Depois de alguns dias acampado resolvi escrever um texto com respostas pessoais a perguntas frequentes sobre a acampada. Com muito alegria recebi a primeira crítica ao texto/movimento hoje e pretendo respondê-la neste texto para buscar avançar no debate. Por favor comentem, critiquem e mandem outros textos.
No último texto abordei três questões frequentes sobre a acampada: o que nos une? porque aqui e agora? e pra onde vamos? Escolhi essas três questões pois de fato elas são frequentes. Acredito que a frequencia dessas questões seja devido ao fato de a velha esquerda não conseguir compreender um movimento cuja união seja tão difusa e cujo contexto seja tão insignificante quanto o nosso. Para responder a essas perguntas afirmei que nosso movimento é construtivo, em oposição aos movimentos reativos que a velha esquerda está acostumada. Neste texto tentarei elaborar um pouco melhor o que quero dizer por movimento construtivo para responder a seguinte crítica: "percebo um certo tom reformista em suas palavras do tipo 'movimento construtivo' parece que se trata de resolver um problema pontual do capitalismo. Infelizmente se é esta a questão, do meu ponto de vista, não podemos chamar o movimento de esquerda como você quer."
Antes de responder a pergunta propriamente dita me arriscarei adivinhar de onde veio a idéia de que nosso movimento é conservador. Mesmo que eu erre no meu palpite isso será útil para analisarmos outras questões relevantes. Nos últimos dias, a grande mídia tem feito um esforço para reduzir a pauta de nosso movimento ao interesse de uma certa classe dominante. A maior evidência desse fato seria a capa da Veja da última semana "indignados contra a corrupção". Evidentemente não somos a favor da corrupção, mas esse tema nem surge em nossos manifestos ou meios de divulgação. Quando gritamos "Não nos representam!" não é que um ou outro político não nos represente, mas que o sistema político não é capaz de nos representar. Soma-se a isso a compreensão de que a corrupção é inerente ao sistema capitalista, é apenas uma face do capitalismo que aparece com mais frequencia nos países periféricos. Dessa forma, a luta contra a corrupção entra somente como efeito colateral daquilo pelo que lutamos.
Outra estratégia que a mídia (a Folha de São Paulo especificamente) tem usado para nos desqualificar é tratar-nos como crianças burguesas. Contra isso não há muito o que dizer. Basta ir ao acampamento um dia e conviver com a pluralidade de pessoas envolvidas (anarquistas, punks, anons, moradores de rua, índios etc.) e constatar com os próprios olhos.
De forma alguma acredito que buscamos solucionar questões pontuais do capitalismo. Muito pelo contrário. Brandamos por democracia direta/real. Nossa concepção de democracia direta, apesar de difusa, certamente não é reformista. Buscamos uma mudança profunda na forma de representação política e temos conciência de que isso é impossível dentro do sistema vigente. Nesse sentido compreendo tal movimento construtivo como muito mais radical do que qualquer movimento pautado em determinada crise pontual.
Contrastantemente há quem diga precisamente o contrário: que somos lunáticos lutando contra tudo e contra todos. Eu particularmente prefiro ser taxado de lunático do que de reformista, mas acho que seria mais honesto dizer que lutamos contra tudo e, se não com todos, com 99%. A mim é evidente que o nosso é um movimento anti-capitalista, mas acredito que é hora de começarmos a anunciar isso abertamente para que não sejamos engolidos pela grande mídia.
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Migalhas.
Migalhas
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Agradecimento
"Addendum"
"adendo"
Hoje me sinto feliz por ver q o povo brasileiro que se incomoda com a farra do governo, ontem e hoje, e estão se manifestando (sinceramente eu achava os brasileiros estavam satisfeitos com tudo, devido ao silêncio!), "Uma andorinha só, não faz verão!". Vamos prostestar sim e muito, se nâo nos contentamos em ser marionetes!! Um abraço à todos e contem com o meu apoio e participação!!