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Sobre advogados do diabo

12 de Janeiro de 2015, 13:21 , por Valéria Barros - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Licenciado sob CC (by)
Advogado

Original aqui.

Certa vez participei da organização de um evento com a presença do Sr Richard Stallman. Em muitos sentidos foi chocante, mas um grande aprendizado. Durante sua apresentação, li uma frase no twitter que refletiu na forma como tenho lidado com comunidades: Somos um ecossistema.

Como em qualquer ecossistema, temos animais (por favor, levem no bom sentido) exóticos, assustadores, calmos e alguns bastante peculiares. E é isso que faz de nós seres diferentes.

Algumas das características marcantes podem ser percebidos em várias comunidades, e é incrível como se assemelham.

Um dos mais notados — e para mim mais importantes — é o advogado do diabo. Vamos discorrer sobre.

Os advogados do diabo desenvolvem papéis necessários a qualquer comunidade. Segundo recentes pesquisas, são conhecidos também por xiitas, presunçosos, radicais, fundamentalistas, ditadores e outros termos bem simpáticos.

É fácil identificá-los. São os menos amados, mais polêmicos, e serão deles as mensagens inflamadas de amor a causa. Mensagens carregadas de CAPS LOCK, exclamações e você pode até imaginar as gotas de suor e veias saltando a testa.

Você pode, assim como eu, ser uma bandeira branca, do tipo que evita ao máximo defender um lado só ou tomar partido. Mas entenda algo: Os advogados são necessários.

Uso software livre à cerca de 6 anos, quando conheci o querido Ubuntu em meados de 2009 — e foi paixão a primeira vista. Conheci a comunidade de software livre logo depois, em 2010, e entendi que era necessário defender a causa.

Desde então organizei, palestrei e trabalhei em diversos eventos. Iniciei minha carreira baseada nos princípios que aprendi dentro da comunidade. Me envolvi em várias discussões, quer seja lendo ou opinando, e conheci outras frentes a se defender, como o cyberativismo.

Não conto quantas vezes li emails de militantes criticando o uso de redes devassas (querido Anahuac), a preocupação com a privacidade e, principalmente, a coerência com aqueles que levantam a bandeira.

Foram 6 anos mastigando todas essas preocupação e afirmações lógicas e congruentes até notar que precisava fazer algo a respeito. Foram necessários 6 anos para entender o que minha privacidade, enquanto usuária, vale.

É fácil entender porque a maioria das pessoas usa Gmail. É fácil entender porque as pessoas usam Windows. É fácil entender porque 99,4% (segundo estudos) dos usuários não fazem ideia de como seus dados são tratados e invadidos, mesmo com tantas notícias e medidas ao redor.

Estou certa de uma coisa: meus pais não se preocupam e nem se preocuparão com isso. Nem eles e nem a maioria dos usuários comuns — e quem irá dizer que estão errados?

Particularmente não perco tempo explicando a uma pessoa que usa seu computador para acessar ao Facebook que os dados dela estão inseguros. Ela não está nem aí.

Minha preocupação é com quem levanta bandeiras. O que nós temos defendido? Como temos aplicado nossos princípios?

Se houver uma medida em coerência, ainda estou (sendo otimista) nos 20%. E minha missão não é julgar outros incoerentes.

Meu objetivo é que saibam que não é um processo fácil.

Migrar seu gmail — aquele bonitinho, focado em usabilidade e que nunca te deixa na mão — para um serviço particular, com aspecto um pouco mais grotesco, não é uma caminhada fácil.

Sair do Facebook e enfrentar as dificuldades da #redmatrix não é simples. Utilizar diáspora* não é prático. Mas é um bem necessário. (Que almejo conseguir).

Precisamos, antes de tudo, ser coerentes com as bandeiras que carregamos. Cada um sabe até que ponto pode ou consegue abrir mão — do conforto, da praticidade, dos princípios — e isso é essencial para saber quanta energia você está disposto a gastar.

Então, antes de enviar emails propagando ódio contra xiitas, antes de chamá-los de chatos e ignorantes, pense. Ele está fazendo o papel de nos tirar da zona de conforto e repensar nossos objetivos.

Que esse papel se perpetue e nos faça diariamente pensar como temos carregado nossa bandeira.

A luta é grande, a luta é árdua. Mas alguém precisa fazer isso.

Aos advogados do diabo, vida longa.


Fonte: Valéria Barros

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