Trabalho com Linux desde o início de 1993. Na época comprei a recém lançada distribuição Yggdrasil, período em que o Linux não era algo ao alcance dos meros mortais. Começamos com uma máquina rodando Linux lá no cantinho da empresa, como servidor de arquivos, impressão e, especialmente, como o meio de acesso à internet. Quem lembra bem desta época sabe que o Linux (e os demais sabores do sistema operacional Unix) já estava preparado para a grande rede. Afinal, foi nela que ele nasceu.
Em 1999, a Sun Microsystems comprou a empresa alemã Star Division e anunciou a abertura do código da suíte de produtividade para escritórios StarOffice, o que veio a tornar-se o projeto OpenOffice.Org (no Brasil, BrOffice.Org). Agora, o Linux podia avançar dos servidores ao desktop. A edição de textos, criação de planilhas e apresentações deixavam de ser oferta única das empresas de software proprietário, especialmente a Microsoft, e ganhavam uma alternativa livre e de menor custo.
No Brasil, a popularização do Linux teve, do lado empresarial, grande apoio da Conectiva (hoje Mandriva). No lado doméstico eu sempre digo que a história do Linux em nosso país divide-se em antes e depois do Kurumin. Lançado em 2003, o Kurumin era um Linux realmente fácil de instalar e usar, já com os principais aplicativos instalados e "pilotos automáticos" que facilitavam a instalação e configuração de novos aplicativos. Depois veio o Ubuntu, também com seus vários sabores e uma dose de investimento considerável por parte de Mark Shuttleworth e sua empresa, a Canonical.
Agora, é possível uma empresa ter suas necessidades de informatização plenamente atendidas por softwares livres? A resposta é a mesma para a pergunta "é possível uma empresa ter suas necessidades de informatização atendidas por sistemas da Microsoft?". Substitua Microsoft por Apple, IBM ou qualquer outra empresa de sua preferência. Ou seja: sim, mas depende!
Uma empresa que começa a informatizar-se agora, que não tem preocupação com aplicações, documentos e bases de dados em seu legado, terá grande facilidade na adoção de softwares livres. Há várias opções de sistemas de gestão, de relacionamento com clientes e também aplicativos de produtividade para escritórios que possuem excelente nível de compatibilidade com softwares não necessariamente livres usados por outras empresas com as quais exista a necessidade de comunicação e troca de documentos. Nesse sentido, esforços de padronização de formatos para o intercâmbio de informações são extremamente importantes e o governo brasileiro tem incentivado muito tais padrões (veja, por exemplo, o Protocolo de Brasília, que incentiva a adoção do padrão aberto ODF para documentos).
Em uma empresa que já está informatizada com softwares proprietários e deseja migrar para softwares livres é necessário, antes de mais nada, um estudo muito bem feito da situação existente, elaboração e execução de um plano de migração. Este plano deve incluir fatores psicológicos e motivacionais. Os colaboradores da empresa devem entender as razões para a migração e serem envolvidos nesse processo. Uma das razões sempre é a econômica, mas ela deve ser avaliada no médio e longo prazo. O software livre elimina o custo com licenças mas não com serviços, capacitação de pessoas e outros que também existem em softwares proprietários.
O grau de informatização da empresa e o quanto as soluções utilizadas foram personalizadas para ela são fatores importantes na elaboração do plano de migração. Há casos onde a pura e simples substituição de softwares proprietários por alternativas em software livre, associada a um breve treinamento dos funcionários, é suficiente. Há outros em que aplicativos bastante específicos foram desenvolvidos exclusivamente para um determinado sistema operacional ou mesmo uma plataforma de hardware específica e, neste caso, toda uma reescrita de código deve ser considerada. Mesmo assim, a migração para software livre tende a ser vantajosa já que a empresa passa a ter, a partir daí, amplas opções para a contratação de serviços e uma economia advinda da não mais necessária aquisição e renovação de licenças de software proprietário.
A migração para software livre é também um bom momento para a reavaliação da disponibilidade de serviços aos colaboradores da empresa. É melhor manter aquela solução enjambrada há séculos em uma planilha de cálculo ou é o momento de disponibilizá-la na intranet da empresa? Há um catálogo compartilhado de contatos? Um sistema de gestão de projetos? Um quadro eletrônico de avisos? Há muitas soluções em software livre que, de imediato, atendem a todas essas necessidades e ainda vão muito além, passando por sistemas de Business Intelligence, edição de áudio e vídeo, telefonia e muito mais.
Mas não se contente com o que escrevi aqui. Veja o que existe na sua empresa hoje e pense na possibilidade de migração para software livre. Comece com algo simples. Você logo verá que este é um caminho bastante compensador.
por César Brod
* fonte: Editora Globo S/A
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