Deu trabalho, mas Fortaleza finaliza os preparativos para receber a Teia Brasil 2010. Uirá porã: responsável pela coordenação de comunicação da Teia Brasil 2010 analisa os desafios da produção e a importância do evento que acontece a partir de quinta-feira no Dragão.

O tema da Teia deste ano, Tambores Digitais, aponta para a cultura digital, uma das realidades que integram a rotina dos Pontos de Cultura de todo o país. A expressão "Tambores Digitais" foi cunhada pelo mestre TC, da Casa de Cultura Tainã (SP), ao comparar a internet com o instrumento usado como forma de comunicação em culturas tribais. No entanto, é mesmo com base em muita realidade que este cotidiano se faz nas comunidades brasileiras. Tanto é que, segundo o coordenador de Comunicação da Teia, Uirá Porã, "a principal pauta do evento é a consolidação dos Pontos de Cultura como política de Estado, através da aprovação da lei Cultura Viva.

O legal da Teia é que ele é um evento político, e ao mesmo tempo uma celebração da cultura brasileira", considera o organizador, enumerando preparativos que, na sua área, passaram pela seleção da logomarca do evento (baseada nas rendas do artesanato cearense) e de uma equipe de comunicação para sua "cobertura colaborativa", integrando 60 profissionais cearenses e de outros estados, e ainda a cobertura wi-fi (com velocidade de 1Gbps) em todo o Dragão.

"Todos os Pontos de Cultura já têm uma capacitação em cultura digital, software livre, e a intenção é que todos estejam conectados através de um cinturão digital", sustenta Uirá.

É fácil, para os cearenses, imaginar os desafios para a cidade receber cinco mil pessoas em um espaço e um tempo tão exíguos. Alojadas em 40 hotéis, estas pessoas, incluindo convidados da Europa, África e América Latina, vêm não apenas para conferir as apresentações (musicais, teatrais e de outras linguagens), também acessíveis gratuitamente a toda população da cidade. "Vai estar tudo pronto", garante Uirá.

Em um evento em que já está confirmada a presença do Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e onde se cogita até as do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da Ministra Dilma Rousseff, a Mostra Artística (de sexta a domingo próximos, com 88 selecionados entre 590 inscritos) será apenas um dos momentos de troca de experiências culturais.

Já na Teia das Ações, nos dias 26 e 27, seminários, painéis e debates darão ares mais formais ao evento, discutindo as redes do Programa Cultura Viva. Debates reforçados pela discussão política dos Pontos, no III Fórum Nacional dos Pontos de Cultura, com dois mil delegados, entre os dias 29 e 31.

A Teia Brasil 2010 - Tambores Digitais é uma realização da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura (CNPdC), através do Instituto da Cidade, em parceria com o Ministério da Cultura, Secretaria de Cultura do Estado e o Instituto de Arte e Cultura do Ceará.

Discussões maduras

A cobertura wi-fi, que tomará o Dragão graças a uma parceria da Rede Metropolitana de Fortaleza (GigaFor), com o Governo do Estado e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisas, serve de mote para outra discussão importante que tomará a Teia, o marco civil da internet.

"O Congresso iniciou a discussão de um marco penal para o setor sem ter o marco civil, algo que o governo quer mudar", aponta Uirá, enumerando que a temática também envolve o estabelecimento do Programa Nacional de Banda Larga. Outros pontos a serem discutidos durante o evento são o da Reforma da Lei do Direito Autoral e o do edital Cultura e Saúde, voltado não só para os Pontos de Cultura.

Presente à edição anterior da Teia, em Brasília, Uirá ressalta que não houve qualquer atraso na programação do evento, que não aconteceu ano passado. "Em 2009, houve o Encontro Ibero-Americano de Cultura, em São Paulo, um evento muito grande. Então, o Ministério resolveu dar mais tempo para os pontos se organizarem. Até porque o programa ano passado mais do que dobrou, só o Ceará fez 100 novos pontos.

Pra maioria será a primeira Teia. Acredito em uma maturação da rede, dos fóruns de discussão. Não deixaram de acontecer no ano passado, os encontros estaduais. Este ano também, depois do Carnaval, houve, aqui, a Teia Ceará, no Condomínio Espiritual Uirapuru".

Uirá acrescenta que foram tiradas em conjunto diretrizes para os pontos levarem para os seus municípios e para a Teia nacional. Como a Lei Cultura Viva, que pretende definir o programa como uma política de Estado.

Para o Coordenador de Comunicação da Teia 2010, os Pontos de Cultura são uma política que vem reformulando a maneira de se pensar a cultura no País. Em grande parte, diz, devido à característica importante, inovadora, de o governo não dizer o que seria feito, apoiando iniciativas que já eram feitas. "A única obrigatoriedade era de que parte do recurso, dos 180 mil em três anos, 20 mil fossem gastos em kits multimídia.

Equipamentos para o Ponto encontrar com esta tecnologia. Uma coisa interessante porque potencializa atividades, até mesmo, por exemplo, para os Pontos que mexem com artesanato.

Então esta é a única ação presente em todos os pontos, o que possibilitou encontros como o do grupo de maracatu Bongar, de Pernambuco, com a orquestra Pim, do Rio de Janeiro. Eles vão se apresentar juntos após terem se conhecido em outros encontros e dialogado através da rede".

Uirá Porã explica que a maioria dos Estados vem através de parcerias entre suas Secretarias de Cultura e a Comissão Nacional dos Pontos de Cultura. "A expectativa é grande, o trabalho está sendo feito em todos os estados. Esta Teia tem uma motivação muito forte em todos praticamente todos os estados, só dois ou três não poderão vir".

Ele acrescenta que a expectativa de consolidar os Pontos de Cultura através de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular integra um processo maior, de trocas de ideias e experiências. "Ela vem paralela a um maior reconhecimento do programa enquanto movimento social", diz, convidando a todos especialmente para o cortejo que tomará o trajeto entre o Náutico e o Aterrinho, no encerramento da programação cultural, no domingo. "Em Brasília, aconteceu da Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes. Chamamos de cortejo da Reproclamação da República pela Cultura".

Quem sabe quando os tambores rufarem no Dragão do Mar e no Meireles, possamos lembrar o líder abolicionista cearense e reafirmar, através da cultura, um pouco mais da nossa legítima identidade revolucionária.

Por Henrique Nunes

Foto: Alex Costa

Fonte Diário do Nordeste