A Wikipedia, maior enciclopédia virtual do mundo, quer facilitar o acesso de seus usuários de países emergentes, especialmente na plataforma móvel. O projeto Wikipedia Zero, anunciado no início de agosto pela Fundação Wikimedia, responsável pelo site, faz parte dessa iniciativa. O objetivo com o projeto é estabelecer parcerias com as operadoras de telefonia móvel para oferecer acesso gratuito ao conteúdo da Wikipedia por meio de um aplicativo para smartphones. O lançamento do app já ocorreu em 29 países e nos próximos meses deve chegar ao Brasil.
Carolynne Schloeder, diretora da área móvel da Fundação, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o projeto está em fase de negociação final com uma operadora brasileira, mas o desejo é poder trabalhar com todas.
A enciclopédia virtual foi fundada em 2001 pelo americano Jimmy Wales e sobrevive apenas com a doação de voluntários. O site ganhou força com os anos, passando a ser referência no mundo. O alcance é tanto, que recentemente um levantamento no Reino Unido mostrou que 64% dos ingleses confiam nos autores da Wikipedia, contra 60% que confiam nos jornalistas da BBC.
Mesmo com o excesso de confiança do público, casos recentes de alteração das informações para fins políticos, como aconteceu no Brasil e nos Estados Unidos, colocam a legitimidade das informações em xeque, expondo a principal fragilidade do modelo.
A Wikipedia permite diferentes capacidades de edição do seu conteúdo, todas abertas para os usuários. Entre os tipos de editor está o “anônimo”, qualquer pessoa que faça alterações em verbetes sem se registrar no site. Já com o registro é possível se tornar um editor “autoconfirmado”, que no Brasil é quem possui cadastro há, no mínimo, quatro dias ou também “administrador”, com poder inclusive para trancar páginas.
As alterações no conteúdo, no entanto, seguem regras específicas que visam diminuir a inclusão de informações duvidosas e o vandalismo em determinadas páginas. Para isso, por exemplo, alguns verbetes são trancados pelos administradores como George W. Bush, Dilma Rousseff e Lula.
Os editores e administradores, além de adicionar conteúdos, também monitoram o site em busca de edições maliciosas. Segundo Stevie Benton, chefe de relações exteriores da Wikipedia no Reino Unido, a quantidade de vandalismo nas páginas da enciclopédia é chocante, no entanto, este tipo de edição costuma ser removida em minutos graças à comunidade em torno do site.
Atualmente, são cerca de 1.500 editores ativos editando páginas em português e 38 mil usuários cadastrados. Existem na Wikipedia 835 mil páginas em português, número discreto se comparado com as mais de 4 milhões de páginas em inglês.
A enciclopédia tem buscado soluções para dar mais confiança ao seu conteúdo, como as regras que só permitem que uma página seja criada caso haja relevância e notoriedade, além de que, no caso de conflito de interesses, um único editor não pode modificar a página inteira.
Para evitar a edição de páginas com interesse próprio, recentemente o site modificou seus termos de uso, obrigando usuários que são pagos para editarem conteúdos a revelarem essa informação.
Como parte desta tentativa, um grupo de onze assessorias de imprensa estrangeiras assumiu publicamente um compromisso em não alterar as informações de seus clientes na Wikipedia. A própria comunidade tenta frear essas práticas identificando padrões de edições semelhantes em um determinado espaço de tempo.
Outra mudança que atingiu a Wikipedia foi a lei europeia conhecida como “direito ao esquecimento”, onde o cidadão pode pedir que suas informações sejam deletadas da internet. Ao menos dez páginas da Wikipedia foram retiradas do ar a pedido dos usuários. A brasileira Ana Toni, participante do conselho curador da Fundação Wikimedia, afirmou ser contra a lei e defendeu a liberdade de expressão, assim como o uso da Wikipedia para fins educacionais.
Com informações do Canaltech.
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