Por Thereza Dantas
O Grupo Bongar é formado por jovens integrantes do Quilombo do Portão de Gelo, localizado em Olida, PE. O grupo tem como preocupação principal a difusão de toda a cultura herdada de seus avós feita através de apresentações, oficinas e aulas-espetáculo, que culminaram com a criação do Centro de Arte e Cultura Grupo Bongar. Ponto de Cultura desde 2008, o grupo já lançou dois CDs com canções tradicionais de sua comunidade.
Em 2007, Guitinho da Xambá entendendo a importância da linguagem áudiovisual criou o projeto TEM PRETO NA TELA, que este ano começou no dia 24 de outubro e termina no dia 1 de novembro e acontece na comunidade Xambá, em Olinda, PE. No evento foram oferecidas oficinas audiovisuais que capacitaram 12 jovens para o criação audiovisual. Daí nasceu o curta “Um dia de Bêji”, primeiro documentário assinado pelos quilombolas da Xambá, retratando a rotina de Dona Lourdes (Yalorixá da Casa) e a tradição de Cosme Damião do Terreiro. A orientação é de Felipe Peres e Marcelo Pedroso. “É nosso primeiro produto da turma formada na oficina de audiovisual, mas queremos continuar a produzir filmes e documentários para contar nossa história”, explica Guitinho.
Entre junho e outubro, os 12 jovens do Quilombo do Portão do Gelo (Olinda-PE) participaram de oficinas de História Oral, Patrimônio Cultural Quilombola e Vídeo. Além do lançamento, que acontece hoje na Xambá, em novembro o curta “Um dia de Bêji”será exibido nas escolas públicas Padre Francisco Carneiro, Santo Inácio de Loyola e Dom Azeredo Coutinho, em Olinda, PE. O músico Guitinho está tentando agendar outros espaços em Recife e avisa que este será o primeiro de vários documentários produzidos no quilombo. “Queremos contar a nossa história, mas não vamos ficar fechados nas questões do quilombo, queremos também produzir filmes que tratem de outras questões, de nossas inquietações”, avisa Guitinho.
A Comunidade Xambá está localizada no Bairro de São Benedito, no Quilombo Urbano do Portão do Gelo – o primeiro reconhecido pela Fundação Cultural Palmares no Nordeste. A ocupação dessa área - hoje subúrbio da cidade de Olinda - remonta ao século XVIII, quando grupos ligados ao Quilombo do Catucá, ou Quilombo do Malunguinho, dominavam as matas de Beberibe até a cidade de Goiana, na Zona da Mata Norte de Pernambuco.
O grupo religioso Xambá foi iniciado pelo alagoano Arthur Rosendo em 1927, Maria das Dores (Maria Oyá) abriu seu Terreiro no Bairro de Campo Grande em 1930, tendo seu período de regência terminado com a invasão da policia oito anos depois, o que - junto com a sua morte em 1939 - resultou na dispersão do povo Xambá pela região metropolitana do Recife. Doze anos depois, em 1950, o terreiro Xambá foi reaberto no bairro de Santa Clara, sob o comando da sobrinha de Maria Oyá, Severina Paraíso da Silva - Mãe Biu - que, um ano depois, adquire um lote de terra próximo a uma fábrica de gelo. Ali no Portão do Gelo, Mãe Biu dá inicio ao reagrupamento familiar, aproximando do terreiro todos aqueles que em 1938 se dispersaram, e fundando aquela que hoje conhecemos por Comunidade Xambá.
Essa reaproximação da comunidade resgatou inúmeras brincadeiras e folguedos pernambucanos – como maracatus, caboclinhos, afoxés, cirandas, bumba-meu-boi, pastoris, blocos de frevo, acorda-povos e ursos – que costumavam reverenciar a comunidade e ali prestar seus cumprimentos aos orixás. Tudo isso foi registrado pela memória dos jovens quilombolas, que, dentre outras iniciativas, vêm ressignificando sua própria história através da musicalidade.
Serviço:
Para obter mais informações sobre o Grupo Bongar, seus CDs ou do curta metragem “Um dia de Bêji”, entrar em contato com Marileide Alves pelo fone (81) 99276258 ou por bongar@uol.com.br e mari.marileide@gmail.com
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