A pequena presença de mulheres na tecnologia é conhecida por todos os estudantes e profissionais da área. Diante deste fato, iniciativas isoladas começaram a surgir em busca de mais mulheres na tecnologia. Estes grupos aumentaram em tamanho e quantidade e se fizeram ouvir. Enquanto em anos anteriores (2010 a 2014, por exemplo) pouco se falava sobre o assunto, 2015 foi o ano em que o tema ganhou espaço nos veículos online de notícias em vários momentos.
Os artigos publicados falavam desde a falta de mulheres na tecnologia até a importância sobre se ter mais mulheres na TI. Para tentar entender por que as mulheres, apesar de grandes consumidoras de tecnologia, não fazem desta sua opção de carreira profissional, os artigos buscaram explicações nas raízes culturais, educacionais e machistas que permeiam a nossa sociedade. Para mostrar por que a presença de mais mulheres na TI é importante, as argumentações focam a importância da diversidade nas equipes de trabalho para que se tenha ambiente de trabalho mais produtivo e criativo e produtos melhor adaptados aos diversos tipos de consumidores.
Assim, este artigo apresenta uma coletânea das principais notícias relacionadas ao tema “mulheres e tecnologia” publicadas ao longo de 2015. É uma espécie de retrospectiva. A primeira parte deste artigo é formada por algumas das notícias que falaram sobre a baixa presença de mulheres na tecnologia e as possíveis explicações para este fato.
Faltam Mulheres na Tecnologia
A ausência de mulheres na TI pode ser notada quando grandes empresas de tecnologia continuam com poucas mulheres em seu time de funcionários. Apple, Google e Facebook foram algumas das empresas que ganharam espaço nas notícias por possuir poucas mulheres em seu quadro de funcionários. Também podemos observar este fato quando, em publicação sobre as 12 pessoas mais poderosas da tecnologia, apenas uma é mulher, a Ginni Rometty da IBM. A União Internacional das Telecomunicações também chamou atenção para este quadro ao publicar que na Europa as mulheres representam apenas 9% dos desenvolvedores de aplicativos.
Com estes e muitos outros dados, o debate sobre a falta de mulheres na tecnologia foi levantado. Os artigos Por que as mulheres ainda são minoria na TI?, Por que há menos mulheres no setor da tecnologia?, Os Desafios da Mulher no Setor da Tecnologia da Informação, ‘Só podia ser mulher': A diversidade nas empresas de tecnologia e A Difícil Missão de Ser Mulher no Mercado de TI trouxeram para os leitores esta realidade, argumentam sobre suas possíveis razões e alertam sobre a importância desta situação ser contornada.
Por que Faltam Mulheres na Tecnologia?
Um dos argumentos apresentados para entender a falta de mulheres na tecnologia é o fato de meninas não serem encorajadas, em sua infância, a desenvolver o raciocíno lógico e matemático. Esta questão é levantada pelo artigo Estudo Revela que só Brincar de Casinha Compromete o Futuro Profissional da Mulher. Já em Homens Superestimam Habilidades Matemáticas é apresentado um estudo sobre o impacto que a confiança nas habilidades matemáticas podem ter sobre as pessoas. Os resultados dos estudos demonstram que a falta de incentivo para aumentar a confiança das mulheres na matemática faz com que elas não optem por carreiras em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática). E para as que mesmo assim seguem a carreira tecnológica, um outro obstáculo ganha mais força: a cultura machista. Ela está presente na sala de aula e no ambiente de trabalho. Em entrevista, Camila Achutti apresenta alguns dos machismos sofridos pelas profissionais da tecnologia.
Diversas foram as notícias em 2015 que apresentaram grandes empresas de tecnologia envolvidas em processos de discriminação de gênero. Facebook, Twitter, Microsoft foram algumas delas. Um caso de grande repercussão foi o da Ellen Pao, ex-sócia da Kleiner Perkins Caufield & Byer que processou a empresa por discriminação de gênero, após ter sofrido retaliação por ter denunciado seu sócio por assédio sexual. Kleiner Perkins Caufield & Byer é um dos principais fundos de investimento de capital de risco do Vale do Silício. Apesar de não ter vencido esta batalha, Ellen abriu o debate sobre a discriminação de gênero no Vale do Silício e abriu o caminho para que outras mulheres denunciassem os diversos casos de discriminação e assédio que já sofreram.
Outros casos de menor repercussão também foram notícia. A engenheira Isis Anchalee da empresa OneLogin iniciou a campanha #ilooklikeanengineer após ter sua capacidade questionada devido a sua beleza. Um outro caso foi a petição levantada pela mãe de Cash Cayen, uma menina de 9 anos. Cash foi impedida de entrar em clube de robótica por ser menina. E em meio a debates sobre fornecer um ambiente mais amigável para mulheres, a Apple cometeu a gafe de utilizar o Photoshop para forçar uma mulher a sorrir.
O machismo também está em ações e opiniões aparentemente inofensivas. Durante um painel sobre inovação, o diretor do Google foi repreendido por interromper constantemente uma colega de debate durante uma fala sobre diversidade. Linus Torvalds expressou sua opinião dizendo que a diversidade não importa e Demi Getschko causou polêmica ao associar vocação profissional com fatores biológicos. Uma carta resposta para Demi foi publicada. E um painel sobre a falta de mulheres na TI causou polêmica em Santa Catarina ao ter somente homens na mesa de debate.
O machismo torna o ambiente da tecnologia hostil para mulheres e abre espaço para um outro quadro preocupante: a participação feminina na TI, além de pequena, está reduzindo. De acordo com estes dois artigos, algumas mulheres que ingressam na TI acabam por abandonar a carreira. Para Tim Cook, atual CEO da Apple, o ambiente não receptivo para mulheres pode ser uma das causas para a pouca participação de mulheres na TI. Algumas empresas já entenderam este recado, estão trabalhando para mudar este quadro e já figuram no ranking do Instituto Anita Borg sobre melhores empresas de TI para mulheres trabalharem.
Muitos artigos sobre a falta de mulheres na tecnologia foram publicados em 2015, mas isso não quer dizer que o assunto se esgotou. Enquanto a situação não for contornada, as iniciativas para uma TI que melhor expresse a diversidade devem continuar. Para tanto, queremos que em 2016 o assunto ganhe maior visibilidade nas diversas mídias para que o debate seja ampliado, aprofundado, gere maior conscientização e permita o avanço para uma TI menos machista, mais inclusiva e representativa.
Texto Enviado por:
Alessandra Gomes
Graduada em Ciência da Computação pela UFPA e Mestra em Ciência da Computação pela Unicamp. Professora por muitos anos, agora tenta investir no doutorado e em um negócio próprio. Adora café, museus, bancas de revista, livrarias, fotografia, documentários, o céu de Brasília e os rios do Pará.
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