Depois de pouco mais de uma semana acampado debaixo do viaduto do chá tendo conversado sobre muitos assuntos com muitas pessoas diferentes, me proponho nesse texto a dar uma resposta pessoal sobre algumas das perguntas mais frequentes com relação a ocupação.
A primeira pergunta que procurarei responder diz respeito ao porquê essas pessoas e não outras? Essa pergunta as vezes é feita de forma restritiva como um: Quais são nossas pautas ou o que reivindicamos? Ou de forma mais honesta como um: O que nos une? A segunda pergunta tem a ver com o porquê aqui e agora? De forma mais precisa: Qual o contexto histórico-geográfico? Por fim, uma pergunta relacionada com pra onde? Em outras palavras: Quais serão os rumos do movimento?
Nosso movimento é bastante plural e, apesar de termos um manifesto consensuado, nossas pautas são muito amplas e difusas para servir de explicação sobre os principais motivos de porque nos unimos. Isso é muitas vezes colocado em forma de crítica: Como um movimento pode sobreviver se não tem pautas firmes comuns? Ao meu ver o motivo real que nos une nos fornece uma excelente pista para responder a essa pergunta.
Compreendo que o que nos une, não só nós do ocupesmpa, mas também o movimento em Wall street, em Madri e diversos outros pelo mundo, é uma insatisfação com a estrutura da representação política. Assim, me parece que a dificuldade em elaborarmos reivindicações claras é consistente com nossa principal bandeira "democracia real/direta". Não estamos firmes em nossas reivindicações porque no fundo sabemos que não é uma questão de reivindicar (pra quem reivindicamos se esses não nos representam), mas de construir todo um novo sistema. Dessa forma, é muito mais consistentes que nossas pautas sejam construidas e reconstruídas constante e coletivamente. Existem, porém, pelo menos 3 pontos clamados como princípios entre os manifestantes: apartidarismo, não-violência e decisões assembleárias por consenso.
A segunda pergunta também costuma chegar em tom de crítica: Não há crise no Brasil agora, logo não há contexto e, portanto, o movimento não deverá durar. Primeiro, não é verdade que não há contexto, o movimento se insere tanto em um contexto internacional de lutas (Espanha, Grécia, Egito, Nova Iorque etc.) como em um contexto local (diversas marchas contra o aumento da tarifa de ônibus, marcha da maconha, marcha da liberdade etc.). Com relação a não estarmos em crise compreendo que isso é mais uma benção do que uma maldição. A maioria dos movimentos de esquerda até hoje tenderam a ser reativos. Ou seja, uma resposta a algum tipo de crise. O fato de nosso movimento não ser reativo, mas construtivo, o abre para uma infinidade de novas possibilidades. Um movimento construtivo não precisa ter pressa para dar respostas. Um movimento construtivo não é necessariamente pautado por um determinado contexto que uma vez mudado dita o fim do movimento. Enfim, um movimento construtivo é livre para seguir seu próprio rumo em seu próprio tempo.
Por fim, sou muitíssimo grato por não saber responder sobre os rumos do movimento, pois estes estão sendo construídos no próprio movimento. Esse é um excelente indício de que estamos indo na direção do que quer que compreendemos por democracia real. A partir do momento que nos tornarmos previsíveis seremos presas fáceis frente ao sistema.
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