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Gabriel "Pnordico" Menezes: GNU? Linux? Hã? – Parte 01 – Projeto GNU

11 de Outubro de 2011, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Originalmente publicado em: http://comunidade-linux-brasil.info/content/view/154/1/

Hoje daremos início a uma série de textos que tratam sobre a história do passado, do presente e do futuro do software livre e do sistema operacional GNU/Linux. O objetivo destes textos é trazer para o nosso idioma fatos importantes da história deste grande universo que é a computação, ainda que o idioma não seja a maior das barreiras a ser ultrapassada. Com isso buscamos evitar que sejam proferidas falácias e inverdades como, por exemplo, “software livre é coisa de comunista” ou “o linux é um sistema operacional desenvolvido por Linus Torvalds em 1991″, entre muitas outras.

GNU

O primeiro post desta série conta a história do Projeto GNU, que trouxe à vida o sistema operacional GNU/Linux, e sua relação com o a definição do “software livre” e a criação da Free Software Foundation. (Clique em “Continue Lendo”)

O Projeto GNU
Tudo começa a partir do desejo “teimoso” da comunidade hacker1 do laboratório de inteligência artificial do MIT (Massachusetts Institute of Technology) de agregar funcionalidades (trazer melhorias) a alguns dos programas por eles utilizados e da própria natureza desse laboratório em compartilhar, ainda que informalmente, os códigos de suas próprias aplicações, buscando sempre um modelo de desenvolvimento colaborativo em uma comunidade fundamentada na cooperação.

Com o passar do tempo e a dissolução dessa comunidade na década de 80, um dos hackers decide buscar maneiras de reestabelecer uma comunidade nos mesmos moldes, buscando as formas pelas quais um programador poderia praticar o bem, questionando-se: Que tipo de software poderia ser criado de modo a tornar essa comunidade possível?

A resposta foi clara: um sistema operacional – software crucial para começar a utilizar computadores. Com um sistema operacional é possível fazer muito; sem um, pouca coisa pode ser feita.

O responsável por esse questionamento e por sua resposta foi o hacker Richard Matthew Stallman, que julgou-se capaz e aceitou o próprio desafio, tendo em consciência que seu sistema operacional seria compatível com o UNIX, de modo que fosse portável e de fácil migração, batizando-o então de “GNU”, um acrônimo recursivo2 que significa “GNU is Not Unix” (“GNU não é Unix”). Stallman também sabia que um sistema operacional não é apenas um punhado de código porcamente capaz de rodar algumas aplicações, pois na época um sistema operacional que se prezasse incluia comandos de processador, assemblers, compiladores, interpretadores, debug, editor de texto e muito mais, todos os sistemas operacionais da época possuiam isso, o UNIX possuia isso e o GNU também deveria possuir.

1 O termo hacker remete a indivíduos dedicados às mais variadas atividades como desenvolver software ou com gosto por piadas e jogos de esperteza. A atribuição do termo hacker exclusivamente a indivíduos dedicados a “quebrar a segurança” de sistemas é uma deturpação causada pela desinformação das mídias de massa.

2 “acrónimo (acro- + -ónimo) s. m. Ling. Palavra formada com as letras ou sílabas iniciais de uma sequência de palavras, pronunciada sem soletração”. É dito recursivo quando o próprio acrônimo é referenciado em sua expressão.

O Software Livre
Ainda na década de 70, no laboratório do MIT, ainda que o termo “software livre” não existisse, era dessa forma que os programas eram desenvolvidos e distribuidos. Pessoas de outras universidades ou companhias que desejassem portar e utilizar algum programa, possuiam a permissão para fazê-lo. Se alguém estivesse algum programa diferente e interessante, era possível pedir para ver o código fonte, estudar, modificar, utilizar ou até mesmo usar suas partes para compor um programa novo. Isso não era possível nos grandes sistemas operacionais da época, alguns, inclusive, demandavam a assinatura de um acordo de confidencialidade até para a obtenção de uma cópia executável.

Atualmente o termo “software livre”, do inglês “free software” é comumente confundido com “software grátis” – o que nem sempre é verdade. O software livre está relacionado à sua liberdade e não ao seu preço, por isso é comum neste universo ler/ouvir as expressões “It’s about freedom” ou “free as in freedom”, indicando que o termo free está utilizado no sentido de “livre” e não necessariamente “grátis” devido a ambiguidade do termo free do inglês.

Enfim, o programa é considerado software livre se respeitar o seguinte:

A liberdade de executar o programa para qualquer propósito;
A liberdade de modificar o programa de acordo com suas necessidades;
A liberdade de redistribuir cópias, gratuitamente ou não;
A liberdade de redistribuir as versões modificadas do programa, de modo que a comunidade possa usufruir de suas melhorias.

O Sistema Operacional GNU

O desenvolvimento de um sistema operacional é uma árdua tarefa e um grande projeto. De modo a torná-lo possível, sendo também software livre, foram utilizados partes de outros softwares livres para compor esse sistema operacional, como o TeX para formatador de textos; posteriormente o X Windows System base para a interface gráfica, poupando-se o trabalho de escrever esses programas.

Em janeiro de 1984, Richard Stallman pediu demissão do MIT e começou o desenvolvimento do GNU. Pouco depois de ter começado, ele ouviu falar sobre o “Free University Compiler Kit”, chamado VUCK. O compilador era multilinguagem, suportando inclusive C e Pascal, e Stallman escreveu para o desenvolvedor, perguntando se ele poderia usar o VUCK como parte do GNU. A resposta foi um incisivo “não”, esclarecendo que o “Free” do compilador se referia à Univerdade (“Free University”) e não ao compilador (“Free Compiler Kit”). Dessa forma ficou definido que o primeiro programa da plataforma GNU seria um compilador multiplataforma e multilinguagem.

Evitando a necessidade de escrever o compilador do zero, foi obtido e utilizado o código fonte do compilador multiplataforma Pastel, uma extensão do Pascal, sendo modificado e adicionado o suporte à linguagem C. O compilador de Pastel possuia alguns problemas em seu código, então ficou decidido que seria necessário, de fato, escrever um novo compilador do zero, sendo esse compilador conhecido hoje como GNU Compiler Collection (GCC). Antes do desenvolvimento do GCC foi lançado do GNU Emacs para editor de textos, sendo considerado o primeiro programa lançado pelo projeto GNU e o precursor da distribuição (paga) do software livre.

Com o crescimento do interesse no GNU Emacas e no software livre (SL, pra simplificar) culminou na fundação da Free Software Foundation (Fundação do Software Livre – FSF), em 1985, fundação de apoio ao desenvolvimento do software livre, sendo mantida inicialmente através da venda de software livre (CD/Fita com códigos fonte, CD/Fita com binários, documentação, todos respeitando as 4 liberdades). Atualmente a FSF é mantida através de doações e da venda de manuais, livros, camisetas, entre outras coisas.

A FSF tornou-se responsável por desenvolver e manter os programas do projeto GNU a exemplo do GCC – compilador C; da GNU C Library (glibc) – biblioteca C; do Bourne Again Shell (Bash) – shell; do GNU Emacs – editor de texto; do GDB – debugger; do GNU Make; sempre almejando o desenvolvimento de um sistema operacional completo e não apenas ferramentas ou um mero ambiente de desenvolvimento.

Como cada componente do GNU foi desenvolvido independentemente sobre plataforma UNIX, foi possível realizar sua distribuição antes mesmo da conclusão do projeto GNU, permitindo a grande popularização desses programas, aumentando a quantidade de colaboradores e doadores.

A Licença
O objetivo do projeto GNU não era apenas ser popular, mas garantir as liberdades de executar, copiar, modificar e distribuir o programa. A forma utilizada para garantir essas liberdades é utilizar a própria regulamentação de direitos autorais (Copyright ©) de forma “reversa”: ao invés de restrigir, a licença foi utilizada para permitir – não permitindo que outras restrições sejam aplicadas e garantindo que as versões modificadas também sejam abrangidas. A essa “reversão” das leis de direitos autorais (Copyright) é dado o nome de Copyleft. A implementação do copyleft utilizada pelo projeto GNU é de autoria do próprio projeto e recebe o nome de GNU General Public Licence (GNU GPL). Outras licenças também são utilizadas em situações específicas dentro do projeto GNU, como em documentações, mas a grande maioria dessas licenças são variações da própria GNU GPL.

O Kernel
Em meados de 1990 o sistema operacional GNU estava quase completo, faltando apenas um de seus principais componentes: o kernel. Surge assim o GNU Alix, que posteriormente passou a se chamar GNU Hurd, o kernel do sistema operacional GNU.

O GNU Hurd não está pronto e nem é possível dizer se algum dia estará. Entretanto, em 1991, um finlandês chamado Linus Torvalds desenvolveu um kernel compatível com o UNIX e batizou-o Linux. Em 1992 o Linux foi lançado como software livre que combinado ao ainda não tão completo GNU formou um sistema operacional completo.

Essa versão do sistema operacional é chamada GNU/Linux, ressaltando sua composição através da agregação do sistema operacional GNU com o kernel Linux.

Conclusão
Este texto buscou contar um pouco da história do surgimento do software livre, do projeto GNU, da FSF, do GNU/Linux motivado pela necessidade de documentar, em língua portuguesa, esses importantes fatos na história da computação e do mundo.

Ao ler seu conteúdo, é possível evitar afirmações do tipo “o Linux é um sistema operacional criado pelo Linus Torvalds”, pois sabemos que o Linux é o kernel desenvolvido pelo Linus Torvalds que foi incorporado ao sistema operacional desenvolvido pelo projeto GNU implementado em sua versão chamada GNU/Linux, sendo seu desenvolvimento encabeçado por Richard M. Stallman, tendo como entidade responsável a Free Software Foundation (FSF). É válido ressaltar também que o nome do sistema operacional é GNU/Linux e ainda que carinhosamente muitos o chamem apenas de Linux não devemos jamais esquecer a importância do Projeto GNU e do sistema operacional GNU na criação do sistema operacional livre que possuímos hoje.

Ao ler esse texto também é possível compreender a diferença entre o software livre e o software gratuito e que ambos são independentes, um software livre pode ser pago, assim como um software gratuito pode ser proprietário (não livre). Isso porque o sofware livre é aquele que garante as 4 liberdades (usar, copiar, modificar e distribuir, resumidamente) enquanto o software gratuito é aquele pelo qual não é necessário pagar para utilizar.

Espero que tenham aproveitado e aguardem os próximos artigos da série.

Referências
As informações, dados e estatísticas contidas neste texto foram retiradas dos diversos conteúdos disponíveis em:
http://www.gnu.org/
http://www.fsf.org/


Fonte: http://blog.omenezes.com/2011/10/projeto-gnu/

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