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A Ocupação do Viaduto do Chá na Grande Mídia

25 de Outubro de 2011, 0:00 , por Software Livre Brasil - 77 comentários | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 396 vezes

Depois de alguns dias acampado resolvi escrever um texto com respostas pessoais a perguntas frequentes sobre a acampada. Com muito alegria recebi a primeira crítica ao texto/movimento hoje e pretendo respondê-la neste texto para buscar avançar no debate. Por favor comentem, critiquem e mandem outros textos.

No último texto abordei três questões frequentes sobre a acampada: o que nos une? porque aqui e agora? e pra onde vamos? Escolhi essas três questões pois de fato elas são frequentes. Acredito que a frequencia dessas questões seja devido ao fato de a velha esquerda não conseguir compreender um movimento cuja união seja tão difusa e cujo contexto seja tão insignificante quanto o nosso. Para responder a essas perguntas afirmei que nosso movimento é construtivo, em oposição aos movimentos reativos que a velha esquerda está acostumada. Neste texto tentarei elaborar um pouco melhor o que quero dizer por movimento construtivo para responder a seguinte crítica: "percebo um certo tom reformista em suas palavras do tipo 'movimento construtivo' parece que se trata de resolver um problema pontual do capitalismo. Infelizmente se é esta a questão, do meu ponto de vista, não podemos chamar o movimento de esquerda como você quer." 

Antes de responder a pergunta propriamente dita me arriscarei adivinhar de onde veio a idéia de que nosso movimento é conservador. Mesmo que eu erre no meu palpite isso será útil para analisarmos outras questões relevantes. Nos últimos dias, a grande mídia tem feito um esforço para reduzir a pauta de nosso movimento ao interesse de uma certa classe dominante. A maior evidência desse fato seria a capa da Veja da última semana "indignados contra a corrupção". Evidentemente não somos a favor da corrupção, mas esse tema nem surge em nossos manifestos ou meios de divulgação. Quando gritamos "Não nos representam!" não é que um ou outro político não nos represente, mas que o sistema político não é capaz de nos representar. Soma-se a isso a compreensão de que a corrupção é inerente ao sistema capitalista, é apenas uma face do capitalismo que aparece com mais frequencia nos países periféricos. Dessa forma, a luta contra a corrupção entra somente como efeito colateral daquilo pelo que lutamos.

Outra estratégia que a mídia (a Folha de São Paulo especificamente) tem usado para nos desqualificar é tratar-nos como crianças burguesas. Contra isso não há muito o que dizer. Basta ir ao acampamento um dia e conviver com a pluralidade de pessoas envolvidas (anarquistas, punks, anons, moradores de rua, índios etc.) e constatar com os próprios olhos.

De forma alguma acredito que buscamos solucionar questões pontuais do capitalismo. Muito pelo contrário. Brandamos por democracia direta/real. Nossa concepção de democracia direta, apesar de difusa, certamente não é reformista. Buscamos uma mudança profunda na forma de representação política e temos conciência de que isso é impossível dentro do sistema vigente. Nesse sentido compreendo tal movimento construtivo como muito mais radical do que qualquer movimento pautado em determinada crise pontual.

Contrastantemente há quem diga precisamente o contrário: que somos lunáticos lutando contra tudo e contra todos. Eu particularmente prefiro ser taxado de lunático do que de reformista, mas acho que seria mais honesto dizer que lutamos contra tudo e, se não com todos, com 99%. A mim é evidente que o nosso é um movimento anti-capitalista, mas acredito que é hora de começarmos a anunciar isso abertamente para que não sejamos engolidos pela grande mídia. 


77 comentários

Enviar um comentário
  • Foto minorMárcio
    25 de Outubro de 2011, 18:35

    Agradecimento

    Agradeço mais uma vez ao José pela crítica que possibilitou que eu escrevesse esse texto.


  • Dba1ce3ddd6a54686fde03728393102b?only path=false&size=50&d=404Rafael Madeiro(usuário não autenticado)
    25 de Outubro de 2011, 19:08

    Migalhas.

    Não aceitamos migalhas.


    • Foto minorMárcio
      25 de Outubro de 2011, 21:13

      Migalhas

      Nem tragam as migalhas.


  • F1b4a2a7e82d05701883258afe6808ce?only path=false&size=50&d=404Rogério(usuário não autenticado)
    25 de Outubro de 2011, 20:05

    .

    Olá Marcio,

    gostei da sua opção por textos menores. De fato são bons e mantêm um equilíbrio entre a crítica e a forma jornalística (adepta de micro notícias nada informantes).

    Quanto ao texto eu concordo que seja a hora de mostrarmos que somos anti-capitalistas. Isso me parece um consenso tácito. A questão é como abordaremos isso sem sermos só uma bandeira. Discutir a fundo o que ele é, elaborar textos, vídeos, vivencias em cima de como esse sistema nos corrempe. Creio também ser necessário pensarmos se basta o capitalismo acabar para tudo virar morangos. Creio que não. Além disso, acho interessante ressaltar o fato de que a cura para falta de representatividade não é bons políticos, mas um outro sistema.

    Para todas as perguntas apressadas em nos categorizar, a resposta é: "Estamos discutindo e pensando". Impossível sermos mais sensatos


    • Foto minorMárcio
      25 de Outubro de 2011, 21:14

      Agradecimento

      Valeu Rogerio. Concordo com todos os pontos.


  • 7fce5ebe67de6cee5bcd98e537761f66?only path=false&size=50&d=404Richard(usuário não autenticado)
    26 de Outubro de 2011, 15:14

    "Addendum"

    Foi colocado algo muito pertinente em uma assembléia, recentemente: Para rejeitar uma hipótese, ou potencial solução para um problema, mais do que apenas descreditá-la, como somos hábeis em fazer com o capitalismo, precisamos por na mesa, alternativas. As outras tem uma herança que as pessoas rejeitam à primeira vista. Comunismo, Socialismo... Precisamos desenvolver paralelamente com o movimento, um trabalho de desmitificação desses conceitos. De outra forma, o movimento, por mais que cresça e ganhe força, jamais deixará de ser uma idéia lutando para dar certo dentro de uma sociedade ainda sujeita aos sistema politico, legislação, economia, regulamentação e fiscalização que sabemos, já não funciona mais. Não é que eu esteja querendo colocar o carro na frente dos bois, mas se não enchergarmos mais adiante, estamos mais vulneráveis às surpresas pelo caminho.


  • 22e7cd06b48edd5f5776d88ccab70715?only path=false&size=50&d=404Vanilda Moreira(usuário não autenticado)
    27 de Outubro de 2011, 15:57

    "adendo"

    Totalmente correto o último adendo, eu penso que precisamos repensar qual o melhor o regime político para o nosso país levando em consideração a falta de moral e caráter de muitos políticos, estou cansada de trabalhar e involuntariamente "contribuir" com a farra desses canalhas!!
    Hoje me sinto feliz por ver q o povo brasileiro que se incomoda com a farra do governo, ontem e hoje, e estão se manifestando (sinceramente eu achava os brasileiros estavam satisfeitos com tudo, devido ao silêncio!), "Uma andorinha só, não faz verão!". Vamos prostestar sim e muito, se nâo nos contentamos em ser marionetes!! Um abraço à todos e contem com o meu apoio e participação!!


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