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Tela cheia

Com o livro digital em mãos

7 de Junho de 2011, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Revista Ora! nas versões eletrônica e impressa

Já há algum tempo venho querendo compartilhar algumas impressões sobre o e-reader comprado para o Ponto de Cultura. No entanto, são tantas novidades e tarefas para cumprir desde o começo das atividades que, às vezes, falta tempo para aproveitar as novidades do kit multimídia. Optamos pela compra de um leitor de livros digitais para termos contato com essa nova tecnologia, que deve tornar-se referência nos próximos anos e pode muito bem ser aproveitada tanto por projetos culturais quanto pela educação. As possibilidades de uso desse brinquedo podem mudar radicalmente os hábitos de leitura das pessoas. Uma política pública para esse tipo de tecnologia poderia muito bem ter impacto direto nos baixos índices de leitura do povo brasileiro. E, para embasar debates como esse é que decidimos por adquirir e experimentar o Positivo Alfa.

Para quem ainda não ouviu falar da tecnologia, que é recente, cabe antes uma explicação. Os leitores de livros eletrônicos, como o da Positivo, são diferentes de tablets, como o iPad. Enquanto o tablet é uma mistura de celular gigante com computador pequeno sem teclado e voltado para navegação na internet, os e-readers são voltados para longos períodos de leitura e, portanto, tem tela em tons de cinza e sem brilho. Com isso, as vistas não se cansam diante da tela, que precisa de iluminação externa para ser vista. A diferença é garantida pela tecnologia chamada e-ink (ou tinta eletrônica), criada justamente para este tipo de aparelho. Cabe lembrar ainda que, a despeito da marca estampada no aparelho, o Alfa não é um produto nacional. Trata-se de um aparelho encomendado pela fabricante brasileira a um fornecedor chinês, que o distribui também em outros mercados, como a Europa, por exemplo, com outras marcas.

Considerações feitas, vamos ao que interessa. Antes de ler qualquer coisa no aparelho é preciso, obviamente, baixar alguma coisa para ler. O formato ideal para a leitura no Alfa é o padrão epub, adotado pelos principais fabricantes de leitores digitais. Trata-se de um formato de código aberto e parecido com o HTML usado em páginas da internet. Ao contrário do PDF, que imita uma publicação impressa com páginas fechadas, o epub permite que o texto flua livremente pela tela do leitor. Isso garante ao texto mais flexibilidade, facilitando a vida do usuário e deixando o arquivo compatível com qualquer tamanho de aparelho.

Mas o Alfa lê também arquivos pdf, txt e html. Engraçado que, mesmo sendo o epub o formato ideal, a Positivo optou por lançar o manual do aparelho, incluído no produto, em PDF. Isso mostra que o formato ainda é um mistério e carece de diagramadores que o dominem. Não por acaso há muito poucos livros em epub disponíveis na praça. Para a primeira experiência com o aparelho, tentei encontrar alguns exemplares gratuitos, imaginando que talvez encontraria alguns autores de domínio público, como Machado de Assis, acessíveis. Nada feito. Depois de muito pesquisar, os primeiros livros eletrônicos para baixar de graça em epub são da turma do software livre, sem dúvida de outros curiosos pelo formato.

A primeira publicação encontrada é a revista Cyanzine, editada por Cárlisson Galdino. A edição baixada foi a 11.4 (não sei dizer o número da edição). Trata-se de um apanhado de textos publicados na blogosfera que tratam de temas como cultura digital, software livre, gestão cultural e internet. O autor completa a publicação com algumas poesias de autoria própria e também umas tirinhas nerds bem divertidas. Quem se interessa pelo tema pode baixar por minha conta.

Outra publicação recente que encontrei foi Laboratórios do Pós-Digital, de Felipe Fonseca. Trata dos mesmos temas da Cyanzine, mas com uma profundidade bem maior. Também é um apanhado de textos menores, porém todos do autor da obra, lançados entre 2009 e 2011. Pelo que conta, Fonseca faz parte de um grupo de ciberativistas como Hernani Dimantas e Claudio Prado, que influenciou o pensamento hacker dos últimos anos e culminou com a gestão inovadora de Gilberto Gil e Juca Ferreira no Ministério da Cultura. O mais interessante é a defesa aberta que faz da cultura digital como uma influência libertadora e a defesa que faz de que inclusão digital não se consegue apenas resolvendo o problema da infraestrutura, mas garantido que as pessoas pensem colaborativamente. O autor critica projetos que se dizem inspirados pela Pedagogia do Oprimido mas que ensinam as pessoas a lidar com computadores apenas como aperfeiçoamento profissional, sem revelar toda a dimensão cultural que envolve as novas tecnologias. Ou seja, formam apenas “manobristas de mouses” e não pessoas ligadas no mundo pós-moderno.

Outra boa possibilidade de uso do Alfa é sua interação com o programa Calibre, um sistema de código aberto que permite ao usuário organizar a biblioteca de livros digitais. Mais do que isso, o Calibre converte feeds de sites de notícias em epub, permitindo que você tenha em mãos uma espécie de jornal impresso saído da gráfica no último minuto. Baixei, por exemplo, todas as notícias do portal Viomundo e mandei para o Alfa. O Calibre organizou um índice por assunto e um sub-índice com as matérias de cada um dos temas. Basta clicar no link (a tela do Alfa é sensível ao toque) e você é direcionado para a notícia em que clicou. Terminada a leitura, um outro clique o leva de volta ao índice. A novidade foi tão bacana que consegui me manter lendo numa viagem de ônibus de oito horas, o que jamais conseguiria se estivesse com um livro impresso ou uma revista comum.

Agora, o momento é de estudar para dominar a criação de epub. Até porque baixei para o Alfa as publicações do Museu da Oralidade, como a primeira edição revista Ora!, lançada em pdf. Pelo formato alternativo da publicação, a leitura no e-reader até ficou bacana, mas poderia ser melhor. Os livros como O Reinado de Bené e Memórias Iluminadas, impressos em formato A5, já não caíram tão bem na tela. A chegada dos novos aparelhos de leitura vão exigir novos profissionais de criação ou a reciclagem dos que já existem. Vai exigir mais interesse de autores e editores. Vai exigir política pública e investimento do governo, uma vez que a novidade é de grande interesse público. E vai exigir mais leitores, para que a tecnologia ganhe mercado e se afirme. Estamos diante de mais um sinal dos novos tempos.


Fonte: http://viraminas.org.br/uaipod/2011/06/07/181/

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