Por Leonardo Foletto
Que a comunidade do software livre é grande e bastante articulada no Brasil você já sabe - haja vista o FISL e todos os encontros regionais e locais realizados durante os pelo menos últimos 15 anos. Mas há um gargalo que ainda necessita bastante trabalho para comunidade se tornar ainda mais forte: a educação. Ainda não são muitos os programas de escolas públicas - municipais, estaduais ou nacionais - que adotam o ensino de informática com softwares livre, com instrutores capacitados e laboratórios equipados com uma diversidade de programas necessários para o aprendizado dos alunos.
Um dos programas modelos atualmente em atividade é implantado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Desde 2012, os computadores dos laboratórios das escolas públicas do DF estão rodando software livre no sistema operacional e em uma série de aplicativos (Open Office, Firefox, Gimp, entre muitos outros) para facilitar o aprendizado dos alunos.
A Escola Técnica de Saúde, em Planaltina, é um uma destas beneficiadas. Haroldo de Lima, instrutor de informática do periodo diurno, diz que o trabalho foi facilitado com o Ubuntu 12.4 instalados nas 30 máquinas da escola. “Antes, com Windows, pra arrumar os computadores eu levava 3 dias, hoje levo menos de um. Melhorou 200% com o software livre” diz ele, que além de instrutor é professor de matemática.
Haroldo explica que um dos principais problemas que costumam associar ao uso do SL, da dificuldade de adaptação dos alunos, não é visível aqui. “Os alunos se adptarem bem a mudança, até porque o Ubuntu utulizado é uma versão mais próxima ao Windows, o que facilita”, diz. A escola - que conta com 4 cursos técnicos: enfermagem, nutrição, saúde bucal e análises clínicas - recém ganhou um laboratório novo, que é sede das aulas de informática básica aplicada a área da saúde, que trabalha com sistemas de gerenciamento, documentos e planilhas.
Além das questões apontadas por Haroldo, as vantagens de adoção do SL em relação ao proprietário (no caso em questão, o Windows) são conhecidas: maior segurança; preço menor (foram gastos 5 milhões em 2011, ano anterior a adoção do software livre, com licenças Windows para os computadores das escolas do DF); facilidade e autonomia na atualização; inexistência de royalties; e reforço do domínio tecnológico nacional, já que o Ubuntu instalado nas escolas tem todo o suporte realizado no Brasil.
O caráter inovador do projeto de adoção do SL no GDF vem também do fato de que os projetos anteriores de adoção do SL em escolas públicas no Brasil vem de algumas iniciativas isoladas, que não tiveram continuidade. Uma das primeiras que se tem notícia data de 2001, no governo do Estado do Rio Grande do Sul, que iniciou o projeto chamado “Rede Escolar Livre”, que previa a instalação de um laboratório de informática com 10 microcomputadores rodando software livre em escolas com mais de 100 alunos no estado. Este projeto tinha sido baseado numa iniciativa de um projeto-piloto em cinco escolas da rede estadual, quatro delas em Porto Alegre e uma em Alvorada, região metropolitana da capital gaúcha. Ambos projetos foram descontinuados ou tiveram mudanças substanciais que o descaracterizaram.
Depois da iniciativa gaúcha, outro momento importante para a adoção do software livre é em 2005, com a criação do ProInfo pelo Ministério da Educação, que prevê a instalação do Linux Educacional (LE) 3.0 em todos os equipamentos enviados pelo projeto às escolas públicas brasileiras. Mais do que a adoção, o projeto do MEC incentiva a utilização de softwares livres e a produção de conteúdos específicos, voltados para o uso didático-pedagógico nos laboratórios.
Espera-se que, com a boa repercussão do projeto do GDF, tanto a comunidade do software livre quanto Haroldo esperam que ele continue e sirva de modelo para outros projetos a serem criados Brasil afora.