Júlio Neves é o responsável por despertar o interesse e formar o conhecimento de grande número de pessoas que hoje resolvem seus problemas usando scripts shell. Seus livros, séries de artigos em revistas, posts em blogs, palestras em eventos da comunidade open source nacional e outras formas que ele encontra para transmitir sua mensagem estão há anos encontrando terreno fértil entre os usuários de Linux e outros sistemas Unix e Unix-like.
E o seu novo livro, lançado recentemente pela editora Brasport, não repete o conteúdo anterior, mas mesmo assim honra a tradição do @juliobash de expor os scripts shell com objetividade e permanente bom humor.
Em suas 345 páginas (mais CD-ROM contendo exercícios, exemplos e as ilustrações coloridas e em tamanho integral), “Bombando o Shell – Caixa de Ferramentas Gráficas do Shell Linux” apresenta o próximo passo na interatividade de scripts: os diálogos em modo gráfico.
A obra é dividida em 4 livros, equivalentes a macro-capítulos, e complementada por 3 apêndices. No primeiro livro vemos os detalhes sobre o Zenity, figura conhecida de muitos scripts de instalação e configuração que fazem uso do GTK para exibir e controlar interfaces gráficas, incluindo vários de seus diálogos padronizados: seletores de abertura e gravação de arquivos, de datas no calendário, de campos de texto, etc., bem como elementos como janelas de notificação e barras de progresso.
Além de apresentar as formas de interagir com o Zenity, o livro também explica (com um apêndice dedicado a isso) a linguagem de marcação Pango, que pode ser usada para controlar a formatação dos textos exibidos nos diálogos. Entre os exemplos apresentados, há até um script que implementa um chat em shell e Zenity.
O segundo livro trata do YAD, apresentado pelo próprio Júlio em outro artigo recente aqui no BR-Linux. Trata-se de um fork do Zenity que tem uma vantagem essencial debaixo do capô: deixa de lado o uso de bibliotecas descontinuadas, como o libglade ou gnome-canvas. Mas ele também tem um destaque funcional: oferece mais liberdade na definição dos diálogos, permitindo, por exemplo, liberdade na definição da quantidade de botões e do texto de seus rótulos, em qualquer diálogo.
Curiosamente, este software chegou ao conhecimento do autor quando o livro já estava pronto, mas o interessou tanto que motivou uma reescrita e reestruturação da obra. Mas valeu a pena. Entre os exemplos interessantes do uso do YAD, me chamaram a atenção o que exibe e permite controlar um ícone na área de notificações do sistema (perto do relógio do desktop), e o que exibe uma janela de ícones definidos arbitrariamente.
Os outros 2 capítulos tratam sobre o Dialog, alternativa mais tradicional, pois foi criado em 1994 e opera basicamente no console ou em terminais de texto, e sobre o Kdialog, seu descendente que constrói os diálogos usando o toolkit Qt, típico de ambientes KDE. Para completar, os apêndices tratam da linguagem de marcação Pango, do uso de expressões regulares e da interação entre scripts e o Nautilus.
Definitivamente recomendo. Não serve como primeiro livro para aprendizado de shell scripts (para isso não faltam bons títulos), mas é um bom segundo livro – ou um complemento para quem já sabe fazer scripts e quer complementar suas interfaces.
Na dedicatório, o Júlio escreveu que eu sou apreciador da interface a caractere, mas ele tem esperança de que o livro me ajude na “arte final” ツ Geralmente os meus scripts não rodam no modo interativo do desktop (ou são filtros não-interativos, ou interagem via web), mas não tenho dúvida de que na próxima situação que exigir interação desktop de um script meu, é ao YAD e ao “Bombando o Shell – Caixa de Ferramentas Gráficas do Shell Linux” que vou recorrer!
0sem comentários ainda