Portanto quem não migrava para o GNU dizendo que não concordava com a presença de código não-livre na glibc agora já pode mudar ;-) Mas a história é longa e se estende ao longo de mais de 25 anos, portanto vamos contar cronologicamente:
Em 1984, anos antes de haver as definições de código aberto e de software livre, e antes mesmo do Dr. Stallman ter publicado seu Manifesto GNU, a Sun lançou o Sun RPC, sob uma licença bastante permissiva, mas cujos termos certamente não se qualificam como software livre ou de código aberto.
Só que o RPC se espalhou bastante, não apenas devido a usos que eram mais populares nas décadas passadas, mas também por sua importante participação em serviços que permanecem usados e suportados até hoje, como o NFS. Resultado: faz muito tempo que código do Sun RPC está presente em vários pacotes e agregados considerados como software livre – um exemplo interessante é a glibc, a implementação da libc mantida pelo projeto GNU e presente na maioria das distribuições do Linux.
Só que há por aí projetos realmente interessados em garantir que o código distribuído por seus projetos realmente seja aberto. O exemplo neste caso é o pessoal jurídico da Red Hat, que se envolve na auditoria das licenças dos pacotes incluídos no Fedora e que, há anos (em paralelo a esforço similar que vinha sendo empreendido pelo pessoal do Debian) vinha tentando fazer os detentores do copyright sobre o Sun RPC mudarem a licença.
No ano passado eles quase conseguiram: Simon Phipps, então na Sun, chegou a anunciar que a licença do Sun RPC mudaria para a BSD de 3 cláusulas, passando assim a ser livre e open source. Mas aí a Sun se envolveu no turbilhão da aquisição pela Oracle, e a mudança não chegou a ser colocada em prática.
Mas essas equipes jurídicas são persistentes, e a turma da Red Hat reiniciou os esforços após a consolidação da aquisição. Resultado: em 18 de agosto a Oracle confirmou oficialmente a permissão para que as implementações conhecidas ainda sob a licença original do Sun RPC (além do código presente na glibc, a lista inclui o netkit-rusers e o krb5) passassem a ser licenciadas sob a BSD de 3 cláusulas, compatível com a GPL, e deixando de ser não-livre.
Ou seja: é um trecho de código não-livre a menos presente nas distribuições (inclusive as que se descrevem como 100% livres geralmente distribuíram a glibc ao longo de todo este período), e um interessante exemplo de cooperação por parte da Oracle, em um período em que as notícias vindas de lá relacionadas a código aberto não tem sido boas. (via spot.livejournal.com)
0sem comentários ainda