Morreu na noite de 12/08 em sua casa em São Paulo Imre Simon, um dos pioneiros e mais importantes pesquisadores da área de ciência da computação no Brasil. Professor titular aposentado do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), foi um dos coordenadores da Incubadora Virtual de Conteúdos Digitais, um dos três projetos da Tecnologia da Informação no Desenvolvimento da Internet Avançada (Tidia), um programa da FAPESP. Simon, que tinha câncer de pulmão, faria 66 anos amanhã (14/08). O enterro ocorrerá no Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, no próximo domingo (16/08), às 9 horas da manhã.

Simon viveu na Hungria, sua terra natal, até os 13 anos, quando a grave situação política no país levou sua família a emigrar para o Brasil. Em 1962, entrou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), onde cursou engenharia eletrônica e começou uma longa relação com a matemática e os computadores. “Naquela época, Imre Simon trabalhou com o primeiro computador da USP”, relembra Tomasz Kowaltowski, professor aposentado do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (IC-Unicamp), amigo de Simon desde os tempos em que estudaram na Poli. “Era um grande especialista em trocas algébricas de autômatos finitos, mas tinha interesses muito amplos na ciência da computação.”

Para a pesquisadora Claudia Bauzer Medeiros, professora do IC-Unicamp, a atuação de Simon “consolidou linhas de pesquisa, cursos e departamentos” de ciência da computação no Brasil e no estado de São Paulo, em especial na USP e na Unicamp. “Ele perseguia as ideias em que acreditava, como o uso da internet para a educação e desenvolvimento da pesquisa e o acesso livre às publicações científicas. Era muito respeitado até por quem discordava dele”, diz Claudia. “O professor Imre Simon deu insubstituível contribuição para o desenvolvimento científico do Brasil. Sua participação foi fundamental no estabelecimento da ciência da computação no país. Sempre colaborou intensamente com a FAPESP e suas ideias moldaram programas da Fundação”, afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP. “Sentiremos sua falta.”

Em cinco décadas, Simon teve uma atuação destacada em várias frentes. Ao lado de Kowaltowski e Claudio Lucchesi, do então Centro de Computação da USP, ajudou a implementar o primeiro exame vestibular computadorizado do país, em 1965. Dois anos mais tarde, foi convidado por Delfim Netto, então ministro da Fazenda, para escrever um programa de computador que lidasse com os índices de inflação, então na casa dos três dígitos. “Aquilo foi uma grande conquista, considerando que a memória dos computadores tinha apenas 20 mil dígitos decimais”, escreveram Christian Choffrut e Yoshiko Wakabayashi no prefácio de uma edição especial da revista Rairo – Theoretical Informatics and Applications, publicada em homenagem a Simon em 2005. Choffrut e Wakabayashi traçaram um breve resumo da carreira de Simon e comentaram a grande contribuição do pesquisador para a ciência da computação, exposta mais detalhadamente nos outros capítulos da publicação.

Em um deles, o canadense Denis Thérien, da Universidade McGill, comenta a tese de doutorado defendida pelo brasileiro na Universidade de Waterloo, no Canadá, em 1972, com o título Hierarchies of events with dot-depth one. “Seu trabalho teve um impacto enorme na teoria dos autômatos e agora, 30 anos depois, estamos em uma boa posição para apreciar a sua sensibilidade em selecionar bons problemas e seu brilhantismo para resolvê-los”, disse Thérien, que chama a tese de Simon de “obra-prima”. Simon fez mestrado em Computer Science pela University of Waterloo (1970), doutorado em Computer Science pela University of Waterloo (1972) e pós-doutorado pela Université de Paris VII – Université Denis Diderot (1980). Presidiu a Sociedade Brasileira de Matemática e coordenou o grupo de Estudos de Informação e Comunicação (EdIC), do Instituto de Estudos Avançados da USP. Era membro titular da Academia Brasileira de Ciências e membro da Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe de Grã-Cruz.

Uma pequena parte do legado científico de Simon pode ser conhecido em sua página na internet, na qual há links para textos científicos e de divulgação produzidos pelo cientista. (via ubuntu-sp.org)