Ao completar 45 anos de idade, o líder político do Partido dos Trabalhadores de Conceição do Coité terá seu perfil impresso em publicação da Universidade do Estado da Bahia
O livro-reportagem Perfis do Semiárido ainda não tem data para ser publicado, mas está em fase final de elaboração do projeto gráfico. A proposta do Campus XIV da UNEB é registrar numa publicação os textos sobre perfis de pessoas da Região Sisaleira, que foram produzidos, no III Semestre do Curso de Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV.
Assis do PT é um dos perfilados que de alguma forma contribuiu para o desenvolvimento da região e a íntegra do texto você pode conferir aqui no Calila Notícias. O petista faz 45 anos de idade, nesta terça-feira 20 de outubro de 2009.
Franciscano, Petista, Seguidor de Che e de Lula
Por Paulo MarcosEsperei alguns minutos até conseguir falar sobre o objetivo desse texto com a pessoa que escolhi para perfilar a trajetória. Era fim de expediente na Caixa Econômica Federal, em Conceição do Coité, às 15h, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007. É lá onde trabalha, há quase 20 anos, Francisco de Assis Alves dos Santos. “Trabalho com as classes D e E e atender bem é o principal. Resolver os problemas das pessoas é o que faço. Não sou chegado ao trabalho burocrático. Se não fosse atendendo o público, não estaria na Caixa”, conta este sertanejo da zona rural.
Caçula dos quatro filhos de Maria de Lourdes e Antonio Queiroz, agricultores familiares do distrito de Barreiros, a 35 km de Conceição do Coité, Assis do PT ou Assis da Caixa dedica-se a lutar pela justiça e dignidade humana. Por causas sociais, ele deixou a vida pessoal e a família, a esposa Flávia e os dois filhos pequenos, Ernesto Luiz e Alice, em busca de ações, projetos, políticas públicas e soluções para os diversos problemas da sociedade. Problemas que são, na maioria, de um coletivo, como a questão da poluição do Açude Itarandi, a 4 km da sede do município, onde vivem famílias pobres que precisam de água para produzir hortaliças.
Francisco é o nome menos conhecido desse brasileiro. O bancário, ex-professor, ex-garçom, ex-comerciário, é agora um dos políticos mais ascendentes na história recente de Conceição do Coité. Assis é um cidadão com capacidade de indignação muito além do comum e cria situações importantes de diálogo entre as comunidades e o poder público. Com presença constante nas comunidades e movimentos sociais, idéias claras, coerentes e com grande sensibilidade social, vem conquistando admiração e respeito do povo coiteense.
Aceitou convocação para ser candidato a prefeito de Coité no ano de 2000, cumprindo a função de divulgar as propostas do PT, que até então nunca havia conseguido eleger sequer um vereador no município. Obteve 2.111 votos, 6% do total, numa eleição desde o início polarizada entre as chapas Tom e Deraldo x Resedá e Robson. Na eleição seguinte, em 2004, se elegeu vereador com 2.164 votos, um recorde no município. Agora lança sua candidatura para prefeito com forte apoio popular, dos movimentos sociais, do presidente Lula e do governador Wagner. (Não ganhou por pouco. Obteve 42% dos votos, enquanto o candidato do PP se elegeu com 48% dos 41.136 votos apurados.)
“Participei ativamente de todas as campanhas do presidente Lula e demais candidatos do PT. Faço encontros constantes nas comunidades para ouvir os coiteenses, buscar soluções para os problemas enfrentados no dia-a-dia e aprender com o povo como cuidar de gente, um dos papéis fundamentais de quem tem vida pública e ocupa cargos eleitos pelo povo”, diz.
Aos 45 anos, Assis tem uma história de vida política centrada no PT, partido que ajudou a fundar e único em sua vida. “Eu não faria política se não fosse o Partido dos Trabalhadores. Vivo para melhorar a vida do povo e não tenho um projeto pessoal. Trabalho com o grupo. Trabalho um projeto do partido com as classes mais pobres”, afirma o petista de carteirinha, coração e muito trabalho prestado.
Na infância, mostrava-se responsável e levava a vida muito a sério. “Tenho boas lembranças da infância, do lugar onde morei e das pessoas com quem convivi, mas meu problema talvez seja ter sido muito sério desde pequeno e brincado pouco quando deveria brincar mais. Hoje tenho pais, filhos, irmãos maravilhosos, amigos e uma esposa especial.”
Nesse momento, lembra o conto “Instantes”, do escritor argentino Jorge Luiz Borges. O trecho do poema faz parte de sua história e também é interpretado pelos Titãs em Epitáfio, de Sérgio Britto: “Devia ter amado mais/ Ter chorado mais/ Ter visto o sol nascer/ Devia ter arriscado mais/ E até errado mais/ Ter feito o que eu queria fazer... (...) Devia ter complicado menos/ Trabalhado menos/ Ter visto o sol se pôr/ Devia ter me importado menos/ Com problemas pequenos/ Ter morrido de amor...”
Com a vida quase toda dedicada à política, quase não sobra tempo para Assis brincar com os filhos e se dedicar à vida familiar. Emocionado, lágrimas descendo pelo rosto, pára e lembra um velho amigo de inspiração e desabafa: “Se pudesse escolher, não faria isso (...) Se não fosse essa paixão que tenho pelo PT e por uma vida melhor para todos, eu queria cuidar mais de meus filhinhos (uma pausa) ... talvez o nome que minha mãe me deu explique alguma coisa (...) eu sei que todo jovem gostaria de ser um pouco de Che Guevara e ele deixou a vida pessoal para libertar as pessoas”.
Você tem algo diferente de Che? “Che é incomparável. Tem uma frase dele mesmo que me emociona muito. A frase diz assim: ‘Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, somos companheiros’.” E a gente vê muita injustiça no mundo. “Para Che, ... (suspiro, choro, lágrimas, meio sem voz, conclui)... é isso, temos que combater injustiças.”
E o Assis mais radical, onde está? “Na Câmara e no trabalho, eu ‘quebro o pau’ quando tem que quebrar, mas não sou radical. Esta é uma visão falsa que alguns têm de mim. Sou transparente. Costumo deixar as coisas muito claras e na política tenho um perfil de moderador, temos os princípios e disso não abro mão, mas o que é possível negociar a gente negocia, sem desrespeitar o regimento, as leis e a moralidade.”
Na última campanha presidencial, Assis ficou doente. Ele estava tenso e angustiado com a tentativa de derrubada de Lula. “Trabalhei muito naquela campanha, bem mais que todas outras. E quando saiu o resultado, eu lavei a alma. Ver Lula reeleito foi o momento mais importante de minha vida política”. Ele acredita num país melhor a partir de uma grande revolução na educação brasileira. “Faltam mais professores com vocação neste país e o Estado brasileiro precisa investir mais na educação. Eu ensinei de graça e trabalhei muito na década de 80, sei o que é isso”, recorda.
Estudou Magistério em escola pública de Retirolândia, fez Contabilidade no Colégio Wercelêncio, em Coité. Cursou Letras na UNEB, no Campus XIV, e fez especialização em Estudos Literários, também na UNEB, quando escreveu uma monografia sobre a atividade política em Conceição do Coité. No estudo, apresenta a história, os desafios e as perspectivas da política coiteense. Assis atuou como presidente do Diretório Acadêmico dos Estudantes do Campus XIV, foi comentarista esportivo e apresentador de telejornal na TV Cultura do Sertão e, desde 1989, trabalha na Caixa Econômica Federal, agência de Conceição do Coité.
Na Câmara de Vereadores de Coité, foi líder da bancada do PT e honrou os compromissos de campanha: reduziu as férias dos vereadores e recusou aumento salarial para a classe, dentre outras iniciativas históricas.
Assis tem uma vasta história política e social no município de Coité. Uma vida que daria livros. Agradeço a entrevista e ele responde: “Eu é que agradeço pela escolha, entre tantas pessoas importantes nesta cidade...”
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Um novo jeito de fazer revolução