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Mário Teles: "Simplicidade é uma coisa que eu tenho e que meu pai também tinha"

23 de Junho de 2009, 0:00 , por Software Livre Brasil - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Este fim de semana estivemos em Divinópolis para uma visita ao Museu do GTO. O convite veio de uma das fundadoras do Instituto GTO, Celma Bosque, com objetivo de cooperar na criação de um projeto estruturante para esta associação. Para quem não conhece a obra do escultor, vamos a uma brevíssimo histórico, que nos foi narrado por seu filho e sucessor Mário Teles.

Geraldo Teles de Oliveira
nasceu em Itapecerica, na região Oeste de Minas Gerais, em 1913. Mudou-se para Divinópolis ainda jovem, quando tornou-se funcionário do Hospital São João de Deus, onde trabalhou como vigia noturno. Estabeleceu-se com sua família no bairro Niterói e, com um jeito simples de encarar a vida, seguiu religiosamente no trabalho e só depois dos 50 anos começou a esculpir.

Mário contou que, em 1965, seu pai recebeu aviso prévio do hospital. Ficou desolado com a possibilidade de ficar desempregado e sem saber o que faria da vida. A esposa, solidária à situação de Geraldo, disse que rezaria para Bom Jesus para que ele lhe desse uma nova profissão.

A partir daí, iniciou-se a obra do escultor. GTO, como ficou conhecido, montou uma oficina caseira e começou a esculpir em cedro. Criou uma identidade artística própria, reveladora de uma imensa criativade, traçando dezenas de figuras humanas no que chamou de Roda da Vida. Outras formas foram desenvolvidas, como a Pirâmide da Vida.

Quando estava com 54 anos, ganhou projeção ao expor na galeria Guignard, em Belo Horizonte. Ela fora convidado pelo arquiteto e ex-prefeito Aristides Salgado. Após a ida à capital mineira, GTO ficou conhecido nacionalmente e teve obras expostas e vendidas em galerias brasileiras e europeias. Vendo as encomendas crescerem, o escultor foi aos poucos encaminhando parte do serviço ao filho Mário, que foi se apropriando da arte e da genialidade do artista popular.


Atualmente, no porão da antiga casa onde GTO morou, funciona a oficina em que Mário esculpe suas obras. Ali também há obras do pai, Geraldo, e do sobrinho, Geraldo Fernando de Oliveira, o GFO, que também segue a arte do mestre (foto acima). Os trabalhos de Mário Teles mostram que ele não apenas se apropriou da linguagem de GTO, como também a recriou.


Nós percebemos que GTO não é apenas um artista, mas inaugurou um movimento artístico de intensa expressão popular. A música divinopolitana de raiz, por exemplo, é retratada nas diversas rodas da vida expostas no museu. As esculturas parecem ter movimento e lembram, em cada detalhe, as guardas de reinado da região. Na peça chamada "Festa do Bom Jesus", Mário retrata a Procissão de Ramos e outros temas católicos. Os índios, a capoeira e a Folia de Reis também são retratadas em suas obras.


Mário Teles criou, também, a Engrenagem da Vida (acima), em uma impressionante releitura da obra do pai. Ela nos contou que a inspiração veio das rodas gigantes dos parques que frequentava quando era criança. À medida em que vai contando os detalhes das outras esculturas, Mário nos embarca numa viagem pela memória da cidade do Divino, tangenciando a poesia de Adélia Prado e as telas de Celeste Brandão, e nos prestigiando com a sensação de participarmos de um museu vivo.


Para mostrar um pouco do ofício, Mário nos levou à sua bancada de trabalho. A primeira coisa que ele aprendeu com o pai foi a riscar e vazar a madeira. Essa parte do ofício é, às vezes, exercido pelo seu filho. Mário contou ainda que, com ferramentas simples (formão, serrote e macete), vai dando forma às esculturas.

As madeiras que o artista mais usa são o cedro-rosa e o cedro-vermelho. Depois que faz todo o entalhe, vem o acabamento de mãos e olhos das figuras humanas. Para dar o acabamento, ou "imunizar a peça", como diz Mário, é passada uma camada de óleo diesel.

O artesão revelou ainda parte de sua simplicidade contando que dá palestras em escolas da cidade.

- Eu não sou professor, porque eu não estudei para dar aula. Tudo o que eu faço é da minha cabeça, é a minha arte.

Hoje, Mário conta que já esculpiu mais de 3.500 peças, "sem repetir uma!"


Algo que nos impressionou foi a semelhança simbólica entre a Roda da Vida de GTO e a Roda da Vida e das Idades do Grãos de Luz e Griô, projeto do interior da Bahia que, para dizer de forma bem rápida, trabalha a reapropriação e recriação da tradição oral por meio da visita de mestres e aprendizes em escolas. Tradição oral, inclusive, que foi fundamental na formação da obra de GTO.

No fim da visita, Mário comentou o motivo pelo qual expõe religiosamente, suas peças na feira dominical de artesanato:

- O pai gostava de participar e mostrar a arte na feira. A Feira do Artesanato do Santuário é uma fortuna pra nós.

Participaram Andressa Gonçalves e Mônica Furtado. Fotos Paulo Morais.
Fonte: http://www.viraminas.org.br/2009/06/mario-teles-simplicidade-e-uma-coisa.html

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