Depois de uma semana vivendo embaixo do Viaduto do Chá me atrevi a escrever um texto buscando analisar nossos anseios e reivindicações. Defendi que não reivindicávamos nada, mas sim construíamos uma nova forma de fazer política nas ruas. Essa falta de pauta clara foi duramente criticada tanto pelos meios de comunicação em massa quanto pela esquerda tradicional.
Nessas últimas semanas centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas de São Paulo para reivindicar a revogação do aumento das passagens. A reivindicação clara foi certamente decisiva para a conquista que se seguiu. Passada o anuncio da revogação do aumento, porém, as pessoas continuaram nas ruas, mas dessa vez com pautas vagas embaixo de termos genéricos como corrupção, saúde e educação. Essa falta de uma pauta clara foi novamente duramente criticada pela esquerda.
Acredito que vale a pena analisar as semelhanças e diferenças entre esses dois momentos. Primeiro, entendo que ambos nasceram em um contexto global de crise do sistema representativo. A ânsia em participar ativamente da construção política da sociedade não se resolve mais na filiação partidária. Isso explica uma certo aversão as bandeiras partidárias nos últimos atos, como nossa decisão de não permití-las no acampamento.
No ocupa (imagino que na Espanha tenha sido parecido), essa ânsia foi lindamente assimilada por uma maneira inédita (nos últimos anos pelo menos) de ação: a tomada do espaço público por tempo indeterminado. Por mais de um mês a praça foi nossa casa, nossa escola, nosso teatro e nossa ágora. Morar na praça, organizar assemblieas, debates, as ações, atividades, tudo isso nos ensionou o que é fazer política num sentido muito profundo.
Nessa semana todo mundo foi para rua, não para lutar contra corruptos ou por uma democracia plebicitária online, mas para saciar a ânsia de fazer política. E a ânsia não foi saciada. Não é hora de recuar. É hora de voltar pra rua organizar atividades, ações, assembleias populares... É hora de voltar a fazer política.