Pra viver um grande amor
19 de Março de 2021, 4:00 - sem comentários aindaSempre acreditei (e continuo acreditando) que o universo é um cara com grande senso de humor, mas também infinitamente generoso com a minha pessoa. Se você meu caro leitor quiser trocar a palavra universo por Deus, fique à vontade também. O fato é que há quase 6 anos atrás, conheci uma das pessoas mais incríveis e que definitivamente influenciou e influencia demais a minha vida. Tive o privilégio de dividir o mesmo teto, de aprender e quiçá de ensinar alguma coisa também.
Eu realmente sei que não tenho a competência devida para falar de alguém tão especial, mas queria aqui deixar registrado algumas poucas palavras no dia do seu aniversário. Queria aqui deixar aquele abraço apertado que só você pode dar. Aquele abraço que foi sempre verdadeiro, inteiro, completo, sincero. Sempre. No pior dos dias, na dor, não houve um abraço que não tenha sido especial. E por jamais se negar ao afeto, isso seria talvez tudo que fosse preciso ser dito. Alguém cuja generosidade e o amor brota aos borbotões. Alguém que se nega a exalar o rancor, a mágoa. Alguém que mede cada palavra e cada gesto pela capacidade de agregar algo de bom ao próximo. Será que você tem a noção do que é conhecer uma pessoa assim?
É claro que a história não para por aí. A capacidade de enxergar o outro é de longe a sua habilidade mais fascinante. Engana-se quem pensar que isso é um dom. Nada mais equivocado. Olhar o outro, perceber e sentir o outro pode parecer algo mágico, mas é um longo aprendizado, um investimento de décadas de observação, de dedicação e de treino. Essa habilidade é algo que sempre me assombrou, sempre me encantou. A capacidade de ler as pessoas e situações se complementam com algo ainda mais incrível: a capacidade de reagir e modular ações para promover mudanças com o mínimo de interferência no outro. Uma delicadeza, uma sutileza e uma energia que age às vezes quase invisivelmente.
Junte a tudo isso o sorriso, o olhar apaixonado pela vida, o gosto pela música, pelas artes, pelo conhecimento. A capacidade de se reinventar, de crescer e se conhecer. E seguindo por aí vem um monte de qualidades e claro, alguns defeitos também. Mas junto com os defeitos veio a capacidade de se rever de buscar novos caminhos.
Foi meio chocante para mim quando ela quis abandonar a educação. Foi e sempre será uma professora excepcional, que consegue ver cada aluno em sua individualidade, na sua especificidade, nas suas demandas, nas suas interações com o grupo e traçar estratégias para puxar o melhor de cada um. Mas nessa busca de se rever apareceu na sua vida a psicanálise e um novo caminho para seguir. Tive o privilégio de acompanhar um pouco dessa trajetória. E tenho que dizer que aquele que deitar no seu divã terá um grande privilégio. E quem teve ou tiver essa oportunidade, saberá que tenho razão.
E fui muito feliz ao seu lado. Muito? Fui feliz para caraleo. Um amor para a vida toda. Um grande amor. E sempre disse e continuo repetindo: vou te amar para sempre. Mas para viver um grande amor, é preciso permitir que ele acabe. Deixar que vá embora. E eu fui embora um dia. Demorei muito para criar a coragem para isso. Provavelmente foi a decisão mais difícil da minha vida. Me senti um monstro por querer ir embora. Mas fui. E chorei e chorei e sofri por isso. E mesmo assim, como eu disse logo no começo, o universo é maroto. E hoje, posso dizer com lágrimas nos olhos: Kim, você é a minha melhor amiga. Saiba que poderá sempre contar comigo e sempre vou lhe amar, lhe admirar e lhe apoiar. E sempre poderemos nos abraçar. Porque um amor de verdade, não acaba. Não morre, no pior dos casos, você ressignifica, e segue. Da mesma forma, espero que meu filho possa ser sempre seu amigo, como quero demais que seus filhos sejam sempre meus também. Por que gosto deles demais. E as portas da minha casa estão aqui sempre abertas. Para celebrar a vida e para chorar também.
E hoje é seu dia, mas o presente mesmo vai para quem teve a oportunidade de lhe conhecer. E o universo é mesmo incrível, você existe nele.
Um grande abraço,
Fábio Telles Rodriguez
Amenidades
17 de Março de 2021, 19:09 - sem comentários aindaUm dia ameno
Caminhar cedo com o dia ainda fresco
O sol lá fora depois da neblina
2842 pessoas mortas ontem
Caminhar, trabalhar, cozinhar
Limpar a casa
Serão mais de 3 mil hoje?
O que vamos fazer no FDS?
Preciso comprar cebolas
Preciso concertar o sofá
Quebrou feio
Não vai dar pra compra outro tão cedo
Saudades de você
Vontade de fugir
Será que vamos dar conta de tudo no trabalho?
Vamos poder ver um filme aqui em casa?
Volto a tocar violão?
Quando vou voltar a ler?
O que ler?
Vontade daquele abraço
Vontade de chorar
Amenidades
A vida segue
As pessoas morrem
Os amores mudam
As pessoas seguem, ou não
Canção do Sal
9 de Fevereiro de 2021, 21:09 - sem comentários aindaHá uns 20 anos atrás eu dava aula de alfabetização de adultos numa creche cravada dentro de uma favela perto de onde eu morava. Uma vez por semana eu ia lá dar aula. Provavelmente eu estava longe de ser um bom alfabetizador, mesmo nas aulas de matemática eu não era lá essas coisas. Tem gente que acha que dar aula é algo simples, que qualquer um faz, mas não é beeem assim. Mesmo assim, uma das situações mais emocionantes que eu já passei em sala de aula aconteceu lá.
A Vilma era uma mulher batalhadora, ia de bicicleta para o trabalho e fazia faxina uma empresa de alimentação. Ela foi se alfabetizar depois que seu filho que tinha se formado em engenharia dizia que ela era burra, pois nem sabia ler e escrever. Eu achei essa história bem triste e fiquei com ela na cabeça por dias até que eu lembrei da música do Milton Nascimento, chamada “Canção do Sal”. Depois eu coloco a música aí embaixo pra você ouvir, na mesma versão da Elis Regina que eu usei para levar na sala de aula. Mas em resumo uma das estrofes diz assim:
Trabalhando o sal pra ver a mulher se vestir
E ao chegar em casa encontrar a família a sorrir
Filho vir da escola problema maior é o de estudar
Que é pra não ter meu trabalho e vida de gente levar
Imprimi cópias da letra, arranjei um aparelho de som e fui eu lá para a minha aula. Ouvimos a música, trabalhamos as palavras chave, a leitura da letra, etc. Tive que explicar o que era uma salina, como se extraia o sal da água do mar, pois eles nunca tinham ouvido falar sobre isso. E de onde vinha a expressão de “estar no sal”. Sobre o quão sofrida é a vida de quem trabalha no sal.
E no final falamos sobre o trabalho duro que os pais fazem para que os filhos possam ter uma vida melhor, que possam estudar e ter uma vida digna. E claro, olhei pra Vilma e disse abertamente na sala de aula que ela não era burra. Pois uma pessoa burra jamais teria se empenhado tanto para oferecer a oportunidade que ela não teve para o próprio filho. Que o amor aos filhos, o sacrifício de todos os dias não pode tirar o orgulho deles de ter feito o melhor com o que tiveram. E se hoje eles estão estudando numa sala de aula de uma creche improvisada para adultos depois de um dia duro de trabalho, isso deveria ser motivo de maior orgulho ainda. Me curvei para a turma e disse que eu ali, tenho muito orgulho de todos eles e era uma honra para mim que tive a oportunidade de estudar, poder dividir um pouco do que eu aprendi com eles.
E essa turma chorou e se abraçou como nunca vi numa sala de aula na minha vida. Nunca me esqueci da Vilma, que pra mim é a cara do Brasil que eu acredito. Risonha, batalhadora e sofrida também. As Vilmas são as nossas verdadeiras heroínas anônimas do dia-a-dia.
CHAR para VARCHAR
16 de Dezembro de 2020, 1:48 - sem comentários aindaHá muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante… lá na era do COBOL, os dados eram armazenados de forma tabular e os dados eram armazenados em uma tabela onde cada coluna ocupava espaços fixos nessa tabela. Assim, o CEP ocupava a posição de 1 a 7, o número de 8 a 12, o logradouro de 13 a 33 e assim por diante. Quando criaram os bancos de dados relacionais foram criados, criaram tipos de dados para strings com tamanho fixo que funcionam de forma semelhante, o CHAR. Infelizmenteo CHAR armazena desnecessariamente espaços em branco e foi substituido posteriormente pelo VARCHAR que são strings com tamanho variável bem mais flexível e se tornou padrão.
Por motivos que não vem ao caso, muita gente ainda usa CHAR em bancos de dados. Vou demonstrar aqui de forma simples, como converter numa simples tabela um campo CHAR para VARCHAR pode economizar imediatamente 40% do espaço da tabela:
CREATE TABLE t (n integer, v char(100)); CREATE TABLE INSERT INTO t SELECT n, repeat('x',round(random()*100)::integer) FROM generate_series(1,1000000) n; SELECT * FROM t limit 10; n | v --+------------------------------------------------------------------------------------- 1 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 2 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 3 | xxxxxxx 4 | xxxxxxxxxxxxxx 5 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 6 | xxxxx 7 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 8 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 9 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx 10 | xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx (10 rows)
\dt+ t List of relations Schema | Name | Type | Owner | Size | Description -------+------+-------+----------+--------+------------- public | t | table | postgres | 135 MB | (1 row)
ALTER TABLE t ALTER v TYPE varchar(100); ALTER TABLE \dt+ t List of relations Schema | Name | Type | Owner | Size | Description -------+------+-------+----------+-------+------------- public | t | table | postgres | 83 MB | (1 row)
Como se vê, a tabela, mesmo sem índices, caiu de 135MB para 83MB. Agora eu montei um script rápido para listar as tabelas com colunas do tipo CHAR:
SELECT n.nspname, c.relname, a.attname, a.attnum, atttypmod FROM pg_type t JOIN pg_attribute a ON a.atttypid = t.oid JOIN pg_class c ON c.oid = a.attrelid JOIN pg_namespace n ON n.oid = c.relnamespace WHERE t.typname = 'bpchar' AND n.nspname NOT IN ('pg_catalog', 'pg_toast', 'information_schema') ORDER BY 1,2,3 ;
Por fim, montei um script para alterar todos os campos CHAR para VARCHAR, tomando o cuidado para alterar vários campos num único ALTER TABLE para não ter que reescrever tabelas mais de uma vez:
SELECT 'ALTER TABLE ' || n.nspname || '.' || c.relname || string_agg ($$ ALTER $$ || a.attname || $$ TYPE varchar($$ || a.attnum || $$)$$,',') || ';' FROM pg_type t JOIN pg_attribute a ON a.atttypid = t.oid JOIN pg_class c ON c.oid = a.attrelid JOIN pg_namespace n ON n.oid = c.relnamespace WHERE t.typname = 'bpchar' AND a.attnum > 1 AND n.nspname NOT IN ('pg_catalog', 'pg_toast', 'information_schema') GROUP BY n.nspname, c.relname ORDER BY n.nspname, c.relname ;
Vale a recomendação: teste antes de usar isso em produção!
Sem título
6 de Outubro de 2020, 0:57 - sem comentários aindaHá uns dias atrás eu li um post no Facebook daquelas poucas pessoas que eu conheço e admiro à distância. Nunca tive uma relação muito próxima, mas sempre acho que deveria. Enfim, admiro o trabalho e o posicionamento. Ele era “o cara que desenhava bem”. Fez mais de uma vez a capa do jornal do grêmio, que provavelmente fizeram muito mais sucesso do que o resto do jornal. Também fez o logo da nossa empresa, a Timbira, um trabalho pelo qual eu tenho um carinho enorme. Ele realmente manda muito bem. Enfim, nesse post ele discorre sobre os motivos pelos quais ele parou de desenhar. E isso me impactou de forma que eu não poderia prever.
Eis que hoje eu estava comentando na terapia como é bom poder voltar para a academia, mesmo com todos os cuidados, usando máscara etc e tal. Deixo aqui minha eterna gratidão ao pessoal da Equipe3, a academia que eu frequento que além de ser uma academia que eu consigo dizer que não detesto, montou um esquema de horário agendado, com espaço reservado, material de limpeza individual e descartável, etc, etc, etc. Chegar às 7h da manhã na academia definitivamente não é fácil. Tem dia que chove, tem dia que faz sol, tem dia que faz frio, tem dia que você quer que o mundo se phoda mesmo. Mas sair da academia é uma sensação incrível. O mundo fica mais leve. Depois de uns 2 meses a vida toda fica mais leve, mais flexível, e claro, eu perco peso. Mas a gente vive se sabotando. E sempre tem um bom motivo para faltar aquele dia, aquele outro, etc. Eu sei que me faz bem, mas é muito fácil parar. E a pandemia foi a desculpa ideal.
No começo da pandemia eu realmente fiquei com medo. E não foi só paranoia. Dia sim, dia não, ligava um cliente pedindo desconto. E vimos o nosso faturamento cair uns 40% de uma hora pra outra. O resultado é que eu parei com tudo que não era essencial, e nisso a academia foi a primeira a dançar. Além disso, minha relação com a academia é como São Paulo, quase todo mundo odeia e ama essa cidade. Bom, pra mim, é assim.
Foi um grande exercício para largar um emprego formal e acordar todos os dias e atender os clientes sem um chefe no cangote. Me dedicar a várias coisas da empresa como marketing, comercial, emitir notas, cuidar de contratos, etc e tal. Isso exigiu uma disciplina. Mas é uma disciplina meio imposta. Se não faz isso, morre na praia em menos de 6 meses.
Se você para de cuidar do seu corpo, você não morre em 6 meses, mas começa a sofrer e toda a sua qualidade de vida vai se perdendo, não importa o quanto sucesso você faça no trabalho.
Toda essa lenga-lenga, pra dizer que decidi voltar a escrever. Por puro prazer, por ser algo que eu gosto de fazer. Eu confesso que sou vaidoso com o que escrevo. Adoro ser lido. Eu escrevo para mim, mas escrevo para ser lido também. Podem me julgar. Mas além da preguiça que é o que me deixa muitas vezes longe da academia, eu tenho lá meus motivos para parar por tanto tempo…
- Ter uma empresa, boletos e participar de comunidades de software exigem uma postura mais neutra. Nesse clima de extremos no nosso país se acirrando cada vez mais, se você assume ardorosamente uma posição, você pode sacrificar o seu negócio, pode sacrificar também a sua posição como mediador na comunidade.
- Escrever muitas vezes tem a ver com experiências pessoais que eu acredite que são ricas para mim mesmo a ponto de querer compartilhar. Não tenho o menor saco de escrever texto motivacional e ficar costurando frases feitas. Ok, ok… eu sei. Eu uso chavão pra caraleo quando escrevo, mas para mim pelo menos é algo genuíno, é apenas um defeito de não saber expressar algo de forma mais original.
- Escrever artigo técnico é chato pra cacilda. Dá um puta trampo pra fazer lab, testar, documentar, etc. E honestamente, o ritmo de trabalho acaba me tirando um pouco desse pique no dia-a-dia. Espero que volte o pique, como quando a gente passa a frequentar a academia por mais tempo e sai fazendo as coisas com menos esforço, como se fosse algo natural.
Enfim, provavelmente não vou escrever nada que preste por um bom tempo, mas quero tentar escrever pelo menos uma vez por semana. Algo que faça sentido para mim. Eventualmente pode fazer sentido para você também, eventualmente pode sair algo bom. Mas por enquanto, quero apenas voltar a escrever. Quero poder conversar com as pessoas. Sinto falta gente. Sinto falta de vocês. E tá na hora de voltar a fazer o que a gente gosta, mesmo que dê trabalho. Eu gosto pacas do meu trabalho, fazer bancos de dados rodarem mais rápido é divertido sim. Mas escrever… escrever pra mim é uma experiência e tanto.
E você, o que acha de deveria voltar a fazer?