Seguindo para o último post da série, vou abordar o décimo item da lista inicial. Antes de continuar, veja os primeiros posts da série:
Pro tip: Lembrando que o prelúdio contém tópicos e dicas gerais que servirão para praticamente todos os itens abordados ;)
Demorei tanto pensando numa solução que acabou desistindo e criando o código sem teste. O código de produção funciona (você o testou manualmente), porém ainda não sabe como escreverá (e se) o teste que o validará
WOW! Poderia me estender e enunciar os problemas que isto te causará - isso seria um sermão chato, então sem delongas vou citar apenas um bom motivo pelo qual isto é ruim:
Você precisará testar essa rotina manualmente TODA vez em que mudar o código de QUALQUER PARTE do software
Holy moly! Isso realmente é um bom motivo, concorda? No passado, a cada novo deploy o time precisava testar manualmente todo o site - veja bem: todo o site. A cada deploy então, ficava mais complicado, pois tinha mais coisas a testar. Os bugs não chegaram a ser recorrentes, mas sempre acontecia de uma feature dada como ok quebrar devido a um side-effect maluco.
Aconteceu uma vez d'eu ver um software em produção não Test-Driven rodando. O cenário era muito crítico. Vários bugs recorrentes, horas para achar e resolver um bug sem quebrar o outro lado, etc. Eu simplesmente peguei do zero e criei uma versão test-driven. Eu não sabia das implementações (pois não participei da implementação original), logo não fui infectado pelas más decisões (de design). Comecei o software seguindo Clean Architecture citado pelo Unclebob. Ou seja: nada de persistência; nada de web-tier; nada de nada. Literalmente fui no meu ~/coding/
e rodei um mkdir
: mkdir ~/coding/new-project-api
. Depois criei um esqueleto de diretórios ultra simples: mkdir ~/coding/new-project-api/tests
e mkdir ~/coding/new-project-api/src/$DOMAIN_MODULE
.
Disso, abri um arquivo de teste novo dentro de /tests/$DOMAIN_MODULE/
e criei minha primeira especificação com Teste de Unidade. Para os demais, fui perguntando para os outros devs que tinham trabalhado no projeto inicial, perguntando sobre as features do projeto. Fiz minha versão do software, focando totalmente na arquitetura e design. Depois que tinha várias features prontas e funcionando, adicionei um ODM (Object Document Mapper) com MongoDB e simplesmente nada mudou no meu código e aquelas regras de negócio começaram a salvar árvores no Mongo de forma natural e desacoplada. Somente no final eu pensei em adicionar um web-tier para responder as requisições do HTTP Server. AH mas e a integração com o aplicativo mobile? Eles precisam sabers dos endpoints e o que virá; AH, mas e o frontend; AH, mas e meu chefe; Ah, mas e o cliente. Cada caso é um caso diferente, mas posso afirmar que no meu caso tive que lidar com tudo isso e foi bem tranquilo (após resistências de todos os lados). Acho que o pessoal tem medo de mudança, não sei. As dicas sobre isso ficarão para posts futuros - mas se você estiver em encrenca por causa disto, get in touch!
Ok, mas como escrever o teste que validará o que eu fiz? Há pessoas que fazem teste depois. Eu não sou fã disso, me acustomei com o classical TDD como chamam - mas em todo caso se você tiver experiência com Test-first e souber o que está fazendo, não terá grandes problemas em implementar seu teste. Em qualquer outro caso:
- Como você testa manualmente?
Ignore as interações com interface e outros datasources. Feito isso, você tem praticamente seu teste de unidade mental. Basta passar para teste de unidade não se esquecendo de que mock/stub é seu amigo!
- Pensei no item 1. mas testar está complicado.
Talvez você tenha acoplado demais sua implementação e aí o teste está te avisando disto. Recomendo ler o Prelúdio da série. Lá tem ideias gerais para quaisquer uma das 10 situações descritas aqui.
- Meu software é um algoritmo.
Realmente. TDD não vai te ajudar muito. Se você está criando um algoritmo para resolver um problema, TDD não te ajudará em nada. Agora, se este algoritmo está inserido dentro de um Domain Model, Test-first + Test Unit te ajudará a deixar este algoritmo isolado e respondendo apenas por si só.
- Estava testando uma integração com Paypal, Google APIs, etc.
A depender do que estava fazendo, Test-first para conseguir conectar numa API e resgatar dados simplesmente com o objetivo de sentir a API, não faz qualquer sentido. Novamente TDD é ferramenta de design de software e não de validação/verificação.
Em resumo: fazer um teste de uma parte do software depois é basicamente engenharia reversa sem os relacionamentos entre objetos/métodos. Lembre-se que isto pode custar caro uma vez que seu design sem o teste pode ter ficado horrível e o teste (de|in)testável.
Concluindo
Por fim, esta série chega assim ao seu término. Espero que tenha ajudado alguém a sair de uma rua sem saída ou no bom português, uma encrenca com test-first. Mudança de paradigma ou modo de codificar não é trivial, mas você estando disposto, é possível obter excelentes resultados a curto prazo.
Lembre-se: a curva de aprendizado e prática com Test-first é de pelo menos seis rápidos meses. Isto me lembra quando comecei a usar o Vim para codificar: enquanto eu não larguei mão dos outros editores, não consegui aprender direito a ferramenta.
Faltou alguma Rua sem Saída que gostaria que eu comentasse? Avisa aí ;)
Dúvidas, desesperos, e bênçãos via comentários nos tópicos ou como sempre, via e-mail.
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