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27 de Maio de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Sobre a academia

28 de Janeiro de 2022, 19:35, por Savepoint - 0sem comentários ainda

Assisti hoje à banca de avaliação da tese de mestrado da nossa Diretora Executiva aqui na Timbira, a Ilustríssima Karin Keller, ou deveria dizer, Mestra Karin Keller. Apesar de eu não ter me enveredado na carreira acadêmica, sempre estive cercado de pessoas que estudaram muito e se dedicaram à pesquisa. Aí lembrei do impacto direto que isso teve na minha vida…

Quando eu tinha uns 11 anos meu pai estava escrevendo o mestrado dele, na Faculdade de Saúde Pública da USP. Além de sanitarista, ele era pediatra e dedicou a vida à pesquisa e combate à desnutrição infantil. Mas o curioso é que ele decidiu não escrever a tese de forma manuscrita e nem numa máquina de escrever. Então ele comprou um CP400, um brinquedo de 8 bits, mas que foi o suficiente para ele escrever a tese gravando em fita cassete! E claro, foi graças ao mestrado dele que a minha jornada na informática começou.

Anos depois, minha mãe escreveu sobre a experiência dela, na coordenação Movimento de Alfabetização de Adultos, projeto idealizado pelo Paulo Freire. Lembro que ela tinha dois empregos, um em São Paulo, outro em Santo André e ainda assim foi fazer o seu mestrado na UFF, em Niterói/RJ, viajando de ônibus toda semana para tocar o mestrado. Ficou claro para mim que escolher a UFF, mesmo com convites fervorosos de colegas da USP, foi um ato de coragem e sacrifício. E ao ver a sua defesa de mestrado, conhecer pessoalmente o orientador, ouvir as bancas, vi que se trata de estar onde é preciso estar. Lembro-me também do Euler Taveira, que se mudou de Goiânia para Porto Alegre para fazer mestrado em banco de dados, por motivo semelhante. E não se trata apenas de achar um bom orientador, uma cadeira que lhe acolha. É toda a vida universitária, os amigos, a convivência, a atmosfera do lugar. Minha mãe renasceu em Niterói.

Em comum as teses da minha mãe e do meu pai tinha algo que eu gosto muito de ressaltar na academia: relevância. Não foi um caminho da graduação para a iniciação científica, para o mestrado e doutorado, subindo a escadinha acadêmica e galgando as escadarias do poder das torres de marfim da academia. Quando você sai para ver o mundo, testa e vive coisas novas, e traz isso de volta para a academia, seu trabalho faz toda a diferença.

Assim é o trabalho da Karin Keller, minha mentora aqui na Timbira, que me ensina diariamente, me ouve e me dá broncas também! Depois de 15 anos como gestora na própria empresa e agora nossa Diretora Executiva, Karin vem trazer luz para a questão de gênero no entre as ‘startups’ brasileiras. Tema atual, relevante, e que ela respirou por vários anos na empresa que ela mesmo criou, a Klavo. Não vou me ater muito às questões técnicas da apresentação, nem vou arriscar fazer comentários toscos. Mas a banca deixa claro que há material ali para ir longe… portas que se abrem e muito o que se pode investigar.

E o todo esse trabalho de pesquisa e reflexão da Karin tem reflexo enorme na minha vida, na vida da Timbira. Todo esse arcabouço teórico e prático, toda essa reflexão aparece a cada reunião, em cada fala em cada ação. E assim vemos uma pesquisa acadêmica com “A” maiúsculo. Com relevância, impacto, e quiçá, com paixão. Se por um lado não me dediquei à academia, deixo aqui minha eterna admiração para aqueles que viveram a sua profissão, o seu conhecimento, a sua paixão na vida e trouxeram luz para ele, trouxeram à público e ousaram estudar, refletir e escrever. A contribuição dessas pessoas é um passo a mais, uma nova construção para a frase de Issac Newton:

“Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes”

Parabéns Karin, por ousar enxergar mais longe e se tornar, nesse processo, gigante também.



Contando histórias para pertencer – Gallipoli

11 de Janeiro de 2022, 14:03, por Savepoint - 0sem comentários ainda

De tempos em tempos alguma música me prende, escuto várias e várias vezes. Pesquiso, descubro de onde veio a inspiração, como foi gravado, procuro versões diferentes, etc.

Eu gosto muito do som instrumentos de sopro, clarinetas, oboés, sax, etc. Gosto particularmente dos metais e entre eles minha paixão atualmente é o trompete. A força que me evoca é algo viceral, é como o vento…

Esses dias uma nova música me pegou. Vem de um cantor talvez pouco conhecido, mas é um trompetista, com um timbre e estilo bem peculiar que me agradou muito. Não lembro em qual passeio pelo Spotify ele me surgiu. Mas me cativou nos últimos tempos… sei que cada pessoa lê uma obra de arte com a sua história, com seus sentimentos, com seu olhar. Gallipoli me conquistou. Na versão ao vivo abaixo temos 3 metais: o trombone, o flugelhorn (um trompete um pouco mais grave e suave) tocada pelo líder e vocalista da banda e o trompete propriamente dito.

A música surgiu durante um passeio na Itália chegando na cidade medieval de Gallipoli, hávia uma procissão saindo da igreja com padres carregando uma enorme imagem de um sando e uma banda rugindo atrás. De repente os sinos de todas as igrejas da cidade começam a tocar e a procissão avança pelas ruas estreitas das cidades com paredes de pedra de uma cidade costeira em forma de forte. O momento catártico dura horas e eles se perdem pela cidade e só se dão conta de onde estão novamente no dia seguinte. No mesmo dia o autor escreveu toda a música praticamente sem parar para comer. A entrada dos metais é triunfante e ao mesmo tempo compassada. A letra evoca muito o momento de vida em que estou. Nesse movimento de querer voltar a contar histórias, de pertencer a algum lugar no mundo.

We tell tales to belong
Or be spared the sorrow

You’re so fair to be behold
What will be left when you’re gone?

And it changed everything you know
How we were when the wonders who love
Southern land, scattered clouds from the cold
And, oh, oh, oh, spare me the glow



Sobre o vento

8 de Janeiro de 2022, 10:37, por Savepoint - 0sem comentários ainda

Sempre achei que em determinadas fases da minha vida tive uma forte proximidade com um dos 4 elementos: terra, água, ar e fogo. Acho que encerrei meu ciclo com a água e abri um novo ciclo, o ciclo do ar. O vento tem me chamado…

Se fosse para levar astrologia a sério, faria muito sentido, pois meu signo e ascendente estão desse elemento. Mas eu talvez prefira pensar em ciclos e significados. Passei um longo tempo envolto pela água em todas as suas formas. Do prazer de lavar a louça com água fria no calor, de sair na chuva, a força do mar, cachoeira que lava a alma, o rio em que não mergulhamos 2x, desacelerar na banheira, começar o dia com uma boa ducha, etc. Mas hoje, sei lá pq, quero voar… quero deixar reticências no final de todas as frases como a vida soprando junto com as ideias. Como sempre disse, com os dois pés firmemente plantados no ar.

Das lembranças mais antigas que tenho com o vento estão em pedalar. Pedalar tem toda uma relação com o vento, com a liberdade de ir pra onde quiser, de sentir o mundo sem molduras, sem esquadros. O vento pode ser cruel, pedalar contra o vento é phoda… mas pegar uma boa ladeira, tirar as mãos do guidão e sentir o vento no corpo… não tem preço! Fazer trilhas e admirar paisagens espetaculares do topo de uma montanha é também algo indescritível. Eu lembro de um tio que achava toda uma besteira esse negócio de ecoturismo…. o negócio dele era sentar no bar e beber bem com os amigos. Cada um na sua… o vento me chama!

E o apartamento para ser bom deve ter uma varanda, ficar num andar alto. A casa deve ter muitas janelas, sempre abertas. Sempre que possível, né? E quando cai aquele temporal, ficar ouvindo o vento zunindo nas janelas, as correntes de água bailando pelo ar.

Vento, liberdade, movimento, mudança!

“Pois vejo vir no vento o cheiro da nova estação”! Porra Belchior, nunca vou entender pra onde o vento lhe levou, mas que vista incrível você cunhou na nossa vida heim?

Não tenho clareza do caminho, sei dos muitos desafios, sei da neblina que se dissipa com a aurora de um novo ciclo. Sei que deu uma vontade de voltar a escrever, sabe?



Lá fora

28 de Abril de 2021, 23:24, por Savepoint - 0sem comentários ainda

O sol está se pondo
vontade de entrar no carro
ir pra lugar nenhum
bora?
sem destino
sem hora pra voltar
sem despedidas
sem planos
sem adiar a vida
sem boletos nem alarmes
sem nada pra provar pra ninguém
sem nada para conquistar
com desejo
com paixão
com vontade

sonhos
ideias
palavras
sorrisos
lágrimas
vento
sol
chuva
violão
lá fora
a noite já veio
e eu nem levantei da cadeira ainda
fome
cansaço
solidão
sonhos
até amanhã…
quem sabe?



Carta ao meu filho: “escolhas”

6 de Abril de 2021, 10:10, por Savepoint - 0sem comentários ainda

Abertura inglesa… vou ter que aprender essa pra poder acompanhar. Pra quem não sabe, jogamos xadrez on-line há algum tempo. A abertura inglesa pode não ser tão exótica como ele me disse depois, mas está longe de ser das mais comuns, saindo com o peão do rei ou mesmo o peão da dama. Eu diria que ele tem um certo gosto por coisas menos óbvias. Diria mesmo que ele tem gostos e predileções incomuns para muitos adolescentes da sua idade. Nunca assistimos jogos de futebol juntos na TV, ou falamos sobre os melhores carros, ou sobre os heróis dos filmes de ação. Vimos pica-pau juntos quando ele era criança. Documentários no Discovery Channel, fomos em parques, fizemos trilhas, coisas assim.

O gosto musical dele é só dele. Embalei ele ao som de Beatles quando era bebê, a mãe colocou muita música italiana pra ele durante toda a vida, mas ele curte música eletrônica mesmo. Perguntei para ele sobre o assunto esses dias. E ele conhece muito mesmo. Não apenas ouve, conhece a história recente, se empolga ao falar do assunto, me explica a evolução. É escolha dele. Escolheu deixar os cabelos crescerem. Escolheu o jeito de se vestir, escolheu os amigos, escolheu ficar em casa.

Sempre achei que uma das coisas mais difíceis na vida é fazer escolhas. Tive algumas bem difíceis no caminho. Sempre procrastinei minhas decisões difíceis. Não decidir é uma decisão também. Deixar que outros decidam por nós é uma decisão cômoda. Mas assumir o ônus de suas decisões e seguir em frente é sempre o melhor caminho pra mim. Meu pai foi diagnosticado com diabetes ainda muito novo, estava na faculdade de medicina na época. E ele decidiu viver plenamente, decidiu morrer cedo. E arcou com a sua decisão. Não deixou bens para trás, não viveu muito tempo, mas teve uma vida plena, muitos amigos, e me ensinou muito. Nunca vi ele reclamar pelos mais de 10 anos que o castigaram depois do infarto. Ele tomou uma decisão e seguiu em frente.

Eu gosto muito de uma frase que o dramaturgo Antônio Abujamra, dizia para o seu filho:

“A vida é sua, estrague-a como quiser”

Parece um tanto cruel, mas é plena de sentido para mim. Cometa os seus próprios erros, trilhe o seu próprio caminho e arque com as suas decisões. Decidimos todos os dias. Se vamos estudar, se vamos escutar música, se vamos dormir mais, se vamos fazer exercícios, se vamos comer salada, se vamos ler ou ver um filme. Escolhemos se vamos dar atenção para um amigo, se vamos continuar um relacionamento com alguém, se vamos embora mais cedo. Escolhemos todos os dias. Se ficamos ou se vamos.

Eu fiz muitas escolhas ruins. E agradeço por ter feito muitas dessas escolhas ruins. Escolhi que queria mudar o mundo aos 17 anos. E errei muito ao achar que poderia fazê-lo. Mas não errei sozinho. Ao decidir, ao ir em frente independente do que os demais pensavam, trilhei meu caminho e encontrei outras pessoas nessa jornada. São meus amigos até hoje. Aprendi muito com meus erros, de modo que não seria eu mesmo hoje se não tivesse errado tanto. Tentar acertar, se lançar ao mundo, aprender com os próprios erros ao invés de culpar apenas o mundo à sua volta é uma arte difícil.

Temos o livre arbítrio por um lado, mas ao mesmo tempo estamos no mundo, em um lugar específico, em um momento histórico, crescemos numa família com uma cultura, com uma herança. E nesse momento eu sempre lembro de “O 18 de brumário de Luís Bonaparte”, que tive o prazer de ler, dizia algo assim logo nas primeiras linhas:

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha, e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”

Lembre-se sempre disso filho. As escolhas são suas, mas as possibilidades foram traçadas antes mesmo de você pensar que elas existiam. Não se culpe pelo mundo em que você vive hoje. Mas faça o que puder para que ele não seja ainda pior com a sua existência. Plante. Colha. Floresça.

Não tenho moral para lhe dar muitos conselhos hoje. Escolhi a profissão em que me encontro hoje na semana em que você nasceu, com meus 27 anos. Eu era coordenador de um projeto de ensino profissionalizante com inclusão social na época. O projeto era vitrine na cidade e parece que eu não estava me saindo muito bem no meu trabalho. Me ofereceram outras opções e dentre elas eu escolhi ganhar menos e cuidar dos computadores que tinham por lá… já que eu “tinha facilidade com essas coisas”. E eu me dediquei muito para virar essa chave. Acho que se eu pudesse dizer algo de realmente útil aqui seria para fazer alguma coisa com paixão na vida. Pegue algo que goste e tente ser bom nisso. Se dedique de verdade. Faça o melhor que puder. Tente aprender com isso. Independente do que os outros digam. Sem se comparar com os demais. Apenas tenha paixão por algo. E se encante com o fruto do seu próprio trabalho. Nada mais gratificante do que ver algo seu tomar forma. Pode ser uma escultura, pode ser um texto, pode ser uma música, pode ser uma ideia. Mas gaste tempo com isso. Se dedique de verdade. A vida não faz muito sentido sem paixão. Se apaixone por si mesmo, por aquilo que tem potencial para fazer. Faça. Aconteça. E às pessoas ao redor irão lhe reconhecer não por aquilo que você fala, não por aquilo que você gostaria de fazer, mas por aquilo que você constrói ao seu redor. E as pessoas certas irão aparecer na sua vida, os caminhos se abrirão a partir desse ponto de partida.

E hoje é o seu grande dia. Estou aqui radiante e feliz de você fazer as suas escolhas hoje. Talvez as possibilidades não sejam aquelas que você queria. Talvez a pandemia o deixe triste. Talvez você ache que não foi tão bem como poderia. Mas é o seu momento. De errar, de acertar e decidir o que vai fazer nos próximos anos. Não se assuste, você tem o direito de errar como o filho do Abujamra, você não terá todas as variáveis na mão, como dizia Karl Marx, mas você trilhará o seu caminho, único, seu. E deixará pessoas para trás no caminho, e encontrará novas. Encontros e despedidas irão acontecer. Pessoas nascem e morrem todos os dias. Lembre-se sempre do que lhe ensinou a aeromoça no avião:

“Em caso de emergência, coloque a máscara em si mesmo antes de ajudar os outros”

Parece um tanto egoista, mas o egoismo nada mais é do que um instinto de sobrevivência, como a dor, que alerta que algo não está bem e requer a sua atenção imediata. Se você não se preservar antes dos demais, não terá oxigênio para ajudar os demais, e irá morrer junto com eles, e deixará todos morrerem em vão. Coloque a máscara primeiro em você mesmo. Você precisa pensar em si mesmo antes. Precisa tomar suas decisões pensando em si mesmo. Em onde quer chegar, sem medo de ser feliz. Sem medo de deixar os pais e amigos para trás. Trilhe o seu caminho. Eu estarei aqui para lhe apoiar pelo tempo que me for possível. E o farei porque pude cuidar de mim mesmo primeiro também.

Mas, uma vez que esteja bem, uma última coisa eu queria lhe dizer. O mundo é um lugar melhor se for um mundo melhor para todos, não apenas para você. Há quem não acredite em altruísmo genuíno, que ninguém faz coisas boas para o próximo, senão para aplacar as suas próprias dores. Que todo gesto de caridade é um gesto egoísta. Desculpe Pondé, mas você está absolutamente enganado. O mundo precisa do bem comum. Precisamos que não haja miséria para que todos tenhamos uma vida mais digna. A vacina não funciona se apenas algumas pessoas tomarem suas doses… Não basta prosperar por si e para os seus, se ao seu redor todos sofrerem terrivelmente. Não acredite que para vencer na vida você precisa pisar sobre os demais. Essa ideia de que existem vencedores e vencidos é uma ótima forma de se dirigir ao caos, à “guerra de todos contra todos”. Viver em sociedade é acreditar que precisamos de um espaço público bom para todos. Que as ruas devem ser seguras para todos, que todos devem ter boa educação e saúde, que todos devem ter um abrigo para dormir no final do dia. E só assim todos poderemos ter uma vida melhor. Acredite em situações onde todos ganham. Há anos estamos aqui trabalhando com “Software Livre”, ou “Código Aberto”. Não é uma escolha inocente. Não compartilhamos o conhecimento de forma inocente. É a nossa forma de contribuir para todos. É o nosso quinhão. Todos ganham quando dividimos. E todos crescemos.

Errei muito na vida filho. E continuo errando. Sei lá quantos erros cometerei hoje. Mas queria te dizer que te amo muito filho. Tenho muito orgulho dos seus erros e acertos. Estou aqui torcendo por você, espero que saiba que poderá sempre contar comigo. Mas hoje é o seu dia. Vai lá e faça as suas escolhas, sem medo, com coragem. E siga a sua vida.

Te amo muito mesmo, só queria lhe dar um grande abraço hoje. Obrigado por fazer parte da minha vida e dos meus erros.