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Nelson Pretto

8 de Junho de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Fator "uaauu"


Nelson De Luca Pretto - professor associado da Faculdade de
Educação/UFBA e visitante da Universidade Trent,  Nottingham,
Inglaterra. www.pretto.info

A crise da educação é
tema constante em todos os países. Todos reclamam dos baixos
índices de aprovação, da violência nas
escolas, dos sistemas de avaliação que não dão
conta dos desafios contemporâneos, da universidade que não
prepara para o mundo profissional tampouco para a vida. Mas essa é
uma crise anunciada, uma vez que pesquisas realizadas há muito já a vislumbravam.
Na Inglaterra, a situação é dramática neste
final de ano letivo (o verão começa agora em junho). Os
dados apontam uma crise sem precedentes no que diz respeito à
empregabilidade dos alunos que agora estão se formando.
Recente pesquisa realizada pela "Chartered Institute of
Personnel and Development" anunciou que 50% dos empregadores
entrevistados não estão pensando em contratar recem
graduados. Em função da gravidade da situação,
o professor David Blachflower, até recentemente membro do
comitê monetário do Banco da Inglaterra, alertou o
governo para o que considera o maior desafio atual do país,
o "desemprego da juventude".
No âmbito
do ensino básico inglês, o que aqui e acolá se vê são
projetos  e políticas públicas que buscam - sem
sucesso, com os números indicam - transformar a educação
e criar algum tipo de motivação (não gosto dessa
palavra, mas ela costumeiramente é usada nesse contexto) para que a juventude permaneça na escola. Foi proposta recentemente a
redução do número de áreas de
aprendizagem de 13 - as áreas mais tradicionais, tais como
ciências, biologia, história, etc. - para
seis áreas de maior abrangência. O interessante dessa
proposta é a introdução, de forma explicita, do
uso das tecnologias de comunicação, a exemplo dos
blogs, twitter, orkut e todos os demais elementos da chamada mídia contemporânea. A proposta, a ser
implementada até 2011, propõe  áreas de
aprendizagem mais amplas, tais como compreensão do Inglês,
comunicação e linguagens, compreensão científica
e tecnológica, compreensão do humano, social e
ambiental, entre outras. A  confusão já está
estabelecida, com reclamações de todos os lados, pois, como já estamos lamentavelmente acostumados na
educação, tal proposta foi pouco discutida, segundo os sindicatos docentes. A
própria mídia, que tem tratado muito da educação,
termina polarizando o debate entre, por exemplo, se é
importante ensinar Twitter ou Segunda Guerra Mundial e, claro, isso
tem um grande efeito sobre os pais e a população. Evidentemente
esse não é o ponto central e, como de costume,
uma cortina de fumaça cai sobre a importância de
discussões mais profundas sobre a educação.
Por
outro lado, a proposta inglesa se reporta à necessidade de um "currículo
criativo", o que para mim é uma redundância, uma
vez que tanto currículo como escola têm na criatividade
e na criação seus elementos mais fundamentais. Chegam a
cogitar de inserir um "fator uaauu" (wow factor) no
currículo, como elemento de impacto nas escolas, para "prender" a atenção das
crianças e jovens. Também essa é uma antiga
discussão, pois não estamos aqui a falar de espetáculos,
onde os estudantes precisam ser "motivados" e o professor
tem que ser um ator - de preferência cômico, como em
muitos dos nossos cursinhos de vestibular - para que os alunos
possam "apreender" os assuntos. Educação é
muito mais do que isso. Educação é diálogo
permanente e aqui, quando falamos em diálogo, tratamos deste em pelo
menos dois níveis. Um no âmbito das escolas e outro no
âmbito das famílias. Nestas, essa prática, que deveria ser constante, em muitos casos praticamente deixou de
existir, seja pela enfraquecimento da família enquanto espaço de diálogo, seja pela própria inexistência desta.
Um intenso e permanente diálogo é
conversa que flui, é um verdadeiro jogo de ir e vir, de ouvir
e falar, de ceder e conceder. Mas é também o
exercício da autoridade - não do autoritarismo - nos
momentos necessários.
Um outro diálogo é
aquele entre o conhecimento que cada um traz de sua realidade e experiência de vida com a Ciência e a
Cultura, estas com "c" maiúsculo mesmo. Mas não
como uma imposição destas sobre as demais ciências,
saberes, conhecimentos e culturas, aqui todas em minusculo e no
plural. A busca por essa convivência permanente entre
diferenças, conhecimentos e saberes constitui-se no movimento
central para a preparação dos jovens para o mundo. E
quando falamos em mundo estamos a nos referir também ao mundo do
trabalho, mas não só a este. Falamos de um mundo que
ainda nem sabemos como vai se configurar no futuro.
Aqui, temos que retomar a minha preferida questão: o
fortalecimento do fundamental papel dos professores nas escolas, este sim, seguramente, o verdadeiro "fator
uaauu".


Uma versão ligeiramente reduzida foi publicada no jornal A Tarde, de 08.06.2009, página 03. Enviado para Terra Magazine.



Fonte: http://nelsonpretto.livejournal.com/45383.html

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