Pirata Barba-Ruiva, que secretamente não era um, mas sim dois irmãos originários da ilha de Lesbo na Grécia, que atuaram como corsários a serviço do Império Otomano. em defesa dos ataque dos cruzados cristãos, em especial da Ordem de São João.

Todo esse período esteve associado a ele a uma série de reformas na Igreja Católica, que buscaram reforçar a pureza da fé e se iniciaram ainda no inicio das cruzadas, como a instituição do celibato entre os clérigos e monges da igreja. O símbolo máximo desse período, que envolvia militarismo e castidade, é representado pela figura do templário, que carrega consigo a imagem de soldado de Deus: o monge celibatário que combate os hereges.

Poucas pessoas sabem, mas Portugal foi provavelmente o país que contou com a maior proporção relativa de Templários atuando em seu território em conflito contra os mouros, especialmente quando consideramos a população e território mais reduzidos de Portugal. Embora tenha sido originalmente criada para orientar e defender os peregrinos que seguiam para Jerusalém, os templários passaram a ganhar cada vez mais prestígio junto ao Papa e passaram a atuar na reconquista da península ibérica.

Os templários tiveram um papel ativo na conquista de Lisabona, atual Lisboa, sob controle dos muçulmanos e chegaram a possuir três fortes diferentes sob seu controle, como o castelo-convento na cidade de Tomar, além de ter recebido diversas doações de terras da nobreza.

Como descreve Jorge Caldeira, quando a ordem Templária foi abolida após acusação de heresia feita pelos partidários do rei da França, Felipe o Belo, o Rei de Portugal resistiu à ideia restituir os bens doados para os Templários para o vaticano e decidiu transferi-los para a Ordem de Cristo, que estava a serviço da Coroa Portuguesa e passou a ser controlada pelos Jesuítas, que tiveram papel importante não apenas na colonização do Brasil, mas em toda a expansão do Império Português.

A própria cruz de caravaca foi incorporada pelos Jesuítas no Brasil, passando a ser denominada de cruz missioneira e a ter outro significado ligado ao zelo humilde da fé cristã. A própria história de Inácio de Loyola, fundador da ordem, que na juventude era aficcionado por romances de cavalaria e que passou a ler a história dos santos enquanto se recuperava após ter a perna esmagada por uma bala de canhão mostra como os ideais cavalarescos agressivos que existiam entre os templários passaram a ser traduzidos no humanismo devotado da Ordem de Cristo.

O resultado final é que o espírito cruzado de expansão militar em nome da fé está diretamente associado tanto ao processo de formação de Portugal, quanto ao processo de expansão do Império Português, assim como a própria descoberta no Brasil por Pedro Álvares Cabral, que carregava nas velas de seu navio a cruz da Ordem de Cristo, que originalmente havia sido ostentada pelos templários de Portugal durante a reconquista.

Ainda assim, esse sentimento de orgulho nacional calcado em elementos religiosos continuaria patente dentro dos limites dos domínios portugueses, como mostra a esperança do Padre Antônio Vieira de que o término da disputa entre Madri e Lisboa na época da União Ibérica pudesse permitir que os portugueses vitoriosos pudessem banhar suas espadas “no sangue dos hereges da Europa, no sangue dos muçulmanos na África, no sangue dos pagãos da Ásia e na América, conquistando e subjugando todas as regiões da Terra debaixo de um único império para que pudessem todas, sob a égide de uma só coroa, ser gloriosamente colocadas aos pés do sucessor de São Pedro”

As cruzadas e o Olavismo

Fica patente, portanto, que quando Roberto Alvim decidiu incorporar a cruz de caravaca ao seu projeto cultural imbuído de um caráter “heróico”, como ele mesmo descreve, ele decidiu dar a ela um significado associado com o lema “Deus Vult”, de maneira análoga à bandeira Imperial do Japão, que apresenta raios se expandindo do sol vermelho presente na bandeira clássica. Um conceito de expansão dos ideais cruzados de altos valores ocidentais e alinhados aos valores cristãos.

Embora ainda existam analistas que ainda insistem em associar o episódio do ex-secretário Alvim a um possível equívoco (ou “trolagem”) feito pelo “estagiário” da área que, por acaso, copiou o discurso do nazista Goebbels, basta ouvir a live feita no dia anterior ao lado de Bolsonaro, que elogia o projeto do seu secretário quando o mesmo anuncia o intuito do projeto de promover uma arte “sadia”. O conceito de uma arte sadia está diretamente ligado ao conceito de “arte degenerada” e de resgaste dos valores clássicos presentes no fascismo, mas principalmente nas ideias de Hitler, que condenava os valores da arte moderna, como as abstrações de Picasso ou Salvador Dalí, que acabavam contribuindo para a degeneração dos valores morais da sociedade.

Ironicamente, aquele que talvez tenha mais se surpreendido com a suposta confusão feita pelo secretário não tenha sido nem Bolsonaro, mas Olavo de Carvalho, que poucas horas depois do anúncio do secretário, já havia havia demonstrado a opinião de que “o secretário provavelmente não está batendo bem da cabeça”.

E é irônico porque Olavo sempre propôs como parte do seu projeto filosófico um resgate de uma arte e uma literatura de altos valores e ligada a uma defesa dos nossos valores ocidentais. O velho simplesmente não gosta de nada que tenha ocorrido depois de maio de 68, colocando no mesmo balaio a cultura hippie, a filosofia pós-moderna e as músicas de Chico Buarque e Caetano Veloso como associadas a um tipo de cultura popular rasteira que estimula o banditismo.

Não é difícil entender, portanto, porque a proposta de uma forma de cultura heroica, associada a valores superiores e ao resgate dos valores culturais associadas a uma cultura de combate tenha desaguado em uma emulação das estéticas nazistas, pois o nacional-socialismo de Hitler se propunha a exatamente esse mesmo tipo de projeto.

Isso quer dizer que qualquer defesa de uma cultura pautada no nacionalismo ou de um projeto nacional irá necessariamente implicar em um projeto nazista? Não, isso não ocorreu devido a uma proposta de uma arte ligada a valores nacionais, mas sim de uma cultura de resgate dos valores imperiais, ou, mais especificamente, da busca de uma expansão desenfreada dos valores de um grupo restrito para todos os demais.

Esse mesmo conceito de resgate da ideia de Império também estava presente no movimento fascista italiano, que buscava resgatar a cultura e a glória da Itália durante o Império Romano, assim como do nazismo alemão, que buscava instituir o Terceiro Reich por meio de um grande Império que duraria mil anos, exatemente como ocorreu com o Império Romano.

O conceito de Império, por sua vez, está diretamente associado com o conceito original de Dominium, que foi originalmente implantado em Portugal ainda na época do Império Romano. O prefixo “Dom”, associado aos reis de Portugal – ex: Rei Dom João, Rei Dom Sebastião – significava que ele era um líder limitar responsável pela proteção de um determinado território dentro do regime de vassalagem medieval.

O conceito de Império, no entanto, é ainda mais amplo do que o domínio de um território restrito e está associado principalmente com a disposição de um determinado Regime em exercer autoridade até mesmo sob aqueles que se encontram além das fronteiras e das propriedades exclusivas que delimitam aquele dominium, juntamente com a vontade de expandir os limites de seu próprio território, sempre se voltando contra um inimigo externo.

A principal diferença é que aqui, com a exceção da Guerra do Paraguai e a participação do Exército nas duas guerras mundiais, o Brasil nunca cultivou o inimigo externo, mas sim o inimigo interno, dentro da doutrina desenvolvida originalmente pelo General Golberi e mais tarde propagandeada pela Escola Superior de Guerra no mesmo período em que Bolsonaro atuou como cadete do Exército.

Bibliografia

Policante, Amedeo – HOSTIS HUMANI GENERIS Pirates and Empires from Antiquity until Today, 2012

Da Silva, Ademir Luiz – OS CAVALEIROS DA CRUZ VERMELHA A Ordem dos Templários na Reconquista e Expansão Urbana Portuguesa ( séculos XII e XIII ) – Dissertação de Mestrado, 2003

Leite, João Gabriel Ayello – Competição, Instituições e o Declínio do Império Português na Ásia, Dissertação de Mestrado, 2015

Mattos, Luiz – Apogeu e Decadência do Império Português: o profetismo bandárrico



[Opinião] Crítica ao Totalitarismo Stalinista

11 de Janeiro de 2020, 16:37, por PIRATAS - 0sem comentários ainda

E à tentativa de normatizar o absurdo

por Bruno Lima Rocha

Existe uma nova onda na internet brasileira, especificamente o uso político da rede, que é interessante e ao mesmo tempo merece um alerta. Há um esforço considerável e reconhecido para normalizar os crimes de Stálin, e não só, de recuperar toda a experiência do Leste Europeu e ligar simbolicamente à presença da China hoje, como a Superpotência Mandarim. Neste breve artigo, compilo observações dos embates recentes os quais participei neste início de outubro de 2019. A divisão por tópicos pode facilitar a leitura embora reconheça que na tradição mais “ortodoxa” dos textos das esquerdas, quebra o ritmo da narrativa. Entre prós e contras, seguimos.

A NEP ANTISSOVIÉTICA, A CHINA CAPITALISTA E A ALUCINAÇÃO DA “ESQUERDA” VIÚVA DO LESTE EUROPEU

Os “amigos” que defendem e se escoram na NEP (Nova Economia Política, “nova” no paradigma do marxismo russo) – a segunda grande traição Bolchevique, com Lenin vivo e Trotsky e Stálin trabalhando lado a lado – usam um argumento que cola no delírio pós Guerra Fria de mistificação dos processos históricos. Entre a falsificação do século XX e as ilusões no século XXI resta uma conclusão. Se não passar a limpo a NEP e fizer uma crítica sem dó, alucinados como esses vão “interpretar” a Gazprom (ou a Huawei, talvez a Cargill) como uma etapa necessária, de repente “intermediária” esperando que um Estado autocrata de base capitalista se “autodissolva” um dia por passe de mágica com “razão dialética” ou qualquer outro jogo de palavras sem sentido. Como não pensar que a tradição autoritária floresce nas cloacas da história?

STÁLIN, A NOMENKLATURA E O HOBBESIANISMO POR ESQUERDA

Sempre pergunto em aulas de Política se a turma, hipoteticamente, aceitaria viver numa sociedade de pleno bem estar, com todos os direitos assegurados, todos mesmo (trabalho, saúde, moradia, cultura, lazer, gestação, desporto etc.), mas com absoluto controle e cerceamento dos direitos políticos. Ou seja, ditadura de partido único e a filiação ao partido como a única forma de acesso a postos-chave no aparelho de Estado. As quatro elites formais na antiga URSS, a política, a acadêmica, militar e econômica (na gestão das empresas estatais) tinham como critério de entrada a filiação ao PCURSS. Em geral não digo que esta sociedade existiu e o exemplo dado é no período soviético da Nomenklatura, especificamente nos governos Kruschev e Brejnev. Ou seja, reforço o mito da “tentação autoritária”, o que geralmente no Brasil é associado a posições imaginárias como sendo conservadoras e à direita.

Surpreendentemente, a imensa maioria diz que NÃO, JAMAIS ACEITARIA, pois na ausência de direitos políticos não teriam certeza da garantia ou ao menos da possibilidade de lutar por estes direitos. Quando digo que este mundo existiu e sua era de ouro durou quase quarenta anos há muita surpresa. Hobbes, coitado, é muito mal interpretado e ficaria feliz em ver o direito à vida plena em termos materiais aplicado na antiga União Soviética. Mas, e o direito político? Então, quando a elite da Nomenklatura virou de lado (a partir de 1988) e dilapidou o patrimônio público, o Estado ruiu em menos de quatro anos. Parafraseando nosso poeta maior “E agora José, a festa acabou e teu ‘ônibus da história’ despencou barranco abaixo”. Para não parecer terra arrasada de toda a experiência, apesar ao menos deixa o exemplo de que uma economia planificada, mesmo que estupidamente centralizada, pode gerar bem estar social.

AS CARACTERÍSTICAS ESTRUTURANTES DESSA FORMA DE PENSAMENTO POLÍTICO POR “ESQUERDA”

São mais que reconhecidos os crimes do stalinismo, seus asseclas e clones mundo afora (como Enver Hoxha na Albânia, Nicolae Ceausescu na Romênia, Kim Il Sung na Coreia do Norte e a lista segue conforme a perspectiva histórica e ideológica). Infelizmente, parece que o mito supera o fato e a compreensão perde para a interpretação. Vejamos alguns problemas fundamentais, de estrutura mesmo.

Quais fenômenos da interna política levam ao culto à personalidade? Como forças políticas enormes dependem necessariamente de um grupo muito reduzido de “dirigentes”? O culto da liderança não é também um elogio ao individualismo, às lutas mais mesquinhas pelo poder?

Também cabe perguntar. Qual o maior equívoco da esquerda, não da ex-esquerda, mas da esquerda restante? Determinismo sociológico (em busca da classe ou fração de classe prometida) ou ilusão com as próprias análises que levam a algum tipo de autoproclamação?!

Sobre a degeneração e a liderança política esse é um tema clássico e aqui vai só um início de debate. Reconhece-se que existe liderança política e algumas atribuições facilmente identificáveis como: carisma, oratória, exemplo, dedicação, trajetória, capacidade resolutiva. Mas, quando estas características se cristalizam em uma estrutura de poder permanente?! Piorando. É quando isso se torna culto à personalidade e já não há mais volta atrás!

Vale o debate e mais ainda a preocupação.



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