Depoimento de Robson Bonfim, articulador Cultura Digital SP
A Rede Mocambos - http://www.mocambos.net/ - é um desdobramento do projeto homônimo, desenvolvido pelo Ponto de Cultura Casa de Cultura Tainã, criado há seis anos em Campinas (SP), cujo objetivo principal é o desenvolvimento das TIC (Tecnologia e Informação e Comunicação) e dos saberes populares. A tecnologia é uma frente de trabalho da Rede Mocambos.
Atualmente, essa rede solidária reúne 27 comunidades: 12 Pontos de Cultura e 15 quilombos. O contato entre elas se ampliou e a necessidade de se conectar, trocar informações e manter vivo um processo contínuo de articulação fez com que essas relações ganhassem uma dimensão de rede, que alcança organizações e pontos por todo o Brasil. A sua atuação conta com parceiros em São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Pará e Amapá. Outras 65 novas comunidades serão integradas ao Mocambos e serão conectadas à Internet.
Uma das ações da rede é a implantação de computadores e suas ferramentas em comunidades quilombolas. Elas recebem uma infraestrutura, caso não a tenham, e uma formação para o uso das novas tecnologias. Paralelo a isso, segue um outro processo fundamental: a explicação sobre a importância política da inclusão digital e de que forma ela está ligada à vida cotidiana e à historicidade locais. A partir daí, são construídos vínculos, que permitem acessos e, então, a troca de informação. Tudo isso contribui para suas lutas sociopolíticas, como a manutenção da terra, a resistência às barragens e a preservação da identidade cultural do quilombo.
Também é objetivo fortalecer e ampliar as atividades desenvolvidas nas comunidades atendidas pela Casa de Cultura Tainã, tendo como eixo a disseminação de conhecimentos sobre a cultura digital que permitam o acesso a ferramentas de produção multimídia. A ideia é desenvolver processos de aprendizado continuado que envolvam toda a comunidade.
Para informatizar e conectá-las, o Mocambos usa os softwares livres (SLs) por eles possibilitarem a criação, o compartilhamento e o acesso livre do conhecimento, um dos princípios defendidos por esse Ponto de Cultura. A Internet é um dos instrumentos para isso. As comunidades, como usuárias dessa tecnologia, deixam de ser passivas no processo tecnológico. É assim que se dá a inclusão social de acordo com as necessidades e o desejo dos quilombos. O resultado poderia não ser alcançado se fosse usado um software proprietário que, em sua concepção, já não é livre.
Os SLs colaboram para o resgate e a afirmação das identidades dessas comunidades, além de permitir a troca de informações e conhecimentos entre localidades geograficamente distantes, porque eles oferecem recursos que facilitam a apropriação e o compartilhamento de conhecimento de uma forma mais livre e colaborativa. Atividades cotidianas e aspectos da vida quilombola, ligadas à educação e à cultura, são potencializados pelo uso de software livre. Nesse contexto, o papel da juventude é essencial. Eles são os novos líderes comunitários e são aqueles se apropriam das novas tecnologias.
A rede Mocambos trabalha num processo dialético interessante. Ao mesmo tempo em que o esforço de cuidar das especificidades socioculturais e da memória das comunidades, trazendo elementos do passado e reconstruindo uma história que é ameaçada a se perder, o uso do software livre remete a um olhar para o futuro. As possibilidades oferecidas por ele são o que há de mais contemporâneo na tecnologia e conhecimento digital. O seu emprego funciona como ponto conciliador entre dois momentos cronológicos e históricos, anunciado que essas comunidades, marginalizadas por tantas vezes pelos processos de desenvolvimentos tecnológicos, podem hoje participar deles como atores ativos e transformadores sociais.
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