Ir para o conteúdo
ou

Software livre Brasil

0 comunidades

Nenhum(a)

 Voltar a uaiPod
Tela cheia

“Queremos ser o editor de vídeo do povão”

5 de Abril de 2011, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 109 vezes

Nessas últimas semanas, mergulhei num trabalho meio desafiador, meio ingrato. Decidimos gravar alguns vídeos para o Ponto de Cultura, a fim de produzir um vídeo-tutorial voltado a pesquisadores de memória oral. Botamos a novíssima Canon 7D do projeto no quintal da nova sede, apertamos e REC e disparamos a falar para a câmera. A imagem da 7D é realmente tudo aquilo que dizem as revistas especializadas e que garantiram os professores dos cursos de capacitação. Gravar com uma câmera dessas dá prazer em trabalhar.

Mas o desafio em si não era esse. Era o que vinha depois disso: a edição do material. Vinha um grande dilema na minha cabeça: recorrer às opções piratas de sempre ou encarar de uma vez por todas o desafio de usar softwares livres de edição de vídeo? Dentre uma e outra alternativa e com a constatação de que os programas piratas nos fazem sofrer com codecs e outros enjoamentos do tipo, resolvemos optar pela segunda. A grande recompensa pela escolha é o fato de finalmente ter que compreender melhor os programas open-source, podendo compartilhar o conhecimento gerado. Até porque em projetos como Pontos de Cultura, os processos muitas vezes são mais importantes do que os produtos finais.

Os programas disponíveis para edição em Linux são poucos, mas não muito menos que as opções pagas. Aqui, inclusive, cabe um parênteses. A licença de um Sony Vegas não sai por menos de R$ 1.600 e a de um Adobe Premiere, R$ 2.300. O fator preço não é o único que pesa na escolha por softwares livres — contam pontos, também, segurança, privacidade e a responsabilidade social envolvida no processo. Mas temos de convir que é um argumento poderoso, ainda mais se considerarmos que, ao crackear licenças de softwares pagos, seremos criminosos aos olhos das megacorporações de informática. Enfim, não vamos ficar aqui falando do que o software livre não é.

Voltemos ao ponto onde paramos. Três opções de editores de vídeo para Linux são as mais plausíveis: o OpenShot, o Pitivi e o Cinelerra. Baixei os três e resolvi experimentar para ver no que ia dar. Primeiro testei o Cinelerra, que costuma ser apontado como a opção mais profissional para a tarefa. Eu discordo. O programa tem uma interface bem estragada, feia mesmo, dessas de desanimar. Li alguns tutoriais, assisti a vídeos no YouTube, mas não consegui compreender seus comandos. Após algum tempo, eu e o Cinelerra até nos entendemos, mas ao custo de muita paciência. O que acontece é que os comandos do programa não são muito intuitivos, embora tenha uma disposição de botões e janelas que copia os modelos de programas pagos como o Premiere.

Em seguida, parti para as outras duas opções. De cara, ganharam pontos pelo visual, bem mais amigável. Tanto num quanto noutro, cabe destacar que não houve dificuldade em importar os arquivos (gerados em formato MOV com resolução HD de 720p) e começar a picotar os clipes de vídeo. A disposição de janelas e botões lembra programas mais simples, como o Windows Movie Maker. Em ambos os casos, pode-se dizer que faltam uma certa dose de recursos, bem como botões e atalhos de teclados. Mas dá para dizer que estão no caminho certo. Para usuários sem frescuras, são boas opções.

O mais engraçado sobre o Pitivi e o OpenShot é que um tem aquilo que falta no outro. Por exemplo, o Pitivi oferece mais agilidade para recortar os vídeos, e é possível selecionar um agrupamento de clipes e arrastá-los pela linha do tempo, alterando a opacidade do vídeo ou o volume do áudio, comandos básicos que faltam no OpenShot. Mas este, por sua vez, tem disponíveis transições e efeitos de vídeo muito interessantes de se usar, além de poder importar arquivos SGV criados no Inkscape com transparência, dando excelente opção para criar artes ou legendas. A verdade é que, se um dia houver uma fusão entre os dois projetos, talvez teremos um editor de vídeo livre extremamente poderoso. No final das contas, é assim que vou trabalhando, por enquanto: cortando e ajustando o vídeo no Pitivi, e acrescentando transições, efeitos e legendas no OpenShot. Foi a opção que restou. O resultado da brincadeira, vocês irão conferir daqui a alguns dias.

No final das contas, dá para dizer que o Linux é um sistema amigável para edição de vídeo e para tarefas multimídia? As opções de código aberto dão conta do recado. Não vou responder isso. Deixo por conta do programador americado Jonathan Thomas, criador e mantenedor do OpenShot, que concedeu por e-mail esta entrevista ao Uaipod.

Como você descreveria o momento atual dos aplicativos livres de multimídia e edição de áudio e vídeo? Programas de multimídia open-source percorreram uma caminhada grande em muito pouco tempo. Projetos como FFmpeg e GStreamer amadurecederam bem, e oferecem APIs muito poderosas para programadores como eu. Projetos como o Blender também amadureceram e estão fazendo incursões nos meios de edição de vídeo profissional e animação 3d, assim como na publicidade e no cinema.

Quais novidades o OpenShot pode trazer para as opções de edição de vídeo open-source? O projeto OpenShot é mais centrado na usabilidade e facilidade de uso do que outros editores de vídeo. Nós trazemos muitos dos recursos que outros editores de vídeo tem, mas nós fazemos de um jeito que fique mais amigável para o usuário médio. Um grande exemplo é nosso uso do Blender, que facilmente gera animações 3D dentro de um projeto de vídeo, sem necessidade de o usuário conhecer os comandos do Blender.

Em linhas gerais, qual o objetivo do projeto OpenShot? Que tipo de usuários o projeto quer servir? O objetivo do OpenShot é ser o mais simples e mais poderoso editor de vídeo open-source disponível. Nós queremos ser o editor de vídeo “do povão”, se podemos dizer assim. No entanto, nós ainda queremos oferecer muitas opções de efeitos e recursos de edição não-linear, mas com foco na facilidade de uso.

Em quais pontos o Linux precisa melhorar para oferecer melhores editores de vídeo? O Linux é um bom sistema operacional para aplicativos multimídia? O maior problema com programas de edição de vídeo é o melhor tratamento de processadores com vários núcleos (multi-cores), além de tentar manter estáveis as APIs para não travarem com a introdução de novos codecs. O áudio também continua sendo uma área em que o Linux precisa avançar, oferecendo APIs mais estáveis para transformações e edições.

Como o projeto OpenShot se mantém? Quantas pessoas, incluindo voluntários, trabalham no projeto? OpenShot tem apenas uma pessoa comprometida com o código-fonte, que sou eu. Todos os colaboradores trabalham comigo, e enviam correções e anexos que eu junto ao código em seguida. No tota, nós temos cerca de 16 colaboradores diferentes, mas apenas cinco colaboram com frequencia. Muitas pessoas na comunidade ajudam com apontamento de bugs (erros de funcionamento), traduções, respondendo dúvidas de usuários e discutindo tópicos no nosso fórum. Há provavelmente mais de 50 membros ativos da comunidade que nos ajudam todo o tempo com alguma capacidade.

Você toca outros projetos, tem planos para algum outro programa além do OpenShot? Sim, eu tenho outro aplicativo que estou preparando para este ano (2011), mas ainda não me sinto preparado para revelá-lo. Mas eu vou te dar uma dica: está relacionado a edição de vídeo.

Na sua opinião, que tipo de aplicativos multimídia o Linux merece? Quais programas os usuários precisam para enxergar o Linux como um grande sistema operacional multimídia? Bem, eu acredito que a edição de vídeo no Linux ainda tem um longo caminho a percorrer até se tornar melhor que os aplicativos comerciais. Então, este é um caminho que o Linux precisa continuar desenvolvendo. De maneira geral, o trabalho multimídia no Linux é um campo desafiador e animador, e eu penso que já existem muitos aplicativos bacanas.


Fonte: http://viraminas.org.br/uaipod/2011/04/05/queremos-ser-o-editor-de-video-do-povao/

0sem comentários ainda

Enviar um comentário

Os campos são obrigatórios.

Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.