Finalmente os rumores se confirmaram: conforme já anunciado em quase todo lugar, o Google finalmente anunciou o lançamento do seu sistema operacional, o Chrome OS — baseado em Linux e, claro, Software Livre. Mas quem achava que era somente isso, se engana: a gigante de buscas também lançou a sua própria versão do NX, o Neatx, sistema de código aberto para serviços de terminal. Com isso, a empresa entra de vez em curso de colisão frontal com a Microsoft.
“Eu estou assumindo que nós vamos ver laptops baseados em Linux utilizando como fundamento a plataforma Android, além de apenas nos celulares. Nós vamos enfrentar uma concorrência sem precedentes do Google no segmento de sistemas operacionais para desktop.” Steve Ballmer, CEO da Microsoft, só errou no nome do sistema operacional, conforme noticiamos no início do ano.
Chrome OS
No blog oficial do Google, Sundar Pichar, VP de Gerenciamento de Produto, e Linus Upson, Diretor de Engenharia, anunciaram o desenvolvimento de um sistema operacional próprio. Os sistemas operacionais atuais, sobre os quais são executados os navegadores, vêem de uma era em que a Internet não existia. Segundo a empresa, o Chrome OS deverá considerar as necessidades de um ambiente muticonectado, em que a Internet faz parte do dia-a-dia do usuário, e deverá consumir o mínimo de recursos de hardware, além de ser extremamente amigável, rápido, seguro e de fácil operação. O objetivo da empresa é apresentar um sistema que seja inicializado em poucos segundos e que deverá debutar no mercado em meados de 2010, equipando em um primeiro momento netbooks com processadores x86 e ARM — desktops comuns deverão vir mais tarde. O código fonte do sistema deverá ser liberado ainda este ano! O Google já estaria negociando com alguns parceiros OEM que deverão equipar seus netbooks com o novo sistema — a empresa ainda não revelou quais serão esses fabricantes de hardware.
Da mesma forma que no caso do Android, o Google OS terá como base um kernel Linux. A interface gráfica do sistema não deverá usar o X11: a empresa estaria trabalhando em um novo gerenciador de janelas. A Internet deverá ser a plataforma de desenvolvimento primária do Chrome OS, no qual aplicativos web deverão funcionar de modo transparente. Em resumo: o sistema operacional será, no fim das contas, o próprio navegador. O uso do Linux como sistema operacional básico está cada vez mais caminhado para a comoditização: além do Google, empresas como Intel, AMD, Nokia, Motorola, HTC, Samsung, Kyocera, Palm, Grandstream e muitos outros fabricantes estão usando o sistema do pingüim como base para equipamentos e produtos de software. Aplicativos desenvolvidos para o Chrome OS deverão funcionar também em qualquer navegador que seja compatível com padrões web, qualquer que seja o sistema operacional.
Neatx
O que a Microsoft provavelmente não esperava é que o Google adentrasse também o terreno dos serviços para terminais. O Neatx é uma customização escrita em Python do código fonte do FreeNX, desenvolvido pela empresa italiana NoMachine, e já está disponível para download.
De acordo com o anúncio de lançamento, há tempos a gigante de buscas já estava de olho no NX. Os motivos para isso são simples: o avanço da tecnologia frente às soluções disponíveis e o licenciamento sob a GPL, ambos decisivos para a adoção do aplicativo como base para o novo software. A empresa ainda classifica o Neatx como prova de conceito, que usa também partes de outros projetos de código aberto, como é o caso do Ganeti, um sistema de gerenciamento de clusters capaz de realizar a orquestração de sistemas virtualizados com Xen e KVM. A médio prazo, o Neatx deverá exibir — “sem engasgos” — interfaces gráficas de sistemas virtualizados utilizando conexões com alta latência, como é o caso de conexões via celular.
Há vários projetos de servidores de terminal que têm o NX como base, como por exemplo o X2go. A NoMachine liberou em 2003 o código fonte das bibliotecas que constituem a base do sistema sob a GPL. O aplicativo se destaca nos quesitos compressão adaptativa e intermediação (proxying) inteligente, de modo que para quase todos os eventos do servidor X na interface do servidor de terminais há um algoritmo específico de compressão e de memorização dinâmica (caching). Com isso, é possível abrir sessões de ambientes gráficos remotos através de conexões cuja largura de banda esteja entre 5 a 10 kbps. O cliente para NX é multiplataforma, podendo ser executado em Mac OS, Linux e Windows para acessar servidores Linux, Windows ou até mesmo servidores VNC. Sua versão comercial é equipada com recursos de gerenciamento bastante abrangentes.
Conclusão
Os dois anúncios do Google em um único dia apontam para um futuro superconectado, em que a Internet possa estar cada vez mais onipresente, independentemente da qualidade da conexão disponível. O uso de Software Livre é, em resumo, o motor de todas essas inovações, e o Google sabe muito bem tirar proveito do trabalho prévio de projetos de código aberto desenvolvidos pela comunidade. Não bastasse isso, fica claro que está ficando cada vez mais difícil para a gigante de Redmond ficar indiferente às vantagens que o modelo de desenvolvimento do Software Livre conferem à gigante de buscas, que, no final das contas, bate de frente com a empresa de Bill Gates em praticamente todas as áreas-chave em que ela atua.
Tudo isso seria praticamente impossível sem o modelo de trabalho colaborativo para desenvolvimento de software, instituído há 25 anos pelo projeto GNU. O fato é que, cada vez mais, o futuro da tecnologia assenta sobre a filosofia do compartilhamento estruturado, em que todos têm a oportunidade de contribuir e de tirar proveito das contribuições de seus pares. As empresas que souberem tirar proveito disso, irão se destacar cada vez mais. E, para quem não imagina um mundo sem o Google, vale lembrar que a apresentação do sistema de buscas realizada por Larry Page e Sergey Brin ao investidor que possibilitou o início da empresa enquanto companhia estabelecida ocorreu em 1998 — esse investidor era Andy Bechtolsheim, um dos fundadores da Sun Microsystems, que entregou aos dois um cheque no valor de 100.000 dólares. Assim, em pouco mais de 10 anos — usando muito Software Livre — a empresa é um exemplo do que se pode fazer quando se alia criatividade e desenvolvimento colaborativo.
* Por Rafael Peregrino da Silva
* fonte: Linux Magazine
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