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Alguns aspectos estratégicos computação em nuvem

16 de Outubro de 2010, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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A possibilidade da utilização efetiva da Informática como tecnologia passa necessariamente pela compreensão de sua instrumentalização e aplicação na vida cotidiana, mas algumas atividades parecem distantes ou mesmo opostas, como a de uma educação ainda excessivamente identificada com a aprendizagem mediada pela leitura e pela escrita, e de uma cultura que tende a desconfiar da tecnologia, que parece ameaçar a própria condição humana.
Até aqui, a ênfase tem sido a das aplicações de origem comercial, mas é óbvio que qualquer rede complexa de relacionamento social, como as redes sociais e culturais, precisam considerar suas possibilidades de incorporação dos formatos da computação em nuvem e localizá-la no conjunto dos recursos tecnológicos disponíveis.

Desde os anos 70, quando o conceito de computação em nuvem surgiu, começou-se a definir um espaço virtual ‘sem dono e sem fronteiras’ onde circulariam software e informações que poderiam ser acessadas por qualquer usuário: o cloud computing, definido como um modelo no qual a computação (processamento, armazenamento e softwares) não está no computador que estamos usando, mas em algum ponto remoto, acessado via internet.

De um lado, essa tendência de arquitetura informacional significa que boa parte das funções de TI não serão mais ‘responsabilidade’ dos usuários finais, e que as redes de computadores poderão, finalmente, ser simplesmente ‘usadas’. De outro, concretiza-se uma das maiores anti-profecias da história da tecnologia: se houve um tempo em que não se pensaria em mais que cinco ou seis computadores para suprir as necessidades do mundo inteiro, hoje torna-se possível imaginar que estamos todos passando a ter supercomputadores em casa, a custos cada vez mais baixos.

É importante lembrar, porém, que os possíveis beneficiários da computação em nuvem não se restringem aos usuários domésticos e às empresas de tecnologia (como o Google, por exemplo) e serviços comerciais (como a Amazon).

Alguns dos espaços mais estratégicos para a sua utilização talvez sejam o das diversas figuras jurídicas associadas aos poderes públicos, e aos órgãos e instituições não-governamentais, mas não seria possível falar sobre todos num único artigo. Por hora, apontaremos apenas algumas questões para evidenciar o valor estratégico da computação distribuída em sistemas educacionais e redes de produção e difusão cultural.

Um dos primeiros pontos a se ressaltar provavelmente será o diminuição de custos com manutenção e melhor aproveitamento dos investimentos em hardware. Num ambiente de escalas tão monumentais quanto o da educação brasileira, por exemplo, qualquer economia na aquisição de equipamentos e serviços pode gerar fundos para melhoria de infra-estrutura e qualificação da mão-de-obra dos professores e técnicos para a utilização dos recursos disponíveis.

Gastando-se menos com máquinas e software, por exemplo, fica mais fácil ampliar os investimentos públicos para solucionar certos pontos delicados do desenvolvimento da tecnologia, como a estabilidade do armazenamento e a proteção aos dados restritos (por exemplo os dados administrativos e jurídicos das escolas) e sigilosos (como projetos, avaliações de alunos e instituições, etc.) dos sistemas públicos de educação e cultura.

Assim, por exemplo, como os sistemas e redes das empresas precisam suportar a demanda dos períodos de pico em vendas – como o Natal – as unidades de serviços educacionais e culturais precisam atender a picos de processamento (em períodos de matrícula, fechamento de pautas, geração de avaliações e estatísticas educacionais, realização de festivais e encontros culturais etc.), demandando uma estrutura que não teria porque ser mantida no decorrer do ano letivo regular.

Uma outra grande potencialidade da nuvem é a da atualização das configurações e disponibilização de recursos computacionais sem a interferência na rotina do usuário final, como costumam fazer, por exemplo, sistemas como o Gmail, Yahoo ou Hotmail.

Especificamente no campo da Educação, há uma série de regulamentações a serem estabelecidas, regulamentações para as quais a consideração sobre as diversas licenças de direitos autorais e difusão desenvolvidas nos últimos anos devem ser tomadas como um necessário ponto de apoio. É preciso estabelecer protocolos e procedimentos para oferecer segurança e confiabilidade aos gestores públicos e aos cidadãos.

Talvez não estejamos ainda dimensionando o quanto será importante no futuro (no presente?) o desenvolvimento de soluções em software livre para mediar – ou, mesmo, viabilizar – a integração dos dados e serviços das redes e sistemas educacionais e culturais. Por sua própria natureza e diversidade, a educação e a cultura precisam recorrer a recursos que garantam sua mobilidade, flexibilidade e legitimidade, recursos que não sejam de ninguém em particular, mas que ao mesmo tempo sejam de todos.

Pessoalmente, senti muita, mas muita necessidade mesmo de um sistema em nuvem no início da implementação do Programa Nacional de Cultura Cultura Viva, mantido pelo MinC e em atividade desde 2004. A falta de estratégias para ajudar os participantes a organizarem seus processos de gestão e de um sistema eficiente de relacionamentos quase puseram a perder um dos mais importantes programas de fomento à cultura das últimas décadas.

Chegou-se a criar um sistema baseado em Drupal, mas na prática ele nunca venceu o estágio Beta, e ao que parece foi abandonado. Hoje o MinC está experimentando o WordPress para desenvolver seus blogs institucionais, e certamente os grandes volumes de dados algum dia estarão (já estão?) circulando em data centers.

O que temos aí, claro, é apenas a ponta do iceberg, sua face mais evidente e nítida. A neutralidade da lógica do software livre torna-o um candidato natural para a concepção, desenvolvimento e implementação de estratégias e soluções que aprimorem e garantam os direitos civis. A natureza coletiva – e portanto necessariamente pública – da produção de software livre praticamente exige que ele se envolva e participe do desenvolvimento de ferramentas educacionais não apenas para ensinar, mas também para processar e distribuir dados e estatísticas que possam ajudar a dinamizar a vida administrativa e pedagógica das escolas públicas e privadas.

Ainda que não se possa impedir a participação das empresas transnacionais de tecnologia no processamento (na ‘manipulação’) de dados estratégicos, os ativistas do software livre parecem assumir cada vez mais a função de construir aparatos jurídicos e gadgets de monitoramento e validação dos dados dos sistemas educacional e cultural (assim como o dos outros sistemas, como o da Saúde, da Habitação…), enquanto cabe aos ativistas sociais e culturais promover a avaliação qualitativa desses dados, confrontando quando necessário com o poder público e com a sociedade.

Aliás, a criação de ‘sensores’ para acompanhar ‘em tempo real’ o comportamento da máquina pública seria uma outra contra-profecia genial da informática: ao invés de haver (apenas) um BigBrother acompanhando o que cada cidadão faz em sua vida pública e privada, o ativismo SL pode permitir que a computação em nuvem trabalhe para monitorar os dados e ações daqueles que nos vigiam. Atualmente, se há alguém que precisa de um Big Brother, é exatamente o Estado…


O artigo “Alguns aspectos estratégicos computação em nuvem” foi escrito por Orlando Lopes e publicado originalmente na edição nº 1 da Revista Espírito Livre.

Para ter acesso a este e outros artigos na íntegra, não perca tempo e baixe a edição nº 1 da Revista Espírito Livre ou as outras edições gratuitamente aqui no site oficial da revista.


Fonte: http://www.revista.espiritolivre.org/?p=751

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