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Polemica: o celibato deve ser abolido?

16 de Abril de 2010, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Recentemente, assisti a um programa de reportagem investigativa, apresentado pelo competente Roberto Cabrini da SBT: “Conexão Repórter”. Tratava-se de suspeita de pedofilia. Infelizmente, não é novidade, nem é um caso isolado. Mas é pedofilia praticada por padres da Igreja Católica de Arapiraca em Alagoas, comprovada com gravação de imagens, feita por um dos ex-coroinhas. O vídeo mostra monsenhor Luiz Marques (que negou as acusações) mantendo relações com um adolescente (coroinha da igreja). O caso abalou a cidade e repercutiu no Brasil e no mundo. Cabrini conta detalhes da reportagem em seu blog.

A produção do programa flagrou um advogado identificado como Daniel Fernandes intimidando e até ameaçando os jovens (vitimas de abusos) responsáveis pela gravação. Os garotos confirmaram ainda que receberam R$ 32 mil reais do advogado em uma negociação intermediada pelo Monsenhor Raimundo (outro acusado) para que não divulgassem as cenas. Após a reportagem do “Conexão Repórter”, o Vaticano, admitiu haver pedofilia na Igreja católica no Brasil e afastou os padres envolvidos. A CPI da pedofilia do Senado Federal pretende ouvir os pedófilos e abusados. O promotor responsável pelo caso ouviu todos os envolvidos e, diante dos fatos narrados, encaminhou o material à Polícia Civil alagoana e pediu a instauração de um inquérito para apurar a denúncia. Atualmente, a investigação cabe a delegacia especializada em crimes contra a criança.

Mediante os escândalos de pedofilia e/ou homossexualismo envolvendo padres, ações e posturas contraditórias à conduta de um sacerdote, pela função que ocupa e a quem se atribui confiança, credibilidade, respeito, sobretudo porque tem a missão de pregar os ensinamentos cristãos e propagar a palavra de Deus, uma questão reflexiva me intriga: por que padre não pode casar?

A doutrina que proíbe o casamento de padres (chamada celibato) foi estabelecida na Idade Média, no ano de 1.123, período em que a Igreja detinha forte poder de influencia na sociedade. Queimava pessoas na fogueira da Inquisição, aquelas que se opunham as idéias do clero. Era o momento em que a força política e econômica da Igreja até superava a burguesia e os governos. Cobravam-se indulgências e impostos dos fieis. A explicação para a proibição do casamento dos padres, conta-se, que a Igreja não queria gastar mais dinheiro, pois com mulher e filhos seria muito mais caro bancar os padres. Se divorciasse seriam mais gastos para os cofres da Igreja. Quando o padre morresse os bens dele ficariam com os familiares. Assim seria prejuízo para a Igreja Romana. Um pretexto arcaico, mantido até os dias atuais. Porém a Igreja gasta milhões com indenizações para as famílias de crianças abusadas em sentenças de pedofilia. A diocese católica de San Diego, no Estado americano da Califórnia, fechou acordo com mais 144 vítimas de sacerdotes pedófilos e pagará indenizações no valor total de US$ 198 milhões (mais de R$ 388 milhões). De onde sai esse dinheiro?

O argumento defendido pelos que são a favor do celibato é que os padres têm que se dedicar totalmente a sua missão religiosa, como forma mais elevada de servir a Deus, sem ter outras preocupações, seguindo o exemplo de Cristo, que foi celibatário. Mas segundo a bíblia, os sacerdotes podiam casar-se, já que Pedro tinha esposa (Marcos 1, 29-30). Há ainda a alegação de que a pedofilia também é uma pratica criminosa de indivíduos que não são celibatários. Um argumento que não justifica. Porém há igrejas católicas de ritos orientais, unidas ao papa, que não exigem o celibato de seus padres. Entre essas, estão a Igreja Melquita e a Igreja Maronita. O secretário do Vaticano tornou o assunto mais polêmico ao afirmar que a causa da pedofilia na Igreja é o homossexualismo e não o celibato.

Leonardo Boff, teólogo, escritor e professor emérito da UERJ, em artigo divulgado no jornal Estadão, afirma que os padres pedófilos envergonham os católicos. Boff defende com veemência o fim do celibato, explica como é realizada a formação dos seminaristas em relação à sexualidade e critica a postura conservadora, patriarcal da Igreja mantida pelo papa Bento XVI:

É pouco dizer que a pedofilia envergonha a Igreja. É pior. Ela representa uma dívida impagável com aqueles menores que foram abusados sob a capa da credibilidade e da confiança que a função de padre encarna. (...) Sabemos como é insuficiente a educação para a integração da sexualidade no processo de formação dos padres. Ela é feita longe do contato normal com as mulheres, o que produz certa atrofia na construção da identidade. As ciências da psique nos deixaram claro: o homem só amadurece sob o olhar da mulher e a mulher sob o olhar do homem. Homem e mulher são recíprocos e complementares. (...) O escândalo da pedofilia se constitui num sinal dos tempos atuais. Do Vaticano II (1962-1965) aprendemos que cumpre identificar nos sinais uma interpelação que Deus nos quer transmitir. Vejo que a interpelação vai nesta linha: está na hora de a Igreja romano-católica fazer o que todas as demais Igrejas fizeram: abolir o celibato imposto por lei eclesiástica e liberá-lo para aqueles que vêem sentido nele e conseguem vivê-lo com jovialidade e leveza de espírito. Mas essa lição não está sendo tirada pelas autoridades romanas. Ao contrário, apesar dos escândalos, reafirmam o celibato com mais vigor. Por que a Igreja romano-católica não dá um passo e abole a lei do celibato? Porque é contraditório com a sua estrutura. Ela é uma instituição total, autoritária, patriarcal e altamente hierarquizada. Ela abarca a pessoa do nascimento à morte. O poder conferido ao papa, para uma consciência cidadã mínima, é simplesmente tirânico. O celibato implica cooptar o sacerdote totalmente a serviço, não da humanidade, mas desse tipo de Igreja. Ele só deverá amar a Igreja. Enquanto essa lógica perdurar, não esperemos que a lei do celibato seja abolida. Ele (celibato) é muito cômodo para ela (igreja).”

São milhares de padres no Brasil, a maioria tem uma conduta ética, correta, pautada pelos princípios cristãos. Por isso, os casos de pedofilia não podem condenar todos, toda a Igreja. Embora seja difícil não atribuir descrédito à instituição católica...

A igreja que se renovou em alguns aspectos, que pediu perdão a humanidade pelos seus pecados da Idade Média, que defendeu os direitos do povo brasileiro durante a ferrenha ditadura militar, que cumpre um papel político-social importante na sociedade através das suas pastorais e da Campanha da Fraternidade da CNBB, fundamentada pelos princípios de fraternidade, igualdade e solidariedade, enfrenta hoje, talvez, um dos maiores desafios da sua história: abolir ou não o celibato?

 

Papa Padre_pedofilo

imagens: www.google.com.br


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