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Tiago Bortoletto Vaz: Sobre a tal sorte moral

13 de Outubro de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Sabe quando você não confia em alguém mesmo que suas ações, seu ativismo, seu discurso, enfim, toda sua vida esteja aparentemente dedicada a uma causa que também é aquela que você defende? Em determinadas circunstâncias fica evidente que ali está uma máscara pronta pra ser lançada ao longe na primeira oportunidade. São aqueles sujeitos que por mais esforço que empenhem não conseguem travestir suas reais ambições. O herói que brinca de salvar o mundo e conquista a confiança alheia, até chegar a tão esperada oportunidade de “salvar-se no mundo”.

Mas não são desses que quero falar. Me inquietam aqueles que realmente não me dão motivos racionais para desconfiança, senão pela orelha em pé cultivada por um tipo de heurística completamente instintiva (paranóica?) que no meu caso vem evoluindo nos últimos anos.

Vejo-me então diante de um conflito ético, permito julgar (mesmo em silêncio) o cidadão que nada fez para me afetar, e que adicionalmente consegue resultados positivos no que acredito ser socialmente justo e necessário.

Não. Não vou mudar, até porque tenho acertado nas minhas previsões. Continuerei em conflito, em silêncio, até que o suspeito levante a mão e se entregue, quando condenado à sua própria sorte moral.

Sobre o assunto eu acho que vale a reflexão de alguns trechos do livro “Filosofia – Novas Respostas para Antigas Questões”, de Nicholas Fearn. Como eu disse em outros posts, a leitura tem me ajudado a perceber que nem sempre estou sem a razão :) e gosto de compartilhar quando isso acontece:

“Está na natureza dos deveres exceder muitas vezes seu alcance inicial, e podemos nos ver em situações morais difíceis. Ao aceitar a sorte moral, ao aceitar responsabilidades que não buscamos, somos capazes de exibir virtudes que de outro modo não seriam exercidas.”

“A má sorte envolvida não é aquilo que afeta nosso caráter moral, mas o que torna nosso caráter inferior transparente para os outros.”

Penso que o trecho a seguir é bastante relacionado à auto-estima por vezes exacerbada dos cidadãos de países desenvolvidos:

“Um dos muitos luxos que os cidadãos do rico Ocidente podem se proporcionar é um senso moral extremamente desenvolvido. Não há necessidade de declarar “cada um por si” quando todos os homens recebem alimento, abrigo e segurança por direito nato. Com os benefícios das garantias de propriedade e da soberania da lei, juntamente com a ausência de malária, de fome e de mortalidade infantil elevada, as pessoas nos países desenvolvidos foram poupadas da necessidade de roubar pão, subornar fiscais tributários e cometer assassinatos em lutas de guerrilha contra forças governamentais ou exércitos rebeldes. Podemos nos permitir até “luxos morais” como dietas vegetarianas de alto teor protéico e instituições para o bem-estar dos animais que inspiram riso ou descrença em grande parte do Terceiro Mundo. É óbvio que não deveríamos nos sentir excessivamente orgulhosos por evitar atos criminosos que não temos necessidade de cometer. [...] De maneira semelhante, é possível que as pessoas da Grã-Betanha fossem do tipo que trancafiaria os judeus em campos de concentração assim que os alemães assobiassem. Contudo, em vez de testar apropriadamente as circunstâncias, devemos lhe dar o benefício da dúvida. Não pode haver a mesma concessão no caso das populações da França e da Alemanha, porque elas foram postas à prova e se mostraram aquém das expectativas.
Seria Absurdo acusar pessoas por coisas que não fizeram, como colaboração, assim como seria absurdo sustentar que os que cometeram esses atos não deveriam ser considerados responsáveis por eles, mas é isso que qualquer negação da sorte moral acarreta.”

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Fonte: http://tiagovaz.wordpress.com/2009/10/13/sobre-a-tal-sorte-moral/

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