Por Flávio Carvalho – Colunista do Portal Uai (www.uai.com.br)
A crise financeira mundial acirrou o sempre presente dilema entre a preservação ambiental e os seus “custos”.
Uma das bolas da vez nestes tempos de vacas magras é a Tecnologia da Informação (TI) – ou, mais amplamente, as Tecnologias da Informação e Comunicações (TICs) – pela enorme importância social e econômica de sua disseminação na sociedade contemporânea.
Crescem, então, os adeptos de uma nova causa, a TI Verde, buscando reduzir os impactos ambientais desta indústria. Causa nobre porque há danos reais; causa espinhosa porque há custos a serem enfrentados.
A inovação tecnológica na base hardware das TICs, a micro-eletrônica, barateando os preços dos equipamentos de informática e telecomunicações, faz com que o acesso a eles – e aos serviços e aplicações da TI – cresça geometricamente.
A face positiva deste processo é a melhoria de produtividade nas atividades humanas, o que, além de gerar riqueza, melhorar a qualidade de vida, promover o desenvolvimento humano, traz inúmeros benefícios à natureza.
São notáveis, entre outros, a economia de papel (florestas), a melhoria da “inteligência” dos motores de combustão interna e das turbinas (consumo de combustível e poluição) e a otimização da produção industrial (recursos naturais).
Além disto, lembrando que a demanda por energia utilizável é um dos vilões das agressões ao meio ambiente (recursos naturais e poluição), as TICs contribuem com o avanço das telecomunicações (deslocamentos e transporte) e redução de energia e de esforço humano nos processos de gestão e produção.
Mas, do lado dos danos, há passivos que justificam o movimento mundial pela TI Verde. A lista não é tão grande como a dos benefícios, destacando-se o consumo crescente de energia em equipamentos e na sua infra-estrutura, principalmente a de ar condicionado.
Mas o grande problema nas TICs e nos demais equipamentos eletrônicos – se é que estes ainda podem ser considerados “não informáticos” – é o seu descarte cada vez maior pela redução de vida útil por obsolescência tecnológica ou por mero consumismo. Ocorre que, infelizmente, muitos dos melhores materiais usados na sua produção para torná-los mais “eficientes” e baratos são poluentes, ou seja, lançados cumulativamente nos depósitos de lixo como em quase todo o mundo (Brasil incluído), agridem a natureza (link com o artigo Os perigos do lixo eletrônico). O dilema é, então, inevitável: fazê-los mais “verdes”, encarece-os.
Há ceticismos na TI Verde, a começar pela frustrada previsão da “extinção” (?) do papel ou, por exemplo, pela maior toxidez das lâmpadas de baixo consumo. Mas, do outro lado, o seu balanço ambiental é fortemente positivo e a mesma competência em tecnologia que foi capaz de conceber a sua base material – e de outras tecnologias – pode perfeitamente ser aplicada para reduzir efeitos ambientais.
Enfim, um dilema real porque todas as “partes” têm razão.
E, já que se fala de crises e dilemas, o que parece mais próximo da realidade é refletir sobre o que disse uma pessoa ligada ao sistema financeiro, mas pouco repercutida na imprensa, ao indagar: “o que adiantará os governos gastarem trilhões de dólares no sistema financeiro e nos bancos para saneá-los, se, após isto, eles voltarem a financiar e alavancar o nosso mesmo estilo de vida insustentável ?”.
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