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A desculpa da falta de recursos

13 de Fevereiro de 2012, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Artigo sugerido por Rogério Varela, do SINA

A desculpa da falta de recursos

Como já apontou o economista Paulo Kliass, a desculpa da falta de verbas para os investimentos necessários não tem consistência:

Recursos sobram no Orçamento! O problema é a prioridade definida  pelas autoridades para a sua utilização. Encerradas as contas de 2011,  por exemplo, apurou-se que o Estado brasileiro forçou a geração de um  superávit primário no valor de R$ 130 bilhões ao longo do ano. Uma  loucura! Mais de 3% do PIB destinados exclusivamente para o pagamento de  juros da dívida pública.

Agora basta uma simples comparação. A operação de privatização desses  três aeroportos vai render R$ 240 milhões por ano aos cofres da União.  Ou seja, se houvesse destinado apenas minguados 0,2% do superávit a cada  ano para esse importante compromisso, não precisaria transferir a  concessão dos aeroportos ao capital privado.

A cobiça das empresas “privadas”

O que justifica, então, privatizar este importante patrimônio público?  Construídos com dinheiro do povo, estes três aeroportos são responsáveis  por 30% do total do transporte de passageiros, 57% do total das cargas e  19% das aeronaves que circulam em todo o país. Eles sempre foram alvo  da cobiça de poderosas empresas “privadas”, nacionais e estrangeiras.

Com o crescimento da demanda no setor, decorrente do aquecimento do  mercado interno e da melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros, este  apetite cresceu ainda mais. As corporações empresariais enxergam nestes  aeroportos verdadeiras minas de ouro. Para forçar a privatização, elas  contam com ajuda da mídia privatista, que faz terrorismo com os chamados  “apagões aéreos”.

Cedência à pressão dos monopólios

Alguns “calunistas” da mídia parecem condenar as pessoas de baixa renda  pelo “caos” nos aeroportos, amplificando a visão preconceituosa das  elites. Durante o governo Lula a aviação comercial teve um crescimento  vertiginoso no país – com a expansão de 118% nos últimos oito anos. Em  2011, pela primeira vez na história deste país, as viagens de avião  ultrapassaram as realizadas em ônibus interestaduais. Daí a violenta  gritaria da mídia pela privatização do setor.

Diante desta violenta pressão e dos reais gargalos do setor, que  decorrem da falta de investimentos nas três últimas décadas e do seu  longo processo de sucateamento, Dilma Rousseff resolveu ceder. A  presidenta parece ter pressa. Ela teme o caos, com as filas e a gritaria  midiática, principalmente por ocasião dos dois eventos esportivos. Mas  quais as conseqüências da privatização?

Soberania nacional corre riscos

Entre outros efeitos negativos, a entrega à iniciativa privada dos  aeroportos põe em risco a própria soberania. É preocupante que áreas  estratégicas, consideradas de segurança nacional, sejam invadidas por  empresas que visam somente o lucro, que não têm qualquer compromisso com  a nação.  Este temor é que explica a histórica resistência da cúpula da  Infraero, formada por militares.

Não é para menos que a maioria dos aeroportos do mundo está sob controle  do Estado, inclusive nos EUA – nação tão paparicada pelas mentes  colonizadas e entreguistas. Após os atentados de 11 de setembro de 2001,  o governo ianque inclusive reforçou este controle. Até as empresas  terceirizadas passaram a ser mais fiscalizadas.

Desmantelamento da malha aérea

Além da razão política, a privatização terá conseqüências danosas para a  sociedade. É bom lembrar que este sistema é interligado.  A Infraero  gerencia 66 dos 67 aeroportos no território brasileiro. Eles representam  97% do movimento do transporte aéreo regular, o que corresponde a 2,6  milhões de pousos e decolagens, transportando mais de 155 milhões de  passageiros por ano.

Neste sistema interligado, os aeroportos mais rentáveis ajudam a manter  os mais deficitários, de menor fluxo de passageiros, mas decisivos para o  transporte regional. Ao privatizar Guarulhos, Campinas e Brasília,  estes perderão importante fonte de recursos, o que levará ao  desmantelamento de toda a malha aérea – a exemplo do que já ocorreu com a  privatização do setor ferroviário.

O usuário será prejudicado

Como explica Francisco Lemos, dirigente do Sindicato Nacional dos  Aeroportuários (Sina), “o modelo da Infraero é muito parecido com a  relação de alguns estados da federação, onde os mais rentáveis subsidiam  os mais deficitários. A arrecadação é centralizada e redistribuída para  manter o sistema. A privatização deixará no esquecimento aqueles  aeroportos deficitários mais longínquos”.

Ela dá um exemplo hipotético sobre o risco da desintegração da malha  aérea. “Você se desloca de São Paulo para um aeroporto deficitário,  vamos supor, em Juazeiro. Não se sabe em que condições o avião pousará  lá, como estará sua pista, seu atendimento. As companhias não vão mais  querer fazer determinadas rotas. E quem sentirá realmente o prejuízo  será o usuário”.

Menos manutenção e segurança

Indignado, ele lembra que a Infraero é altamente lucrativa e foi  considerada no início de 2011 a segunda melhor empresa gestora de  aeroportos do mundo. Nada justifica, portanto, ela ser minoritária nos  aeroportos privatizados. “Ela é muito eficiente em seu produto final. É  cobiçada por vários países, que tentam firmar acordo com o Brasil para  que ela administre os seus aeroportos”.

Além do desmantelamento da malha aérea, nada garante que os três  aeroportos privatizados serão modernizados, melhorando o atendimento aos  usuários. Pela lógica do sistema, os capitalistas visam o lucro. Será  que investirão a contento na segurança ou na manutenção dos aeroportos?  Eles não cortarão custos, inclusive demitindo trabalhadores, para elevar  sua rentabilidade?

Demissões e precarização do trabalho

O dirigente da Sina não vacila nas respostas. Para ele, a tendência é  que muitos funcionários da Infraero, “com todo o seu know-how e  experiência, serão descartados. Quando se vê o perfil do pessoal da  Infraero, nota-se que é um profissional mais antigo, com mais de 30  anos. Nas empresas privadas que atuam no setor predomina a garotada de  20 anos, com salários menores”.

Texto retirado de: http://www.viomundo.com.br/politica/altamiro-borges-dilma-rasga-o-discurso-de-campanha.html



Fonte: https://paranablogs.wordpress.com/2012/02/13/a-desculpa-da-falta-de-recursos/

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