Parece até loucura, mas não é: um economista bengalês Mohamed Yunus e o Banco Grameen, fundado por ele, ganharam o Prêmio Nobel da Paz 2006. [1]
Na verdade, Mohamed Yunus , além de "banqueiro" e economista, é um humanista defensor da liberdade e emancipação humana por meio das Finanças Solidária. Sua batalha começou em 1974, quando ele voltou dos Estados Unidos, onde estudou. Chocado com o quadro de miséria de Bangladesh, ele passou a visitar vilarejos pobres e constatou que muitas mulheres ficavam presas a dívidas e ao dinheiro de agiotas.
Com a recusa dos bancos em emprestar dinheiro para essas pessoas, sob o argumento de que faltavam garantias de pagamento, Yunus fundou um banco em 1976, primeiramente na aldeia de Jobra, tendo como base um sistema de crédito popular libertador que viria a ser, mais tarde, o Grameen Bank - que se pode traduzir aproximadamente por "Banco da Aldeia". [2] Este sistema fundamenta-se em dois princípios: em primeiro lugar, substitui-se a desconfiança bancária típica (avalistas, contratos com letras pequenas, fiadores, garantias...) por confiança pura e simples. Em segundo lugar, ao fato de que a pressão social de um grupo de co-avalistas é mais eficaz que qualquer formalidade jurídica.
A reação das autoridades bengalesas ao sistema de Yunus (quando ele tornou‑se visível) foi radical: “ Não se pode emprestar dinheiro para pobres”, disseram os burocratas. Vencendo toda pressão do sistema de crédito proprietário, Yunus insistiu apresentando os fatos: a taxa de inadimplência do sistema (2%) do Banco da Aldeia era mais baixa do que a de qualquer outro banco em Bangladesh. Desta forma, O Banco passou a ter em dezembro de 2001 cerca de 13 mil funcionários em 1.175 agências e atuava em 40 mil aldeias. Até o final de 2001, concedeu mais de U$ 3,5 bilhões de empréstimos, financiou a aquisição de 546 mil casas próprias e naquele ano contava 2,4 milhões de clientes (94,8% mulheres).
Recentemente, o Banco lançou o plano Grameen Phone (que é uma joint venture de várias empresas), que permite às mutuárias comprarem telefones celulares em condições muito favoráveis (U$ 5,00 por mês) e constituírem, por assim dizer, uma pequena companhia telefônica local, aproveitando o fato de que há bengalenses espalhados em todo o mundo, sobretudo na Inglaterra. Cobrando um sobrepreço sobre as tarifas, estas mulheres pagam as prestações e auferem renda. A adesão cultural ao programa foi surpreendente. Mulheres analfabetas, que até então não haviam visto um telefone na vida, em poucos meses passaram a se comportar como se suas famílias estivessem no negócio há dezenas de anos. Uma boa referência para se fazer também com computadores!!
E o que isto tem haver com software livre??
Mahatma Gandhi dá uma "dica"...
"Se quisermos dar ao povo o sentido de liberdade, teremos que proporcionar às pessoas um trabalho que possam fazer facilmente em suas pobres casas e que lhes dê o mínimo de sustento. E, quando o povo se tornar autoconfiante e capaz desobreviver por si próprio, poderemos conversar com eles sobre liberdade."
[1] Por que será que ele não ganhou o Nobel de Economia????
[2] Para saber mais informações sobre por esta linda experiência criada pelo Yunus leiam o livro O Banqueiro do pobres .
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