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Aracele Torres: Estaríamos obcecados pelas redes sociais?

6 de Agosto de 2012, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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As redes não são novidades da era da internet, os indivíduos sempre se aglomeraram em comunidades orientadas por interesses comuns e afinidades. Mas embora precedam o boom da internet, as redes só depois deste ganharam um papel central na nossa sociedade, tornando-se uma de nossas principais formas de organização. Não por acaso muitos estudiosos descrevem nossa sociedade como a sociedade da/em rede. O sociólogo Manuel Castells é um exemplo disso. Escreveu, inclusive, uma extensa obra intitulada A sociedade em rede, onde aborda a revolução tecnológica ocorrida no final do século passado e que teve/tem importantes implicações na nossa organização social. Poderia citar também Yochai Benkler, um professor de direito, estudioso das redes, que através de suas obras, em especial o livro The Wealth of Networks, faz uma leitura da sociedade atual como sendo caracterizada pela network information economy.

Mas, mesmo que você não tenha lido nenhum desses estudiosos citados acima, ou qualquer outro que aborde o tema, não seria dificil constatar a onipresença das redes no nosso dia a dia. E se falarmos de redes sociais a coisa fica ainda mais evidente. As redes sociais praticamente dominaram a internet nos últimos anos. 1 de cada 8 pessoas no mundo possuem facebook. São 955 milhões de contas no facebook e meio bilhão no twitter. O fascinio por essas redes só parece crescer à medida em que elas crescem, ficam mais sofisticadas, oferecem cada vez mais serviços novos.

Mas o que tem preocupa muita gente é o tempo gasto pelas pessoas nessas redes: de cada 5 minutos gastos online 1 é gasto nas redes sociais. Essas informações vem de um infográfico criado pela Psychology Degree e revelam pelo menos duas coisas: estamos nos expondo cada vez mais nessas redes e estamos gastando cada vez mais tempo com elas. Os resultados deste infográfico também levantam uma questão importante: Estaríamos obcecados pelas redes sociais ou estaríamos no fundo obcecados por nós mesmos?

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A pergunta se justifica pelo fato de que estamos nos expondo muito e essa exposição talvez não seja necessariamente uma demanda das próprias redes, mas uma demanda narcisista nossa, já que  80% do que é postado nas redes sociais diz respeito ao individuo que está postando. O que o gráfico sugere é que pessoas com altos niveis de narcisismo ou baixos níveis de auto-estima gastam mais de uma hora por dia no facebook.

Esse fenômeno de exposição exagerada e/ou narcisista que caracteriza as redes sociais se encarado por outro viés poderia ser entendido, por exemplo, como parte daquilo que compõe o sujeito pós-moderno. Ou mesmo como parte daquilo que compõe a sociedade do espetáculo, tão anunciada por Guy Debord. Talvez não sejam as redes que nos tornam performáticos, adoradores do espetáculo, mas nós que atribuimos a elas esse caráter.

A performance, como defende o psiquiatra Joel Birman, seria aquilo que define o nosso lugar social no mundo de hoje. O indivíduo de hoje é essencialmente performático. Isso diria muito sobre nosso comportamento nas redes sociais, toda a necessidade de nos exibir e falar do que é intimo e do que provavelmente em outras circunstâncias não seria de interesse público. Reforçando o que afirma Birman, Gilberto Dupas* completa o argumento com a ideia de que não seria a toa que as grandes doenças que nos atingem hoje e as quais a psiquiatria tem dedicado muitos estudos são aquelas onde a performance falha: “a depressão (o sujeito trancado em si mesmo) e a síndrome do pânico (o sujeito que não consegue estar num contexto em que a exibição de sua performance é requerida).”

Essa discussão também nos leva a outro ponto importante que envolve a performance, a privacidade. Ela que nesse ambiente da rede é ao mesmo tempo almejada e desprezada. Nunca quisemos tanto ter nossa privacidade preservada assim como nunca nos expusemos tanto quanto. É irônico e problemático. São duas faces da mesma moeda, implicações da cultura da rede que se apresentam a nós como enigmas a serem decifrados, questões a serem contornadas sob pena de nos perdemos nas armadilhas que nós próprios criamos. A rede não é ruim ou boa, as redes sociais não são ruins ou boas, como qualquer outra ferramenta que usamos, os usos que atribuiremos a elas é que determinarão se estamos indo num caminho saudável, do ponto de vista da privacidade e tudo mais, ou se estamos nos sabotando.

* No livro “Ética e poder na sociedade da informação”. Citação retirada das páginas 53-54.


Fonte: http://cibermundi.wordpress.com/2012/08/06/estariamos-obcecados-pelas-redes-sociais/

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