Design é um termo que me parecia bem outra realidade, nada a ver comigo, até que martelou, martelou, martelou, martelou na minha cabeça e me fez lembrar de coisas que já me incomodavam faz um tempo mas eu nunca tinha parado para falar sobre. O mote para esta conversa é uma tradução de um título de livro que, desde que tomei contato com, me incomodou. “Organizações: Teoria e Projetos” definitivamente é algo completamente diferente de “Organization Theory and Design“.
De cara, mesmo sem avaliar os pequenos detalhes de tradução do conteúdo (uma empreitada que nem sei se é válida*), podemos ver um víes e uma distorção que nos aproximam de algo e nos afastam de outro algo.
O víes nos aproxima de um fluxo, uma tendência, um “paradigma” dominante, enquanto que a distorção nos afasta, ou até elimina, completamente de possibilidades de compreensão bem mais plurais e ricas, em favor de uma muito mais restrita e tecnicista compreensão do organizar. Vou tentar aqui então fazer um resumo da percepçao desta aproximação e afastamento simultâneos.
Primeiro o viés, que se apresenta quando o termo “Organization Theory” é traduzido para “Organizações: Teoria”. A colocação do termo “organization” no plural e estes dois pontos desnecessários logo após, enfatizam o viés, a postura ontológica que a teoria de organização abraçou criando seu objeto, as organizações, enquanto entidades com fronteiras delimitadas e uma relação com o “ambiente”. Esta é uma estória interessante, se pensarmos que organização é em primeiro lugar um verbo. Quando tranformamos organização num substantivo tudo muda, tudo assume outra conotação. E, segundo algumas pessoinhas interessantes que ando lendo, uma conotação bem mais limitada e restrita.
Segundo, e podemos dizer o principal motivo deste post, quando traduzem “design” para “projeto” me parece que eliminam uma boa possibilidade de expansão conceitual. Ora, se o autor estivesse pensando simplesmente em projeto porque utilizaria o termo “design” ao invés de “project“? Quando Daft fala em “organization design” está claramente indo além de projeto. Seu foco é no desenvolvimento e construção dos aspectos internos da organização, nitidamente orientado pelo que aprendemos a chamar de paradigma funcionalista e pelas premissas contingenciais. Quais nuances, percepções e entendimentos podemos tirar deste uso do termo de design? Que outros ”design” podemos pensar, em organização, para além deste quadro de referência?
Questões amplas que se tivessem que ser trabalhadas “cientificamente” precisariam de uma delimitação muito mais específicica, focada, afunilada na lógica do trabalho acadêmico em teoria de organização, claro. Mas isto aqui é apenas um post de registro de inquietação, percebe? Seguimos com nossos projetos. Ops, peraí, ou seria com nossos designs?
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* A dúvida na validade de um tipo de avaliação como esta se dá pelo fato de que a hegemonia da teoria de organização funcionalista é tão forte, destacada, estabelecida como verdade, que investigar quaisquer de sua proposições se torna um circular em torno de conceitos e compreensões totalmente destacadas do “mundo da vida”. Tem horas que não dá pra aturar. Só isso.
zemanta
- Remember / Lembre-se (marinices.wordpress.com)
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