Dando continuidade ao pós-moderno bate-boca não-presencial iniciada há alguns dias, o Dr. Richard Stallman, fundador do projeto GNU, e Miguel de Icaza, co-fundador do projeto GNOME e vice-presidente da Novell, lançaram mais algumas faíscas na direção um do outro em posts de seus blogs.
A primeira salva, mais uma vez, partiu da metralhadora giratória do bom Dr. Stallman, que dessa vez se restringiu a citar nominalmente (e repetindo a qualificação do capítulo anterior) o desafeto no primeiro parágrafo do seu post sobre a Fundação Codeplex, da Microsoft, que aborda a desconfiança reinante a respeito de seus propósitos. Reproduzo (tradução livre) o parágrafo inicial do texto do emérito Chief GNUisance:
Vários em nossa comunidade suspeitam da CodePlex Foundation. Com sua diretoria dominada por empregados da Microsoft e ex-empregados, mais o apologista Miguel de Icaza, há razão suficiente para manter a cautela com a organização. Mas isto não prova que suas ações serão más.
A partir daí o criador do GNU Emacs segue com uma exposição (que os interessados deveriam ler na íntegra, e não confiar em resumos, porque o Dr. é estrito em suas escolhas de expressões) que analisa o posicionamento da Fundação CodePlex à luz de questões que lhe são caras, como a diferenciação entre Open Source e Free Software, entre Software Comercial e Software Proprietário, e concluindo, entre outras coisas, que a fundação “vai encorajar os desenvolvedores a não pensar sobre liberdade”.
Ele também fala que “se a Fundação CodePlex deseja ser um contribuinte real à comunidade software livre” (algo que ela nunca disse querer ser, me parece), ela não pode mirar em complementos livres para sistemas não-livres: ela precisa encorajar o desenvolvimento de software portável capaz de rodar em plataformas livres.
Na frase final, o bom Doutor exorta seus seguidores: “… a Microsoft continua a nos causar dano. Seríamos realmente tolos em permitir que algo nos distraia disso”. E eu realmente acredito que o bom Doutor não permite que nada o distraia disso.
Entra em cena o ladino vice-presidente da Novell: no capítulo anterior desta mesma novela, Miguel de Icaza respondeu com sutileza e sem detalhes às críticas que o Dr. Stallman fez a ele em sua ausência, em uma reunião pública.
El novelón
Mas desta vez a caracterização de novela mexicana ficou mais completa, e não apenas pela nacionalidade do autor original do Gnumeric: ele respondeu de forma extensa, expondo sua opinião geral e específica sobre o comportamento do Dr. Stallman. Interessados devem ler a íntegra. O VP Icaza também dá sua opinião sobre a Fundação (ele acha positiva, para ele há pessoas pró-open source dentro da MS tentando mudar a atitude da empresa, atuando de dentro dela), mas desta vez a diferença é que não é só a opinião de Stallman sobre ele que está sendo divulgada: agora o saldo acumulado tem roupa suja vindo de ambas as partes.
Mas os pontos que me chamaram mais a atenção entre as opiniões sobre Richard Stallman que o vice-presidente Icaza optou por jogar no ventilador foram:
- Stallman parece não ter nada melhor para fazer do que iniciar ataques pessoais;
- Ele chama Icaza de apologista da MS porque este se recusa a participar da sua caça às bruxas.
- Ambos querem o sucesso do software livre.
- Stallman ataca seus aliados por não serem réplicas dele mesmo.
- Stallman conjura bichos-papões para incentivar seus seguidores. Às vezes é a MS, outras vezes são fatos não-comprovados, como a acusação de backdoor no Mac OS X que ele posteriormente retificou.
- A linguagem dele é repleta de simplificações como as de George W. Bush, falando em Bem X Mal, Nós X Eles.
Por alguma razão, acho que ainda não chegamos ao último capítulo desta novela.
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